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Análise | Assassin’s Creed Valhalla é o ponto alto da série, mas está repleto de bugs

Ser um guerreiro nórdico, em uma busca incessante por glória e uma chance de morrer com seu machado na mão para adentrar Valhalla, é um dos temas que vem sendo utilizados até a exaustão nas mais diversas mídias. Assassin’s Creed Valhalla é a contribuição da Ubisoft Montreal – a mesma de Assassin’s Creed Origins – para esse tema e, na minha opinião, instantaneamente se tornou a experiência definitiva de ser um Viking nos vídeo games.

No controle de Eivor, eu passei mais de 100 horas entre os picos gelados da Noruega, invadindo a Inglaterra enquanto desenvolvia minha nova aldeia, indo também até lugares inesperados, da Vinlândia até a mítica Asgard em meus delírios. Diferentemente dos dois títulos anteriores, que também são RPGs enormes e até cansativos, aqui não precisei em nenhum momento ficar subindo níveis para conseguir completar missões e muito menos comprar boosts na loja da Ubisoft para acelerar o processo. O resultado, mesmo que com alguns problemas, é que este se tornou meu jogo favorito da série até agora.

Eivor e Sigurd

Um dos grandes trunfos de Assassin’s Creed Valhalla é a forma como a narrativa é bem contada e com um bom ritmo de arco em arco. Mesmo seguindo o clichê da busca por glória e riquezas, houve um cuidado ímpar em desenvolver os personagens e suas ligações com seu clã, inimigos e aliados de forma bem crível e com diversas nuances. No fim do jogo, eu me importei com diversos deles, algo raro na franquia Assassin’s Creed para mim, onde o comum é ligar, quando muito, para o protagonista e se divertir com as referências históricas e a forma caricata que alguns personagens reais são representados.

Eivor, o protagonista, mais uma vez pode ser homem ou mulher, de acordo com a decisão do jogador. Há, inclusive, um modo onde o animus pode escolher para você em determinados momentos do jogo qual será o sexo do protagonista. Embora seja um Viking guerreiro, Eivor conta com outras facetas interessantes. Uma das suas habilidades, por exemplo, é a poesia. A forma como ele recita versos sobre os seus triunfos e fracassos, participa das batalhas de rimas contra outros poetas e enxerga o mundo, mostra um lado sensível e diferente do habitual para um guerreiro nórdico.

A sua história é trágica e isso talvez tenha sido o catalizador para esse lado mais emotivo. Ele possuí o apelido de “Marca de Lobo”, por quase ter morrido para um quando criança. O detalhe ainda mais cruel é que pouco antes dessa luta contra o lobo, a criança Eivor estava fugindo da sua aldeia, atacada por outro clã. O resultado foi a morte de seus pais e amigos. O único sobrevivente, que inclusive o salva do lobo, é o seu irmão de criação, Sigurd, com quem você terá uma ligação durante toda a história.

Anos mais tarde, Eivor está atrás de vingança, mas esse não é o tema da história. Esse primeiro arco é resolvido rapidamente e com a união dos clãs da Noruega, resta a Eivor e Sigurd ou se curvarem ao novo rei e evitar futuras batalhas, ou partirem para a Inglaterra em busca de um novo começo. A decisão, claro, será correr atrás da glória e da chance de ser escolhido pelas valquírias para jantar nos salões de Valhalla.

 Uma nova aldeia

Uma das grandes novidades do Assassin’s Creed Valhalla é a possibilidade de construir sua nova aldeia assim que chegar na Inglaterra. Em vez de um agente passivo, Eivor é responsável por decidir tudo que envolve esse novo local para o seu clã, chamado de Clã dos Corvos. Com dezenas de construções para serem feitas, será preciso saquear matérias primas de monastérios e então voltar para decidir qual será a próxima edificação a ser levantada.

Cada novo local construído aqui impacta o gameplay de forma imediata. Um nova cabana de caça, por exemplo, permite trocar partes dos animais que você mata no mundo por itens valiosos. Abre, inclusive, uma nova linha de missões para encontrar e abater animais lendários por todo o mundo. Há uma casa para um tatuador que modifica a aparência do Eivor, uma casa de pesca, uma com missões diárias, uma para modificar o seu barco, uma para modificar os seus companheiros Vikings e criar o seu próprio JormsViking e compartilhá-lo com outros jogadores. Há tanta coisa interessante, que boa parte do que você faz será para poder voltar até a aldeia e ver o que dá para modificar.

Embora eu ainda ache que mais coisas poderiam ter sido exploradas, como upgrades nas construções e mais interações com os moradores, é uma novidade que traz um frescor necessário. Entre as idas e vindas pelo mundo e as inevitáveis invasões de base que a Ubisoft tanto gosta, a vila serve como um desafogo, um local que faz tudo valer a pena, pondo para descansar a repetição padrão de jogos de mundo aberto. Isto é algo que, o mais recente Watch Dogs, por exemplo, não possuí.

Enfim Assassin’s Creed

Origins e Odyssey, os dois últimos capítulos da franquia, sofreram críticas de uma ala da comunidade que reclamava do desvio muito agudo das origens da série, que sequer pareciam mais um Assassin’s Creed. Em Valhalla esse cuidado foi tomado e há o retorno de muito do que era amado no passado.

Sigurd, o irmão mais velho de criação do Eivor, já é mais viajado e fez diversas incursões pelo mundo. Nesse caminho, ele conheceu os Ocultos, uma ordem que irá se tornar os assassinos que conhecemos no futuro. Com a mudança para a Inglaterra, esses amigos do Sigurd se refugiam na própria vila recém-criada, desenvolvendo laços com os vikings que ali moram, incluindo o próprio Eivor.

Vendo o potencial do nosso herói, os membros dessa ordem o presenteiam com a clássica Lâmina Oculta e ensinam algumas de suas técnicas, como o salto da fé e os abates furtivos. A partir daí, é possível fazer a sua aventura da forma como você quiser. Ao entrar em uma cidade repleta de saxões, você pode invadir à moda Viking, de peito aberto para o combate, ou adotar uma abordagem mais discreta, se misturando entre os locais com um capuz, andando de forma lenta para não ser reconhecido pelos guardas e realizar o seu objetivo no melhor estilo Assassino.

Quem também terá um papel importante é a Ordem dos Anciões, que também é o embrião para os Templários, inimigos clássicos da franquia. Tal qual no Origins e Odyssey, há uma porção deles para serem assassinados, o que acaba até sendo um ponto fraco do jogo, já que estende ele demais.

Por ser o fim da trilogia de origem, o jogo se conecta com vários outros da série, incluindo os clássicos originais da franquia. Durante vários momentos, para quem é fã de longa data, esse título vai parecer o retorno para as glórias do passado.

Melhores atividades de mundo da franquia

Todos já conhecem o apelido “Ubi Game”, que caracteriza os jogos no padrão dos da Ubisoft, com mundo aberto massivo e repleto de pontinhos no mapa para completar, como uma checklist cansativa e pouco inspirada. Com Assassin’s Creed Valhalla eles conseguiram dar uma boa melhorada nesse aspecto.

Ainda há pontos no mapa, mas não são apenas atividades repetitivas que mudam pouco de região para região. Cada pontinho esconde atividades e interações interessantes, na maior parte das vezes únicas e, o melhor, curtinhas.

Em vez de dezenas de missões secundárias pouco inspiradas, há sempre alguém para trocar uma ideia rápida e com um acontecimento surpreendente. Pode ser alguém sendo atacado por um urso, preso em uma casa em chamas, uma mulher que quer sequestrar um vizinho ou até mesmo um guerreiro que está com um machado fincado na cabeça e delirando. As resoluções muitas vezes são hilárias e você não se cansa porque logo está fazendo outra com uma proposta totalmente diferente.

As atividades recorrentes também são bem divertidas. Disputas de bebedeira, o combate de rimas, os jogos de dados, todos acrescentam bastante para deixar a jogabilidade mais variada e menos dependente do combate.

Por fim ainda há diversos segredos escondidos, de armaduras a materiais raros. Esses geralmente ficam localizados em lugares fechados ou no subterrâneo. A forma de entrar geralmente envolve um quebra-cabeça, como quebrar uma janela específica para conseguir o ângulo para mirar em um jarro explosivo, que derruba algo para liberar a passagem.

A forma como a Ubisoft Montreal lidou com o mundo aberto é bem mais inteligente do que qualquer outro mundo aberto da Ubi nessa geração e com certeza é muito bem-vindo em uma série que estava se desgastando pela fórmula batida.

Bugs atrapalham a experiência

Se por um lado parece um dos melhores títulos da série, por outro, Assassin’s Creed Valhalla é de longe um dos menos polidos. É preciso dar um crédito para a Ubisoft por conta da pandemia, que atingiu o jogo justamente na fase final, onde acontece a maior parte do polimento, mas há bugs demais para deixar passar em uma análise crítica como essa.

Eles são incontáveis e estão por todos os lados. Animações de NPCs que travam na sua frente, elementos do cenário voando sem explicação, um ataque que te manda por quilômetros de distância ou altura e muito mais. Um dos que mais me irritou, está em uma cena logo após chegar na Inglaterra. Após ela acabar, todos os personagens que participaram dela apareciam colados, inclusive Eivor. Não era possível mexer e precisei reiniciar o jogo diversas vezes, já que isso sempre ocorria. Descobri em um fórum que era preciso colocar o preset do jogo no PC na qualidade Alta (ou High) e esperar toda a cutscene acabar sem apertar nada no controle. Funcionou, mas imagino quantos não acharam esta solução que encontrei.

No Xbox Series X a reclamação é de Screen Tearing por todos os lados, quando a imagem fica cortada e sobreposta pelo quadro seguinte por conta de problemas com a renderização dos quadros por segundo. Um problema que só pode ser resolvido no momento usando um HDMI 2.1, só presente nas TVs mais caras do mercado.

Há ainda defeitos no som, que falha constantemente e fica mudo por alguns segundoss, o que também atrapalha bastante nos momentos mais marcantes da história. No fim, o gostinho por esse lado é bem amargo e parece um jogo menos lapidado que os antecessores. Esperamos que tudo seja corrigido com atualizações em breve.

Conclusão

Assassin’s Creed Valhalla fecha com chave de ouro a trilogia de origem da série. Mesmo com um aprofundamento na nova fórmula de RPG, o título ainda consegue trazer elementos da era de ouro da franquia que casam bem na estrutura do jogo. O mundo criado pela Ubisoft Montreal é massivo e belo, mas a melhor parte é que as atividades secundárias são interessantes e menos maçantes. A adição da aldeia e suas construções fazem o loop do jogo também ficar mais suave e mesmo com mais de 60 horas de campanha e outras dezenas de horas de exploração, a experiência não fica insuportável. Uma pena que os bugs e a falta de polimento, muito provavelmente devido à pandemia, estraguem boa parte da experiência e dêem um aspecto menos grandioso do que esses Vikings mereciam.

Prós

  • Atividades secundárias são interessantes e divertidas
  • Retorno de elementos clássicos da série
  • Narrativa e personagens são bem tratados
  • Sistema de criação de aldeia

Contras

  • Muitos bugs que minam a experiência
  • Polimento inferior aos jogos anteriores
  • Vikings muito bonzinhos, não podendo matar monges na incursão pois isso causa dessincronização

Nota: 8.5

Uma cópia do jogo para PC foi fornecida pela Ubisoft para elaboração desta análise

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