Análises

Ghouls ‘n Ghosts

Aproveitando o lançamento de “Bloodborne” para o PlayStation 4, que tem chamado a atenção pelo seu alto nível de dificuldade, coisa meio rara nos jogos atualmente, vamos relembrar de um clássico que é notório pela sua dificuldade insana e que poucas pessoas podem estufar o peito e dizer “eu terminei na raça“: Ghouls ‘n Ghosts!

O jogo foi produzido pela Capcom e lançado para arcades em 1988 e é sequência de “Ghosts ‘n Goblins”, lançado em 1985 e que já tinha a reputação de “um dos games mais difíceis ever“. Ghouls ‘n Ghosts fez um grande sucesso e recebeu diversas versões em consoles e computadores da época, incluindo o Mega Drive e o Super Nintendo, que certamente são as mais populares e são o centro da nossa retro-análise especial de hoje. Confira abaixo cada uma delas.

Versão Mega Drive

Vamos começar com a versão do Mega Drive, que foi lançada em 1989 e produzida pela Sega, sob licença da Capcom (que na época tinha o rabo preso pelo contrato de exclusividade da Nintendo). Aqui somos apresentados ao cavaleiro Arthur (que não tem nenhuma ligação com o famoso Rei Arthur da mitologia, mas que você já deve ter visto nos games de luta atuais da Capcom), um cara baixinho, gordinho, barbudo e que usa ceroulas. Sua missão é enfrentar um vasto exército de monstros, fantasmas e demônios para salvar a princesa Prin-Prin, aprisionada no castelo do próprio capiroto, Lúcifer, e as almas de pessoas roubadas por ele.

O game é uma versão fiel ao arcade que chega a impressionar (apesar das versões X68 e PCE estarem melhores, não eram tão famosas). Está tudo lá, salvo algumas poucas diferenças, todas as fases, inimigos, armadilhas, dificuldade, era como ter o arcade dentro de casa, o que era bem legal e garantiu para a Sega um belo marketing para o seu 16 Bits. O jogo estampou várias revistas e foi aclamado com um dos melhores jogos caseiros da sua época, isso que o Megão ainda estava no início da sua carreira e engatinhava graficamente, estando longe do nível gráfico que poderia chegar, como veríamos futuramente.

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Mega Drive (topo) vs Arcade

Mas para a época, os gráficos e visuais eram o que tinha de melhor. Cenários cheios de detalhes e animações, personagens com designs inspiradíssimos, sem falar da temática de terror/horror, que não era muito comum em games naquele tempo. A trilha sonora é a mesma do arcade, com belas composições envolventes e sinistras, que combinam bem com  atmosfera “gótica” do jogo.

ouça o tema da primeira fase

Mas é na jogabilidade e nas mecânicas que a versão do Megão brilha. A ação é extremamente dinâmica e fluída, mesmo com a tela abarrotada de inimigos (e isso vai acontecer muitas vezes), com controles e comandos precisos e que não te deixam na mão.

E jogabilidade é um fator importante aqui, já que a dificuldade do cão chupando manga está presente nesse port. São dezenas de inimigos, centenas de armadilhas e cenários com designs feitos para ferrar o jogador de todas as maneiras possíveis. Para dificultar ainda mais, o pulo de Arthur não pode ser mudado quando o herói já saltou, o que vai exigir do jogador um grande domínio na habilidade e timing na hora de pular. E acredite, você irá morrer centenas de vezes até conseguir se adaptar ao maldito pulo do herói.

Para ajudar na jornada, Arthur pode encontrar várias armas que o ajudam no combate contra a monstraiada, como a faca, a lança, o fogo, o disco e o machado. Também é possível usar dois tipos de armadura: a de bronze e a dourada. Essa última permite usar um poder especial, que varia de acordo com a arma que você usa, para destruir os inimigos na tela. Porém, assim como a de bronze, sua resistência é de apenas um dano, e pronto, você está de cueca. Um segundo dano e já era.

Os monstros surgem de todos os lados, felizmente é possível atacar tanto pelas laterais, como para cima ou para baixo, o que facilita um pouco as coisas. E a boa notícia é que, diferente do arcade, os continues aqui são infinitos e você não precisa torrar sua mesada para continuar jogando. Destaque para os chefões de fase, geralmente monstros gigantescos na tela, mas que não chegam a ser tão difíceis como o estágio em si. Cuidado com um mago bem desgraçado, que adora surgir de dentro dos baús de itens e lança uma magia que transforma Arthur em um pato inútil ou em um velhote gagá – situação que seus inimigos vão adorar aproveitar.

O jogo possui cinco estágios que são pedreira pura, mas aí vem a sacanagem: ao chegar para enfrentar Lúcifer, o jogador é informado que é necessário uma arma especial para derrotá-lo, e assim você é enviado novamente para o primeiro estágio, tendo que passar tudo novamente, numa dificuldade mais elevada é claro, para então conseguir terminá-lo de verdade. É meu amigo, de sentar e chorar como um bebê.

Versão Super Nintendo

Lançada em 1991 pela própria Capcom, a versão para SNES foi batizada de “Super Ghouls ‘n Ghosts“, e diferente de vários títulos para o sistema que recebiam o termo “Super” na frente, esse realmente honrou o nome. O jogo melhorou quase todos os aspectos da versão original.

Os gráficos são bem mais coloridos e detalhados, há novas áreas e elas são mais longas (são sete estágios no total), novas armas e além disso, a Capcom usou o famoso Mode 7 do SNES para deixar os estágios mais arrojados. A trilha sonora orquestrada é show de bola e claro, ele também apresenta uma dificuldade absurda, onde é preciso terminar o game duas vezes para chegar ao seu verdadeiro final.

ouça o tema da primeira fase

 

O jogo na verdade é uma sequência de “Ghouls ‘n Ghosts”, onde novamente o jogador assume o controle de Sir Arthur para salvar a princesa dos demônios. Aqui Arthur pode evoluir sua armadura até três vezes, permitindo que o herói use um escudo para se defender de ataques inimigos, o que realmente facilita um pouco as coisas – mas um esbarrão em alguém, e Arthur fica apenas de cuecas. Ele também pode dar um pulo duplo, que as vezes te salva e outras te ferra, dependendo da situação (é possível mudar de direção no segundo salto). Porém, aqui Arthur ataca apenas pelas laterais, o que dificulta, e bastante, matar os inimigos.

superghoulsnghosts-1

Infelizmente essa versão tem um calcanhar de aquiles que o impede de ser um jogo perfeito: ele sofre de vários e irritantes slowdowns, durante toda aventura. Como o processador do SNES é bem mais lento do que do Mega Drive, aqui quando a tela se enche de inimigos o frame rate despenca igual um cometa, comprometendo a jogabilidade e por consequência, a experiência e diversão do jogo. Uma pena.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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