Análises

Spider-Man vs the Kingpin

O “amigão da vizinhança” hoje em dia possui diversos ótimos títulos nos videogames, que retratam fielmente seus poderes e histórias dos quadrinhos. Mas lá nos anos 80 a coisa era diferente. Se você era fã de super-heróis nessa época era difícil ver um bom jogo baseado no seu personagem favorito (com algumas raras exceções, como o “Batman” para NES).  Eu sempre fui fã do Homem-Aranha desde pirralho, e ficava frustrado de não ver um game à altura do meu herói favorito nos 8 Bits. Tinha aquele do Atari que era até legalzinho, mas eu queria mais!

Eis então, que em 1991, época essa em que eu já detonava muitos games no meu Mega Drive, que vejo numa loja o cart  “Spider-Man vs The Kingpin” (na verdade, na caixa tinha escrito apenas “Spider-Man”, o subtítulo aparecia dentro do jogo), e claro, comprei imediatamente. E foi uma das minhas maiores alegrias, pois finalmente tinha em mãos um game que retratava fielmente o espírito do herói no mundo virtual, além de contar com uma história digna de uma Graphic Novel da Marvel!

Produzido pela Sega, o jogo fez um enorme sucesso no mundo todo e ajudou a turbinar as vendas do Mega Drive. Isso porque na época, o herói passava por uma fase bastante popular nos quadrinhos, com histórias escritas e desenhadas pelo hoje famosíssimo Todd McFarlane, o criador do personagem Spawn e que até então era desconhecido. “Spider-Man vs The Kingpin” foi um marco na história e entrou na geração 16 Bits chutando bundas, e é considerado até hoje um, senão o melhor, jogo do Cabeça-de-Teia de todos os tempos!

Quadrinhos + Games

Como já dito, a história do game era um retrato fiel dos quadrinhos que já começava no manual de instruções, com uma introdução de quatro páginas escrita por Steve Englehart e desenhada pelo legendário John Romita, um dos mais famosos desenhistas do personagem no início da sua carreira (essa mesma introdução foi reproduzida em animação na abertura da versão para Sega CD).

Peter Parker e sua, então, esposa Mary Jane estão assistindo ao noticiário quando o cidadão ilustre da sociedade, Wilson Fisk, aparece acusando o Homem-Aranha de esconder uma bomba nuclear que vai explodir toda a cidade de Nova York. Mas o que as pessoas normais não sabem, que o nobre cidadão é também conhecido no submundo como o Rei do Crime, inimigo de longa data do Aranha mas que o herói nunca conseguiu prender, por ele possuir conexões políticas/sociais muito fortes.

acabe com o Rei antes da MJ virar sopa de ruiva!

O Rei do Crime diz que a bomba vai explodir em 24 horas e oferece uma recompensa de 10 mil dólares (mixaria heim, no Sega CD é meio milhão) pela cabeça do teioso. E para piorar as coisas para o lado do nosso herói, a bela ruiva Mary Jane é raptada lá pela metade do jogo.

Então além de ter que encontrar a bomba em 24 horas e provar sua inocência, ainda tem que enfrentar a polícia e resgatar a mocinha. Claro que o explosivo mortal está em um local secreto, e para desarmá-la o super-herói terá que conseguir várias chaves que estão em posse de seus piores inimigos, e nenhum deles está disposto a entregar de boa vontade. Alguns possuem a chave, outros não. Apenas mais um dia na vida do espetacular Homem-Aranha!

vida de super-herói não é fácil!

Sentido de Aranha está tinindo!

O jogo começa de forma interessante, em frente ao prédio do Clarim Diário. Um ladrão tenta assaltar a bolsa de uma velinha, e o policial ao invés de impedir, prefere atacar o Aranha. Para passar essa introdução, basta fazer o trabalho do policial e prender o bandido. Um cenário totalmente simples, mas que  serve para criar todo o clima e atmosfera do universo do herói. Em seguida temos um texto com o Aranha dizendo que ouviu rumores durante as suas patrulhas que o Dr Octopus está escondido num armazém da cidade, e é nesse cenário que o game realmente começa.

Os comandos são simples e precisos, o Aranha pode socar, chutar, escalar as paredes e claro, usar a sua teia. Aliás, pendurar-se na teia era uma das coisas mais legais desse game, você se sentia como o personagem. Grudar nos muros e tetos também era bacaníssimo, era um tipo de movimentação e comandos totalmente diferentes dos outros jogos disponíveis na época. Você podia escolher  bater nos inimigos, ou desviar grudando na parede, ou prendê-los com a teia ou ainda deixá-los para trás enquanto se balança pelo ar.

entre as fases há cutscenes para narrar a história

Podemos perceber o cuidado que a Sega teve, dada as limitações da época e do console, de tentar incorporar todos os aspectos das habilidades do personagem, o que deixava o game ainda mais especial . Destaque para o uso das teiosas, que assim como nos quadrinhos, não é orgânica, portanto tem uso limitado. Para conseguir mais do material grudento, o herói precisa de dinheiro para comprar os componentes químicos, e para isso basta tirar fotos dos inimigos e vender no Clarim Diário. Os chefões sempre valem montantes maiores. Pode-se ainda lançar bolas de teia para acertar inimigos a distância e se a vida estiver muito baixa, é possível fazer um escudo para se proteger dos ataques. Assim como o personagem faz nos quadrinhos.

Além de ter uma certa estratégia com o uso da teia, temos outra variante: o tempo que vai diminuindo, e quando chegar a zero é game over. Vinte e quatro horas pode parecer bastante tempo para um jogo que é possível terminar em menos de uma hora, mas temos várias pegadinhas aqui. Ao morrer, o Aranha é preso e se o jogador quiser continuar, será ao custo de algumas horinhas. Se estiver com a energia muito baixa, é possível recarregá-la dentro da casa de Peter, mas isso também consome tempo, e quando você for perceber, as 24 horas passaram rapidinho e você não está nem na metade da aventura!

tire fotos dos super-vilões para conseguir uma graninha e comprar fluído de teia

O jogo não é muito difícil, mas tem algumas fases e alguns chefões que podem causar dores de cabeça, especialmente nas primeiras tentativas de se jogar (certamente é o jogo mais difícil do personagem lançado até hoje). São sete fases no total, cada uma com um vilão clássico do herói: Dr Octopus, Lagarto, Electro, Homem-Areia, Duende Macabro, Venom (esse puto ainda aparece em cenários ou junto com outros chefes para aporrinhar) e finalmente o Rei do Crime.

Certamente você vai perder algumas vidas eletrocutado por Electro, e mais outras ainda enfrentando o Duende e o Venom, que são osso duro de roer! O Rei também não é moleza, o cara parece um rinoceronte enfurecido, e temos um agravante: você precisa derrotá-lo antes que Mary Jane caia num caldeirão fervente, resultando em dois finais diferentes (num sistema bem parecido com o clássico ‘The Revenge of Shinobi). Se você perder para o vilão, ou MJ morrer, é game over e tem que começar tudo de novo (na época, eu morri muitas vezes aqui, o que dava uma puta raiva). Caso contrário, a noitada com a ruiva está garantida!

vilões emblemáticos da carreira do herói marcam presença no game!

Os cenários variam do bom e velho armazém abandonado, passando pelos esgotos, Central Park, Usina de Energia, topo dos prédios de NY e a caverna que o Rei usa como esconderijo. Todos eles têm um design cuidadosamente planejados para se usar as habilidades do aracnídeo, com áreas para se balançar ou para escalar paredes ou tetos. Algumas fases podiam inclusive influenciar na jogabilidade, como as paredes escorregadias do esgoto e os choques elétricos da usina. Entre um nível e outro há cutscenes para informar o jogador de como estava indo o progresso do herói. Apesar de simples, eles ajudam na imersão do jogador na jornada do Aranha.

Os gráficos não eram excepcionais, mas não faziam feio. Os cenários de fundo são simples e as cores no geral têm um tom mais escuro, mas são bem desenhados e possuem algumas animações, como jornais voando ao vento e fontes de água no Central Park. O destaque fica para o design do escalador de paredes, belamente retratado em pixels e com várias animações para as suas habilidades – um show de bola! Os inimigos também eram bem feitos e se destacavam na tela, com um nível de detalhes que chegam a impressionar. A variedade é grande, passando por capangas, policiais, mutantes, ratos, cobras, um gorila e até cachorros imortais (sério, esses bichos não morrem de jeito nenhum!). Os chefões então nem se fala, estão perfeitos na tela – apesar que o Venom poderia ser maiorzinho.

alguns dos cenários em que o aranha vai passar para salvar o dia

A trilha sonora é excepcional, algo diferente do que se pode esperar de uma aventura do Aranha, com temas meio sinistros e sombrios que combinaram bem com a atmosfera escura do jogo, e que transmitem um ar de severidade da situação toda (ainda assim ele arranja tempo para as suas piadinhas nas cutscenes). Os efeitos sonoros são perfeitos e complementam o pacote todo, com sons de socos, chutes, pulos e teias. A Sega acertou em cheio com o título e logo versões também saíram para o Master System e o Game Gear, e uma versão toda reformulada, e ainda melhor, para o Sega CD (leia análise dela aqui). Reza a lenda que o jogo fez um sucesso tão grande que dois terços dos donos de Mega Drive da época o compraram, e sozinho fez com que a Marvel Comics não cancelasse o seu contrato com a Sega – uma parceria que viria a azedar anos depois, infelizmente.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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