Análises

Final Fight

“Final Fight” lançado em 1989 para arcades pela Capcom é, sem dúvida, um dos maiores games de pancadaria (os famosos beat’m up) da história dos videogames. Foi um divisor de águas no gênero, que antes brilhava com os títulos “Double Dragon”, em especial. Ainda na prancheta, o game foi idealizado para ser uma sequência do original “Street Fighter”, e seria batizado de “Street Fighter ’89”, mas acabou ganhando personalidade própria e virou “Final Fight” mesmo.

O título ganhou várias versões em vários consoles desde então, sendo a versão do Super Nintendo a mais famosa, mas longe de ser a melhor. Sim, isso mesmo que você leu, a versão de “Final Fight” para o 16 Bits da Nintendo é superestimada (a maioria dos textos que leio sobre essa versão são muito saudosistas ou não conheciam a versão original). Quem é daquela época, deve se lembrar do alvoroço que o título causou ao sair para o SNES. Eu mesmo, lembro de ter lido numa Ação Games (de número 1 ou 2) uma notinha sobre o lançamento do game no Japão, com uma imagem do Cody que parecia idêntica ao fliperama. Claro que fiquei babando, eu já conhecia o “comedor de fichas” dos flippers dos botecos das esquinas, e seria um sonho realizado jogar o game no conforto de casa.

Final Fight no arcade

Algum tempo depois eu comprei um SNES e para minha grande decepção, joguei “Final Fight” nele. Lembro que o console (e o jogo) não me impressionaram muito, afinal, foram muitos anos (e fichas) jogadas no excelente arcade, e além disso eu já detonava um tal de Streets of Rage no Mega Drive, ao som das espetaculares músicas de Yuzo Koshiro. Logo de cara achei esquisito a falta de cores no jogo, era tudo pálido e sem graça, sem as cores vivas do arcade. Mas isso foi só o começo: faltava um personagem, tinha quadros de animação a menos, uma fase inteira foi cortada, as gostosas travestis sumiram, o jogo era lento, os controles travados. Mas o pior de tudo, “Final Fight” para SNES era apenas para UM jogador. Como assim??? A coisa mais legal no flipper era chamar um amigo e sair dando porrada nos maloqueiros nas ruas (até o rival “Streets of Rage” oferecia isso), e a Capcom simplesmente cortou esse barato dos seus jogadores, sob alegação de “falta de capacidade do console”. Aham tá bom senta lá cláudia, falta de competência, isso sim (mas tudo bem, a empresa estava começando no console e não conhecia bem o que ele podia oferecer, ela se redimiu depois com ótimos e inesquecíveis games para o SNES).

Mas a coisa não parou por aí não. Se você é fã desse jogo no console da Nintendo, provavelmente vai me xingar depois, mas acredite, estou sendo o mais honesto possível nesta análise (e se eu conseguir fazer você fã xiita mudar de ideia no final desta review, sentirei que fiz bem o meu trabalho). É claro que o game também tem os seus méritos, continue nos acompanhando para mais detalhes.


massacre o carro do coitado, no arcade ele diz “oh my God”

Quebrando o pau na cidade

A história todo mundo deve estar careca de saber, mas é sempre bom dar uma recapitulada (sempre tem um parvo que não conhece). Estamos na violenta cidade de Metro City, dominada há anos pela gangue de Mad Gear. O bandidão, para mostrar ao novo prefeito, Mike Haggar, quem manda no pedaço, rapta a sua bela filha Jessica e começa a chantagea-lo para fazer vista grossa aos negócios inescrupulosos da gangue. Mas para o seu azar, mal sabiam eles que o prefeito era um ex-campeão de luta-livre e uma verdadeira montanha de músculos de fazer inveja a qualquer Zangief. Para não ficar com toda a diversão só para ele, acaba chamando o namorado da filha, Cody, e o seu amigo japonês Guy, para sair nas ruas espancar os bandidos e salvar Jessica. Era assim que se fazia no final dos anos 80.

Cody é o típico lutador de rua, habilidoso e bastante equilibrado, combinando agilidade e força. Já Haggar é lento pacas, mas seus golpes são piores que dois martelos do Thor, e seus golpes são mais estilosos (porque dar “pilão” nos inimigos ruleia!). E o Guy, um mestre das artes marcias, mas ele não aparece nesta versão.

escolha um dos três… ops… wtf…

O jogo possui cinco fases, uma a menos do que o original (a fase Industrial Area, com o chefe Rolento – ao menos as fases bônus estão lá), e passa por cenários típicos de uma cidade violenta (ou de um filme de ação dos anos 80) como becos, metrô, bares, ringues de luta clandestinos e demais “buracos” e quebradas que os marginais possam frequentar.

A versão para SNES sofreu uma grande perda gráfica nos cenários, que no original eram bem desenhados e cheios de detalhes, e que agora ficaram muito mais simples e sem cor (mas no geral ainda são bons). Mesmo assim podemos dar um desconto, já que o design dos personagens e da bandidagem ficaram muito bons, com sprites bem grandes e detalhados na tela, apesar de possuirem bem menos quadros de animação, deixando a movimentação menos fluída e meio dura. A maloquerada também está bem representada, com os seus trajes típicos dos anos 80, com roupas de couro apertadas, cabelos punk coloridos, coletes de gosto duvidoso, deixando bem claro para o jogador quem merece levar uns cacetes!

o visual até que está bacana

Estão QUASE todos lá. Fora o chefe Rolento, as gostosonas Poison e Roxy foram censuradas na versão americana (pois a Nintendo não tolera que se bata em mulheres – travestis ou não, Maria da Penha neles!). E o que temos no lugar delas? Dois punks magrelos e sem graça chamados Billy e Sid.

 no no no, nada de gostosas, esse é jogo pra macho

A qualidade sonora também não está à altura dos chips do SNES, perdendo mesmo para as batidas dos sintentizadores midi dos arcades. Apesar de serem as mesmas músicas, no console elas ficaram chatas e sem vida. Mas um dos maiores problemas está na jogabilidade, que é extremamente lenta, quase parando (isso sem falar dos vários slowdowns). Os inimigos pulam e “correm” igual uma tartaruga robótica, os golpes do seu personagem são lentos, e não adianta massacrar os botões do controle para tentar socos mais rápidos. Como o processador do SNES não suporta muitos inimigos na tela, a Capcom resolveu aumentar a força dos bandidos e deixá-los mais apelões (não raras as vezes eles interrompem o seu ataque e te moem de pancada) ao invés do seu número em fases mais avançadas, para aumentar o grau de desafio (mas claro que ainda assim é bem mais fácil do que no arcade) e que pode afetar o seu fator diversão. Para quem está acostumado com a velocidade de um “Streets of Rage” e a tela lotada de marginais para espancar, uma experiência dessas pode ser bem frustrante. Outro problema é a pouca variedade de inimigos, mas isso já é um defeito que veio da versão original.

A Capcom lançou em 1992 “Final Fight Guy”, mas fora a troca de personagens (saí Cody entra Guy) e alguns itens extras, o jogo continuou a mesma porcaria coisa. Se você quiser experimentar um port decente nos videogames clássicos (porque os atuais nem dá graça comparar né), tente a versão do Sega CD, certamente uma das melhores que teve no mercado caseiro (e na verdade produzido pela Sega). Leia aqui nossa análise de “Final Fight CD”. A empresa também lançou duas sequências exclusivas para o Super Nintendo, sendo que “Final Fight 3” é a melhor de todas.

rode a baiana no meio dos malandros

“hello sweetie”

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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