O trabalho da Ghost Games em Need for Speed Heat foi suficiente para reviver a franquia de corrida arcade mais amada dos games, mas não o bastante para garantir que eles fizessem a sua continuação. Unbound foi desenvolvido pela experiente Criterion Games e, ironicamente, embora traga uma revolução estética para a série e até para o gênero, em termos de jogabilidade e design é basicamente Heat 1.5.
Visual Único
As corridas ilegais de Need for Speed Unbound se passam em Lakeshore, uma cidade fictícia inspirada na icônica Chicago. Embora a construção seja bela e até bem viva com pedestres e trânsito pesado, mesmo que com pouca variação de cenário fora da selva de pedra, o que chama mesmo a atenção é a mistura entre o realismo da cidade e dos carros contrastando com os efeitos estilizados que parecem saídos direto de uma HQ. Fumaça colorida desenhada ao derrapar, asas grafitadas ao saltar de rampas, personagens com celshading, e cores vibrantes. A combinação parece estranha, mas funciona na maior parte do tempo e entrega um dos visuais mais interessantes do gênero, que parece cada vez mais saturado de ideias.
Por vezes a combinação de estilos parece esquisita, especialmente quando focam no seu personagem já dentro do carro, mas nas cutscenes do modo história e, principalmente, nas corridas noturnas, a mistura cria momentos marcantes, que devem ter sido criados com extrema dificuldade pelos artistas da Criterion, que merecem muitos elogios aqui. A estética mais colorida e estilizada, especialmente nos carros mais modificados e com neon por todos os lados, me lembraram dos tempos de ouro de Underground 2, desnecessário dizer que é um ponto alto deste jogo.
Falando dos pontos baixos, eles começam logo na história que impulsiona o modo campanha. Se aproveitando dessa pegada mais jovial vinda dos personagens, o jogo parece conversar com um público ainda mais jovem do que o focado em Heat. Todo mundo parece um influenciador de Instagram ou Tik Tok e tenta mostrar uma rebeldia e raiva exagerada por coisas simples para demonstrar mostrar atitude e virtude – tudo isso enquanto quebram todas as leis de trânsito da cidade para pôr a vida dos outros em risco.
Como esperado, seu personagem começa bem na base da cadeia alimentar das corridas de rua, em um prólogo mais longo do que deveria. Com o tempo e um grind por vezes frustrante, vai conseguindo espaço em novas corridas e pode enfrentar rivais do passado. Não há reviravoltas inesperadas ou diálogos interessantes. Na maior parte das vezes, essas cutscenes apenas ficam no caminho das corridas e quebram o ritmo da jogabilidade.
Heat 1.5
No que diz respeito ao design, é basicamente Heat de novo, tanto em direção quanto em design da progressão, mas em uma cidade menos inspirada e variada no que diz respeito a cenários.
O ciclo da jogabilidade é dividido novamente entre dia e noite, onde é possível participar de eventos e acumular dinheiro para gastar na garagem antes de tentar vencer corridas ainda mais difíceis no período seguinte. A grande diferença é que agora os rachas diurnos também são proibidos e atraem a polícia para perseguições. Aquela tensão de poder perder os ganhos acumulados durante o período ao ser preso agora rola o tempo todo.
Para dar uma aliviada, a polícia parece bem menos agressiva e punitiva em Unbound. A sensação é que os agentes da lei permitem o distanciamento de forma mais tranquila e, no geral, perseguem com menos investidas contra o seu carro. Para quem curte as perseguições pode ser uma novidade frustrante, mas é possível modificar a dificuldade para obter mais tensão.
Outra novidade, uma que deve agradar a todos, é a possibilidade de apostar contra um dos oponentes antes de rolar o racha. Pode ser contra qualquer um deles, e quanto maior o ranking do carro, maior a recompensa se vencê-lo. É uma forma legal de ganhar mais dinheiro nas corridas, especialmente no início da jornada, onde vencer todas as corridas com um carro ainda fraco é tarefa difícil.
Se por um lado é uma novidade interessante, por outro pode gerar uma frustração maior quando acontecem os problemas inevitáveis de respawn dos adversários. É bem normal um deles bater e voltar na sua frente, deixando a derrota e o preço da aposta perdida bem amargos, especialmente porque agora há um limite de apenas quatro reinícios para a corrida. A IA deles, por sinal, continua pouco inteligente e depende dos boosts artificiais para continuar competitivos.
A customização dos carros é um ponto alto, já que contam com uma boa gama de variações de performance e muitas opções cosméticas, como é esperado da série. Uma pena que o modo online seja totalmente separado da campanha, exigindo um começo do zero para a sua garagem. Lá não é preciso lidar com a história boba e você pode focar só nas corridas, mas também não há perseguições policiais e a experiência como um todo é menos polida.
Conclusão
Need for Speed Unbound inova na parte visual e traz uma estética única e interessante, que parece ser um ótimo caminho para o futuro para a série. Já no que diz respeito à jogabilidade, ele apresenta pouquíssimas novidades em relação ao seu antecessor e não deixa uma marca da Criterion, a principal expectativa desde o anúncio. Vale para fãs do gênero arcade e quem não jogou Heat, já os demais podem esperar uma boa promoção ou a entrada nele no catálogo do EA Play.
Prós
Estética inovadora que mistura bem os efeitos estilizados com o realismo da cidade
Jogabilidade continua divertida, mesmo que com poucas novidades
Customização dos carros é massiva e variada
Novo sistema de apostas gera tensão extra
Contras
Poucos elementos novos para a progressão
Multiplayer separado e pouco polido, sem elementos essenciais da campanha
Cidade com pouca variação de cenários e motivação para explorar
Eventos repetitivos
Nota: 7,5/10,0
Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Electronic Arts para a elaboração desta análise.
