Análises

Castlevania: Bloodlines

No começo da era 16 Bits a Nintendo manipulava a maioria das grandes softhouses com contratos de exclusividade de games para as suas plataformas, fato que prejudicava bastante a Sega e o seu Mega Drive. Mas a festa acabou para a Nintendo quando acabaram com essa exclusividade e games antes vistos somente nos consoles da Big N, começaram a sair no 16 Bits da Sega, como “Street Fighter 2, Tartarugas Ninjas” e o clássico mor da Konami, Castlevania.

E é justamente desse último que iremos falar nesta análise. Em 1994 os fãs do Mega Drive finalmente teriam um jogo inédito e exclusivo da série Castlevania em seu console, o “Castlevania: Bloodlines“. Produzido pela Konami, foi o único título a sair para a plataforma, e apesar de não ser tão bom quanto oSuper Castlevania IV” do Super Nintendo, ele apresentava novidades interessantes que o seu concorrente não tinha. E o melhor de tudo, não era uma versão meia-boca do SNES para o MD.

Para começar, o título apresenta um nível de violência e sangue bem maior que os jogos da Nintendo (que era conhecida por suas exigências de censura). O inimigo aqui não é apenas o Drácula, mas também sua sobrinha que deseja ressuscitá-lo. Há dois personagens para serem escolhidos e os ambientes e cenários não se passam apenas nas terras do Conde Drácula, mas por várias partes da Europa.

 

as telas de aberturas das diferentes versões

“Boodlines” teve três versões lançadas, a americana, japonesa e europeia, que apresentam algumas diferenças entre si. No Japão teve o nome de “Vampire Killer” e na Europa, mais conservadores, trocaram o “Bloodlines” por “The New Generation”. A única diferença na versão japonesa é que a aparência de Eric Lecarde era mais feminina, enquanto nos EUA mudaram para uma feição mais “bad boy” e máscula. A versão europeia foi a única que sofreu censuras. Na tela título, além do nome, o sangue que pinga no chão foi mudado para água (que nem pinga). Uma fonte da quinta fase, que jorra sangue, também foi mudada para água. Alguns zumbis de cor avermelhada foram trocados por cor verde e Eric ao morrer não era empalado por sua lança. Há mais algumas diferenças, como localização de inimigos e uma dificuldade mais moderada, já que a versão americana é considerada bem difícil.

“Castlevania Bloodlines” é um jogo digno da série e que faz bonito no console da Sega. Vamos então para a sua análise.

Matadores de Vampiros

O game conta com uma abertura bem bacana, que vai te situar no ano de 1917. Após a última derrota de Drácula, em 1897, um feiticeiro praticante de magia negra acaba revivendo acidentalmente a condessa Elizabeth Bartley, sobrinha de ninguém menos que o próprio Drácula. Com os planos de trazer novamente a esse mundo o “titio“, ela inicia a Primeira Guerra Mundial em 1914, matando os descendentes da coroa austríaca (atentado esse que realmente iniciou a guerra em nossa história). O plano era conseguir através da guerra, milhares de mortes e almas suficientes para ressuscitar Drácula, coisa que aconteceu em 1917.

a sobrinha-vampira – dá um caldo né?

Mas então surgem dois destemidos caçadores de vampiros para impedir os planos maléficos da condessa. John Morris, descendente dos Belmont e o atual possuidor do lendário chicote “Vampire Killer” é o único capaz de impedir que Drácula reapareça em seu tempo, e por isso terá que atravessar a Europa até chegar às ruínas do Castelo de Drácula, na Transilvânia. Pra ajudá-lo na difícil tarefa, ele conta com a ajuda de Eric Lecard, seu amigo desde a infância. Lecard teve seu par romântico, Gwendolyn,  transformada em uma vampira pela condessa Bartley. O que aconteceu com ela não é bem definido, mas provavelmente foi morta pelas mãos de Lecard, que parte então atrás da condessa por vingança. Eric usa como arma a “Lança de Alucard” (que aparece na versão de “Symphony of the Night” do Sega Saturn), uma lança mágica que foi dada pelo próprio Alucard para ele (isso pode ser visto em “Castlevania: Judgment”. Eric também faz uma participação como personagem NPC de “Castlevania: Portrait of Ruin”). Algumas pessoas especulam que Eric seja da linhagem de Alucard, mas isso não é comprovado (ainda) pela cronologia da série.

 

os novos heróis matadores de vampiros

Os dois personagens são bem diferentes entre si, pessoalmente acho o Eric Lecard bem melhor para se jogar, com ataques mais variados com a sua lança. É interessante ver como o personagem de Eric ganhou um certo status na cronologia da série, já aparecendo em outros dois games Castlevania além de Bloodlines. O filho de John Morris, Jonathan Morris, é o personagem principal de “Castlevania: Portrait of Ruin“. Também é interessante perceber que a história de Bloodlines tem diversas referências à obra de Bram Stoker, como o fato de John Morris ser filho de Quincey Morris, um dos personagens do livro. É uma espécie de continuação paralela da história de Bram Stoker.

A personagem Condessa Bartley foi inspirada na figura histórica da Condessa Elizabeth Bathory, que nasceu em 1560 e entrou para a história por uma suposta série de crimes hediondos e cruéis que teria cometido, vinculados com sua obsessão pela beleza (como matar jovens virgens e banhar-se em seu sangue para manter a juventude e beleza). Ela ficou conhecida como “A Condessa Sangrenta” e “A Condessa Drácula“. Bem apropriado não? O game ainda tem referência de morte de Franz Ferdinand (não, não é a banda!) da Áustria. Morreu assassinado, junto com a sua esposa Sofia, Duquesa de Hohenberg, em Sarajevo, na Bósnia, em 28 de Junho de 1914. Era sobrinho de Francisco José, imperador do Império Áustro-Húngaro. Herdeiro do trono em 1896 após uma sucessão de mortes na família Habsburgo, seu assassinato, cometido pelo extremista Gavrilo Princip, membro de elite do grupo terrorista “Mão Negra” (que no game é sugerido que foi ordenado pela sobrinha de Drácula), desencadeou a Primeira Guerra Mundial.

Gráficos sangrentos

Mas chega de história e vamos analisar outros aspectos, comos os gráficos do jogo. Bloodlines se apresenta muito bem na tela e é o primeiro game da série a apresentar elementos mais sangrentos, como o seu próprio título já sugere, como a tela de abertura com sangue, a fonte que jorra o precioso líquido vermelho, sangue que pinga dos teto nas fases, animações de algumas mortes de inimigos e alguns detalhes nos cenários ao fundo, dando um toque especial que as versões Nintendo não possuíam.

Os gráficos são bons, mas não são espetaculares. Algumas fases apresentam um design artístico bastante inspirado, como as fases que passam dentro de castelos, com um nível de detalhismo muito grande, como as vidraças se espatifando por causa dos uivos do primeiro sub-chefe da primeira fase. Outras fases apresentam alguns efeitos especiais visuais incríveis, como a torre que se balança na terceira fase e as animações dos personagens, que também estão bem detalhadas. Os inimigos também estão muito bem representados, com as já clássicas caveiras/esqueletos, zumbis, cabeças de medusa, gárgulas e outras criaturas. Os sub-chefes e chefes de fase também estão bem bacanas, oferecendo um alto grau de desafio aos jogadores. A primeira fase, dentro das ruínas do Castelo de Drácula, lembra muito a primeira fase de “Symphony of the Night” e do primeiro Castlevania para Nes (depois refeito no Snes). Os gráficos não se apresentam de uma maneira mais “dark” e gótica, como na maioria dos outros jogos, apresentando cenários mais coloridos do que de costume.

São seis fases divididas em várias sub-fases, que se passam por pontos turísticos da Europa, como a Romênia, a Torre de Pisa na Itália, o Templo Atlantis na Grécia, passando ainda por Alemanha, França e a última fase, Inglaterra. As fases são longas e a dificuldade é bastante alta, não chega a ser o mais difícil da série, mas também não é moleza. Os cenários mudam conforme o personagem que você está usando, resultando em um fator replay obrigatório. Você tem duas opções de dificuldade (easy e normal) e zerando o jogo você acessa o modo expert.

Confira abaixo alguns cenários do jogo:

Fase 1 – Castelo do Drácula

 

a primeira fase no interior do Castelo do Drácula, este é o primeiro sub-chefe, o lobão Hellhound

Fase 2 – Templo de Atlântida

 

fase com ação na horizontal e vertical, com vários minotauros, colunas quebráveis e plataformas pelo caminho. E para complicar, a maré vai subindo e você precisa ser rápido para chegar ao topo antes de se afogar

Fase 3 – Torre de Pisa

 

outra fase com muita ação vertical e que apresenta muitos efeitos visuais incríveis

Fase 4 – Fábrica de Armas

 

uma fábrica de armas e munições, com vários soldados e esqueletos pelo caminho. Fase bem chatinha e difícil, com várias plataformas e as engrenagens típicas da série Castlevania

Fase 5 – Palácio de Versailles

 

aqui as coisas se complicam ainda mais, com vários tipos de inimigos pelo caminho

Fase 6 – Castelo de Prosperina

 

a última fase é no castelo de Elizabeth. Aqui o negócio é pedreira, você irá enfrentar a morte, os chefes anteriores,a própria Elizabeth e então Drácula

 Jogabilidade

A jogabilidade do game é bem rápida e não apresenta slowdowns, que se desenvolve tanto na horizontal como na vertical. Controles precisos com uma fácil movimentação dos personagens na tela. John Morris usa o chicote como arma, já no estilo tradicional da série, podendo chicotear para cima ou para baixo, e ainda prender o chicote no teto e assim atravessar longos precipícios. Já Eric Lecard pode atacar em todas as direções com a sua lança (menos quando salta) e é capaz de realizar longos saltos com a ajuda da lança, alcançando trajetos que seriam impossíveis para John Morris. Apertando o ataque e rapidamente a direção oposta faz com que Eric gire sua lança retalhando ou repelindo ataques inimigos a curta distância.

Ambos os personagens podem coletar upgrades para suas armas, aumentando sua força em até quatro níveis. O chicote de Morris em seu nível máximo se torna um raio de energia e a lança de Eric começar a emitir uma energia verde de sua ponta e seus ataques ficam mais poderosos. Porém se forem atingidos, perdem instantaneamente esse upgrade. Os itens especiais estão de volta, você pode usar o machado para acertar inimigos que estão no alto, água benta para alvos no chão e o bumerangue para ataques à distância. Também é possível usar magias extras que acerta o que estiver na tela.

A trilha sonora é muito boa e segue o padrão clássico da série, com composições no estilo gótico e músicas bem variadas, algumas bem sinistras, outras mais enérgicas, que se encaixam perfeitamente com os cenários e fases do jogo. “Castlevania Bloodlines” marca também a estreia da talentosa compositora Michiru Yamane na série Castlevania, que três anos mais tarde lançaria sua obra-prima na fantástica trilha sonora de “Symphony of the Night“. Minha música favorita é a Iron Blue Intention, tema da quarta fase. Outra já clássica é o remix da Simon’s Theme/Dance of the Holy Man (do primeiro Castlevania e do Super Castlevania IV do Snes). O game também apresenta efeitos sonoros bem bacanas, como relâmpagos nos céus, vidros se estilhaçando, explosões, gritos, uivos, etc.

Witness the might of the Alucard Spear!

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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