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Análise | Assassin’s Creed Mirage oferece retorno morno ao passado

Desde que deixou de focar na furtividade e começou a se importar mais com o tamanho do mapa e mecânicas de RPG, a série Assassin’s Creed dividiu a sua base de fãs. No papel, a série nunca esteve tão bem em termos de popularidade, uma vez que a trilogia Origins, Odyssey e Valhalla é a mais vendida da franquia. No entanto, mesmo quem ama os jogos mais atuais, vez ou outra acaba sentindo falta da pegada original.

Assassin’s Creed Mirage, em teoria, é o retorno tão esperado aos assassinatos silenciosos, mas, na prática, o resultado é um jogo que parece mais um AC Valhalla depenado do que de fato uma adaptação da fórmula antiga para os dias atuais. E desta vez nem a história segura as pontas.

Assassino Clássico

No protagonismo de Mirage está Basim Ibn Ishaq, um oculto de Bagdá que já conhecemos em Assassin’s Creed Valhalla e aqui terá contada sua história de origem, bem como a da organização que deu origem aos assassinos tão famosos da saga. Vale lembrar que, originalmente, Mirage seria apenas mais um DLC de Valhalla, mas acabou se tornando algo maior. 

A história começa com Basim ainda jovem, se virando nas ruas desiguais de uma Bagdá ambientada com maestria em uma época que ocorre quase 900 anos antes de Cristo. Dono de uma agilidade e furtividade acima da média, o rapaz consegue roubar objetos com facilidade, seja para uso próprio ou em trabalhos encomendados. É assim, claro, que ele acaba conhecendo os ocultos. A partir daí a história conta todo o seu amadurecimento como um assassino em cerca de quinze horas de campanha principal. 

Para quem jogou os títulos mais recentes da franquia, essa duração chega a ser chocante, já que a última trilogia fornece centenas de horas de jogatina. No entanto, esse é um ponto positivo aqui, já que, com uma região e campanha mais enxutas, a Ubisoft pôde focar em oferecer uma maior densidade na cidade, com um nível de detalhes surpreendente em cada esquina ou região de Bagdá. Explorar as áreas mais ricas ou pobres, metropolitanas ou rurais do mapa disponível fornece uma variedade bem legal de cenários, com contrastes que fixam tal qual uma boa aula de história.

A bola começa a cair no decorrer da campanha, quando os personagens vão perdendo o desenvolvimento, que parece acelerado pelo escopo menor do jogo e a trama da campanha se mostra sem sal e não muito importante para a história já para lá de arrastada da franquia.

Momentos chave, como o primeiro salto da fé de Basim ou o primeiro assassinato na cidade onde nasceu, por vezes conseguem elevar a qualidade da história, mas a euforia logo passa e a jogabilidade pouco inspirada, somada ao roteiro pouco interessante, acaba minando a vontade de jogar. Ainda bem, mais uma vez, que se trata de um jogo bem curtinho.

Jogabilidade Sem Sal

Com a promessa de retorno às origens e maior foco na furtividade, Mirage abre mão dos números e equipamentos poderosos da era RPG da saga e traz de volta algumas mecânicas antigas da franquia. No entanto, o resultado parece mais um remendo daquilo que já vimos em Valhalla para sustentar o marketing, do que de fato uma nova iteração da fórmula que consagrou Assassin’s Creed.

O combate não retorna com o estilo “Batman Arkham” dos originais e tem os dois pés dentro de Valhalla, mas sem a variação de habilidades, armas e abordagens. Há a possibilidade de defender ou aparar e então atacar com sua espada com combos simples, nada muito trabalhado ou engajante. A variedade maior fica por conta dos próprios equipamentos do assassino e a abordagem do jogador na hora de melhorá-los, já que há pequenas árvores de habilidade para cada um deles. Com o tempo, fica super repetitivo, especialmente porque o jogo te coloca em mais situações para utilizá-lo do que deveria. A sensação é sempre de estar jogando o Valhalla com mecânicas cortadas e com menos variedade.

Há as invasões de base marcando inimigos com a águia, o parkour continua menos fluido do que o já antigo Assassin’s Creed IV, a IA dos inimigos permanece ruim e compromete o foco um pouco maior na furtividade, e a navegação do mapa é feita da mesma forma que nos últimos três jogos, mas com bem menos pontinhos no mapa. Nem mesmo todos os elementos mais fantasiosos recentes da série foram totalmente removidos. Seja pelas roupas e equipamentos mágicos disponíveis como cosméticos, ou pelos efeitos/habilidades sobrenaturais de acessórios, equipamentos e do próprio Basim, ainda não estamos de volta aos primórdios da franquia. 

Pelo lado positivo para quem queria o sentimento clássico, algumas missões de assassinato e, especialmente, o conteúdo secundário de contratos, são gratificantes e devolvem momentos clássicos da saga que realmente fizeram falta por todo esse tempo. Utilizar NPCs para mascarar sua presença, montar uma estratégia para tirar o alvo da zona de conforto e então executá-lo de alguma forma criativa é o ápice da franquia e aqui os fãs com saudade dos originais vão ficar satisfeitos.

No fim das contas, a ideia é boa e ter uma ramificação da série mais voltada para a furtividade seria mais do que bem vindo. A duração menor também é adequada e uma versão que seja um mix dessas duas fórmulas provavelmente entregaria a melhor experiência possível para o futuro da franquia.

Conclusão

Assassin’s Creed Mirage não tem uma história que te prende e também não consegue sair das amarras da trilogia RPG da franquia, parecendo uma versão destes últimos jogos mas com conteúdo cortado. A menor duração, a região menos extensa e a ambientação exemplar de sempre são os pontos altos, mas não seguram o retorno morno ao passado glorioso dos Assassinos. 

Prós

  • Ambientação de Bagdá encanta
  • Duração menor diminui o cansaço da fórmula batida da franquia
  • Assassinatos e furtividade são pontos altos

Contras

  • Combate genérico e pouco trabalhado é versão pobre de AC Valhalla
  • Sensação de repetição acontece mesmo com poucas horas de campanha
  • Gráficos começam a dar sinal de defasagem
  • História sem sal e que causa pouco impacto na saga
  • Personagens com desenvolvimento acelerado e desinteressante

Nota: 7,0/10,0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Ubisoft para a elaboração desta análise

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