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Análise | Lost in Random surpreende na narrativa, mas peca pela repetição

Desde que a EA criou o projeto Originals para lançar e investir em jogos independentes, várias joias surgiram, como Unravel e mais recentemente It Takes Two. O mais novo lançamento com este selo é Lost in Random, desenvolvido pela Zoink e já disponível para PlayStation, Xbox, Switch e PC.

Um mundo de aleatoriedade

O jogo se passa no mundo de Random, um país onde tudo gira em torno da aleatoriedade. Praticamente todos os elementos deste universo tem alguma relação com um lado de um dado ou elemento de um cassino, incluindo aí os principais personagens.

Odd e Even são duas irmãs daquelas super amigas e moram em Onecroft, o mais pobre dos seis reinos de Random. Desde que uma rainha para lá de malvada dominou o país e o comanda como punhos de ferro, todos que completam 12 anos precisam jogar um dado para definir o seu futuro. De acordo com o resultado eles vão morar e trabalhar em um dos seis reinos. Aqueles que tiram seis, conhecidos como Sixers, vão ser treinados para servir a própria rainha.

Even é mais nova que Odd e viu a irmã ser tomada pela rainha após a noite em que celebrariam o décimo segundo aniversário da pobre menina. Mesmo um ano após o acontecimento, Even ainda não superou o que ela considera um rapto da irmã. Em uma noite onde um fantasma misterioso chama a garota para uma aventura, ela decide largar tudo para trás, incluindo a sua família, e partir em uma jornada pelos seis reinos em busca da irmã.

O resultado do orçamento extra, vindo dos cofres da EA, é visível desde esses primeiros minutos. A direção de arte é competente e o resultado faz a memória buscar aqueles filmes de visual marcante do diretor Tim Burton. Cada modelo 3D e cenário oscila entre o belo e o grotesco, com curvas estranhas e alguns detalhes exagerados. NPCs legais e amáveis tem design de monstros que em outras obras seriam cruéis e impiedosos. Cada um dos reinos, com uma história própria e personagens interessantes, compartilha deste mesmo carinho com a ambientação. Não fosse a repetição exagerada dos modelos 3D dos NPCs e a falta de polimento nas animações faciais dos personagens, os visuais seriam um ponto sem críticas da obra.

Com toda essa criatividade, ainda nem falamos do companheiro em forma de dado da Even, mas tem um motivo. Quem está por trás da história é o Ryan North, que é o autor dos quadrinhos de A Hora da Aventura e vários livros de sucesso. A narrativa é um dos pontos altos aqui, mesmo que seja leve. Até mesmo diálogos bobos nas vielas das cidades são bem escritos e por vezes surpreendem pela profundidade. No subtexto do clichê de jornada do herói, estão várias críticas e metáforas sobre diversos temas, de desigualdade a coisas do cotidiano como as consequências da mentira.

Uma pena que desta vez não há nenhuma localização em português do Brasil, algo que acontece em alguns títulos do selo Originals. Como a narrativa é um dos pontos fortes, fica difícil indicar o jogo para quem não domina o inglês ou alguma das línguas disponíveis no jogo.

As vezes o ritmo cai bastante e pode dar sono, principalmente pelos defeitos da jogabilidade, mas no fim o saldo é positivo e as boas memórias da jornada são o que ficam.

Cartas e dados não salvam a jogabilidade

Se a narrativa e a ambientação fazem bonito, a jogabilidade deixa a desejar, apesar das ideias interessantes. Após conseguir o seu companheiro de jornada, um dado vivo chamado Dicey, Even pode utilizar cartas mágicas para invocar armas, magias e causar diversos efeitos nos inimigos.

O baralho da Even pode ter até 15 cartas, que são escolhidas pelo próprio jogador e tentam dar um leque de possibilidades para estilo de luta. No entanto, o número de cartas disponíveis em todo o jogo é bem curto e são ganhas de forma lenta, o que atrapalha bastante a proposta.

O dado é um medidor de ações. Sempre que a Even rola ele o mundo fica lento e é possível escolher quais cartas usar. No início ele só consegue girar os números 1 ou 2, o que permite gastar até dois pontos por vez. Cada carta tem um custo, que gasta esses pontos. Com o tempo ele vai sendo melhorado e pode rolar números maiores, que deixam o combate mais dinâmico e o uso de cartas poderosas mais frequente.

A ideia é legal, mas há vários problemas aqui. O primeiro é no sistema de puxar cartas do seu baralho. É preciso colocar alguns cristais dentro do Dicey para que ele consiga puxar uma carta por vez. Só dá para fazer isso atirando com um estilingue em pontos de cristal nos inimigos, que surgem com o tempo, ou desviando no momento certo. É uma repetição cansativa e chata, já que não causa dano ao adversário. Algumas batalhas demoram muito por conta disso.

O segundo problema é que os inimigos se repetem demais e as batalhas não são nada criativas. Fica um loop repetitivo e que eu só queria encerrar logo para voltar para a história. As novas cartas que chegam ou os raros inimigos novos não modificam esse cenário.

Os chefes também são um ponto negativo. Muitos deles tem mecânicas bem bobinhas que acabam deixando toda a batalha repetitiva. Também são demorados demais e parecem não recompensar o esforço.

Conclusão

Lost in Random tem uma bela direção de arte, manda bem na narrativa e mostra o quanto o programa EA Originals vem fazendo a diferença para os jogos indies que publica. Infelizmente derrapa muito na jogabilidade, que acaba afetando todo o peso do interesse nas outras frentes, que também não estão livres de críticas.

Prós

  • Direção de arte que lembra filmes memoráveis do Tim Burton
  • Narrativa com diálogos legais e história leve
  • Ambientação de cada cidade é única e atraente
  • Algumas cartas tem efeitos bem legais

Contras

  • Combate se torna cansativo muito rápido
  • Sistema de cristais para soltar cartas atrapalha a dinâmica
  • Sem localização na nossa língua
  • Pouca variedade de cartas
  • Repetição de NPCs e inimigos

Nota: 7.0/10.0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Electronic Arts para elaboração desta análise.

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