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Análise | Kena: Bridge of Spirits é uma corajosa, punitiva e promissora estreia da Ember Labs

Kena: Bridge of Spirits ganhou rapidamente os holofotes logo após o seu primeiro trailer. A revelação chamou bastante atenção pelos gráficos estilizados e super polidos, que lembram as mais belas animações em 3D que vemos nos cinemas. Não sem motivo, a Amber Labs, estúdio que desenvolveu o jogo, criava animações para cinema até decidir se arriscar pelo mundo dos jogos.

Kena já está disponível para PS4, PS5 e PC e é o primeiro fruto dessa empreitada. Mostra não só o potencial do estúdio, mas uma baita coragem, já que a Ember Labs não teve medo de adicionar um sistema de combate super punitivo em um jogo que parecia bem mais simples e focado na diversão.

Narrativa simples e cativante

A protagonista do jogo, como o título já indica, é a garota Kena. Com um design que mistura referências budistas e orientais, ela logo mostra sua principal vocação: ajudar espíritos na passagem do mundo dos vivos para os mortos.

Em sua jornada, ela vai chegar no vilarejo onde rola toda a aventura do jogo. Longe de ser um local aconchegante, toda a região está tomada por uma praga que parece matar a natureza e que cria monstros assustadores e poderosos.

Todo o visual do mundo é muito polido e cheio de beleza. Algumas paisagens são bem estonteantes, principalmente de pontos mais altos, como montanhas e edificações de grande porte. Ficar parado para tirar várias fotos no ótimo Modo Foto do jogo é um vício.

A narrativa aqui é bem simples, sendo dividida em três atos de estrutura bem similar e definida. Em cada um deles, Kena vai precisar ajudar um espírito enquanto aprende mais sobre o que causou o desastre na região, os personagens envolvidos e o seu próprio passado, que também gerou traumas. Embora não seja marcante, a história tem alguns momentos de brilho, como no segundo capítulo e no seu final – que conta com uma trilha sonora muito legal para elevar o momento. É bem cativante a forma como são tratados os problemas das pessoas e a sua superação. Os personagens ajudados tem mais desenvolvimento até do que a própria Kena e mostram várias camadas de dor que os prenderam nesse mundinho, que é ao mesmo tempo belo e condenado. São críveis e o jogador acaba se conectando com as suas histórias.

O fato da legenda ser toda localizada em português do Brasil, mesmo com algumas falhas na tradução e erros de digitação, torna essa experiência ainda mais acessível e é mais um ponto positivo.

Algo que me irritou foi a decisão de criar as cutscenes de forma pré-renderizada em 24 FPS, tentando simular a sensação de um filme. O jogo sai dos 60 fps fluidos no PS5 para essas cenas repentinamente e parece que está tudo lento demais. Tira a atenção da história e me incomodou bastante.

Rots são uma gracinha

Para ajudá-la na aventura, há os pequenos Rots. Esses bichinhos parecem bonequinhos de alcatrão e seguem a Kena por todos os lados. Ela vai encontrando mais Rots em todos os mapas e somando dezenas deles no seu arsenal.

Bonitinhos e animados, eles podem ser customizados com diversos chapéus e fazem gracinha em todos os pontos do jogo. Passar por uma banca, por exemplo, fará com que todos eles sentem na bancada de madeira e fiquem brincando de alguma forma.

Os Rots não tem apenas o apelo visual no jogo, como são parte importante da jogabilidade. Kena pode utilizá-los para carregar objetos pesados, destruir corrupção e também potencializar suas habilidades, como energizar flechas ou seu cajado. Uma pena que boa parte das ações que eles executam se tornam bem repetitivas muito cedo e não sai muito da linha de coletar algo ou carregar alguma coisa.

Aliás, todo o design das atividades de exploração seguem uma cartilha já meio ultrapassada, quase como pontinhos em um mapa de mundo aberto que todo mundo parece estar enjoando. Como as recompensas, no geral, são sempre os chapéus dos Rots ou novos bichinhos que são iguais aos anteriores – também só causam efeito prático na jogabilidade após dezenas coletados. Infelizmente não há muito incentivo para explorar, a não ser para completar as conquistas do jogo.

Combate super punitivo

Mesmo quem jogar na dificuldade normal vai ter que suar bastante para terminar Kena. O jogo conta com aproximadamente 10 horas de duração e logo após as horas iniciais de exploração, vira um playground para fãs de combates punitivos e voltados para a habilidade, já que é chefe atrás de chefe, um mais difícil que o outro.

Ninguém gosta de comparações com Dark Souls, mas a inspiração aqui é bem clara. É um clássico “bate e rola”, mas com suas próprias peculiaridades, tanto legais quanto frustrantes.

O sistema de cura é o principal defeito do combate. A Kena só pode se curar utilizando flores que estão no cenário desde o início da luta. É preciso pressionar um botão para os Rots utilizarem a flor para curar a vida da garota. O problema é que isso deixa o combate muito frustrante. Mirar nas flores enquanto está lutando é chato e impreciso. A quantidade de cura é muito baixa, principalmente nos chefes finais. Fica a sensação que o jogo não soube dosar isso. Colocar um sistema mais parecido ainda com Dark Souls, com limite de cura maior, de uso do jogador e que podem se expandir com o tempo, teria sido bem mais inteligente. Não é preciso tentar reinventar a roda neste ponto.

Ao menos as mecânicas dos chefes, em grande parte, são bem legais. Eles contam com movimentos e ataques interessantes e que obrigam a conhecer as habilidades da Kena para explorar suas fraquezas. Tirando o chefe final, que tem um design bem ruim e exige repetições desnecessárias, no geral o combate é legal, mesmo que desbalanceado.

As habilidades da Kena, aliás, são bem diversas e vão se expandindo no decorrer dos capítulos. Tem bombas, arco e flecha, e, claro, o bom uso dos Rots. Dá para liberar outras menos impactantes em uma árvore de habilidades bem tímida e pouco inspirada, mas que no fim deixam a garota com um bom leque de recursos para utilizar em combate. Como cada inimigo tem suas peculiaridades e eles são até bem variados, dá para usar de tudo um pouco e o saldo final é positivo.

Jogamos em um PS5, o que significa suporte para o DualSense. Os recursos do controle são um ponto alto da experiência. Em quase todos os momentos ele ajuda na imersão, seja com vibração ou o uso dos gatilhos. A forma como utilizaram o controle para sinalizar momentos chaves de tempo nas habilidades e principalmente o manejo do arco, fazem inveja em muitos jogos maiores.

Conclusão

Kena: Bridge of Spirits é um baita cartão de visitas da Ember Labs. Tem vários probleminhas de design e mostra a inexperiência do estúdio, mas compensa bastante com a maior parte dos seus elementos ficando acima da média. O combate pode ser um ponto de frustração para muitos jogadores, sendo bem punitivo até mesmo na dificuldade normal e o sistema de cura não ajuda a se divertir. No entanto, os chefes são legais e o kit de habilidades da Kena compensa bastante o esforço.

Prós

  • Gráficos e animações bem polidos
  • Combate é cheio de variações e bastante desafiador
  • Chefes bem-feitos e marcantes
  • Trilha sonora emociona
  • Localização em português do Brasil
  • Boa implementação dos recursos do DualSense

Contras

  • Sistema de cura do combate é impreciso, ultrapassado e limitador
  • Explorar recompensa pouco
  • Cutscenes em 24 fps

Nota: 8.0/10.0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Ember Labs para elaboração desta análise.

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