Análises

Alan Wake

– Medo do escuro? Chame por Alan Wake –

“Alan Wake” é daqueles jogos que tem histórias curiosas, quase ficando no gênero do ‘vaporware’. Depois de tantos adiamentos e papo furado da produtora, enfim o jogo chega às nossas mãos gordurosas de gamers sedentos por um ‘survival horror’ legítimo. O jogo hegou a ser chamado de “Alan Wait” pelos haters, e pra ser sincero, achei que teria o mesmo destino de outros famosos (Duke Nukem Forever, Sadness, etc)…

Enfim vamos ao enredo. Alan Wake é um escritor famoso, nitidamente estafado com tanto trabalho. Ele decide ir com a esposa pra passar férias em uma cidade pequena, onde ele jurava que ninguém o acharia por lá. Porém ele leva o celular e os problemas já começam logo de cara, com seu editor ligando pra ele. Ao chegar na cidade todo mundo já reconhece o tal escritor, frustrando completamente os planos do pobre famoso. Então as coisas só vão piorando, incluindo pesadelos sombrios, em que as pessoas são dominadas por uma espécie de força negra, que só pode ser combatida pela luz. Quer dizer, se você realmente achar que é um pesadelo, e não a realidade.

O que dá a entender desde o princípio, incluindo no nome do sujeito (Wake seria acordar), é que nosso querido escritor é um psicótico que começa a perder a noção do que é real. O jogo usa e abusa de diversos clichês do gênero, incluindo aí diversas citações às obras de Stephen King (incluindo uma cena exatamente igual do “O Iluminado”), e claro os famosos flashbacks tão em voga nos dias de “Lost”. Também há diversas referências à obra da Konami, “Silent Hill”, incluindo uma policial que te ajuda, fora um atropelamento no início do game. Quem é fã dos jogos de terror e filmes mais antigos vai encontrar muita coisa espalhada no game. Além disso há diversos ‘flashbacks’ dentro de outros ‘flashbacks’, meio complicado de explicar, e é preferível que você jogue para entender. Algo que pode confundir bastante a cabeça e deixando no ar um clima ao melhor estilo de filmes de David Lynch (quem assistiu ‘Twin Peaks’ vai curtir muito).

Outra coisa que é bastante interessante e chama a atenção é que o jogo é dividido em capítulos, semelhantes à séries americanas. Você tem um prólogo, com um resumo do que aconteceu no capítulo anterior, e quando fecha aquela parte da história, é lançado à continuação, com cenas do próximo episódio e tudo mais. Isso é bem legal e ajuda quem não tem muito tempo de jogar por exemplo, já que a história é um pouco confusa no princípio, e dificilmente alguém vai perder o fio da meada com esse sistema, podendo continuar a história do começo de tal capítulo por exemplo. Outra coisa interessante é que Alan Wake narra a história o tempo todo, ou seja, ele como contador de histórias é espetacular, e ajuda a criar o clima de seriado que a narrativa tanto pede.

Os inimigos como disse acima, são criaturas dos livros de Alan Wake, dominados por uma estranha força escura, que envolve seus corpos. Todos são completamente psicopatas e correm atrás de você com machados e armas não convencionais, querendo a todo custo sua pele. O único jeito de enfrentá-los é através da luz, podendo ser uma luz de lanterna por exemplo. Utilizando a luz contra seus corpos, eles são libertos da nuvem negra que os envolve (Lost?), ficando vulneráveis a tiros de armas de fogo. Então Alan Wake sempre terá a sua disposição uma lanterna e uma arma de fogo, além de diversos apetrechos espalhados pelos cenários que ajudam a lidar com os monstros. Quando Alan Wake é atingido por um inimigo, pode se recuperar embaixo de fontes de luz, ou seja, o grande artifício do game é o embate entre a escuridão das trevas com as luzes divinas (ou seja lá o que for).

E fica aqui o grande destaque do jogo. Se “Alan Wake” não é nada tão memorável como tanto prometeram, como andam falando por aí, ao menos uma coisa o jogo vai deixar de legado daqui pra frente: a iluminação. É incrível como tudo é bem iluminado e a profusão de cores com a mistura entre os feixes de luzes provocam nos cenários, misturados à floresta e efeitos de ‘profundidade’. Se você entende um pouquinho de 3D sabe como é pesado mesmo pra máquinas, o uso de luzes e sombras projetadas. “Alan Wake” é um verdadeiro show de luzes e cores, que misturados ao cenário que não tem texturas tão bonitas, ao menos fica muito bem composto na tela. Ponto tanto pra arte, como pra programação.

Em compensação, temos aqui um tremendo ‘epic fail’ desta geração. Os filmes que contam a história do jogo, que foram renderizados em máquinas poderosas, foram tão mal produzidos que não dá pra entender como uma obra que teve um uso tão perfeito das luzes, não teve o mesmo esmero na caracterização dos personagens. Quando Alan abre sua boca pra falar por exemplo, dá vergonha. Quando sua esposa olha pra ele com um olhar de peixe morto, você vai se segurar pra não rir. É coisa que as CGs lá do PS One conseguiam, guardadas as devidas proporções, serem muito mais bonitas que de “Alan Wake”. Senão acredita, só procurar por aberturas de jogos daquela época, e ver um pouquinho do Alan Wake conversando com aquela boca esquisita, que estranhamente fica o tempo todo aberta.

Tirando esses probleminhas, “Alan Wake” é um exemplar puro do ‘survival horror’. O jogo além de mexer com o terror psicológico, deixando o jogador cada vez mais confuso, coloca você num lugar sombrio e completamente afastado, com pouca munição e pilhas pra lanternas (sim você precisa trocar o tempo todo elas), junto a uma quantidade razoável de inimigos estranhos, que vão ficando cada vez mais perigosos e rápidos. Como o jogo é da Remedy, a mesma produtora do clássico “Max Payne”, você também vai encontrar alguns ‘bullet times’, principalmente quando desvia de ataques de machadadas de inimigos. O jogo deixa claro uma coisa, às vezes é melhor correr e procurar um caminho alternativo do que enfrentar os inimigos e arriscar perder tudo. Esse é o ponto forte, ou seja, o verdadeiro ‘survival horror’, que é antes de tudo sobreviver, e atirar só quando estiver encurralado.

Sammy Anderson

Fundador do GameHall e produtor do programa Versus.

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