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Análise | Gotham Knights tem campanha sólida e combate divertido

Gotham Knights passou por um turbulento processo de marketing. Explicar que o jogo era um multiplayer cooperativo com vários heróis, com sistemas de RPG e sem o Batman, não foi fácil. Mas não se tratava de um jogo como serviço, o que tornou a divulgação uma tarefa complicada e confusa. No entanto, para alegria dos fãs da série Arkham, se trata de um jogo de ação com campanha completinha e que permite jogar todo o conteúdo sozinho tranquilamente

Embora não acerte o tempo todo e tenha alguns problemas de repetição, consegue divertir bastante e abre as portas para uma nova linha no universo de games do morcegão.

Passando a tocha

Vale lembrar que este universo é inédito na franquia recente do Batman nos games e não faz parte da história contada nos jogos Arkham. A abertura, aliás, já mostra a morte do herói. Sem o morcegão para caçar e prender os vilões, a criminalidade em Gotham explodiu. Até mesmo porque o também heroico Comissário Gordon faleceu antes mesmo do Bruce Wayne nesta história. A única chance da cidade são os pupilos do cavaleiro das trevas.

Há quatro personagens para escolher. Asa Noturna aposta em acrobacias e dardos repletos de efeitos. Batgirl é um mix de suporte com foco em dano crítico. Capuz Vermelho, talvez o menos popular e conhecido dentre os quatro, usa combate com pistolas e causa dano massivo em diversas distâncias. Já o Robin é especialista em furtividade e causa efeitos adversos nos inimigos. Embora a dinâmica da jogabilidade seja bem diferente de um para o outro, a escolha do jogador não impacta no andamento da história, tirando algumas mudanças nas cutscenes. É possível, inclusive, trocar de personagem a qualquer momento.

Como você já deve imaginar, o foco dividido acaba tendo um impacto negativo no desenvolvimento dos personagens. O único momento em que eles são aprofundados individualmente é quando interagem com pontos de Gotham ou da própria base em determinados momentos da aventura. Eu joguei com a Batgirl o tempo todo e pude ver uma cutscene mais emotiva dela ao interagir com a estátua feita para o Comissário Gordon, por exemplo. De resto, o foco fica no macro da trama, com a Corte das Corujas e seu culto de elite agindo de forma mais agressiva com a morte do Batman, enquanto a Liga dos Assassinos e Talia al Ghul tramam algo nas sombras.

A jornada tem seus altos e baixos, mas quando acerta, é em cheio. Embora as cutscenes nem sempre sejam tão bem trabalhadas quanto deveriam, especialmente no que diz respeito a animação facial, os vilões são convincentes e há algumas reviravoltas bem legais à medida em que a investigação avança. O final é um dos pontos mais altos e deixa aberta a possibilidade de mais conteúdo no futuro, que será bem vindo.

Altos e baixos na jogabilidade

Gotham é o grande foco do jogo. A cidade é aberta e conta com uma construção tão impressionante quanto a vista em Arkham Knight. Se por um lado a direção de arte parece ter deixado as cores mais vibrantes e menos sombrias, o que pode desagradar parte dos fãs, por outro os gráficos são bem convincentes. Todo cantinho parece modelado com muito detalhamento e as texturas são sempre em alta resolução. A iluminação fecha o pacote e entrega uma experiência visual bem legal para os consoles de nova geração.

No entanto, beleza não é nada sem conteúdo. A estrutura aqui é bem o que se espera de um mundo aberto atual, com pontinhos de montão com atividades para completar marcados no mapa. Os quatro heróis saem da sua base toda noite para patrulhar a cidade e aprofundar suas investigações. No início o jogo começa com poucas opções, é possível apenas patrulhar a cidade e resolver alguns crimes em andamento, que no geral têm objetivos bem simples como libertar reféns ou derrotar todos os inimigos antes que eles explodam algo. Com o tempo, a equipe de jovens vai acumulando contatos pela cidade e outras opções surgem, como corridas com a moto e desafios que rendem itens. O leque não é lá muito inspirado e logo essas atividades ficam cansativas. O triste é que várias delas são exigência para acessar o conteúdo secundário. Há três casos com vilões clássicos para solucionar, com batalhas de chefes incríveis no final, mas chegar lá depende de pistas conseguidas ao completar desafios que consistem em combater esses crimes repetitivos noite após noite.

Outro ponto negativo é a movimentação. A travessia por Gotham no início do jogo é bem monótona, já que só temos acesso ao gancho para subir em prédios e a moto, cuja dirigibilidade é sem graça e por ruas vazias. Depois que o personagem libera a sua forma de voar, no caso da Batgirl planar com a capa como o Batman, as coisas melhoram um pouco, mas longe daquela movimentação fluida de Arkham Knight.

O combate também é bem diferente do que vimos na série Arkham. Agora não há aquela opção de defesa no tempo certo e acúmulo de acertos para usar habilidades. Aqui o timing fica por conta da esquiva e pressionar o botão de soco assim que o golpe entrar. Já as habilidades podem ser utilizadas à medida em que vai se acumulando energia em uma barrinha. Cada habilidade tem seu custo e há também uma espécie de “ultimate” que tem um tempo pré-estabelecido de recarga. Como a quantidade de habilidades é bem variada e dá para trocar os personagens, o combate se torna a parte mais divertida do jogo. A variedade legal de inimigos também ajuda. Uma pena que o conteúdo foque tanto nele, que após a metade da campanha ele já começa a cansar até ficar difícil de suportar no final. 

Após finalizar a noite e retornar para a base, é possível gastar todos os espólios conseguidos para criar roupas e armas novas. Cada herói conta com 15 trajes diferentes e uma porção de variações para cada um deles. Outro ponto alto do jogo que vai fisgar os fãs, principalmente pelas referências aos quadrinhos.

Faltou performance

A performance é outro tópico que dominou o marketing do jogo. Após cancelar as versões para a geração passada de consoles, foi confirmado que o jogo contaria apenas com modo 4K/30 FPS, algo raro até o momento na nova geração, que quase sempre oferece um modo performance com 60 quadros e resolução dinâmica.

Para quem vem jogando tudo a 60 FPS, a diferença é bem visível. A responsividade dos controles não é a mesma, girar a câmera revela a lentidão e o combate não fica tão fluido com deveria. No entanto, se serve de consolo, a taxa de quadros é bem constante até jogar com alguém no modo cooperativo. A opção de deixar os jogadores se distanciar o quanto quiserem claramente afeta o desempenho e há quedas bruscas enquanto se explora a cidade, principalmente pilotando a moto ou combatendo vários inimigos ao mesmo tempo. Não acho que esses problemas sejam um impeditivo para o jogo e já vi muita coisa pior, mas vai ser um ponto negativo para quem ficou acostumado a jogar com taxas maiores de quadros.

Conclusão

Gotham Knights tem foco no modo cooperativo, mas pode ser aproveitado muito bem sozinho. A campanha é bem desenvolvida e há muito aqui tanto para fãs da série Arkham quanto para novatos que querem jogar um jogo de ação com os amigos. Combate, customização e partes da história são pontos altos, enquanto a performance e repetição das atividades ficam como pontos baixos. 

Prós

  • Combate dinâmico e divertido
  • Narrativa cheia de mistério e com boas reviravoltas
  • Chefes bem executados nas missões secundárias
  • Vasta customização dos heróis

Contras

  • Performance irregular com limitação de 30 quadros por segundo
  • Repetição das mesmas atividades até a exaustão
  • Falta de conteúdo mais legal no endgame

Nota 8,0/10,0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Warner Bros. Games para a elaboração desta análise

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