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Análise | Remake de Dead Space é aula de como refazer um clássico

Os remakes fazem cada vez mais parte do catálogo anual de jogos da indústria, mesmo que ainda não haja um consenso sobre quando são necessários ou o formato adotado. Alguns gostam da experiência praticamente original, sem praticamente nenhuma alteração além da gráfica. Já outros esperam ver mudanças de jogabilidade e até na história para corrigir incoerências do passado.

No entanto, se sucessos recentes forem o norte para essa discussão, os remakes mais aclamados são aqueles que fazem mudanças pontuais necessárias e mantém a essência original na ambientação e jogabilidade. Dead Space é mais um exemplo bem sucedido dessa opção e, por incrível que pareça, consegue ser ainda melhor que o original na maior parte daquilo que propõe, sem parecer outro jogo.

Issac, eu te ouço!

Se você não conhece Dead Space, foi talvez o jogo do gênero survival horror mais importante de sua geração, que estava saturado do uso da temática zumbi. O sucesso rendeu duas sequências diretas, com a última não sendo tão bem recebida, e rendeu uma legião de fãs que aguardavam ansiosamente o retorno da franquia. Por esse motivo, havia um temor de que o remake não conseguisse alcançar a qualidade da obra que o inspirou e que as mudanças pudessem estragar a essência original.

A Motive, estúdio que fez o game, teve um desenvolvimento bem aberto, mostrando a direção do projeto para os fãs e ouvindo as críticas construtivas sobre a jogabilidade. O foco foi trazer a experiência original para a nova geração, fiel e ao mesmo tempo mais responsiva, com algumas alterações ambiciosas.

O sucesso é quase total. Os gráficos são obviamente o primeiro ponto a chamar a atenção. A armadura de Isaac, protagonista do jogo, é extremamente detalhada, com texturas em altíssima resolução e animações com sensação de ainda mais peso e impacto. As armas e cenários também não ficam atrás e o destaque maior vai para a iluminação. Como em outro sucesso, Resident Evil 2 Remake, a iluminação atual não só deixa o jogo mais exuberante, como também eleva o nível de imersão e terror. Os ambientes são mais escuros e o feixe da lanterna é a única opção de visão garantida do jogador. Tal qual andar pela delegacia com Leon ficou mais tenebroso, explorar os claustrofóbicos corredores da Ishimura com o Isaac ficou ainda mais perigoso, com inimigos podendo surgir de diversos pontos cegos, causando sustos e deixando a tensão sempre no nível máximo.

O combate continua cadenciado e com muito peso. Os inimigos agora podem ser dilacerados com precisão em vários pontos, dando uma camada a mais de violência para os encontros. A regra continua a ser acertar os membros e não a cabeça, mas o resultado visual dos disparos é mais satisfatório e recompensador. Algumas batalhas com chefes ficaram ainda mais impactantes, como a do gigante Titã na ala da estufa, que abusa da nova iluminação para dar um espetáculo visual.

As mudanças em algumas frentes aconteceram, mas a boa notícia é que praticamente todas foram para melhor. Um dos principais problemas do jogo original eram os controles imprecisos nas áreas de gravidade zero, onde Isaac poderia usar seu traje para “flutuar” de um ponto a outro. Agora os controles são intuitivos e responsivos, e estes locais somam ao todo, trazendo uma bem-vinda variação de jogabilidade.

Outra novidade marcante é que Isaac agora fala neste primeiro jogo. Na trilogia original ele só tinha diálogos nos dois jogos seguintes. A Motive trouxe o dublador original, Gunner Wright, que desta vez tem mais o que dizer do que apenas fazer grunhidos e gritos. No cenário do remake, isso poderia ter dado muito errado, já que os protagonistas atuais conversam mais que o necessário durante a jogabilidade, matando ambientações e áreas com enigmas e quebra cabeças. No entanto, o uso aqui foi muito bem dosado. Isaac apenas reage aos acontecimentos mais marcantes da narrativa, dando noção do impacto emocional causado e aumentando a sensação de presença do jogador no ambiente. Especialmente quando o assunto é a doutora Nicole, as cenas ficaram mais completas, mas nunca com uma sensação de que outra história está sendo contada, exatamente o que é visto como uma boa adição.

Pacote completíssimo

Além da campanha estar completinha, sem cortes ou diferenças gritantes de conteúdo, a Motive ainda fez questão de deixar uma série de conteúdos extras manter os jogadores entretidos por mais tempo. O modo impossível está de volta, mas agora parece mais o modo Hardcore de Dead Space 3. Ao morrer, é preciso começar do zero ou continuar na dificuldade Difícil. Para alegria dos caçadores de troféus, também é possível utilizar a animação de morte para sair do jogo e manter o seu save antes de perdê-lo. Há ainda uma série de armaduras e armas para liberar, incluindo a icônica Hand Cannon.

Há a opção de escolher dois modos diferentes nos consoles – focando na performance ou nos visuais. No entanto, aqui fica talvez a maior crítica ao jogo, que é bem pesado e em ambos os modos sofre com algumas quedas bruscas da resolução dinâmica em algumas áreas mais exigentes. Alguns problemas visuais com VRR no dia do lançamento foram resolvidos com atualizações nos dias seguintes e o impacto no desempenho foi mínimo, o que faz essa parte mais técnica bem menos problemática, mas ainda não excelente como as outras frentes.

Para os brasileiros a boa notícia é que a campanha está toda legendada na nossa língua. No entanto, fica a tristeza por não terem adicionado a dublagem em português, que seria uma baita novidade para aqueles que preferem jogar assim.

Conclusão

Dead Space Remake é um dos melhores do seu gênero e uma aula de como reconstruir um clássico para novas gerações. A jogabilidade é mais fluida, especialmente nas áreas de gravidade zero, e os gráficos impressionam. A essência no entanto continua intacta, e mudanças mais bruscas, como diálogos para o Isaac, são feitas de forma também exemplar, dando profundidade maior à história sem parecer um jogo diferente. Definitivamente imperdível para fãs e novatos na franquia.

Prós

  • Gráficos de tirar o fôlego, dignos da nova geração
  • Nova iluminação deixa as áreas mais tensas de se explorar
  • Jogabilidade agora é responsiva e intuitiva na gravidade zero
  • Diálogos do Isaac foram bem implementados na história
  • Conteúdo completo, como modos de jogo e equipamentos extras

Contras

  • Performance por vezes é inconsistente, com quedas na resolução

Nota: 9,0/10,0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Electronic Arts para a elaboração desta análise.

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