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Análise | Gears Tactics muda de gênero, acerta na fórmula e não perde a essência

Sair da zona de conforto de uma franquia e levá-la para um gênero totalmente diferente é um movimento arriscado, que pode custar não só milhões de dólares, como também toda a relevância de uma série. A Coalition, que já fez um ótimo trabalho de atualização em Gears 5, topou o desafio e resolveu levar a série de brucutus para o gênero de estratégia por turnos, bem nos moldes de XCOM.

Longe de ser um spinoff feito nas coxas, Gears Tactics tem história canônica para a franquia, conta com sistemas interessantes e tem gráficos muito acima da média. No entanto, na parte de estratégia, talvez pudesse ter recebido mais refinamento.

Caçando Ukkon

Gears Tactics se passa anos antes do primeiro Gears of War e conta a história de Gabe Diaz. Como você já deve imaginar pelo nome, ele tem ligações de sangue com Kate Diaz, protagonista em Gears 5. No momento em que se passa o jogo, os humanos já estão em guerra com os Locust, e Gabe está desiludido com as decisões da CGO em relação ao uso do Martelo da Aurora. Antes um soldado com enorme potencial e resultados, ele agora está apenas jogado em uma oficina, fazendo reparos em veículos dos Gears.

Mas o chamado para a aventura não tarda e, com uma nova ameaça eminente, ele logo vai ser recrutado para uma missão que vai mudar o destino da humanidade: a caçada de Ukkon. Esse alienígena é cruel como os outros Grubs e merecia um contato íntimo com a serra da Lancer por si só, mas tem um diferencial: consegue criar outros monstros e, se não for abatido, vai virar a guerra em favor dos Locust. Sua missão, sem muitos recursos, vai ser recrutar e treinar novos Gears, montar um time de ponta e caçar esse alien por onde quer que ele esteja.

Durante a jornada, Gears Tactics continua a abordar alguns temas mais sensíveis que foram introduzidos só nos últimos capítulos da série. A relação do mundo com o autoritarismo da CGO, os danos colaterais do Martelo em soldados e pessoas que estão do lado dos humanos e o crescimento dos personagens como pessoas que tem a capacidade de criticar o que está acontecendo ao seu redor.

No geral, a história é bem contada, mesmo que o desenvolvimento dos personagens seja um pouco raso – até porque a campanha não é muito grande, pouco mais de vinte horas. Se você é fã da trama de Gears, esse é um título obrigatório para entender o passado da franquia e, principalmente, da Kait.

Os melhores gráficos do gênero

Gears Tactics tem, de longe, os melhores gráficos de um jogo deste tipo. A Coalition fez, mais uma vez, um trabalho excepcional com a Unreal Engine 4 e justificou o título de rainha da engine. Gears 5 já tinha sido um dos jogos mais bonitos da geração e muito do que foi utilizado lá está de volta aqui.

As cutscenes, muito bem polidas, dão um nível de produção para o game que eu não esperava ver em algo do gênero. Os personagens são bem trabalhados e nem mesmo a orientação de câmera isométrica motivou a diminuição do nível de detalhes deles.

Um ponto a se destacar é o menu de opções gráficas, uma aula de como ser feito no PC. Dividido em abas de forma muito organizada, você pode editar só os efeitos de textura, pós processamento e tela sem ficar perdido. Para os leigos, é uma aula também, já que cada efeito tem uma imagem que atualiza em tempo real o que você modifica e uma descrição detalhada do seu impacto em GPU, CPU e VRAM. Fica bem claro para o usuário o que ele vai ganhar na imagem e perder em performance, facilitando a escolha entre o que ligar ou desligar no caso de um computador mais fraco.

Após jogar Gears Tactics, fiquei ansioso para ver o que a Coalition vai conseguir na próxima geração. Com a Unreal Engine sendo uma das pioneiras em ferramentas para Ray Tracing, eles devem fazer bonito no próximo Gears que certamente chegará ao Xbox Series X.

Sistemas sólidos

Os sistemas de Gears Tactics são inspirados em XCOM e as comparações são inevitáveis, mas aqui há várias diferenças que o tornam bem autoral e único. Para começo de papo, não há sequer uma divisão do cenário por campo. Em vez da movimentação por células, padrão do gênero, o personagem tem três ações por turno que podem ser utilizadas para percorrer uma boa distância. Se chegar próximo a uma barreira, ele automaticamente vai se proteger e a partir daí é o padrão do gênero.

A decisão por deixar três ações livres deixou o combate do Gears Tactics bem mais fluido e rápido que o do XCOM. É possível, por exemplo, atirar nas três ações. Isso remove aquele medo constante de tomar alguma decisão errada, como acontece no XCOM, e dá bem mais espaço para experimentação. Em termos de diversão, em vários momentos eu preferi o que foi feito aqui do que o padrão XCOM, mas por vezes também senti falta da punição do jogo da Fireaxis.

E falando em punição, ela também é bem mais branda por aqui. Com exceção do modo insano, todos os outros modos permitem levantar os personagens várias vezes. Se você não estiver com o modo heroico ativado – que proíbe reiniciar a fase – vai ser muito difícil perder a vida de um soldado em combate. O problema não está em erguer o aliado, mas na quantidade de vezes que isso é possível. Talvez uma limitação nessa quantidade tivesse dado o efeito que eu gostaria, sem precisar ser exatamente como os sistemas do XCOM.

Nas árvores de habilidade o jogo também brilha. Há mais de 150 delas divididas entre as cinco classes. Cada uma das classes, dependendo do que você vai escolher ao passar de nível, pode assumir diversos arquétipos. Vanguarda, por exemplo, pode ser um tanker completo, focada em chamar o fogo dos inimigos ou ser um personagem que mistura resistência com auxílio aos aliados, quase como um paladino. Isso também se repete para todas as outras classes, dando uma liberdade relevante para o jogador montar um time que se adeque bem ao seu estilo. Há alguns probleminhas de balanceamento, como um dano surreal da classe de atirador de elite (sniper), mas isso deve ser consertado com o tempo.

Por fim, os chefes são um ponto que merece destaque. No fim de cada ato você terá que lidar com um deles. São enormes, dão muito trabalho e exigem tudo que você aprendeu até então. Uma pena que o modus operandi para vencer cada um deles é sempre muito parecido.

Customização entre altos e baixos

Um dos fatores que mais me empolgou para o Gears Tactics foi a possibilidade de customizar meus Gears, com armaduras diferentes e, especialmente, modificar as suas armas. Embora tenham um impacto forte no jogo com seus atributos, visualmente é algo bem menos impactante que o esperado.

As armas tem muitas partes com efeitos diferentes mas visual similar. O bom é que em termos de customização de cores e materiais, há muitas opções e você pode montar uma arma bem espalhafatosa, se for esse seu interesse. Já na hora de editar os Gears que você recruta, há bem menos opções. Com o tempo, você vai conseguindo novos acessórios, mas não é possível customizar rosto, sexo ou biotipo, o que acaba um pouco com a graça do roleplay.

Como cada classe é limitada a um tipo de arma e essa só recebe edições de partes, no fim você terá muitos personagens bem parecidos visualmente, o que pode desagradar alguns fãs do gênero.

Repetição mina a experiência

Um dos pontos altos do XCOM é a possibilidade construir uma base de operações e escolher onde você vai investir seus limitados recursos. Além disso, é possível também escolher os locais do planeta onde as suas incursões vão ocorrer, o que torna essa parte de preparação quase como um jogo extra. Em Gears Tactics, não há nada parecido.

Existe um momento entre missões onde você pode escolher seus equipamentos e incrementar o time, mas não há recursos de melhoria de base ou escolhas difíceis a fazer para as incursões. Isso coloca um peso muito grande na campanha, que acaba deixando as fases muito repetitivas. O pior é que ainda há alguns modelos de missões que se repetem à exaustão, como resgate de personagens e de caixas.

Com o passar do tempo, o jogo libera mais espaços para membros na equipe. Como incentivo para recrutá-los, ele cria algumas missões secundárias em cada capítulo. Cada personagem só pode participar de uma missão por capítulo, o que te obriga a dosar o uso dos mais fortes para tê-los na missão principal. É uma forma meio artificial de tentar usar o esquadrão e que não funciona tão bem. Eu preferiria um sistema que obriga os personagens machucados a descansar por um capítulo e então focar mais na diversidade das missões principais.

Conclusão

Gears Tactics é uma empreitada de sucesso da Coalition, que não teve medo de inovar com a sua franquia. Os sistemas do jogo são sólidos e carregados de pontos altos que vão satisfazer os fãs do gênero sem deixar a essência da série Gears de lado. De ponto negativo fica a repetição das missões, que se tornam cansativas sem algo para fazer entre elas e modelos de objetivos pouco inspirados. Ansioso para uma sequência!

Pros

  • Gráficos belíssimos para o gênero
  • Sistemas sólidos e divertidos
  • Não perdeu a essência da franquia
  • Sistema de habilidades permite vários estilos de jogo

Contras

  • Fator estratégia poderia ser melhor explorado
  • Missões repetitivas
  • Falta de algo para fazer entre as missões
  • Customização não aprofunda

 Nota: 8,0

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