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Análise | Guardians of the Galaxy traz história memorável e jogabilidade que deixa a desejar

Desde que foi anunciado pela Square Enix na E3 deste ano, Marvel’s Guardians of The Galaxy sofreu bastante no seu marketing graças às comparações injustas com The Avengers, jogo da Crystal Dynamics lançado em 2020 e  que teve uma péssima recepção. É bem verdade que os trailers também não conseguiram mostrar de verdade a proposta do game, que acabou me surpreendendo bastante no fim das contas, mesmo que apresente muitas arestas para serem aparadas.

O lado B dos Guardiões

Já disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series e PC, Marvel’s Guardians of The Galaxy é uma aventura para um jogador, com foco pesado na narrativa. Embora a tropa dos Guardiões da Galaxia tenha cinco personagens, só é possível controlar o Peter Quill, conhecido também como Star Lord, durante a aventura.

A história aqui é toda original e não segue os acontecimentos dos filmes do James Gunn. Embora o universo cinematográfico seja uma sombra constante para jogos assim, a Eidos Montreal, estúdio que desenvolveu o jogo e é famosa por outros títulos (como Deus Ex), se virou bem demais e trouxe uma jornada que considerei superior até mesmo àquelas vistas nos dois filmes dessa turma que foram lançados até o momento.

Tudo começa com o Peter ainda criança, mostrando um pouco da sua vida de jovem metaleiro dos anos 80, com um quarto repleto de vinis de bandas famosas da época, como Iron Maiden, e referências a RPGs de mesa e o que mais você lembrar daquela época. As animações faciais dos personagens durante os diálogos já impressionam logo de cara, com expressões muito realistas e convincentes. Acho que desde The Last of Us 2 ou Death Stranding não via um trabalho tão bom nesta parte, o que ajuda demais na proposta do jogo que é a de se aprofundar bastante nos personagens.

O jogo não perde muito tempo com as origens e após esse prólogo curtinho já parte para uma missão típica dos Guardiões. O grupo não é composto por heróis cheios de virtudes e poucos defeitos, mas de personagens envolvidos com crimes e passados obscuros, buscando redenção e objetivos heroicos sem ter de passar fome no processo. Esse tom vai desde essa primeira missão, onde invadem um setor em quarentena em busca de uma fera para vender e assim obter recursos para continuar, até o último momento do jogo, quando ainda lutam contra os seus demônios interiores.

O foco é total nos personagens e na sua interação como Star Lord com eles. Em alguns momentos a jornada lembra muito Mass Effect, e o Peter é quase como um Sheppard na nave. Dentre as missões, que são divididas em capítulos de forma bem linear, é possível conversar com os seus companheiros na nave Milano e ir a fundo nas histórias de cada um.

Os diálogos são ótimos, sendo esta uma marca registrada do estúdio, e carregam nas costas o jogo, mesmo com os seus problemas de jogabilidade que são mais amargos. Os momentos cômicos de Rocky e Groot, ou quando o Star Lord não é lá muito inteligente, rendem boas risadas. Quando quer ser emocionante, o jogo também consegue e lida de forma muito madura com temas pesados, como abandono, culpa e luto. Impulsionadas pela ótima dublagem – joguei em inglês mas há a opção em português do Brasil também – as cenas são bem legais e por várias vezes marcantes.

Do ponto de vista da campanha e narrativa, Marvel’s Guardians of the Galaxy faz um golaço e, tomara, abre caminho para um futuro bastante promissor como franquia de jogos.

Jogabilidade deixa a desejar

Se por um lado a história é excelente, por outro a parte de jogo em si é falha e por vezes parece até corrida. O sistema de combate, como você viu a pouco, só permite jogar com o Star Lord, o que na teoria deveria ter deixado o personagem bem trabalhado e com vários recursos, mas na verdade o que se vê é o contrário.

Cada personagem tem apenas três habilidades para serem desbloqueadas durante a campanha e mais uma que é liberada com a progressão normal da campanha. É uma árvore de habilidades bem pobre e que deixa o combate repetitivo e sem sal.

Se você jogou o ótimo Scarlet Nexus, vai se sentir em casa aqui. No comando do Star Lord, é possível selecionar quando os seus companheiros vão utilizar suas habilidades. É quase como se todos fossem um só, até porque a IA ataca bem pouco sem seus comandos. O problema é que o Star Lord é bem menos interessante de se jogar do que os protagonistas do Scarlet. Ele basicamente atira de longe no início do jogo, sendo disparos sem muito impacto e que deixam o combate chato. Com o tempo, ele libera algumas poucas habilidades, mas nada que mude muito a dinâmica.

Há uma mesa onde é possível gastar os recursos obtidos no mapa para liberar melhorias para o Star Lord, algumas que, inclusive, já deveriam estar com ele desde o início. O mais bizarro é que tanto as habilidades dos companheiros quanto essas de recursos são todas liberadas antes mesmo de finalizar o capítulo 12 e o jogo vai até o 16. Bem desbalanceado e deixa a exploração a partir dai inútil, já que os recursos passam a não servir para nada.

Os mapas do jogo são bem lineares, sendo basicamente seguir em frente em linha reta até a próxima leva de inimigos e repetir isso até ver a cutscene final do capítulo. Dá para explorar um ou outro caminho, geralmente bem óbvios e curtinhos, para coletar recursos ou encontrar um novo traje para os personagens, mas nada que torne a dinâmica divertida. Com o tempo, isso também cansa.

O mais legal é poder liberar algumas passagens com poderes dos outros personagens, só que o fato de tudo ser sempre em linha reta e não existir novas habilidades de campo para um backtracking, deixa a dinâmica sem graça e no máximo serve para um ou outro quebra-cabeça para liberar um novo caminho, no estilo do primeiro The Last of Us, algo já bastante datado.

No fim das contas, a jogabilidade acaba sendo um feijão com arroz sem tempero algum, que parece só enrolar para chegar na parte onde o jogo brilha, que é a história.

Bugs e performance atrapalham a experiência

No momento em que esta análise foi publicada, o jogo apresenta vários bugs bem irritantes. Por vezes o personagem não executa uma ação de campo para abrir uma passagem e é preciso dar loading no save. Aconteceu também de ícones de botões ficarem presos na tela após algum diálogo e ser necessário dar loading (de novo) para sumirem. No mais grave deles, Peter ficou preso em uma daquelas bordas de parede, que ainda colocam em jogos para dar um drama na travessia de um lado para o outro, e não conseguia mais sair. Esse acontecia mesmo recarregando o jogo, o que impediu de pegar um dos trajes que liberaria um troféu.

O desempenho, mesmo nos consoles de nova geração, também não ajuda. O modo performance no PS5 e Xbox Series X roda em pífios 1080p de resolução, o que deixa uma sensação de borrado irritante ao jogar em uma TV 4K. Também tira bastante dos gráficos, reduzindo várias opções para as mais baixas. O modo gráfico deixa tudo mais bonito, mas é travado em 30 quadros por segundo, que são péssimos para a experiência.

No PC, se você usar o DLSS das GeForce RTX, a situação é bem melhor. Testei por algumas horas e o jogo é realmente bonito e roda bem. Com Ray Tracing em algumas áreas, como o mercado que é repleto de poças e neon, os visuais ficam belíssimos e memoráveis.

Em consoles da geração passada e no Series S, pelo que vem sendo reportado, a situação também não é das melhores, então recomendo que você procure vídeos focados no jogo rodando neles antes de decidir pela compra, já que jogos AAA não são baratos no lançamento.

Conclusão

Marvel’s Guardians of The Galaxy oscila entre a ótima história e a fraca jogabilidade. A forma como focam no lado B dos guardiões, se aprofundando nos personagens e criando laços com o jogador é digna de nota e carregam o jogo nas costas. Já o combate, a linearidade e simplicidade dos mapas e o péssimo sistema de progressão não deixam o jogo engrenar como deveria.

Há muitos bugs no momento que minam a experiência e precisam ser corrigidos o quanto antes. A performance também pode ser melhorada em todas as plataformas, o que ajudaria a não ter que escolher entre baixa resolução ou pouco FPS.

Prós

  • Narrativa sólida, com ótimos diálogos
  • Animações faciais impressionantes
  • Trilha sonora com músicas clássicas dos anos 80
  • Foco dado nos personagens

Contras

  • Bugs irritantes por todos os lados
  • Mapas com progressão linear e pouco espaço para exploração
  • Árvore de habilidades bem fraca

Nota: 8.0/10.0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Square Enix para elaboração desta análise.

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