Análises

Comix Zone

O saudoso Mega Drive foi um videogame que contou com dezenas de jogos bons e inesquecíveis, com uma vasta lista de clássicos dos 16 Bits, e certamente “Comix Zone” é uma dessas pérolas que merece estar no topo dos melhores títulos do console da Sega. Ele foi lançado em 1995, ano em que os 16 Bits estavam em baixa, dando lugar para a nova geração 3D que vinham com tudo,o Saturn e o PlayStation, o que prejudicou a sua popularidade, virando um “clássico cult” com o tempo.

Comix Zone” é o tipo de jogo que prova que o bom e velho Megão ainda tinha muito gás pela frente, mostrando um caráter próprio e um estilo único. Ele é um dos games mais criativos e inovadores já criado (junto com outros clássicos como Ecco The Dolphin e ToeJam & Earl), até mesmo para os padrões de jogos 2D produzidos hoje em dia num PS4, Xbox One, ou qualquer outro sistema. Quem o jogou na época certamente teve uma “explosão na cabeça“, pelo seu jeitão diferente, e deve lembrar dele até hoje com carinho e nostalgia. E se você não o conhece, não se se preocupe, confira nossa análise completa desse grande jogo abaixo.

Dentro do gibi

O game foi produzido por uma filial da Sega of America (que também fez os jogos Kid Chameleon e Sonic Spinball), com a ajuda dos desenhistas filipinos Tony DeZuniga (já falecido) e Alex Niño (aposentado), que fizeram vários trabalhos para a Marvel e DC Comics nos 70 e 80 (DeZuniga inclusive trabalhou um tempo para a Sega como designer de capas de jogos). E a proposta do jogo é justamente mostrar o herói, que é um desenhista de quadrinhos, com cenários e movimentação que imitam a diagramação de um gibi, o que oferece ao game uma qualidade totalmente surreal e diferente.

O jogo nos apresenta Sketch Turner, o personagem principal do jogo, um garotão descolado, cabelos compridos, estilo largado, que trabalha como criador de histórias em quadrinhos (e músico nas horas vagas) e tem um rato como bicho de estimação, chamado Roadkill.

Em um noite de tempestade, enquanto trabalhava em sua HQ “Comix Zone“, um raio atinge em cheio a prancheta onde estava o desenhista e seu rato e algo inexplicável acontece: o terrível e perigoso vilão Mortus, salta para fora das páginas para o mundo real.

No entanto, no mundo real Mortus é feito só de papel e tinta, e para se tornar “real” em nosso mundo, ele precisa matar seu criador, Sketch Turner, que é enviado para dentro do seu próprio gibi, junto com o seu rato (que vai quebrar o seu galho um monte de vezes). Dentro dos quadrinhos, Sketch encontra a ajuda da garota Alissa Cyan (uma espécie de guia, que vai lhe oferecer algumas dicas pra seguir adiante), que pensa que ele é o “escolhido” destinado a salvar o mundo.

Sketch descobre que ele se tornou o principal super-herói da sua história, ganhando força e habilidades de combate que irão ajudar a combater os bandidos, monstros e outras criaturas, que agora são desenhadas por Mortus, com o objetivo de assassiná-lo. Conseguirá ele sobreviver à sua própria criação e salvar tanto o mundo da ficção como o real? Tudo vai depender de você!

E assim começava a aventura que trouxe uma incrível inovação para o mundo dos games.

Visual de quadrinhos

Logo de cara o que mais chama a atenção do jogador são os gráficos e visuais, mostrando o formato de um gibi. A reconstituição das páginas de uma HQ ficou muito bem feita e realmente lembra um Comic Book. Há um monte de detalhes gráficos que constantemente lembram o jogador onde ele está, seja uma página sendo virada, personagens sendo desenhados, os balões de diálogos (inclusive dos inimigos), as caixas de texto no topo da página e, é claro, as tradicionais onomatopeias típicas das histórias em quadrinhos – e que se encaixam perfeitamente com a proposta do jogo.

O nível de detalhes nos cenários ao fundo surpreende, que vão desde a Estátua da Liberdade desabando aos terríveis esgotos recheados de monstros mutantes. Apesar de ser um game curto, a variedade de paisagens impressiona, mostrando montanhas de gelo, templos da Asiáticos, cavernas sombrias e navios naufragados, que impedem do jogo ser repetitivo. O jogo também utiliza cores e contrastes fortes, o que aumenta a sensação de estar lendo um gibi e cria um visual incrível.

Grunge na veia

Outro ponto que merece destaque é a excelente trilha sonora do game, composta por Howard Drossin, que iniciou carreira fazendo as músicas de “Sonic Spinball” e “Sonic & Knuckles“, antes de trabalhar em “Comix Zone” – ele também compõe ocasionalmente para filmes e com games até hoje. Drossin também dublou as vozes de Sketch, Strigil e Kung Fung no game.

Os temas, em sua maioria, seguem o gênero rock n’ roll, com algumas pegadas de heavy metal, mas principalmente com influências do grunge, que estava no auge nos anos 90 (algumas músicas até poderiam pertencer a algum álbum do Nirvana). Podemos facilmente ouvir o som de uma guitarra elétrica, acompanhada de um baixo e uma bateria, que se encaixam bem com a atmosfera geral do jogo. Considerando que Sketch é um músico, soa como se ele próprio fosse o compositor. Clique aqui para ouvir uma das músicas do jogo.

Há pelo menos três faixas para cada fase, que mudam de acordo do local onde Sketch se encontra. É esse tipo de dinamismo que enfatiza a perícia técnica da “Comix Zone”. Os efeitos sonoros também estão na medida, assim como as vozes digitalizadas, que estão bem audíveis e com uma ótima qualidade.

Jogabilidade sob medida

Apesar de sua principal mecânica ser um Beat’m Up ao estilo de clássicos como “Streets of Rage” e “Final Fight“, a jogabilidade de “Comix Zone” também apresenta vários elementos de plataforma e estratégia com puzzles, em que o jogador deve usar a cabeça para resolver quebra-cabeças para poder pular para o próximo quadrinho. E nesses momentos de estratégia o seu fiel companheiro Roadkill será imprescindível, acionando alavancas, interruptores e descobrindo itens escondidos para facilitar as coisas para o nosso herói. Ele também pode atordoar inimigos com a sua cauda, dando uma vantagem para Sketch durante uma luta.

Vamos aos comandos básicos: o direcional movimenta o personagem nos sentidos esquerda e direita, e também é usado para fazer alguns movimentos especiais (veja a seguir). O botão A serve para atacar, o B para pular e o C é o bloqueio — simples assim! Em um controle de 6 botões, o X, Y e Z são usados para selecionar os três itens do seu inventário.

Existem também alguns movimentos especiais bem fáceis de usar, que você irá aprender sozinho no percurso do game. Por exemplo, segurando o direcional Cima + Direita (ou Esquerda) + botão A, Sketch aplica uma série de chutes giratórios; com Direcional para cima + A, um soco “uppercute”; há também um movimento de agarrão seguido de um chute: aproxime-se do adversário, pressione o botão A e, quando ele fizer o movimento de agarrar, aperte A de novo; apertando Baixo + Direita/Esquerda, ele rola no chão, esquivando-se de alguns golpes; etc. Existem outros, mas deu pra ver que os movimentos são bem simples — no mais, é só cair na porrada mesmo.

Além disso, Sketch possui um inventário onde pode carregar até três itens, como granadas, chá gelado para aumentar a sua vida ou até mesmo o seu parceiro roedor.

“Comix Zone” é um jogo extremamente desafiador, com um nível de dificuldade bem elevada. Ele possui uma grande variedade de inimigos que podem ser osso duro de derrotar, eles são implacáveis (especialmente as malditas criaturas voadoras) e surpreendentemente inteligentes, desviando e bloqueando os seus ataques com frequência, e que nessa brincadeira podem levar boa parte de sua energia. Temos também armadilhas fatais espalhadas e puzzles diabólicos, que não possuem uma solução muito óbvia. Lembrando que você tem apenas uma vida e nenhum continue, e os restauradores de energia são raros. O jogo tem apenas seis fases, mas passar por todas elas na raça é uma aventura para poucos.

Assim como outros clássicos como “The Revenge of Shinobi” e “The Amazing Spider-Man“, o jogo conta com dois finais diferentes, em que nosso herói tem que correr contra o tempo para derrotar o último chefão e salvar a donzela em perigo.

Onomatopéias e Frases de Efeito

Os quadrinhos americanos possuem uma linguagem cheia de clichês, maneirismos, e atributos peculiares. “Comix Zone” levava tudo isto para o seu Mega Drive com uma fidelidade admirável. Frases e gírias como “Cara, que viagem!” ou “Que #@$#@ é essa?!” são muito comuns. Você vai se deparar também com muitas piadinhas típicas e diálogos batidos.

O mais legal é que, em cada quadrinho, o protagonista faz um comentário diferente. Algumas vezes, inclusive, ele conversa e faz comentários irônicos com o vilão Mortus, que controla tudo em Comix Zone (“Oh Mortus, Thanks! I just love these drums”). Sketch Turner acaba se mostrando um personagem muito criativo e com personalidade, que fala muito e com o maior desembaraço.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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