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Análise | Octopath Traveler II joga seguro e traz campanhas com muita qualidade

Octopath Traveler pode não ter sido o hit que a Square Enix e Nintendo esperavam, mas deu contribuições importantes para o gênero, especialmente no que diz respeito aos visuais. Seu estilo artístico, o tal HD-2D, foi muito elogiado e alguns anos depois já está presente agora no remake de Live a Live, confirmado para o também remake de Dragon Quest III e, claro, é o maior chamariz desta bem vinda sequência. 

Se por um lado é legal a arte continuar belíssima, por outro os sistemas, a interface e a progressão tão parecidos, deixam a impressão de clássica “sequência segura”. Mesmo sem correr muitos riscos, o jogo traz um foco um pouco maior na escrita de suas campanhas e densidade do seu mundo, o que é ótimo e deve agradar quem se divertiu com o título anterior.

Oito caminhos para trilhar

Se você jogou o primeiro Octopath, vai se sentir em casa. A música de menu é a mesma, o mapa é apresentado da mesma forma e há oito pontos diferentes para começar a jornada, cada um com um personagem. A escolha não tem tanto peso quanto parece, uma vez que todos os outros personagens podem e devem ser recrutados para completar a história como um todo. No entanto, o personagem escolhido inicialmente nunca pode ser removido do grupo.

A diversidade de histórias e a jogabilidade são o foco no que diz respeito a esses personagens. Há tudo que é tipo de classe clássica, como ladrão ou guerreiro, mas há também algumas mais exóticas, como a dançarina e o mercador. Cada jornada tem temas próprios e pode contar com mais (ou menos) ação. O guerreiro príncipe Hikari, por exemplo, vai quase sempre se envolver em combates e lutar contra chefes poderosos pelo caminho. Já o clérigo, Temenos, tem uma jornada de investigação e seus capítulos são voltados a diálogos no estilo de Sherlock Holmes, tentando desvendar um mistério da igreja local, com menos foco na ação. Ao todo são cinco capítulos para cada personagem, alguns com duas partes, que somam imponentes 50 a 60 horas de jogo dependendo da forma como o jogador explora o mundo.

Por conta de todas essas variações, nem todas as histórias conseguem prender o jogador e manter um bom ritmo, mas desta vez o resultado é bem superior em relação ao primeiro Octopath Traveler. Algumas campanhas em especial, como a do mercador Partitio e a do próprio príncipe Hikari, contam com pontos altos constantes, de muita emoção, quase sempre acompanhados de ótimos diálogos. Ir até o final de cada uma delas é uma jornada recompensadora e a conclusão dos arcos em conjunto tem elementos interessantes para quem gosta de lutas difíceis contra chefes.

Um ponto negativo que continua na série é a falta de interação entre os personagens dentro do grupo. Há algumas missões em conjunto agora, aqui e ali, mas, no geral, é sempre um personagem recebendo foco por vez em cada capítulo, com nenhum impacto dos amigos que viajam com ele no desfecho. É até bizarro ver a conversa entre dois personagens do grupo que rola após o fim do capítulo, que fica sem sentido pela desconexão durante os momentos mais agudos.

Outra reclamação válida é a falta de localização para o nosso idioma. O jogo é pesado no que diz respeito ao texto e não ter sequer legendas em português é um baita ponto negativo. Quem não domina o inglês dificilmente vai conseguir aproveitar as campanhas.

A exigência de níveis para os capítulos também deve afastar alguns. Tal qual no primeiro jogo, não há como ganhar experiência passiva no grupo. Ou seja, os quatro que ficam de fora continuam com os seus níveis mais baixos. Para jogar os seus capítulos, muitas vezes é preciso fazer lutas em sequência para ganhar experiência, o famoso “Grind”, o que inevitavelmente cansa. É possível mitigar isso com um bom controle de grupo entre os caminhos e o ganho de experiência pode ser elevado com habilidades e itens, mas não deixa de ser um ponto chato que poderia ser evitado.

Combate divertido e desafiador

No que diz respeito ao combate, o jogo continua muito parecido com o antecessor. As lutas por turno contam com o mesmo sistema que rege as ações, incluindo algumas habilidades, como capturar monstros do mundo para utilizar em combate dependendo da sua classe. Toda a estratégia gira em torno do uso de “incrementos” por turno, que permitem ampliar a força do seu ataque ou até bater mais vezes, o que ajuda a quebrar a guarda do inimigo. A parte estratégica por conta desse sistema é desafiadora e bem divertida, sendo o ponto alto das lutas. 

O destaque fica para os chefes, especialmente os de finais de capítulos mais avançados. Punitivos e desafiadores, exigem muito preparo e entendimento das classes e habilidades. Uma pena que o sistema de salvamento arcaico acabe fazendo o jogo voltar muito algumas vezes.

O sistema de classes é dos bons e isso é sempre um ponto alto. Após aprender várias magias e habilidades passivas da sua classe, é possível também aprender uma ocupação secundária. Combinar de forma inteligente as diversas classes escondidas garante os poderes mais eficientes do jogo e o grupo perfeito para enfrentar os chefes mais fortes. O mais legal é que tudo isso está bem interligado com a exploração do mapa. Ao visitar cada cantinho dos continentes, é possível encontrar santuários da sua classe que garantem magias especiais, escolas de novas classes para adicionar aos seus personagens e até armas especiais para cada um.

Já falando de mundo, embora seja divertidíssimo encontrar calabouços escondidos e todo o conteúdo não ligado aos capítulos da campanha, fica o gostinho amargo do design de níveis bem linear. Tirando um ou outro desvio para pegar um tesouro, não há nada especial em nenhum calabouço e boa parte das cidades. Sem quaisquer quebra-cabeças ou coisas desta natureza. É verdade que as habilidades de cada personagem, que tem funções como roubar ou recrutar alguns NPCs pelo mundo, dão certa profundidade na interação, mas acabam ficando repetitivas de cidade em cidade e são pouco utilizadas nos calabouços. 

Conclusão

Octopath Traveller II é uma sequência segura, que pode até parecer muito igual ao primeiro jogo. Alguns dos defeitos anteriores continuam, como a falta de impacto da convivência entre os personagens do grupo. Por outro lado, a escrita é melhor e as campanhas mais trabalhadas, com momentos marcantes e emocionantes. O destaque ainda fica para a arte fenomenal e o combate estratégico, que vão encher os olhos dos amantes do gênero.

Prós

  • Gráficos belíssimos do começo ao fim
  • Variedade de inimigos é gigante
  • Sistema de classes robusto
  • Combate estratégico e desafiador
  • Campanhas repletas de ótimos momentos

Contras

  • Ainda há pouco sentimento de grupo entre os personagens
  • Algumas histórias sofrem com problemas de ritmo e são menos interessantes
  • Exigência de “grind” pode afastar muita gente de algumas jornadas

Nota: 8,0/10,0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Square Enix para a elaboração desta análise.

 

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