Análises

Alien: Isolation

O filme “Alien: O Oitavo Passageiro” foi lançado em 1979 e fez um enorme sucesso, impulsionando tanto o seu diretor, Ridley Scott, como a atriz protagonista Sigourney Weaver, para o estrelato. O filme gerou uma franquia milionária que dura até os dias atuais, e a heroína Ellen Ripley virou referência para “mulheres duronas com personalidade” na cultura pop. Em 1986 James Cameron lançou uma sequência em que citava brevemente uma filha de Ripley, e foi justamente essa ponta solta que a Creative Assembly e a Sega usaram para criar o survival horror “Alien: Isolation“. Confira em nossa análise o que achamos dele.

Estamos em 2137, 15 anos depois dos eventos do primeiro filme e 42 anos antes do segundo. O jogador controla Amanda, que está investigando o desaparecimento de sua mãe – que está em sono criogênico perdida no espaço, como  mostrado no final do longa original. A caixa preta da espaçonave de Ripley, a Nostromo, é encontrada e levada para a gigantesca estação espacial Sevastop, lugar o qual a jovem é transferida para conseguir mais informações sobre o que aconteceu há 15 anos atrás. O que ela não sabe é que uma das criaturas sanguinárias já se encontra lá na estação, matando a maioria da tripulação, e agora, assim como a sua mãe, Amanda terá que lutar pela sua sobrevivência e para encontrar as respostas que busca.

Algo que “Alien: Isolation” acertou em cheio foi manter o espírito de constante tensão e perigo mortal mostrado no filme original. Provavelmente esse é o primeiro jogo que consegue recriar, com sucesso excepcional, ambientes e elementos inspirados em um longa-metragem. O visual do game é uma recriação perfeita do design artístico criado por Ridley Scott, com longos corredores escuros, a tecnologia cheia de botões brilhantes comum em produções scifi da época, luzes difusas, canos estourando, cabos em curto circuito, equipamentos pegando fogo e fumaça por todo o lado. Até o planeta LV-426 e o alienígena Space Jockey, que aparecem no filme, é possível encontrar por lá. Tanto a atmosfera, como a narrativa do game, foram muito bem construídos e vão agradar os fãs mais exigentes. Apesar de não ser necessário, recomendamos que você assista ao clássico filme antes de jogar, para ajudar na imersão no jogo.

Isolation” é um survival horror com ritmo bastante lento que vai testar os limites de paciência do jogador com a presença de um único Alien, mas com uma Inteligência Artificial impiedosa. O monstro demora para aparecer (assim como no filme), o início foi feito claramente para preparar o jogador no universo do game, mas depois de algumas horas ele surge e será uma ameaça constante para Amanda. Esse Alien é praticamente invencível, já que nenhuma arma consegue matá-lo definitivamente, exceto o lança-chamas, que espanta o bicho por alguns momentos. Ou seja, em boa parte do tempo o que impera no jogo é a furtividade, no melhor estilo de “o gato e o rato“, com o objetivo de se esconder da criatura, sem fazer qualquer tipo de som ou luz e torcer para que o monstrengo não o veja, caso contrário, prepare-se para uma morte imediata e implacável.

Mas a criatura assassina não é o único inimigo que encontramos pelo caminho. Humanos que perderam a razão e sintéticos com defeitos, androides que ajudam na manutenção da estação, também são uma ameaça para a vida de Amanda. Nesses momentos, o Alien é deixado de lado e o jogo sofre uma mudança radical em sua mecânica, virando um game de ação em primeira pessoa. Todas as armas que não funcionavam antes, serão usadas para aniquilar os novos inimigos, e agora com objetivos que se arrastam por tempo demais e acabam afetando negativamente a experiência no geral. Isso porque o jogador passa diversas vezes pelos mesmos locais, indo e vindo para ativar terminais, transportar itens e realizar tarefas enfadonhas que parecem estar lá apenas para esticar a campanha ao máximo possível. Algo interessante é atrair o Alien em locais com outros inimigos e deixa-lo fazer a limpeza por você, enquanto espera ou aproveita a situação caótica para fugir.

Apesar do trabalho primoroso nos mínimos detalhes visuais e no design artístico, curiosamente o jogo possui algumas falhas técnicas que poderiam ter sido evitadas se tivessem caprichado mais na revisão final. Bugs como personagens atravessando paredes ou levitando no chão, problemas com colisão de elementos na tela, inimigos com comportamentos estranhos, entre outros. O design do Alien e de Amanda estão impecáveis, muito bem trabalhados, mas esse mesmo requinte não pode ser observado nos demais personagens, que são simplórios e mal animados. Mas o maior problema está nas cutscenes, que sofrem queda de fluidez quando executadas, o que é estranho, já que durante a ação o jogo corre fluído.

No quesito sonoplastia, “Isolation” faz um excelente trabalho com músicas arrepiantes com trechos da trilha sonora original, que ajudam a criar uma atmosfera de tensão e ansiedade, especialmente nas cenas em que o Alien está se aproximando. Mas o destaque mesmo são os efeitos sonoros, pois, já que o som é um fator essencial para a sobrevivência, eles receberam uma atenção especial, desde o famoso som dos bip-bip do sensor de movimentos (que pode chamar a atenção do Alien), até o barulho de maquinários, computadores, passos, portas que se abrem, etc, muito bem inseridos para aumentar a dramaticidade durante a ação.

Recomendamos jogar no idioma original, já que fizeram um péssimo trabalho na dublagem brasileira. Além de sérios problemas na sincronia labial nos diálogos (também presente em inglês), a atuação dos atores é fraca e sem emoção nas vozes, especialmente os personagens secundários, e o volume do som é instável, sendo que a voz de Amanda é muito baixa e quase inaudível durante todo o jogo, enquanto que em inglês pode ser ouvida em alto e bom som.

O jogo possui uma dificuldade bem elevada que pode afugentar alguns jogadores. Como já dito, o Alien possui uma IA bem ardilosa e imprevisível, já que o bicho utiliza padrões de movimentos aleatórios para caçar suas vítimas, fazendo o jogo ser inédito toda vez que for jogado, o que é muito bom. O lado negativo é que há momentos em que ele não larga do seu pé, nos forçando a ficar escondidos, e esperando, até que ele se canse e vá embora, por longos cinco minutos ou mais, o que pode deixar as coisas meio aborrecidas. Esse é um jogo que requer altas doses de paciência. Um outro probleminha são os checkpoints, que em um determinado ponto começam a ficar mais distantes uns dos outros, ou seja, se você morrer, terá que fazer tudo novamente, gerando uma repetição excessiva e desgastante. E um aviso: cuidado quando achar que ele saiu de uma área, ele é tão inteligente que as vezes se esconde para te pegar de surpresa.

Além da campanha, há ainda um modo extra de sobrevivência, em que o jogador deve encontrar a saída em um determinado limite de tempo, o que deixa a brincadeira de “gato e rato” ainda mais dinâmica e tensa. Este modo é bem divertido e desafiador, e os melhores tempos são adicionados em tabelas de ranking mundiais online.

Para quem fez a pré-compra (ou quiser adquirir à parte) teve acesso a um bônus bem especial, o DLC “Crew Expendable“, que traz o elenco do filme original reprisando seus personagens no game. Jogadores podem escolher jogar como um dos três tripulantes sobreviventes, momentos depois da morte de Brett pelas garras da criatura. Jogando como Ellen Ripley, Dallas ou Parker, os jogadores poderão explorar a Nostromo do deque de habitação até a sala das máquinas, coordenando seus esforços com Lambert e Ash para atrair o Alien à câmara de ar da nave. Apesar de curta, a DLC certamente vai agradar aos fãs da franquia pela nostalgia.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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