Análises

Metroid: Other M

– Mais um memorável jogo para a série Metroid –

Eu jogo a série Metroid desde os tempos do Nintendinho. Era um jogo simples, não possuía grandes gráficos ou músicas (e era até cheio de bugs), mas já tinha os elementos que virariam tradição na série, como longas fases com designs inteligentes, a Morph Ball, além de ser um dos primeiros games a ter uma protagonista feminina, Samus Aran, algo que só era revelado quando se chegava no final do game. Além de uma história de ficção científica inspirado em filmes como “Aliens: O 8º Passageiro”, ideal para qualquer fã do gênero.

Após uma sequência para o Game Boy, em 1994 teríamos o espetacular Super Metroid para o Super Nintendo, um jogo que marcou toda uma geração de gamers e que se consagrava como uma franquia campeã.

Nos anos 2000 tivemos a revolução com a trilogia Metroid Prime com a mudança para uma visão em primeira pessoa, que acabou agrando os fãs e a crítica em geral. Depois de toda essa saga de 24 anos, a série se renova novamente com Metroid: Other M, mostrando a Samus de um jeito que você nunca viu antes.

O jogo se passa após os eventos de Super Metroid e antes de Metroid Fusion, do Game Boy Advance. O jogo foi produzido em parceria pela Nintendo e a Team Ninja, estúdio responsável pelas séries Ninja Gaiden e Dead or Alive.

Entre suas principais características está uma narrativa muito bem elaborada, que se aprofunda na história da protagonista. Apenas nos 10 minutos iniciais do game, você vai ouvir Samus falar mais do que em qualquer outro jogo (já que é o primeiro game da série em que ela ganha uma voz). A personagem está muito mais carismática e humana, no sentido que você vai se identificar com ela e sua história. Outro elemento que chama a atenção é o mix de gêneros de primeira e terceira pessoa, e por vezes uma volta às suas origens, com um estilo 2D, revelando-se um Metroid bem diferente daqueles que estamos acostumados.

O jogo começa com uma apresentação mostrando o final da épica batalha de Samus com Mother Brain em Super Metroid. Após ela escapar do planeta em sua nave, Samus acorda em uma espaçonave da Federação Galáctica. Samus recebe um pedido de socorro de uma nave abandonada que está ali perto. Ela vai até lá investigar e encontra um grupo de soldados de elite da GF (Federação Galáctica), liderados por Adam Malkovich. Samus era parte desse grupo há muito tempo atrás, antes de virar uma caçadora de recompensas. Claro que há toda uma história por trás disso, que você vai conhecendo aos poucos. Samus fazia parte dessa equipe e Malkovich costumava ser o seu oficial comandante na GF, mas algo aconteceu no passado e ele não fica muito feliz ao rever Samus, ordenando à sua equipe que não revelem informações da sua missão para ela. Porém , ao ajudar a derrotar uma criatura que estava por lá, Samus acaba entrando na equipe da GF, seguindo ordens de Malkovich, mas ainda sem saber o que está acontecendo. A missão deles é explorar a nave a procura de sobreviventes. E assim começa o game.

A narrativa do game é extremamente envolvente e conta com várias cutscenes em CG que se mesclam com perfeição entre as partes de ação, com o objetivo de nos mostrar as razões que levaram Samus a abandonar a GF e se tornar uma solitária caçadora de recompensas. Mostram também os eventos atuais dentro da nave, que se revela uma história mais atraente do que o passado de Samus, cheio de intrigas, suspeitas e conspirações.

Apesar de ser um jogo com mecânica em três dimensões em terceira pessoa, há alguns momentos que se usa a visão em primeira pessoa (ao apontar o controle para a TV) que chega a lembrar a saga Prime, mas aqui restrita a um uso esporádico num curto espaço de tempo, apenas para disparar mísseis contra alvos específicos ou explorar a área. Samus não pode se mover quando nesta visão, ficando vulnerável a ataques. E não rara as vezes, em ambientes mais fechados, o jogo nos passa a sensação de ser o bom e velho estilo 2D de plataforma, com ação rolando tanto na horizontal, como na vertical.

Usá-se apenas o Wii Remote e já no início do game há um tutorial para os comandos básicos, e no decorrer do jogo informações são mostradas para facilitar a vida de quem está jogando. Os comandos são simples, mas comandar Samus através dos direcionais do Remote parece ser algo antiquado e meio “entrucado”, já que nos acostumamos a usar o suave controle analógico. Ao longo do jogo, Samus ganha uma boa variedade de ações e habilidades, que poderiam ser melhor executadas se o Nunchuk também estivesse acessível, oferecendo assim mais botões. Mas, apesar de algumas mecânicas exigirem uma certa habituação, os comandos são competentes e cumprem bem o seu papel.

Samus aponta automaticamente para os inimigos que estão próximos de seu alcance, um processo que tem suas vantagens e desvantagens. O ponto positivo é que isso dá uma grande fluidez na ação do jogo, com um ritmo de combates muito rápidos, e podemos perceber aí o toque da Team Ninja, com Samus se movimento ao estilo Ninja Gaiden de ser. O ponto negativo é que os inimigos são eliminados sem grandes dificuldades. Mas não se preocupe, o jogo oferece uma grande gama de inimigos mais poderosos e alguns chefes de grande porte que vão exigir mais do jogador, geralmente mesclando a ação em terceira pessoa com o uso de mísseis na visão de primeira pessoa.

O fator exploração, uma das características da série, marca presença de maneira sólida. Você irá passar por vários ambientes e cenários, voltando várias vezes com objetivos diferentes e acessando novos caminhos, além de várias passagens secretas e segredos espalhados por toda parte, muitos deles apenas detectáveis quando se usa a visão de primeira pessoa. Então para os jogadores que gostam de exploração, Other M oferece uma boa quantidade que vai entreter por horas. Mas para quem quer ir direto para a história do jogo, pode prosseguir de maneira mais linear, já que o mapa sempre mostra os pontos em que Samus deve chegar para dar sequência ao game.

Apesar de toda a aventura se passar dentro da gigantesca nave espacial abandonada, ela oferece uma série de setores de realidade virtual com temas diferentes, como exóticas florestas cheias de criaturas, ou ambientes de fogo e gelo. Um efeito muito bacana que pode ser notado são as “falhas” da realidade virtual nesses cenários, em alguns momentos revelando o interior frio e cinzento da nave. Além disso há puzzles que para serem resolvidos deve-se ligar ou desligar a realidade virtual, afim de avançar para uma nova área ou encontrar itens escondidos.

Samus possui algumas nova habilidades, como se esquivar de projéteis no último segundo, com um efeito de câmera lenta proposital. Se você segurar o botão de ataque, é possível fazer um rápido contra-ataque, uma excelente tática contra inimigos mais poderosos. Porém é bom deixar claro que o uso de várias habilidades de Samus é limitado, sendo possível apenas quando Malkovich autoriza o seu uso, isso para não colocar a vida dos colegas humanos em risco. Algumas vezes isso não faz muito sentido, como você não poder usar sua Varia Suit para atravessar ambientes de calor extremo sem perder energia. Ela deveria ser acessível a qualquer momento, mas você só pode usá-la quando o chefão ordenar.

É possível também realizar mortes instantâneas, ao tontear um inimigo você realiza uma sequência, com uma pequena animação, que ao apertar o ataque, você mata o inimigo instantaneamente, ou causa um alto dano em sua energia, caso ele seja muito forte. Alguns inimigos só é possível pulando em cima dele e atirando à queima-roupa em sua cabeça.

Apesar de ser um título da Team Ninja, ele não é extremamente difícil como outros jogos da empresa. Mas é bastante desafiador, não sendo o jogo mais difícil da série. Possui continues e é generosos com os checkpoints, para você não perder muito do progresso quando morrer. As lutas contra os chefes podem ser um desafio, mas como a maioria é baseado em ataques padronizados, basta apenas um tempo até você memorizar os padrões. Alguns inimigos de maior porte chegam a ser mais difíceis que os chefes de fase. Há alguns save points espalhados pelo jogo, que também servem para recarregar sua energia e revelar pequenos pedaços do mapa, que estão amarrados ao seu objetivo atual.

Em termos gráficos e visuais, não chega a impressionar como Metroid Prime 3, mas com certeza são um dos melhores já vistos no Wii. Com uma concepção artística de primeira qualidade, apresenta cenários variados com várias criaturas e monstros bem feitos e detalhados, chefões incríveis, efeitos ambientais e animações fluídas e suaves.  Possui algumas texturas que poderiam estar melhor trabalhadas e refinadas, mas no geral possuem um bom visual. As CGs são maravilhosas, com um estilo cinematográfico que complementa e envolve o jogador na história.

A trilha sonora orquestrada se encaixa perfeitamente com a atmosfera do jogo, sendo tensa e calma quando precisa ser e mais intensa nos momentos de ação. Algumas músicas são similares (e também conta com alguns remixes) à temas anteriores da franquia, o que pode trazer boas lembranças. Os temas das cutscenes são intensos e cheios de emoção, aliados a uma boa atuação de dublagem, especialmente de Samus, que fala muitooooo durante o jogo.

As vezes alguns diálogos são monótonos e afetados, mas fica a dúvida se a atriz o fez de propósito, para dar a ideia de não ser um experiência agradável à Samus de relembrar o passado, ou foi falta de emoção mesmo na hora de dublar. A Atriz, Jessica Martin, é desconhecida, mas faz um bom trabalho no geral, ao dar voz pela primeira vez para uma personagem tão importante no mundo dos games. Particularmente, eu e meu lado geek, teria escolhido a atriz Sigourney Weaver, já que a Samus lembra muito a Ripley da série Aliens.

Mas como nem tudo é perfeito, vamos agora aos pontos negativos do game, que felizmente não são muitos, mas que influenciam na nota final. Não é possível controlar os ângulos de câmera, que são fixas mas variam bastante, dando um toque visual bem dinâmico. O problema é quando você necessitar voltar um trajeto, a câmera não se desloca para trás da personagem, o que não permite a visualização dos inimigos no meio do caminho.

O que absolutamente não funcionou na visão em primeira pessoa foi a ocasional sequência de varredura. Quando o jogo quer que você veja uma coisa, te coloca em primeira pessoa para olhar em volta, e só avança quando você encontra o objeto que ele quer que você veja, tendo que procurar minuciosamente o que ele deseja, quebrando o ritmo da ação.

Há também sequências em que a visão de terceira pessoa muda para trás do ombros de Samus, como em Resident Evil 4 por exemplo. Essa visão é usada para aumentar a tensão em determinados momentos, mas durante estas sequências, a única coisa que Samus é capaz de fazer é se mover muito lentamente. Você não pode disparar sua arma, você não pode saltar, e você não pode entrar em modo Morph Ball. No fim acaba resultando ser um sequência inútil, que poderia ter sido melhor explorada com a inclusão de um pouco de ação.

Por fim, isso não chega a ser um defeito grave, mas apesar de belas, as CGs não podem ser puladas, o que pode irritar alguns jogadores que já as viram e querem partir logo para a ação.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Por favor, desabilite o Adblock para continuar acessando o site!