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Final Fantasy VII: Advent Children

por Márcio Alexsandro Pacheco

* matéria escrita no lançamento do filme em 2005

A animação que mudou o mundo

A essa altura do campeonato todo mundo, mesmo aqueles que não são ligados ao cenário dos videogames, já deve ter ouvido falar da série “Final Fantasy”, uma das mais tradicionais e famosas na área de games. Desde a era dos 8 Bits, a série vem acompanhando a evolução dos videogames e marcando a história gamística com jogos de produções primorosos, fantásticas histórias de fantasia e personagens inesquecíveis.

Em 1997 a história dos games ficou marcada com o lançamento de “Final Fantasy VII para o PlayStation  e a nova geração dos 32 Bits, tornando-se um dos mais importantes, amados e conhecidos jogos da série. O game é uma obra-prima da Square-Enix, com belos gráficos, um sistema inovador de batalhas, impactantes CGs, personagens maravilhosos e uma história fantástica e emocionante que maravilhou pessoas em todo o mundo.

Sim, “Final Fantasy VII” é tudo isso e muito mais, e com certeza possui um dos momentos mais marcantes e chocantes na história dos games, que é a morte de Aeris Gainsbourg, perecendo nas mãos do terrível Sephiroth, arrancando lágrimas dos mais “durões” dos gamers e deixando para trás uma legião de fãs comovidos e cheios de saudades.

Em 2001, a Square visando ganhar uma grana preta, resolveu lançar para o cinema a sua famosa série, tentando atingir um novo público, com o seu “Final Fantasy Spirit Within”. O filme prometia zilhões de coisas, entre eles ser o filme mais revolucionário da história com suas perfeitas (e milionárias) cenas de computação gráfica. Milhões em marketing foram gastos, e muito mais ainda foram torrados para fazer o filme. Tanto barulho para nada. “Final Fantasy Spirit Within” foi um dos maiores fiascos da Square, custando  à empresa bilhões de dólares de prejuízo. Apesar do filme realmente ter um visual impressionante, ele não possuía nenhum dos elementos que tornaram a série clássica durante seus anos de videogames e ainda por cima era chato e confuso. O público em geral não gostou e os fãs odiaram.

Toda essa introdução apenas para chegarmos ao ponto que interessa. Depois que “Final Fantasy Spirit Within”  levou centenas de milhões de verdinhas da Square para o triturador de lixo, ninguém esperava que ela voltasse a se aventurar na área cinematográfica. Foi então que ela anunciou que lançaria uma continuação do seu consagrado jogo, lançando um vídeo promocional que agradou a todos, e dando ânimo a Square para começar a produção de “Advent Children“, a sequência direta de “Final Fantasy VII”.

Como todo bom filme muito aguardado, “Advent Children” passou por muitos adiamentos e mudanças de plano. O que antes era para ser um filme de 60 minutos, mudou para 100 (oba). Assim puderam adicionar mais personagens, tomar um cuidado todo especial com os detalhes da história e todas essas coisas. Saiu um pacote em edição limitada com bugigangas do filme (tem até um celular que Cloud usa no filme), uma versão extendida de “Advent Children”, o jogo FFVII, um OVA (animação) de aproximadamente 25 minutos relembrando o passado de Cloud e Zack – chamado de Final Fantasy VII: Last Order” – , um “making of” e um mini-documentário chamado “Reminiscence of Final Fantasy VII“, para agradar aos fãs mais exigentes.

E a Square parece ter aprendido com o seu fracasso anterior, pois “Advent Children” apresenta tudo que os fãs sempre quiseram ver em um filme baseado em game. Apresenta os personagens que encantaram milhares de pessoas no game, possui cenas de computação gráfica jamais vistas antes, batalhas grandiosas de tirar o fôlego (pode ter certeza, você não vai querer nem piscar pra não perder um segundo sequer), uma história linda respeitando toda a mitologia do game e dando continuidade de forma magistral a história mostrada em “Final Fantasy VII“, o design dos personagens que está uma coisa absurda de perfeita, misturando realismo com a estilização dos animes (as vezes dá a impressão de estar assistindo a um filme com atores. E a Tifa está maravilhosa ^^).

E como senão bastasse, o filme possui músicas maravilhosas do sempre genial Nobuo Uematsu (pode esperar ouvir músicas clássicas do game sob novas roupagens e temas totalmente novos do talento esperado de Uematsu) mesclados com os sons de efeitos especiais mais detalhados possíveis (você consegue ouvir o barulho da roupa de couro de Sephiroth). Escute abaixo a nova versão de “One Winged Angel” (tema de Sephiroth) e confira você mesmo o talento de Uematsu. Uma sugestão: assista ao filme no volume máximo, não vai se arrepender. A música de encerramento, “Calling”, de Kyosuke Himuro (a única que não é de Uematsu) é um rock bem gostosinho que irá agradar a todos. Destaque também para os dubladores, que estão desempenhando muito bem o seu papel, com uma excelente atuação e entonação combinando com os personagens, que antes não possuíam vozes.

Para conseguir esse resultado magnífico, a Square convocou  para dirigir o filme um dos seus peso pesados e diretamente relacionado ao game, Tetsuya Nomura (que também é o designer dos personagens). O cara é fera e com certeza sabe o que faz, já trabalhou nos games Chrono Trigger, FFV, FFVI, FFVII, FFVIII, FFX, FFX2 e Kingdom Hearts. Temos também como co-diretor Takeshi Nozue, que trabalhou diretamente com as CGs de FFIX, FFX e o Kingdom Hearts, e o também já citado e aclamado, Nobuo Uematsu na trilha sonora.

Agora, sem medo de ser feliz, eu só posso dizer uma coisa: George Lucas e a sua Industrial Light & Magic (ou seria agora a Pixar?) que se cuide, pois os japoneses estão aí para provar que não é só de Hollywood que os filmes existem. Eu sei que já falei das CGs, mas não tem jeito, é impossível não continuar falando de como é espetacular o visual das cenas e seus ousados ângulos de câmeras (a sequência de Bahamut com certeza o deixará boquiaberto), cada uma delas é um show a parte, que só a Square e sua longa experiência em CGs poderia nos proporcionar. Todos os detalhes são reproduzidos de forma impecável, como a poeira, cabelos, tecidos, água, etc. E os toques genias de humor, como o celular de Loz que é a música de vitória das batalhas e as tiradas engraçadas ficam por conta dos Turks, que estão de volta. Os saudosistas também podem festejar, muitos elementos remetem aos episódios do game, como a luta da Tifa e Loz dentro de igreja onde Cloud Aeris se conheceram.

Comparações com Matrix é que não faltam, mas não se engane, “Advent Children” está anos luz da obra dos irmãos Wachowski. As cenas de ação possuem grande intensidade e ritmo, tudo isso aliado com um visual de cair o queixo com muito estilo e beleza que só os japas poderiam criar. Pensem numa mistura de Star Wars, com MatrixAnimatrix (inclusive foi a Square que fez as CGs) e animes de ação como Cavaleiros do Zodíaco (como na luta final, em que todos se unem para ajudar o personagem principal a derrotar o super-hiper-mega-malvado-vilão) e Dragon Ball, e vocês terão uma ideia do que estou falando.

A história envolve questões temáticas como a vida e a morte e a busca de Cloud por redenção, que dará o tom do filme até o seu final. Pode esperar encontrar todos os personagens clássicos do game, como CloudTifa (que está absurdamente linda!), a moleca Yuffie, o misterioso Vicent, o “gatinho” Red XIIICait SithCidSephiroth e os Turks. E então vocês me perguntam: “E quanto a Aeris?”. Ah sim, ela está presente no filme, mas não contarei nada para não estragar a surpresa.

O filme foi feito para fãs, quem nunca jogou “Final Fantasy VII” ficará boiando na história e não conseguirá perceber todas as sutilezas contidas no filme. Mesmo com 1 hora e 40 minutos de duração de melhor qualidade, é impossível não ficar com aquela sensação de “quero mais”, de que está faltando alguma coisa. O filme só peca em não ter um enredo mais bem desenvolvido e um número excessivo de cenas ação, sem falar do final clichê, mas que mesmo assim emociona. Não se preocupe que a diversão é garantida, e se você for fã do game, vai agradecer aos céus por esse filme. Se você achou que o final de FFVII foi inconclusivo, o filme vai tratar de fechar todas as pontas soltas. A luta titânica entre Cloud e Sephiroth (e a sua última frase ecoará nos sonhos dos fãs: “Não serei apenas uma lembrança“) é um espetáculo audiovisual à parte, ao som da nova versão de “One Winged Angel”.

O último capítulo da busca de Cloud por redenção e o perdão de seus pecados. Reparem nas expressões faciais de Cloud nas últimas cenas, incrivelmente realistas e bem feitas, e tentem descobrir qual foi o desfecho psicológico dessa trama a que ele chegou (essa cena quase me levou  às lágrimas). Vejam o filme e relembrem porque Final Fantasy VII foi um game tão aclamado, revivam o mundo mágico de Midgar, lembrem-se do ódio por Sephiroth e principalmente, estejam preparados para lembrar de Aeris e saber o quanto ela é amada e faz falta.

Leia abaixo profile de todos os personagens e curiosidades sobre “Advent Children” e sobre o anime “Last Order”:

A história de Final Fantasy 7: Advent Children

*Contém Spoilers*

Bom, como a maioria já sabe, o filme trata dos eventos posteriores mostrados no final de Final Fantasy VII. E é exatamente do final do game que o filme começa, mostrando 500 anos depois do fim do jogo o felino Red XIII com seus filhotes olhando para o horizonte para uma Midgar destruída e cheia de árvores.

Logo depois nós voltamos no tempo e é mostrado dois anos depois dos acontecimentos de FFVII, com os Turks entrando em cena com uma atividade em que algo saí errado. Um flashback aparece mostrando uma breve recapitulação dos acontecimentos importantes do jogo, narrados pela filha adotiva de Barret (que no filme está à procura de novas fontes de energia), a “xaropinha” Marlene.

Ficamos então sabendo que o mundo passa por um processo de reconstrução, a odiada Shinra já não mais existe e a vida continua para as pessoas que sobreviveram. Várias pessoas sofrem de uma doença incurável chamada Geostigma, causada pelas feridas no Planeta e pelo caos causado no Lifestream por causa do Meteoro e do sangue de Jenova, a “mãe” de Sephiroth.

Podemos então presenciar o que aconteceu com Tifa, que está mais linda do que nunca e agora trabalha num orfanato (o seu antigo bar 7th Heaven) cuidando das crianças que sofrem da terrível doença Geostigma. Era para Cloud estar trabalhando lá ajudando Tifa, mas como sabemos ele é um cara de personalidade reservada e solitário (pra não dizer problemático), que se afastou de seus amigos e vaga pelo mundo em busca de respostas para os seus demônios internos (a culpa pela morte Aeris e Zack). Mas ele carrega um celular (que chique) para ouvir as mensagens dos seus amigos.

Em meio a tudo isso aparecem três motoqueiros de cabelos prateados e olhos verdes (lembra alguém?), supostos clones de Sephiroth e que estão a procura da sua “mãe”, Jenova para convocar uma misteriosa “Reunião”.

A partir de então a trama engata de vez e temos um espetáculo audiovisual da melhor qualidade e um festival de combates alucinantes. Ficamos sabendo que Kadaj (o líder da gangue de clones de Seph) tem como plano reunir todas as células de Jenova (que seriam as pessoas infectadas com o Geostigma) juntamente com a cabeça (?!) de Jenova, a única coisa que sobrou do combate dela contra Cloud e companhia (no game Final Fantasy VII). Temos também a simbologia estabelecida entre a personalidade “problemática” de Cloud e a misteriosa figura de um lobo, através de cenas visualmente psicológicas e metafóricas.

Quer saber mais? Vá assistir ao filme, eu já até falei demais. Quer saber o que acontece com os clones de Sephiroth? Qual o papel dos Turks? Conseguirá Cloud descobrir o perdão em seu coração amargurado? E quanto a Aeris, a eterna Flower Girl, qual o papel dela nesse esquema todo? Assista e descubra.

Trailer E3 2005

Music Clip FF VII Last Man Standing

“Ela nunca mais vai sorrir… nunca mais vai rir… não vai mais chorar…”

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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