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Análise | Prince of Persia: The Lost Crown é o primeiro jogo obrigatório de 2024

O ano de 2024 começa como 2023 terminou, cheio de jogos promissores disputando a atenção do público. Neste contexto, perto de Final Fantasy e Yakuza o novo Prince of Persia: The Lost Crown pode parecer menos badalado, mas não se engane. Inesperado, ousado, divertido ao extremo e cheio de personalidade, talvez seja a maior joia que você pode jogar neste momento.

A jornada de Sargon

Diferentemente dos seus antecessores, The Lost Crown navega novos mares e conta não só uma história própria e independente do passado, mas também aposta em um gênero inédito para a franquia: o Metroidvania. Se você nunca jogou um game deste estilo, saiba que a pegada aqui é explorar caminhos por uma mapa complexo e cheio de barreiras que podem ser atravessadas à medida em que o personagem vai conquistando novas habilidades e poderes.

Prince of Persia usa essa metodologia de design para o seu mapa, mas aposta também em tendências mais modernas para o gênero, com uma parte legal do foco na história, combate complexo e cheio de camadas, além de sessões bem desafiadoras de plataforma.

O maior feito aqui é que todas estas frentes do jogo são bem executadas e competentes. Tirando a parte de customização do personagem, é difícil citar defeitos que comprometem a visão dos desenvolvedores em algum momento e, pelo contrário, parece ser um daqueles casos onde tudo saiu como planejado.

No que diz respeito à história, vivenciamos a jornada de Sargon, um guerreiro que faz parte de um grupo de heróis da Pérsia, chamados de Imortais. Estilosos, com o shape em dia e cheios de armas poderosas, eles decidem guerras com suas habilidades e lutam pelo seu povo e rainha com uma paixão digna de nota. A abertura – um vídeo muito legal e bem animado – e o tutorial logo que vem em seguida mostram bem a capacidade desses guerreiros, que acabam sendo os principais personagens dessa aventura e passam por um arco de desenvolvimento que, embora parecido, mostra como cada um deles tem personalidade própria e tomam diferentes decisões sobre lealdade e honra.

O conflito principal gira em torno do príncipe da Pérsia – que surpresa! – que é raptado e levado para o monte Qaf, onde habitava Simurgh, um deus da Pérsia que está desaparecido, e jaz o corpo do rei Darius, que faleceu há 30 anos dentro da história. Sargon e seus companheiros precisam resgatar o príncipe a mando da própria rainha, mas vão se deparar com um local repleto de acontecimentos sobrenaturais em relação ao tempo e lidar com o pior e o melhor de cada um deles nestas condições. Traição, honra, vingança e outros temas são explorados no decorrer da narrativa.

As lutas contra chefes, sempre fantásticas, vem seguidas de cutscenes que vão avançando a narrativa e dão personalidade para cada um destes membros dos imortais e outros personagens que vivem no próprio monte Qaf. Há também diálogos em diversos momentos, numa pegada similar àquela vista no jogo Hades, com uma arte belíssima do personagem falante na lateral da tela, o texto no meio e uma dublagem convincente e bem feita. O fato de todo texto estar disponível em português brasileiro também ajuda bastante na imersão, especialmente para quem não domina o inglês. 

O final empolgante vem após 20 a 25 horas de aventura, que, por incrível que pareça, não cansa mesmo com esse número alto para o gênero. Esse clímax coroa toda a jornada épica e emociona na medida certa, deixando aquele gostinho bom de “quero mais” e a expectativa para que essa nova ramificação da franquia ganhe sequências que contem mais sobre esse mundo rico e personagens interessantes.

Jogabilidade encorpada

Para explorar os 16 biomas do monte Qaf, lidar com inimigos poderosos e gigantes, e ajudar várias pessoas pelo caminho, Sargon precisa de habilidades diversas, tanto de combate como de exploração. Os desenvolvedores e designers do combate aqui são os que merecem a maior nota da casa, pois fizeram um trabalho impressionante.

A princípio o protagonista conta somente com suas duas espadas e a capacidade de canalizar Athra, uma espécie de mana ou energia que permite lançar alguns poderes. Mesmo nesse início, a quantidade possível de combos é incrível, sendo possível lançar inimigos para o ar, jogá-los de volta para o chão, lançar magias e fazer esquivas ou aparar ataques de forma muito dinâmica. A jogabilidade é rápida, precisa, responsiva e cheia de possibilidades, especialmente após Sargon adquirir ainda mais equipamentos e poderes.

Tudo isso fica ainda mais legal com a boa quantidade de inimigos, sendo mais de 60 deles durante a aventura. Há alguns que soltam veneno, outros que são rápidos, alguns que voam e aqueles que são grandes ou pesados mas causam dano absurdo. Em cada bioma eles variam e obrigam o jogador a repensar sua estratégia, tanto de equipamentos – como os amuletos que garantem certas resistências e vantagens – quanto de quais poderes utilizar para conseguir vencer sem perder muita vida, já que o caminho continua e há armadilhas e mais inimigos para enfrentar.

O ápice desse combate é atingido nas lutas contra os chefes. Há uma porção deles também e todos, sem exceção, são épicos e contam com quase uma dezena de habilidades para o jogador aprender a desviar ou aparar e então contra atacar com tudo que possuem.

Para ficar mais forte, o melhor caminho é sempre explorar todos os cantinhos do mapa. A exploração também é digna de nota aqui e todo lugar esconde um segredo divertido de encontrar, desvendar e uma recompensa que acaba ajudando muito nas batalhas que virão. Aqui na parte de exploração fica o único ponto realmente negativo do jogo: a customização do Sargon. Os desafios para conseguir novas roupas para ele sempre são bem difíceis e escondidos e, portanto, a expectativa é de uma recompensa à altura. No entanto, as roupinhas são todas iguais e variam apenas na cor e no máximo uma tatuagem no corpo do personagem. A única roupa diferente que encontrei no jogo está na versão Deluxe, o que realmente é frustrante.

Porta de entrada perfeita

No terço final do jogo, a dificuldade avança bastante. Alguns desafios de plataforma exigem dezenas de repetições e testam não só as habilidades, como a paciência do jogador. O mesmo vale para chefes, cada vez mais difíceis. No entanto, há opções de acessibilidade para quem quiser aproveitar somente a história e a exploração, ou tiver ficado travado em algum momento. Além da dificuldade, que pode ir para o fácil e deixar os inimigos mais fracos, há também a opção de pular qualquer uma das sessões de plataforma, abrindo um portal para Sargon entrar e já sair na próxima área. Outra opção de acessibilidade interessante é a jogar com um marcador no mapa. Em metroidvanias é muito comum ficar perdido e sem saber para onde ir. Para quem curte o gênero, como quem vos escreve, esse é um dos atrativos da jornada: encontrar o caminho. Para quem não tem essa paciência, dá para ativar a opção que traça uma linha até o objetivo pelo melhor caminho.

Por fim, existe um elemento que acho que será uma nova tendência no gênero. Há um item de Sargon que permite guardar uma imagem do local onde ele está, marcando um ícone no mapa que pode ser acessado a qualquer momento para ver essa imagem. Isso ajuda demais na exploração e evita ficar andando sem propósito. Dá para ver qual o obstáculo em um lugar e voltar lá só quando tiver o poder correto. Dá para guardar a posição de um tesouro inalcançável no momento. Dá até para marcar um local legal para voltar depois. Não parece ser fácil de fazer, mas adoraria ver isso no próximo Hollow Knight, por exemplo.

Por tudo isso, The Lost Crown é facilmente uma ótima indicação para quem nunca jogou um metroidvania, uma porta de entrada perfeita e acessível mesmo para quem tem alguma barreira com algum elemento da jogabilidade deste gênero.

Conclusão

Prince of Persia: The Lost Crown é o primeiro jogo marcante de 2024 e tem méritos em todas as frentes. A narrativa é sólida, o combate é rápido e expressivo, e a exploração tão legal quanto nos melhores títulos do gênero metroidvania. A expectativa aqui é de sucesso para que venham sequências e um renascimento dessa série tão especial dos games.

Prós

  • Combate responsivo, rápido e cheio de possibilidades
  • Batalhas com chefes são épicas e dinâmicas
  • História cativante com personagens legais e bem construídos
  • Performance competente em todas as plataformas, com 60 fps e gráficos estilizados belíssimos
  • Exploração repleta de segredos
  • Biomas e inimigos variados não deixam a jornada cansar

Contras

  • Customização de Sargon é pobre e frustra como recompensa em relação aos desafios que isso exige

Nota: 9,0/10,0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Ubisoft para a elaboração desta análise

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