Análises

Last Battle

Quando um game licenciado vem à tona, lá no fundo já se sabe que “lá vem bomba”. Seja um licenciado de filme, de um cartoon ou de um anime, as chances para que a coisa ande bem sempre são remotas.

Entretanto, pode acontecer de um jogo ruim ser até bem aceito justamente por conta de seu licenciamento, sendo ele bom tão somente pelo o que é como jogo ou não. Caso clássico mais recente é Saint Seiya: Chapter Sanctuary, que de bom não tem absolutamente nada, mas os fãs “tietes” da série como eu foram logo comprando e não ficam sem.

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Imagino que os mais antigos e amantes de animação japonesa se lembrem com mais vividez desse anime oitentista, apesar de que, com o efeito amplificador de conhecimentos da internet, muita gente mais nova deve conhecer: Hokuto no Ken. Hokuto no Ken sempre sofreu com suas adaptações para os games, entretanto em duas situações em especial sofreu bem mais do que o deveria. É sobre a segunda (e mais conhecida dos gamers em geral) dessas vezes que trato em mais um review destinado aos trash games da vida.

Em um EXTREMO resumo e explicação sobre o anime, explicação apenas do que interessaria se saber para o que, em teoria, deveríamos esperar de um game baseado nele: Kenshiro é o mestre da técnica Hokuto Shinken, uma técnica poderosa de artes marciais. Ele é o Chuck Noris do anime. Um toque no local correto faz a cabeça do inimigo cabeça explodir e seus miolos jorrarem dela. Rápido e poderoso, enfrentá-lo é pedir para padecer.

Só isso? Não. O anime é fantástico. É rico em personagens e história, no entanto, para um game baseado na série, bastava saber disso para criar um game pelo menos jogável. E pois é, conseguiram fazer tudo nesse game, com até boas idéias tenho de admitir, menos criar um game jogável.

O game japonês, que saiu primeiro do que o americano, tem o diminuto nome de Shin Seikimatsu Kyūseishu Densetsu Hokuto no Ken . Tanto o game japonês, quanto o americano Last Battle, possuem o mesmo esquema no que cerne à jogabilidade, então analisarei inicialmente os games com base na versão japonesa, e posteriormente me focarei em propósito inicial, o game americano. Acredite em mim, isso tem um propósito.

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O que se esperar de um game que tem em sua original contraparte nos animes o foco na ação? Ora, ação. E partindo desse propósito, nada mais normal do que o game ter sido desenvolvido como um Beat´n up, afinal, ação side scroling seria um bom atrativo ao game e manteria o clima de pancada e lutas frenéticas do anime.

Mas a Sega, ah Sega… A Sega de Streets of Rage conseguiu matar o game fazendo dele um dos Beat´n up mais monótonos que a história dos games pode oferecer.

Kenshiro anda devagar na tela, mas muito devagar mesmo, enquanto os inimigos aparecem pelos lados a seu encontro. O game não possui profundidade, ou seja, a “tela de ação” se resume à direita e à esquerda do personagem, o que já diminui muito da ação que o game poderia proporcionar.

Não contente com isso, a Sega fez com que os inimigos morram com um golpe só e que ataquem sem pensar em mais nada. Eles vêm até o Kenshiro correndo com tudo, de arma em punho, e só. Isso faz com que seja extremamente raro levar um golpe de um inimigo, somente acontecendo caso o jogador erre o tempo do golpe.

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No game Kenshiro não somente anda devagar, mas faz tudo devagar. Mas esse tudo “pelo menos” não é muito coisa. Ele possui somente um soco, que vira um combo infinito de dois socos padrão caso o jogador fique apertando o botão repetidas vezes. Um chute, chute esse aliás que não é dado para frente, mas sim para cima, como se Kenshiro estivesse chutando um mosquito na cara dele e não o inimigo. Ponto final. Isso é o padrão de golpes. Caso você pule, ele aplica no ar dois chutes para o alto alternando as pernas. Caso se abaixe, aplica um chute rasteiro, que não tenho coragem de chamar de rasteira.

Assim como no anime, quando se enfurece enfurece, ele luta pra valer. Os músculos crescem a tal ponto de a camisa rasgar, e a partir dai ele luta com tudo, de maneira mais ágil e violenta. Normalmente nesse ponto, ele se utiliza da técnica popularmente conhecida como “ A ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta! Atha!”.

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Explico: Kenchiro executa velozes e furiosos socos em velocidade e força incríveis, além da precisão de acertar os socos nos locais adequados do corpo para realizar danos maiores e, normalmente, fazer o corpo do pobre coitado explodir de vez, num mar de sangre e psicodelia.

No game, existe, logo abaixo da barra de vida, uma barra que se enche a medida que se detonam os inimigos. Quando esta barra chega a “x” ponto, Kenshiro rasga a blusa, fica forte e a partir desse momento a coisa muda de figura: Kenshiro agora anda lentamente e age lentamente, mas agora sem camisa. O personagem ganha socos velozes mas não em combo, ganha um chute decente, uma voadora que preste, fica mais forte ( o que durante as fases regulares não significa muita coisa já que os inimigos morrem somente de olharmos para eles), mas a lentidão de ações e estupidez dos inimigos se mantém.

Talvez a única parte do game nesse aspecto que se mantenha fiel ao anime é o certo teor de violência. Os inimigos quando recebem o único golpe que precisam receber antes de morrerem, ficam sem a cabeça por conta do soco de Kenshiro, e seus corpos voam ao chão ensanguentados. Pelo menos isso se salvou.

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No aspecto sonoro, mais decepções. As músicas têm sim o clima do anime, sendo algumas delas vindas do próprio anime, no entanto o game possui uma qualidade horrível de áudio o que torna as melodias chatas e irritantes.

A mesma coisa ocorre com os efeitos sonoros do game. Sons do salto de Kenshiro e dos socos são quase pertinentes, assim como o som de se acertar um inimigo. No entanto, o som do chute é de amargar. E como não resta mais nada a dizer sobre a sonoplastia do game, continuemos.

O visual do game até que não é ruim. Os personagens são grandes na tela, apesar de não serem bem animados. Em nenhum momento temos personagens deformados ou não contrastando com o ambiente.

Os cenários são extremamente estáticos e sem vida, além de serem muito repetitivos. Um trabalho completamente sem inspiração. Com certeza o grande problema do setor visual do game são os cenários, sendo tão monótonos quanto à jogabilidade.

Entre uma fase e outra podemos escolher em uma mapa qual será a próxima localidade a se visitar. Tal localidade será a próxima fase, ou mesmo um chefe. O sistema é interessante, já que proporciona uma certa liberdade de escolha das fases e o retorno de fases antigas para uma nova jogatina. No entanto, e em trash games boas idéias sempre apresentam um “no entanto”, o sistema pode ser uma porta para o game over.

O game não indica no mapa do que se trata a fase a se escolher. Assim sendo, não serão raras as vezes em que ao se escolher uma fase, o jogador caia em um chefe. Dada a Lei de Murphy, esse chefe pode ser impossível de ser batido sem que Kenshiro esteja em sua forma mais poderosa e o jogador não está nessa forma. Resultado: Game Over!

A coisa é tão grave que isso pode ocorrer na sua segunda escolha de fase do jogo, dependendo de por onde resolver caminhar.

A história do jogo engloba a segunda temporada do mangá / anime, mas não é nada que tenha muita importância aqui, pois ela é contada somente na forma de diálogos ridículos e mal feitos, quando se encontra um aliado de Kenshiro no fim de alguma fase. Normalmente cada um diz uma frase solta no tempo e espaço e é fim de conversa.

Mas apesar disso tudo, minha nota para esse game japonês não seria menor do que um 5,0, pois com certeza meu “modo fã” do anime Hokuto no Ken prevaleceria e sendo assim eu faria vista grossa para uma coisa ou outra.

Entretanto, como deve ter visto lá no começo da análise, não estou aqui para analisar e dar nota para Shin Seikimatsu Kyūseishu Densetsu Hokuto no Ken , estou aqui para analisar Last Battle, e ai as coisas mudam muito de figura. O game americano, sabe-se lá por que cargas d´água, não conseguiu o licenciamento da marca Hokuto no Ken. Assim sendo, a Sega reformulou o game para ser lançado no ocidente sem ser um game Hokuto no Ken.

Lembra-se do que disse acima? Que havia um propósito sobre deixar bem claro que a análise até então ser sobre o game japonês? Pois bem, tudo dito até aqui vale para o game americano. Todas as mazelas estão no game americano. TODAS! Mas como tudo que é ruim pode, e por via de regra, tende a piorar, a única coisa que o game japonês tinha para sustentá-lo se perdeu aqui: Hokuto no Ken.

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Graças ao não licenciamento, o game americano foi reformulado visualmente para não fazer referências escandalosas a Hokuto no Ken. Personagens alterados, assim como seus nomes. A Sega teve a cara de pau de, em alguns chefes, alterar a cor da pele deles. Alguns ficaram verdes, outros com cor de beterraba, e por ai vai. Os nomes novos são ridículos. Kenshiro virou Aarzak. AARZAK!

Até mesmo o nome das técnicas criadas para o anime mudaram de nome. Dessa forma o lendário Hokuto Shinken se transformou em Jet-Kwon-Do. O Gento Koken virou Tae-Kung-Fu.

Os cenários também sofreram alterações, saindo de um mundo pós apocalíptico, indo direto para um estilo meio cowboy, meio velho oeste. A única coisa que não mudou foi a repetição e a monotonia. E aqui temos a alteração mais doida. A alteração da “pureza” norte americana que imperava naquela época. A censura à violência.

Os inimigos que antes explodiam em sangue, que tinham os miolos dilacerados, aqui ao receberem o golpe voam para o lado oposto até que saiam da tela. Os chefes, que antes eram até interessantes de assistir morrerem, no game americano “pegam catapora”, empipocam e somem. O que não mudou foi a estupidez dos inimigos e a repetição dos mesmos.

Em resumo: O game americano pega as poucas coisas que o game japonês tinha de minimamente interessante e consegue deixá-las clichês e desinteressantes. Por certo um dos piores games do Mega Drive, já em sua versão japonesa, que dirá a americana. Last Battle é um game que apesar de tudo deve ser jogado, acredito eu, por todos aqueles que querem um dia trabalhar com a criação de um game, pois terão um fantástico exemplar do que não devem fazer. Mas para você, que quer mesmo é saber de aproveitar um bom game, passe longe de Last Battle. Se quiser jogar um bom game de pancadaria para o Mega Drive, vá direto para a série Streets of Rage e seja bem feliz.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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