Análises

Gran Turismo 5

São poucos os games que conseguem causar tão grande reboliço, tanto nos jogadores, quando na mídia especializada, quanto Gran Turimo 5 causou durante seus aproximados cinco anos de desenvolvimento. A cada informação nova, a cada nova imagem, a cada vídeo inédito liberado, todos ficavam loucos para ver o resultado final da nova edição do game que, nada humildemente se considera “The Real Driver Simulator”.

Dentre os principais motivos para tanto reboliço estavam o modo online, para corridas virtuais contra jogadores de todo o mundo, um enorme upgrade na quantidade e variedade de automóveis e a promessa de carros construídos virtualmente seguindo religiosamente todos os minuciosos detalhes de suas respectivas contraparte reais.

Eis que o game é lançado a tempo do Natal de 2010. Hora de se medir e pesar os vários aspectos prometidos pela Polyphony Digital e verificar até onde Gran Turismo 5 conseguiu atender o prometido, e até onde as promessas foram maiores do que o produto entregue.

The Real Driver Simulator

A principal e óbvia obrigação de um game da série Gran Turismo entregar é um game em que a simulação seja a mais afiada o quanto possível for, afinal de contas, veja bem o subtítulo do game. E nesse aspecto Gran Turismo jamais decepcionou.

Desde o primeiro game da série, Gran Turismo separa o joio do trigo. Quem tem braço duro não tem a minúscula chance no game. Não importa se você jogava Ridge Racer Revolution como um sayajim em seu Playstation, se não estivesse disposto a aprender a jogar como se estivesse dentro de um automóvel, iria se lascar. A sensação de peso do carro, a simulação de física do game era inovadora e viciante.

Desde lá, a cada nova versão de Gran Turismo essa obsessão de alcançar o mais próximo da simulação, o mais próximo do real é evidente. A cada nova versão, a simulação do game se aperfeiçoa, e cada vez mais o jogador tem de se aperfeiçoar para pilotar os carros mais rápidos do game a contento.

Essa franca evolução atinge seu ápice em Gran Turismo 5. O game atinge um nível de realismo jamais alcançado por outro game para consoles, não importa qual seja o console ou mesmo de que geração de console tratemos.

Cada automóvel tem suas reações singulares a cada situação, e as variáveis são de uma enorme quantidade. Não somente pelo fato de o game possuir mais de mil automóveis a disposição, ou seja, mil reações diferentes a uma mesma situação, as corridas podem ocorrer com a pista seca, com a pista molhada, durante a chuva caindo em tempo real e em competições de Rally, seja na Terra, seja na neve. Somente visando estes aspectos, o game tem variações singulares de dirigibilidade a perder a conta. Além disso, temos de considerar os upgrades dados parcialmente a cada automóvel, o tipo do pneu, sujeira na pista, o gasto do pneu e de combustível…

A lista vai longe!

Somado a isso, a equipe produtora alega que a dirigibilidade pode ser influenciada pela temperatura da pista, pela velocidade e direção do vento, e por ai vai. Imagine o trabalho imenso que simular isso tudo não deve ter dado. Somente isso justificaria grande parte do absurdo tempo em que Gran Turismo 5 ficou em desenvolvimento.

Caso o jogador possua um bom volante, o efeito de simulação é elevado ao extremo. É extremamente reconfortante jogar Gran Turismo 5 com esse acessório. Marcha manual em seu preguiçoso!

As corridas agora contam com até 16 corredores simultaneamente, mais do que o dobro dos games anteriores, no entanto, é difícil encontrar uma corrida com mais de 12 corredores simultâneos no modo “campanha” do game. Não que isso faça muita diferença, pois um dos problemas de todos os outros Gran Turismo está presente também na 5ª edição da série.

Normalmente, ou o seu carro é inferior em demasia aos competidores, e não será possível ganhar a corrida sem que se atalhe curvas e use rivais como “escoro” nas curvas, ou então o seu carro é muito superior ao restante, e a competição é virtualmente inexistente, bastando correr sem errar para ganhar a corrida.

A Inteligência Artificial teve sim uma melhora, mas foi algo muito sensível. No geral, o computador continua correndo tão somente em uma trilha pré-determinada, saindo da mesma tão somente para ultrapassagens. Também continuam a bater no jogador, praticamente ignorando sua existência, e no caso de choque entre jogador e computador, normalmente o computador pouco sai de seu caminho, enquanto o jogador e enviado para o guardrail sem misericórdia. Eis algo que deveria ter sido bem melhorado de Gran Turismo 4 para Gran Turismo 5, mesmo porquê, havia sido prometido.

“Do Céu ao Inferno”

Bom, que a jogabilidade de Gran Turismo 5 é uma virtuose já é sabido. Vamos tratar agora de aspectos que são tão instáveis ao longo do game, que simplesmente não possuem lógica explicação, e que com certeza tiram um pouco do brilho que todos esperavam que o game teria.

Tratemos primeiro do aspecto que possui mais altos e baixos em Gran Turismo 5, seu visual. Isso mesmo, o visual do game!

Bom, para começar, vamos deixar algo claro aqui sobre os mais de mil automóveis do game. Sim, eles existem, mas não são todos a virtuose visual que se divulgava. Dentre todos esses automóveis apenas aproximadamente 250 são recriados nos mínimos detalhes, o restante são tão somente “versões de Gran Turismo 4” em HD. O primeiro grupo são chamados Premium, o segundo Standard.

Enquanto os carros Premium são verdadeiras revoluções visuais, possuindo todos os mínimos detalhes dos automóveis reais reproduzidos com a máxima perfeição e realismo possíveis; os carros Standard são decepcionantes, apresentando cantos serrilhados, efeitos de reflexão de luz inferiores, e não possuindo visão interna do carro durante as corridas.

Também não entendi o critério para escolha entre quais carros seriam Premium e quais seriam Standard. Veja bem, todas as Lamborginis e Ferraris são Premium, assim como uma Kombi(!). Em contra partida, o único automóvel Bugati, que é um monstro nas pistas, é Standard….

Outro ponto decepcionante é o prometido sistema de danos do game. Apesar de dinâmico, pouco influencia na dirigibilidade, além de apresentar danos tão somente em pontos pré-determinados dos carros. Muito aquém do que foi prometido e esperado pelos jogadores.

Nas pistas, mais discrepâncias. Enquanto o autódromo e a pista são de um foto realismo quase impressionante, detalhes como torcedores e fiscais de pista são tétricos, sendo construídos com poucos polígonos triangulares, coisa de Playstation mesmo. É claro que isso não é visível durante uma corrida, mas durante replays e, em especial, durante o modo de visualização de fotos é explicito.

Outro aspecto inexplicável é o como as sombras são extremamente serrilhadas, em especial as sombras que incidem sobre os automóveis. Mas é muito serrilhado mesmo, baixíssima resolução!

Durante a corrida, mesmo com somente carros Premium na pista, o game não impressiona tanto quanto o esperava, é como se estivéssemos jogando, ironicamente, Gran Turismo 4 em alta definição. Apesar de todo o trabalho na recriação, em detalhes, dos carros Premium, o mesmo cuidado não fui tomado para que durante as corridas tivéssemos a impressão de estarmos diante de uma corrida real. Fato esse no mínimo contraditório a tudo o que imaginávamos durante todo o processo de produção do game. Pessoalmente, imaginava Gran Turismo 5 “in game” extremamente foto-realista, mas isso não é bem o que acontece.

Chegando ao extremo ponto negativo do game, a trilha sonora de Gran Turismo 5 é terrível. Insossa, chata e sem inspiração, recomendo verdadeiramente a removerem a opção de música nesse game. A impressão que se tem é de estarmos em um salão de automóveis europeu e não jogando um game de corrida, por mais simulador que seja. Não existe uma só música que se salve na trilha sonora, o que inclui a trilha sonora da apresentação do game, tão longa e sem graça quanto a própria apresentação.

Modos de jogo

O game, no que cerne competições offline, conta com duas vetentes, assim como seus antecessores: O modo Arcade e o modo “campanha” do game, aqui nomeado por “GT Life”. Ambos tem exatamente as mesmas funções que possuem a quatro versões ao longo dos anos.

No modo Arcade escolhemos um automóvel, seja dentre um dos disponibilizados pelo game para esse modo, seja um dos automóveis favoritados da garagem no modo GT Life, escolhemos uma pista para correr sem compromisso.

No modo GT Life, assim como nos games anteriores, começamos por baixo, com pouco dinheiro para comprar um carro, e ao longo das competições, ganhamos mais dinheiro para comprar carros melhores, para podermos assim participar de mais competições, sejam específicas para carros, construtoras e países. Também estão de volta as famigeradas licenças, mesmo que dessa vez sem a obrigatoriedade de se completar todas para prosseguir nesse modo.

Infelizmente, o modo GT Life em Gran Turismo 5 é bem menor do que sua contraparte em Gran Turismo 4 e até mesmo menos do que o fabuloso Gran Turismo 2. São poucas competições, focando quase exclusivamente corridas no asfalto e Rally, sub-aproveitando o Kart e a Nascar, o que é uma lástima.

Agora, para participarmos dos eventos, não é necessário possuirmos todas as licenças, pois elas não determinam mais nível de acesso às competições. Como em um RPG, agora temos ganho de levels, que funciona de maneira bem simples. A cada competição disputada ganhamos uma quantidade de experiência, que ao ser acumulada eleva nosso level. É o level que determina se podemos ou não acessar a competição desejada.

O modo online é um brilho e uma maldição. Ao passo que é bem estável, não apresentando virtualmente nenhum lag durante as corridas, não possui ranqueamento, não é intuitivo com relação à busca de corridas para disputar, além de contar com um horrível sistema de menus de navegação. Problemas e navegação de menus, aliás, que assombram todo o GT Life, e porquê não todo o game.

O sistema de menus de Gran Turismo 5 consegue ser mais burocrático, menos prático e menos intuitivo do que todo e qualquer outro Gran Turismo já lançado. Acho impressionante como não projetaram o sistema de acessos a menus com a mesma dedicação com que construíram os carros Premium. A disposição dos ícones é ruim e estranha, a navegação por entre os menus é horrível, fazendo com que o ir e vir entre menus seja torturante.

Por fim, “The Real Driver Simulator”

Bom, não vou ficar me prolongando demais nesta análise, afinal, analisar profundamente um game como Gran Turismo 5 me consumiria mais palavras do que minhas análises de Kingdom Hearts ou mesmo Final Fantasy X. Foquei-me aqui nos pontos primordiais do game.

Apesar de todos os “desapontamentos” do game apresentados até aqui, digo-lhes que atualmente Gran Turismo 5 é o game que mais está dentro de meu Playstation 3 por um simples motivos: Ele é viciante.

Sua jogabilidade, extremamente técnica é algo extremamente atraente, e grande vedete do game desde sempre. É obsessivo tentar melhorar marcas, conquistar mais levels para ir para mais competições, assim como é obsessivo ganhar a grana necessária para comprar aquele carrão que se está louco a tempos, e depois equipá-lo por completo. Esse ciclo vicioso simplesmente suga o jogador para o mundo de Gran Turismo 5, fazendo-o se esquecer de sombras em baixa resolução, carros Standard, menus burocráticos, trilha sonora ruim, e o que mais achar de ruim no game.

Sei que muita gente vai tacar pedra em mim depois de ler essa análise, mas apesar de tanta mazela aqui exposta, lhes digo que Gran Turismo 5 é um de meus games favoritos de todos os tempos, o que prova minha teoria de que jogabilidade precisa e cativante é o que faz de um game um sucesso, não que isso justifique falta de zelo nos outros aspectos.

Espero que em Gran Turismos vindouros, a Polyphony Digital reveja e resolva algumas das inexplicáveis falhas de Gran Turismo 5 e entregue ao gamer o jogo que foi prometido a mais de cinco anos atrás, pois apesar de gostar muito de Gran Turismo 5, “senhora Polyphony”, não era pelo game que tenho em mãos que eu esperava.

“Do Céu ao Inferno” made in Brasil

Antes de encerrar, gostaria de sugerir que não adquiram o game brasileiro, que além de ser mais caro do que o americano, possui a qualidade de impressão do manual e do encarte visivelmente inferiores, além da impressão do label do Blu-Ray sem tão ruim que impede a leitura de algumas das informações contidas nele.

Sou completamente a favor de que comecemos a produzir aqui jogos para o mercado nacional, desde que nós, consumidores, sejamos respeitados. Ora, além de pagarmos mais caro do que lá fora, temos de nos contentar a possuir um produto de qualidade notadamente inferior?

Por favor!

Vejamos se a versão de Kill Zone 3 nacional terá pelo consumidor brasileiro o devido respeito que a versão nacional de Gran Turismo 5 não o teve.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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