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Análise | Little Nightmares 2 é curto, mas ao mesmo tempo macabro e imperdível

Quando o assunto entre os adultos são crianças, a conversa sempre gira em torno de diversão, sonhos, coisas leves e alegres. Entretanto, todos que foram crianças um dia também vão se lembrar da parte assustadora do mundo: o escuro, uma nova sala de aula, objetos que podem machucar e adultos no geral.

A Tarsier Studios fez muito bem em adaptar todo esse conceito de pequenos pesadelos infantis em um jogo, surgindo assim o curto, mas excelente Little Nightmares. Um dos marcos do gênero de terror na última geração. Agora é a vez do Little Nightmares 2 expandir os conceitos do antecessor e apresentar mais sobre o mundo distorcido, macabro e repleto de perigos para crianças que nos fascinou.

Pesadelo em dose dupla

Dessa vez a menina de capa amarela, Six, não é a protagonista da jornada, mas isso não quer dizer que ela também não terá um papel importantíssimo. O jogador irá controlar o destemido Mono, um garotinho tão esperto e vulnerável quanto quem já jogou o game anterior espera de uma criança.

O principal diferencial do Mono é o seu estilo. Com um sobretudo que balança ao vento e um saco de pão na cabeça, ele é o protagonista que mescla o sinistro e o adorável que você espera da série. Uma das novidades é, inclusive, poder customizá-lo, já que dá para encontrar diversos chapéus escondidos em cada capítulo e trocar um pouco a feição do garoto.

Já a menina Six servirá como um guia. Ela estará desde o início do jogo ao seu lado atuando nesta função. Boa parte do que muda na jogabilidade é em relação a forma com as duas crianças resolvem os desafios em conjunto. O Mono por vezes recebe uma ajudinha para subir em objetos altos, enquanto que em outros locais conta com a garota para ligar alguma coisa ou mesmo dar novas direções. Alguns dos momentos mais interessantes da jornada acontecem apenas observando o comportamento da Six, que tem várias animações bem legais para indicar algo que só ela vê e pode ajudar o jogador a se localizar ou resolver um enigma.

Da até para pegar a mão da amiguinha e correr junto com ela para longe dos perigos. Para quem teve uma infância feliz e contou com bons amigos, é de aquecer o coração, mesmo nesse lugar sem esperança.

Transmissão macabra

O mundo apresentado em Little Nightmares 2 é uma continuação direta do jogo anterior, respondendo um pouco das dúvidas que tínhamos sobre como era a vida fora daquela barca amaldiçoada. Obviamente muitas perguntas também são feitas e deixadas no ar, mas é legal ver como há um universo em Little Nightmares para ser explorado, podendo render até mais continuações.

Mesmo com um ambiente totalmente diferente da barca do jogo anterior, aquela sensação desconfortável por conta do escuro constante e o que se esconde nele continua, com a manutenção quase que total do estilo de arte marcante que já vimos no primeiro jogo. Aliás, a forma com a Tarsier usa o escuro é, sem dúvidas, único. Talvez apenas Hunt Showdown me faça ficar com o queixo caído assim para a forma como um elemento tão simples pode impactar tanto na jogabilidade. Em resumo, as animações e a apresentação geral são superiores na continuação, mas não soa desconexo com o antecessor.

Toda a narrativa dessa vez está amarrada com televisores e transmissões misteriosas, bem como a relação de Mono com isso tudo. De algum local da cidade há uma torre fazendo uma transmissão macabra, que hipnotiza e suga a alma dos moradores. Six, que está desaparecendo deste mundo, precisa ir até a torre, e Mono também. A união quase perfeita.

Por todo o caminho você vai encontrar inimigos extremamente criativos e aterrorizantes, ao menos do ponto de vista de uma criança. A professora, apresentada aos montes nos trailers, é definitivamente uma que me lembrou meus medos de pivete. Imagine um ser que comanda uma sala de aula com pulsos firmes e consegue girar o pescoço em 360º para pegar quem está fazendo bagunça?

Entre adultos presos para sempre em um loop de TV, ou o medo infantil de hospital, há sempre o subtexto sutil e crítico ao tecido social real, que você já viu no primeiro jogo. É uma releitura macabra e exagerada do cotidiano, com a visão torta de uma criança sobre os problemas do mundo, mas que faz refletir sobre muitos pontos do cotidiano, do trabalho excessivo à alienação midiática. São pontos que vão render horas de discussão em podcasts mundo afora e que com certeza engrandecem bastante a narrativa.

Algumas novidades na jogabilidade

No que diz respeito aos controles, nada muda. Você continua andando cenário após cenário com apenas um botão para correr, outro para pular e terceiro para agarrar nas coisas. É possível até dizer que a experiência como um todo não soa nada como nova. Só que não há nada como Little Nightmare no mercado, o que nem de longe deixa a jornada soar como algo saturado.

A diferença é que agora esses cenários são bem mais trabalhados e permitem alguma exploração também no eixo Z. Muito do jogo anterior permitia apenas correr em X e Y por corredores, o que minava um pouco a sensação de descoberta. Agora há corredores subindo, enquanto o caminho principal parece ser para a direita, chamando o jogador para a exploração e escondendo segredos que compensam a procura. Não só cosméticos como os chapéus, mas também deleites visuais, na forma de cenas com referências a vilões do passado, sombras de crianças que se perderam e mais quadros alegóricos sobre a nossa realidade.

Há muito, inclusive, de tentativa e erro com resultados inesperados, o que quase sempre é excelente no que diz respeito ao design. Interagir com um objeto só para testar o jogo e descobrir que ele realmente faz algo, ou mesmo carregar algo por aí e tentar entregar para alguém, descobrindo novidades, é muito gratificante e aumenta a vontade de continuar jogando para descobrir mais.

A principal novidade na jogabilidade é a presença de combate. Calma, o jogo não deu uma arma para o protagonista e acabou com a dinâmica que foi apresentada no antecessor de se esconder e correr. Há momentos específicos em que um objeto no cenário, sempre algo que geralmente não deve ser manuseado por crianças, como um martelo ou machado, podem ser utilizados para enfrentar alguns inimigos ou quebrar um obstáculo. O Mono sempre sofre para carregar esses objetos e a dinâmica aqui é bem cadenciada, propositalmente lenta, com foco mais em deixar o jogador desconfortável com os inimigos e a pouca habilidade do garoto para contra-atacar do que de fato entreter pelo resultado.

Eu ainda preferiria que não existisse o combate dessa forma, por não achar que encaixou tão bem no que o jogo propõe. Quem jogou o primeiro e viu como eles usaram o espelho contra a gueixa sabe que há formas mais criativas de se fazer o personagem reagir aos perigos.

Curtinho como o original

A questão que pega é o tempo de jogo em relação ao preço. Como experiência, Little Nightmares 2 é mais do que recomendado, um dos ases do seu gênero no momento. Só que, como o primeiro, é bem curtinho.

Os desenvolvedores prometeram o dobro de tempo de jogabilidade aqui em relação ao primeiro jogo, mas levei praticamente as mesmas cinco ou seis horas para terminar. Talvez por já estar acostumado com a dinâmica e controles da franquia. No Brasil, o título custa R$ 160 no PC e PS4, e R$ 180 no Xbox One, o que não é barato.

Vai depender bastante da sua condição financeira e amor pela série. Não acho que tempo é fator determinante para a nota e nem tiro pontos por conta disso, mas fica de alerta para comprar com a consciência de que é uma experiência curta, mesmo com o fator replay dos colecionáveis e exploração.

Conclusão

Little Nightmares 2 é uma sequência bem resolvida, que sabe o que o jogo original tem de forte e expande bem em todas as frentes. Não é revolucionário, traz quase a mesma experiência, mas está longe de ser saturado. Algumas novidades, bem como a nova narrativa, podem fazer alguns fãs preferirem o primeiro título, mas a realidade é que se trata de mais um título da série que é imperdível para fãs de terror, graças à dinâmica única que conseguiram com esse pequeno pesadelo.

Prós

  • O escuro é utilizado de forma impecável na jogabilidade
  • Novos quebra-cabeças resolvidos com a ajuda do segundo personagem são excelentes
  • Exploração dos cenários é recompensadora
  • Vilões macabros e apresentação visual de primeira

Contras

  • Curtinho como o antecessor, termina nos deixando com vontade de jogar mais

Nota: 8,5

Uma cópia do jogo para PS4 foi fornecida pela Bandai Namco para elaboração desta análise

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