Análises

Bloodborne

Embriagando-se com sangue

Que saudade daqueles tempos onde a gente vibrava com um jogo de videogame ao matar um chefe ou passar por uma determinada fase. Quem não se lembra da emoção que era conseguir passar do estágio das motos em Battletoads ou então terminar o primeiro Mega Man? E derrotar o Mike Tyson em Punch-Out? Pulava-se da cadeira com a emoção da conquista. O pessoal das antigas com certeza recorda-se bem disso.

Algo que parecia perdido nos últimos anos foi recuperado graças a empresas como a From Software, criadora da bem sucedida série Souls que resgatou essa sensação única de quando você, após muito esforço, consegue completar um determinado objetivo que parecia impossível.

Bloodborne veio para continuar este legado. Feito em parceria com a Sony, o jogo possui características que remetem a era vitoriana, tanto nos cenários e personagens quantos nas armas e equipamentos. Uma troca drástica levando em conta que seus “antecessores” possuíam todos uma temática medieval. Tudo para atender aos desejos do diretor Hidetaka Miyazaki, que há tempos queria criar um jogo usando as características deste período e que fossem reproduzidas de modo bastante fiel. Como dizem, às vezes mudar é preciso. E ainda bem.

Ao acordar dentro de uma clínica escura e imunda, levantei da cama e dei meus primeiros passos, observando o local para tentar entender como cheguei até ali. De repente, ouço grunhidos da sala em frente, como se algo estivesse sendo destroçado. Ali, perante meus olhos, um lobisomem, devorando os restos de algum infeliz que chegou lá antes de mim. O que faço? Luto? Fujo? É aí que então a fera nota minha presença e, com uma fúria sobre-humana, avança em minha jugular. Estou morto. Bem-vindo a Bloodborne, pensei.

Apareço em seguida em um lugar chamado Sonho do Caçador, onde recebo minhas primeiras armas e itens. Assim como o Nexus em Demon’s Souls, este é uma espécie de santuário onde é possível comprar equipamentos, recuperar suas energias, reorganizar seu inventário e viajar pelos muitos locais presentes no jogo. Lá, você também encontra a Boneca, que lhe dará auxílio durante sua jornada.

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Muita dedicação e cuidado foram dados aos cenários

Agora, melhor equipado, consigo dar o troco no lobisomem e finalmente ganho acesso a cidade de Yharnam. Explorando mais o lugar, é possível notar um cuidado incrível em relação aos detalhes arquitetônicos de todas as construções. Percebe-se que muita dedicação e cuidado foram dados aos cenários. Os efeitos sonoros dão ainda mais vida para as góticas localizações. Dá para ficar contemplando certas paisagens por bastante tempo, de modo a procurar um ou outro pequeno detalhe que você pode ter deixado escapar na última vez que esteve ali. Existem também conexões entre locais completamente distintos para facilitar a locomoção e memorização dos mapas. Muitos easter eggs estão presentes para aqueles que prestarem mais atenção. E não apenas nos cenários.

Claro que os lugares existentes em Bloodborne não se limitam a cidades infestadas de ratos, monstros e civis assustados se escondendo dentro de suas casas. O jogo possui florestas, áreas rochosas e outras localizações que irão deixá-lo deslumbrado com o afinco dado aos detalhes. Um trabalho artístico como pouco se vê hoje em dia nos jogos.

Os monstros presentes parecem ter saído de renomados contos de terror de mestres literários do gênero como Stephen King e Clive Barker. Alguns chegam a ser tão grotescos que podem perturbar os de estômago mais fraco. Afinal de contas, Bloodborne além de um jogo de ação, também é um jogo de terror. Isso fica bastante claro a medida que você progride.

O criador de personagens também obteve melhorias em relação aos de seus irmãos mais velhos. Jogadores mais pacientes irão passar horas para montar um personagem que se pareça com eles (e podem até conseguir) ou então que se assemelhe a alguém famoso, seja uma pessoa de carne e osso ou não.

Os chefes, claro, são um fator essencial em Bloodborne. Quase todos são um desafio para serem derrotados, seja ele uma abominação saída de um pesadelo ou até mesmo um caçador rival. Muito estudo de seus movimentos por parte do jogador é requerido. Tais lutas são complementadas por uma trilha sonora de tirar o fôlego que dá ainda mais emoção aos combates. E o melhor de tudo é que o encontro com a maioria dos chefes é marcante. Alguns ficarão na memória tais como Ornstein & Smough de Dark Souls ou o Flamelurker de Demon’s Souls. E, acredite, você vai morrer bastante até conseguir vencer todos eles.

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Monstros presentes parecem ter saído de renomados contos de terror

A história é contada seguindo o mesmo modelo adotado nos jogos anteriores da From Software. Cada item tem uma descrição que, se lida, conta de onde ele veio, quem o fez, para que foi feito, etc. Conversar com os NPCs e prestar atenção no que dizem também é fundamental para que você entenda o que se passa em Yharnam. Cabe ao jogador montar tudo isso como uma colcha de retalhos para tirar sua própria conclusão dos acontecimentos. Ao contrário da maioria dos jogos, que dão tudo de bandeja, aqui é necessária dedicação por parte de quem está jogando para conseguir entender completamente toda a trama. É praticamente impossível conseguir isso terminando o jogo apenas uma vez, já que novos itens são habilitados em uma segunda jogada, aprofundando o conteúdo. Aqueles que se dedicarem nisso, no entanto, serão bastante recompensados pelo esforço.

Diferentemente do modo como a história do jogo é revelada, a jogabilidade mudou bastante. Adeus escudos, olá armas de fogo.  Se você estava acostumado a ficar defendendo para então atacar, bom, terá de mudar seu estilo de jogar. Em Bloodborne é necessário ser bastante agressivo com os inimigos, caso contrário eles irão fazer picadinho de você. E digo o seguinte, a mudança não poderia ser melhor. Matar monstros nunca foi tão bom. Agora, por exemplo, você não rebate o golpe do inimigo com um escudo, mas atira nele com seu trabuco momentos antes dele concluir seu ataque para deixa-lo sem defesa, aberto a um contra-ataque fulminante. A apunhalada pelas costas também mudou. Segura-se o R2 até o golpe sair, o inimigo cai de joelhos e aí você aperta R1, dando aí sim um golpe avassalador na vítima.

As espadas, machados e demais armas brancas também receberam um cuidado especial. É verdade que existe um número baixo de armas em comparação com os jogos Souls. Isso é remediado com o fato de que cada arma é, na verdade, duas armas e às vezes três! Ao apertar o botão L1, sua arma muda de formato, obtendo uma nova variedade de golpes. E não para por aí. É possível até mesmo efetuar combos mesclando a mudança de estilo das armas para surpreender o oponente.

O acesso rápido ao inventário também recebeu mudanças. Agora, além de usar o método tradicional com o D-Pad, é possível também anexar acessórios com o Touch-Pad do Dual Shock 4. É um bom método para se acessar itens que necessitam de ainda mais rapidez no uso.

Como mencionei anteriormente, morrer faz parte. E isso vai acontecer bastante, pois a inteligência artificial é tão astuta que certos inimigos o farão pensar que está enfrentando outro jogador, quando na verdade não. Em Demon’s / Dark Souls era possível ver isso em alguns oponentes, mas Bloodborne eleva isso a um novo patamar que vai te deixar impressionado. E nervoso também por morrer tanto.

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Encontro com a maioria dos chefes é marcante

Uma outra novidade presente são as Masmorras do Cálice. Após obter determinados objetos, será possível ter acesso a elas através de um ritual. Dentro delas, você irá enfrentar alguns monstros e chefes exclusivos, que não são encontrados no jogo padrão. O conceito deste modo foi pensado para que os jogadores tivessem algo a mais para se explorar no jogo após terminá-lo (embora você possa fazê-lo sem a necessidade disso), não se prendendo apenas ao famoso New Game Plus. O legal é que há como criar salas privadas, usando uma senha, que poderá dar a seus amigos para que joguem com você, desde que a diferença de nível entre os personagens não seja maior do que dez. No entanto, grande parte do conteúdo apresentado nas Masmorras do Cálice não chega nem perto do que aparece explorando a mística cidade de Yharnam.

O modo cooperativo funciona de uma forma que veteranos da série já estão habituados. Usa-se um item que serve para chamar um jogador ou NPC para lhe dar uma mão até a morte de um chefe presente nas redondezas ou então outro item que serve para indicar ao jogo que você está disponível para ajudar outras pessoas. No entanto, o modo PvP sofreu alterações. Em Dark Souls, por exemplo, se você estava como morto-vivo (hollow) não poderia sofrer invasões de jogadores querendo te matar, mas se estivesse na forma humana, aí tais invasões poderiam ocorrer. Bloodborne tem um acessório que você usa para invadir as partidas de outras pessoas através de um inimigo que toca um sino e te coloca dentro do jogo da vítima em potencial. O hospedeiro recebe um aviso de que existe um inimigo desse tipo tocando um sino e cabe a ele encontrá-lo e matá-lo para impedir que seja invadido. Existem locais onde este inimigo está presente mesmo sem que o jogador use o item de invocação.

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É necessário ser bastante agressivo com os inimigos

Claro que nem todo sangue derramado por Bloodborne é de boa qualidade. O tempo de carregamento entre as mortes é demasiadamente alto, chegando a 40 segundos ou mais em alguns casos. Não é algo muito animador você estar lá empolgado com um inimigo ou chefe que te matou e ter de esperar tanto tempo para mais uma tentativa. A taxa de quadros por segundo não é constante, sofrendo quedas repentinas. Nada igual Blighttown em Dark Souls para consoles pelo menos. Algumas texturas possuem resolução um pouco baixa e o PvP também precisa de muito balanceamento e mais diversificação para ficar melhor.

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