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Análise | Immortals: Fenyx Rising é cópia de Zelda que poderia ter sido mais

A Ubisoft não economizou em lançamentos no ano de 2020 e no intervalo de praticamente dois meses soltou nada menos do que três jogos de mundo aberto. Além dos famosos Assassin’s Creed Valhalla e Watch Dogs Legion, ainda sobrou espaço para o debutante Immortals: Fenyx Rising, que tem uma pegada um pouco diferente dos jogos tradicionais da gigante francesa.

Com os dois pés em The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Immortals por vezes parece até uma cópia completa do jogo da Nintendo, mas olhando com um pouquinho mais de cuidado, dá para perceber sua identidade, mesmo que ela ainda não seja lá tão perfeita.

Duelo de deuses, solução humana

Uma diferença entre Zelda e outros jogos single-player recentes da Ubi já aparece logo nos primeiros minutos. Aqui em Immortals é possível criar o seu personagem, escolhendo gênero, voz e diversas opções de aparência. O nome do personagem, claro, é Fenyx.

Herói improvável, Fenyx acaba naufragando em uma ilha fantástica onde os deuses estão lutando pela sua sobrevivência. Quem apostou no herói mortal foi Prometeu, que negou ajuda a Zeus mas prometeu que a solução viria de um humano.

Durante toda a jornada, a aventura é narrada por Prometeu e com comentários do próprio Zeus, que fica como observador. Como o jogo não se leva a sério e aposta no bom humor, os momentos hilários entre os dois ajudam demais na narrativa. É uma dinâmica que funciona, sendo provavelmente a parte mais interessante daquilo que você encontrará aqui.

A cada novo local, há referências sobre histórias da Mitologia Grega, das mais famosas até várias que eu nem fazia ideia que existiam. A forma como elas são contadas com o ponto de vista do orgulhoso e egoísta Zeus e os questionamentos ácidos de Prometeu funcionam incrivelmente bem e instigam o jogador a explorar para descobrir mais.

Já o vilão, Tifão, está tentando libertar os Titãs e acabar com os deuses. Quando Fenyx inicia a sua jornada, ele já fez estragos por toda a ilha, aprisionou a maior parte dos deuses em formas bisonhas – Hades é uma galinha, por exemplo – e está prestes a completar a sua façanha. Até mesmo heróis, como Aquiles, foram dominados por esse ente do mal.

A missão do jogador então é percorrer as diversas localidades da ilha, liberar cada um dos deuses e fazer uma última resistência. Nesse caminho, tanto o herói quanto os próprios deuses vão se desenvolver, com desdobramentos que mostram seus defeitos e dão a oportunidade de redenção. A forma humana como Afrodite, Hermes e os demais são retratados é competente e divertida, o que segura bastante as pontas.

No fim fica a impressão de que você está assistindo a algum filme de animação dessa última década, com uma historinha divertida, com lições e uma fórmula que embora não se renove muito, também é competente para entreter.

Mundo aberto de verdade

Como você talvez já deve ter visto por vídeos e imagens, Immortals: Fenyx Rising tem uma inspiração muito grande em The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Isso significa que muitas das suas partes boas também estão aqui e que outras coisas, como os quebra-cabeças, simplesmente não basta querer copiar, é preciso saber como fazer.

Dividida em seis regiões, a ilha tem um pequeno prólogo e logo dá todas os meios de navegação para Fenyx. Uma asa para voar, tal qual o glide do Zelda, assim como a possibilidade de domar cavalos e a liberdade para escalar qualquer coisa, desde que você tenha estamina, da mesma forma que Zelda. A partir daí, o jogador tem liberdade total para viajar para onde quiser, até resolver todos os dilemas da ilha e juntar força suficiente para a luta final.

Embora essa parte seja divertida e um dos pilares do que fez Breath of The Wild um sucesso, aqui falta o playground que existe no jogo da Nintendo. A forma como tudo parece reativo por lá, como jogar eletricidade na água ou criar vento a partir de fogo em plantas e objetos, aqui é feito de forma bem artificial. Todos os quebra-cabeças e principais elementos são construídos à mão pelos desenvolvedores, o que mata um pouco daquela mágica da descoberta. O mais triste: mesmo as partes que não são assim, são exatamente iguais ao que o próprio Zelda já fez – como domar os cavalos – não causando mais impacto.

Outro ponto que frustra é a pouca diferença entre regiões. Aqui os desenvolvedores seguem mais a fórmula batida da Ubisoft do que o jogo da Nintendo. Em Zelda, cada novo local contava com ingredientes únicos para cozinhar ou melhorar armaduras, dando uma sensação de novidade constante na aventura e uma ligação maior com o mundo. Em Immortals, a vegetação que você coleta são sempre as mesmas quatro para criar poções. Nada de novidades impactantes em cada região, sendo sempre os mesmos pontinhos para completar e no geral os quebra-cabeças que não são lá muito interessantes.

Se por um lado é o mundo aberto de verdade e fluido que a gente experimentou com Zelda no Switch e Wii U, por outro ele é meio repetitivo, pouco ousado e muito preso ainda na fórmula da Ubi. A tal identidade que ele tem, mas que não é lá tão convidativa.

Combate de gente grande

Um ponto em que Immortals: Fenyx Rising brilha é no seu combate. Inspirado nos próprios Assassin’s Creed mais recentes, ele conta com diversas opções para o jogador desenvolver o seu personagem à sua maneira. São diversas armas, armaduras e habilidades que podem ser usadas para vencer cada inimigo.

Aparar, desviar no momento correto, ataques furtivos, combos, combate à distância, tudo está ali para você se divertir, principalmente contra os inimigos mais poderosos, que vão exigir paciência e entendimento dos seus movimentos para obter a vitória. Com a espada você aplica dano rápido na vida do adversário, com um machado você aplica dano à postura dele. Há até um pássaro para te ajudar cuspindo fogo e aplicando diversas habilidades que você vai desbloqueando com o tempo.

O sistema de progressão com as armaduras e armas, por exemplo, é bem diferente do convencional. Ao invés de atributos numéricos, cada peça tem uma habilidade única, como mais dano ao ser utilizada no ar ou contra um tipo específico de inimigo. À medida que você melhora o desempenho das espadas no geral – há um único medidor para todas – elas vão liberando outras habilidades. Para cada combate, rola um planejamento legal de equipamentos que pode fazer toda a diferença e te deixa imune ao grind por níveis, comuns em jogos deste gênero.

O lado negativo é que o feedback gráfico não amplifica toda essa diversão. Animações meio duras e algumas repetições de inimigos por todas as regiões acabam por minar um pouco da diversão. No entanto, chefes são desafiadores e a possibilidade de usar coisas do mundo, como pedras para acertá-los, também engrandecem o sistema de combate. É um dos pontos positivos de maior destaque no jogo.

Conclusão

Immortals: Fenyx Rising copia sem medo The Legend of Zelda: Breath of The Wild. Longe de seguir apenas a fórmula, o jogo faz questão de tentar ter todos os sistemas do jogo da Nintendo, desde a travessia como até mesmo a forma como ele lida com quebra-cabeças. O problema é que infelizmente faltou inspiração. Os quebra-cabeças não empolgam, a interação com o mundo é artificial e a diferença entre regiões é pequena, o que acaba deixando o jogo repetitivo mais rápido do que gostaríamos. De positivo fica a boa dinâmica entre Zeus e Prometeu na narração da história e um combate refinado, com sistemas interessantes.

Prós

  • Combate dinâmico e cheio de variações
  • Mundo aberto de verdade, com liberdade para ir onde quiser
  • Narrativa divertida, cômica e com personagens interessantes

Contras

  • Quebra-cabeças deixam a desejar
  • Animações são medíocres e incomodam às vezes
  • Pouca sensação de descoberta e muita repetição

Nota: 7.5

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Ubisoft para elaboração desta análise

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