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A História do Dreamcast

A Sega ficou conhecida por fazer consoles carismáticos, foi assim com o Master System, com o Mega Drive, o Saturn e com o seu último console, o saudoso Dreamcast, um “sonho” de consumo para qualquer gamer da geração passada. Após a surra homérica que o Saturn levou do PlayStation, a Sega estava resolvida a recuperar o mercado perdido, com uma fortíssima campanha de marketing e lançando o aparelho bem antes dos seus concorrentes Xbox, Game Cube e PS2. Infelizmente não foi o bastante para derrotar o titã negro da Sony, e a Sega tirou o time de campo definitivamente e passou a ser apenas uma desenvolvedora de games. Mesmo assim, o Dreamcast ganhou uma legião de fãs fiéis, que amam e jogam o console até hoje. Uma coisa é certa: o poderoso videogame estava muito à frente do seu tempo e marcou uma geração de gamers na entrada do século XXI (lançado no dia 9/9/99 – ou seja, fazendo 14 anos hoje). Veja aqui como tudo começou, na A História do Dreamcast.

Criando o Sonho

Sega Saturn

Os anos 90 foram marcados pela guerra dos 16 Bits Mega Drive vs Super Nintendo, um embate antológico que até nos dias de hoje gera discussões entre os fãs e que ensinou algo à Sega: lançar o videogame antes do concorrente garantiu a dominação do mercado por um bom tempo. O Mega Drive foi lançado quase dois anos antes do Super Nintendo, garantindo para a empresa o primeiro lugar na indústria dos 16 bits por alguns anos (especialmente nos mercados americano, europeu e brasileiro), mesmo após o lançamento do rival. Ela tentou o mesmo “truque” com o Saturn (lançado apenas alguns meses antes do PS) em 1994, mas como sabemos e mostrou a história, desta vez não deu certo (aliás, deu muitooo errado, mas isso é outra história). Com o fracasso do Saturn, o então presidente da Sega of America, Bernie Stolar, foi um dos grandes responsáveis em pressionar a Sega para lançar rapidamente um novo console e deixar de lado o Saturn, o que acabou “queimando o filme” da empresa junto com os consumidores e as próprias desenvolvedoras de games, que tiveram que cancelar futuros títulos do console de 32 bits.

Não satisfeita, a Sega insistiu na estratégia de lançar antes, e durante o seu desenvolvimento, o projeto ganhou vários codinomes como “Blackbelt“, “Dural” e “Katana“. Havia dois times trabalhando em projetos diferentes: o “Dural(que depois virou “Katana”), desenvolvido no Japão em parceria com a NEC, usando a tecnologia gráfica PowerVR; e o projeto “Blackbelt“, desenvolvido nos EUA e que usava a tecnologia 3Dfx (que seria futuramente adquirida pela Nvidia), com ajuda inclusive da Microsoft, que tinha interesse nas conversões de games PC/Videogame (além de querer implantar um SO Windows no Dreamcast), que seria “mais fácil” com o chip da 3Dfx – ou assim prometia a empresa.

Ambos os projetos usavam como CPU o HItachi SH4 e em 1997, a Sega anunciou que havia escolhido a engine do Blackbelt, com design do Katana. Todo mundo feliz e ganhando, certo? Só que não, na hora de oficializar o projeto, a Sega anunciou que escolheria o modelo Katana e o seu chip PowerVR, deixando de lado o 3Dfx (com a utilização da popular placa Voodoo 2). Uma decisão que muitos acreditam ter sido fatal, e uma “das mais idiotas que a Sega já fez”. Porém, há quem diga que o 3Dfx era menos poderoso que o PowerVR, e que o uso dele aumentaria muito o preço de produção do Dreamcast, então fica difícil saber o que realmente aconteceu. Rolou até treta com a 3Dfx, que processou a Sega por “má fé” durante o projeto, mas as duas acabaram se acertando fora dos tribunais.

imagens dos protótipos do DC – o preto provavelmente é o Blackbelt

A escolha da Sega custou a parceria da Eletronic Arts, uma colaboradora até então bem ativa nos seus consoles. A EA havia investido na tecnologia da 3Dfx, e assim que soube que a Sega usaria outro chip (e ela também queria contratos de exclusividade para os games de esporte, e a Sega queria apostar na série 2K, concorrente da EA), tirou o seu time de campo e não deu suporte ao Dreamcast, o que para muitos foi um dos motivos para o fracasso do console (juntamente com a falta da Square e da Konami).

Assim, o modelo Katana foi o escolhido para em 1998, ser lançado como o Dreamcast, 15 meses antes da chegada do PS2 e dois anos antes do Game Cube e Xbox. Durante o tempo que ficou sozinho no mercado, era o videogame mais avançado e mais completo da sua época, e durante esse tempo, fez bastante sucesso entre os gamers, com um lançamento bem sucedido e fortes vendas iniciais, tanto nos EUA como no Japão.

O Lançamento

Lançado em novembro de 1998 no Japão, e em setembro de 1999 nos EUA (a data 9/9/99 fez a alegria dos marketeiros da Sega, com propagandas espalhadas em toda a parte), as vendas do console em seu primeiro ano foram agressivas e com números recordes, especialmente no mercado norte-americano, com vendas de 500 mil unidades nas duas primeiras semanas (com 300 mil unidades encomendadas na pré-venda e mais de 225 mil vendidos nas primeiras 24 horas nas lojas – um verdadeiro recorde até os dias de hoje, gerando um faturamento de quase US$100 milhões para os bolsos da empresa – o PS3, por exemplo, vendeu 81 mil unidades nas primeiras 24 horas no Japão, segundo dados do Media Create). O preço camarada de US$ 199 ajudou bastante, ele foi anunciado pelo presidente da Sega, Bernie Stolar, indo contra os planos dos chefões japoneses, que queriam cobrar US$ 250. Stolar foi despedido antes do lançamento do Dreamcast. Os excelentes jogos iniciais do aparelho também garantiram boas vendas, com títulos como “Sonic Adventure“, “Soul Calibur“, “Marvel vs Capcom“, “Power Stone“, entre outros. Após muito tempo na “seca”, a Sega desfrutava de uma grande sucesso comercial, onde sobrava consumidores e faltava consoles para a demanda.

Apesar da falta dos clássicos games de esporte da EA (gênero que os americanos são fanáticos), a Sega Sports tentou suprir a carência com belíssimos games da NFL e NBA da série 2K, com motores gráficos mais poderosos que o da concorrência. Não apenas nos esportes, mas o Dreamcast contava com uma biblioteca de games bem diversificada (apesar do seu calcanhar de aquiles ser a falta de RPGs), com destaque especial para os games de luta e os inovadores/revolucionários títulos da Sega (que estava em seu auge em termos de criação), como “Jet Set Radio“, “Crazy Taxy“, “Samba de Amigo“, “Space Channel 5“, “Phantasy Star Online” e “Shenmue“.

Sonic Adventure trazia uma aventura incrível em 3D da mascote da Sega

O Dreamcast era o primeiro console de 128 bits do mercado e realmente era muito poderoso (muito mais do que o PlayStation e o N64 – e por alguns anos, o PS2 lutou para se igualar ao DC), além disso trazia grandes inovações para o mundo dos videogames, a mais notória delas, o uso de modem embutido para se jogar online (no Brasil era vendido separadamente), inclusive com uma rede online gratuita para conectar os seus usuários, a SegaNet. Ele trouxe para os jogadores muitas novidades e serviços até então totalmente desconhecidos, e que posteriormente seriam usados pela concorrência.

A logomarca do aparelho era um espiral que representava “o universo e o poder infinito dos seres humanos“, o que convenhamos, era bem filosófico e inspirador para um aparelho dos “sonhos”. Sua cor era diferente de acordo com as regiões: em regiões com padrão de vídeo PAL, a logo era azul (a mesma usada pela TecToy quando lançado no Brasil) para evitar disputas comerciais com a empresa alemã Tivola, que já usava uma espiral laranja em sua logomarca. Na América do Norte a espiral era vermelha, enquanto que no Japão e no restante do continente asiático a espiral era laranja.

Além do modem, o aparelho trouxe outras novidades curiosas, como o seu gigantesco controle, amado por uns, odiado por outros. Com um design que lembra uma nave espacial, com um total de 11 botões, um direcional analógico e duas portas de expansão para inserir cartões de memória, tremor pack (modo de vibração), VMU, etc. A criação do VMU (Visual Memory Unit) foi uma das grandes sacadas da Sega e um charme adicional todo especial. Ele era um cartão de memória para salvar o progresso dos games, mas também tinha a função de minigame para alguns títulos, graças à sua tela de cristal líquido. Esses VMUs tinham o tamanho de um cartão de crédito, e quando ligado ao controle do Dreamcast, ele pode fazer algumas opções únicas, além de funcionar como um pequeno PDA (calendários, agenda de telefones, etc).

Outras novidades foram a DreamEye, uma webcam lançada apenas no Japão. A Sega tinha planos de usá-la com jogos, infelizmente ela abandonou o barco antes disso acontecer. Havia também uma vara de pescar com sensores de movimento para os simuladores de pesca, que também podia ser usada como espada em “Soul Calibur” – um embrião do que viria a ser o popular Wii Remote, da Nintendo. Também não faltava teclados, mouses, controles especiais e pistolas.

o controle e o cartão VMU

O Fim do Sonho

Mas se o Dreamcast era esse videogame poderoso, com tecnologias revolucionárias, ótimos games e que vendeu bem no seu primeiro ano de vida, o que foi que aconteceu para ele cair no limbo do esquecimento na história dos videogames? Bom, para começar, o anúncio do PlayStation 2 feito pela Sony em março de 1999, foi um tiro que acertou em cheio o Dreamcast. Mesmo lançado apenas em 2000, o simples anúncio e as fortíssimas campanhas de marketing da Sony, foram o suficiente para gerar um hype altíssimo do público, abalar as vendas do Dreamcast e desviar os holofotes da imprensa especializada, que esperavam um super console (o que não aconteceu exatamente, mas isso não impediu o sucesso do PS2).

o simples anúncio do PS2 foi o suficiente para acabar com a festa do DC

Uma grande vantagem que o PS2 tinha era a sua retrocompatibilidade, com games do seu predecessor, o que aumentava, em muito, a biblioteca de jogos disponível já em seu lançamento. Coisa que o Dreamcast não tinha com o Saturn, e que poderia ter dado uma sobrevida. Outro fator importante, o PS2 usaria o DVD como mídia, que estava em seu auge na época. Mais do que  nunca, a Sony conseguia passar a imagem de que o PS2 não era “apenas” um videogame, mas um centro de entretenimento que além de jogos, podia rodar filmes ou tocar suas músicas preferidas e acessar a internet. Além do mais, devido ao sucesso do console anterior, todos conheciam os nomes Sony e PlayStation, enquanto que a marca “Sega” há muito tempo já estava esquecida como referência para consoles (ela havia se queimado bastante com o 32X e o Saturn, ambos “filhos abandonados”).

O Dreamcast usava uma mídia própria chamada GD-Rom, que ficou obsoleta após o sucesso do DVD, com capacidade de armazenamento de 1,2 Gb. A Sega fez essa escolha para tentar combater a pirataria (não havia gravadores/leitores de GD-Roms), mas como sabemos, os hackers podem ser muito criativos, e logo conseguiram contornar o problema.

comercial de lançamento do DC nos EUA

Dreamcast 

Uma super produção que passou uma única vez na TV, no dia 9/9/99, durante o Video Music Awards da MTV. Ele mostra uma ladra roubando um DC que se dá mal durante a fuga porque o console está “pensando” e agindo contra ela. Um dos slogans do aparelho era justamente a frase “It’s Thinking!”… mas no geral, as propagandas e comerciais eram fracas e não estavam no mesmo nível da época do Mega Drive ou do Saturn (japonês)…

O PS2 foi lançado, seus primeiros jogos foram fraquíssimos, e demorou algum tempo até sair games que aproveitassem bem as capacidades do PS2, mas mesmo assim ele vendia que nem água no deserto, o que deixava a Sega em situação cada vez mais difícil. Por volta de 2001, com as fracas vendas do DC, muitas produtoras cancelaram seus games e migraram seus projetos para o PS2. O prejuízo era tanto, que a Sega não tinha recursos financeiros nem pra fazer propaganda de seus games inovadores (e alguns eram muito melhores do que a da concorrência) e nem para pagar para produtoras por games exclusivos. E isso apenas contra a Sony (que era um adversário cruel e impiedoso), em 2001 seriam lançados o Game Cube e o Xbox (considerado por alguns especialistas como sucessor espiritual do DC, pelas similaridades dos controles, por ter herdado muitos dos games e por ter em sua equipe Peter Moore, que também estava envolvido no desenvolvimento do DC), que também vieram com tudo e dinheiro sobrando, enquanto a Sega não tinha como convencer os consumidores que o DC tinha ainda muito potencial inexplorado e que podia fazer frente aos novos consoles concorrentes.

De acordo com o vice-presidente da Sega na época, Charles Bellfield, “Tivemos o conteúdo certo. Tivemos o marketing certo. O produto foi projetado da maneira certa. A filosofia de capacidades de rede online estava certa. A equipe estava certa. Os parceiros que tivemos foram bem. Mas nós não tínhamos o orçamento para ser capaz de construir a confiança da marca aos olhos dos nossos concorrentes. Isso, para mim, foi o calcanhar de Aquiles do Dreamcast“.

a concorrência era implacável

Não acreditam nele? Tudo bem, peguem o comentário de Tadashi Takezaki, presidente do departamento de implementação da Sega, em entrevista para a revista japonesa Famitsu: “Foi pura questão de custo. Fomos forçados a entrar nessa guerra de desconto quando já estávamos perdendo dinheiro com a venda do sistema. A Sony foi parte do time que desenvolveu o padrão DVD e eles poderiam desenvolver o PlayStation 2 completamente internamente, com seus próprios chips”, explicou. “A Sega, enquanto isso, estava comprando tudo de outras empresas, e isso era uma desvantagem tremenda. Não conseguíamos cortar facilmente os custos e o console não estava vendendo o número que costumava vender. Então descontinuamos o produto”.

Assim, em 31 de janeiro de 2001 veio o fatídico anúncio oficial de que a produção do DC seria descontinuada, com menos de três anos de lançamento. Pela terceira vez, a Sega abandonava mais um filho, deixando na mão os fãs e desenvolvedores que ainda tinham planos para o console (cerca de 60 lançamentos oficiais estavam previstos). E essa seria a última vez, já que junto veio a notícia de que a empresa não mais produziria consoles, e que iria apenas se focar na produção de jogos para as outras plataformas. Foi uma notícia chocante, especialmente para aqueles, como eu, que cresceram acostumados com os consoles e games Sega. Era estranhíssimo ver um game Sonic rodando num PlayStation, ou pior ainda, num sistema Nintendo, sua antiga arqui-inimiga. Mas, se ela não tomasse essa decisão, certamente a Sega teria ido à falência e fechado as portas. E assim, um sonho que começara tão bem, terminou abruptamente. Game Over.

E no Brasil?

Assim como aconteceu com o Master System, Mega Drive e Saturn, o Dreamcast também foi lançado em terras brasileiras pela Tec Toy, representante da Sega aqui no Brasil e que fez um belo trabalho de vendas/marketing com o 8 e 16 bits, mas começou a capengar com o Saturn (refletindo o que já vinha acontecendo com a própria Sega). Os brasileiros não tiveram que esperar muito, em outubro de 1999, apenas um mês após o lançamento americano, o DC aportava em terras verdes e amarelas, custando salgados e inacreditáveis R$ 1000,00. Era um videogame para poucos, ainda mais naquela época, em que a economia brasileira passava por uma crise (com o dólar custando quase R$ 3,00) e uma altíssima taxa de desemprego. Ainda tentando barateá-lo, a Tec Toy o lançou sem o modem de 56k que acompanhava o console, o que era exatamente o seu principal atrativo: os jogos multiplayer online.

Para piorar, a empresa brasileira também passava por crises. Em 1997 (ano em que “comemorava” 10 anos) ela entrou com um pedido de concordata e passou por sérias reestruturações para continuar existindo. O Saturn era vendido no mercado, mas além de ser muito caro, sofria com a predominância predatória do PlayStation, que era bem mais barato e atraente aos consumidores.

Antes mesmo do DC sair de linha, a Tec Toy percebeu que o futuro não era promissor para a sua sócia japonesa e então decidiu desfocalizar-se do mercado de videogames e ampliar seu campo de atuação, fabricando karaokês (verdadeira febre na época), DVD players e MP3 players. Conseguiu sobreviver, mas sua principal renda ainda provém dos videogames, as variantes do Master System e Mega Drive com dezenas de jogos na memória (e de qualidade bem duvidosa). Ainda há fãs que sonham que a Tec Toy possa relançar, um dia, uma versão do Dreamcast, assim como faz com os consoles antigos. Mas acho isso pouco provável.

O Dreamcast teve sucesso razoável, apesar do alto preço, chegando a 20.000 unidades após 10 meses. A Tec Toy não o importa desde 2006, quando foi retirado de linha no Japão. Nesse mesmo ano, revelaram seus jogos mais vendidos no Brasil:

  1. Sonic Adventure
  2. Sonic Adventure 2
  3. Sonic Shuffle
  4. Blue Stinger
  5. Monaco Grand Prix
  6. Tomb Raider: The Last Revelation
  7. The King of Fighters Dream Match ’99
  8. Hydro Thunder
  9. Resident Evil Code: Veronica
  10. Virtua Striker 2
  11. Sega Rally II

Comerciais da Tec Toy

[Tec Toy] Dreamcast 

[Tec Toy] Dreamcast 

  

Conclusão

Apesar do fim prematuro,  o console havia vendido mais de 10 milhões de unidades até 2002, e alguns jogos – oficiais e caseiros – continuaram sendo lançados, inclusive até os dias de hoje. “Crazy Taxi 2”, “The King of Fighters 2001/2002”, “Phantasy Star Online Ver. 2”, “Shenmue II”, “Sonic Adventure 2”, “Space Channel 5 Part 2”, “Ikaruga” (um de vários excelentes shoot’m up lançados para o console) e o último jogo oficial lançado para DC, o shoot’m up “Karous”. Recentemente, um novo shoot’m up 2D foi lançado para o console, chamado de Sturmwind.

O Dreamcast não marcou apenas a saída da Sega da primeira divisão das produtoras de videogames, mas marcou seu nome na história por ser o primeiro console doméstico de 128 bits, de ser o pioneiro dos serviços online para os seus usuários. Foram produzidos jogos fantásticos, que revolucionaram a indústria na época. Mas toda essa inovação, todo o carisma e os bons jogos, não foram suficientes para resistir à grandiosidade do titã PS2 e da marca “PlayStation”, que já vinha com uma forte bagagem da geração anterior, passando por cima não apenas do DC, mas também do Game Cube e do Xbox.

O DC foi um console fantástico, e quem teve um com certeza não se arrependeu, pois proporcionou lembranças inesquecíveis aos seus donos. Convido você leitor, a deixar seus comentários e compartilhar suas experiência e lembranças desse maravilhoso videogame. E se você é um dos que não pode desfrutá-lo em sua época áurea, se puder, invista em um DC usado, pelo valor histórico e legado que nos deixou… o último console da Sega… o seu último sonho…

Alguns dos jogos clássicos

Como todo bom console Sega que se preze, o Dreamcast teve alguns dos jogos mais criativos e inovadores da sua época, e apesar de não possuir uma grande quantidade de títulos, ele tem uma boa variedade capaz de agradar a todo tipo de jogador. Confira abaixo alguns desses games que marcaram a história do Dreamcast.

Shenmue 1 e 2

Idealizado pelo lendário Yu Suzuki, Shenmue foi lançado em 2000 no ocidente e pode ser definido como “revolucionário” e “ousado”. Uma das maiores obra-primas dos videogames, seguindo o estilo RPG ação, ou como ineditamente batizado FREE (Full Reactive Eyes Entertainment), que oferecia ao jogador um nível de interatividade com cenários e personagens inigualável naquela época (Shenmue manda um “alô” de 13 anos para os fãs de Skyrim), bem como um sistema inovador que simulava as condições do clima em tempo real, jogadores não jogáveis com falas diferentes dependendo do dia, foi o pioneiro nos hoje famosos Quick Time Events e várias outros detalhes como máquinas que vendem brindes, fliperamas e lojas de conveniência. Se o primeiro já era revolucionário, o segundo chegou para sacramentar o potencial que o Dreamcast podia oferecer, oferecendo visuais fantásticos (Suzuki disse na época que o PS2 não tinha capacidade para rodar Shenmue, e o segundo game chegou a sair para Xbox, e apesar das melhorias técnicas, não tinha o  mesmo charme). Foi um dos jogos de produção mais cara de todos os tempos, com um custo em torno de US$70 milhões para os dois jogos, naquela época (quase US$100 milhões para os dias de hoje). Claro que toda essa grana investida não teve o retorno esperado por causa do insucesso do Dreamcast, e a saga que devia ser em três games, teve apenas dois lançados. Milhares de fãs aguardam ansiosamente por um anúncio da Sega pela terceira parte nos consoles atuais. Dois jogos que sem dúvida marcam presença em qualquer lista, de respeito, de “melhores games de todos os tempos”, pois não se fazem mais “Shenmues” hoje em dia.

Sonic Adventure 1 e 2

Depois dos games clássicos do ouriço no Mega Drive, sem dúvidas os dois Adventures são as melhores aventuras dignas do célebre mascote da Sega. Cenários 3D coloridos e totalmente exploráveis, sensação de velocidade incríveis, uma história bacana com os personagens sendo dublados pela primeira vez (além de contar com novos e estilizados designs para o século XXI), marcam os dois games numa das experiências mais marcantes do seu tempo, apesar dos bugs e problemas com a câmera. Os dois títulos tiveram versões HD recentemente lançadas no PS3 e X360.

Jet Set Radio

JSR foi o precursor do uso da técnica “cel-shading”, que dá aos gráficos poligonais o aspecto de um desenho animado, que para a época, era novidade. Mas não apenas isso, JSR era extremamente original e esbanjava criatividade, em que você controla uma gangue de grafiteiros (ou pichadores de rua, para usar um termo mais antigo) com a missão de fazer do  mundo um lugar mais colorido e alegre, com o poder da arte de rua, rendendo horas de diversão. Há versão HD para PS3, X360 e PC.

Crazy Taxi 1 e 2

Outro título que esbanjava criatividade, com uma diversão arcade sem compromissos. Você é um taxista que deve levar pessoas das mais diversas personalidades para os lugares mais malucos da cidade, no menor tempo possível e realizando manobras e feitos escandalosos para agradar os fregueses. Tudo isso ao som de The Offspring, que embalava as malucas corridas e deixava tudo ainda mais divertido. Também recebeu uma versão HD recentemente.

Ikaruga

Como já dito, o DC possui uma biblioteca de games shoot’m up bem generosa, e um dos mais venerados é “Ikaruga”, com visuais e efeitos maravilhosos, com um nível de desafio estimulante. Produzido pela Treasure e lançado em 2001 para arcades, ele é uma sequência espiritual do também ótimo Radiant Silvergun (Arcade, Saturn e XBLA) e ganhou versões para Game Cube, XBLA e Android. Um jogo que marcou a geração shooter para sempre.

Skies of Arcadia

O DC tinha poucos RPGs mas “Skies of Arcadia” era uma excelente opção, desenvolvido pela divisão Overworks da Sega. Ele se destacava pelos seus visuais cheios de estilo e uma história que envolvia piratas e barcos que voam. Oferecia uma ambientação bem mais leve e tranquilo de jogar do que os “pesados” RPGs “cyberpunks”, influenciados principalmente pelo sucesso fenomenal de “Final Fantasy VII”.

Phantasy Star Online

A marca Phantasy Star já era bem conhecida, e famosa, graças aos jogos do Master System e Mega Drive, mas PSO foi um verdadeiro marco na história da Sega, pois era o principal responsável de levar os donos de DC para jogatinas online na internet (junto com Quake 3 Arena – que recebeu uma versão lixo no PS2), algo completamente novo e empolgante na época. Produzido pela Sonic Team, o jogo foi aclamado pela crítica e marcou toda uma geração de gamers. Ele gerou as sequências PSO Episode I & II lançado para Game Cube e Xbox em 2002, PSO Episode III em 2003  em 2012 foi lançado PSO 2, para PC, Vita e Android (o jogo ultrapassou os 2,5 milhões de usuários registrados até maio de 2013 – ainda não há uma data para lançamento no ocidente).

Grandia II

Mais um RPG de respeito, desenvolvido pela famosa (na época) Game Arts (pelo mesmo time que fez a série “Lunar Silver Star Story”), a série Grandia marcava pelo seu estilo anime e o RPG tradicional, mas com ambientes em 3D de alta qualidade. O jogo também chamava a atenção pela trilha sonora composta pelo aclamado compositor Noriyki Iwadare. Recebeu versões para PS2 e PC, mas ambos eram inferiores ao original. Um clássico do oldschool RPGs.

Resident Evil Code Veronica

Um dos preferidos dos fãs da famosa série de survival horror da Capcom e foi o primeiro da série a ser desenvolvido para um sistema 128 bits e a utilizar princípios tridimensionais e ambientes poligonais, ao invés dos cenários de fundo pré-renderizados e estáticos. Além disso, apresentava uma excelente história, trilha sonora e animações muito bem trabalhadas. Versões para Game Cube e PS2 foram lançadas, mas ficaram bem abaixo da qualidade apresentada no DC.

Soul Calibur

“Soul Calibur”, uma verdadeira obra de arte no DC, quem tinha o console, era obrigatório. Além dos shooters, algo em que o DC arrebentava era nos jogos de luta, um verdadeiro paraíso para os entusiastas do gênero, tanto em 2D como em 3D. São tantas ótimas opções que seria um crime não citá-las (desnecessário dizer que as versões dos concorrentes eram bem inferiores): “Marvel vs Capcom 1 e 2”, “Capcom vs SNK 2”, “Street Fighter III 3rd Strike”, “Guilty Gear X”, “Dead or Alive 2”, “Virtua Fighter 3”, “Power Stone 1 e 2”, “Street Fighter Alpha 3”, entre vários outros.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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