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Análise | Resident Evil 3 tem problemas, mas é mais um acerto da Capcom

O remake de Resident Evil 3 é a cereja do bolo de uma geração vitoriosa da Capcom. Com a franquia mais forte do que nunca, vide o impressionante número de cópias vendidas do capítulo sete e do último remake, Jill e Nemesis abrem ainda mais o caminho para novos jogadores, premiam os saudosistas e nos lembram de como a franquia foi mudando com o passar do tempo, para o bem e para o mal.

Com um pegada mais voltada para a ação que os dois títulos anteriores, Resident Evil 3 é, em vários momentos, rápido, repleto de inimigos e cede bem mais recursos ao jogador. Com algumas mudanças relevantes em relação ao original e vários pontos em comum com o remake do anterior, é uma experiência obrigatória para os fãs do survival horror e da consagrada série da Capcom.

Jill está de volta

Jill é uma das personagens mais carismáticas da franquia e uma das favoritas dos fãs, ao lado do sempre requisitado Leon. Infelizmente, há mais de 10 anos ela estava subutilizada, com papeis que passavam longe do protagonismo da trilogia original. Esse é o primeiro grande chamariz do remake. A “super policial”, como Carlos – outro personagem importante do jogo – não cansa de relembrá-la, está com um novo visual e mais mortal do que nunca.

Durante a jornada com Jill, você saberá mais sobre os acontecimentos na casa amaldiçoada que deu origem a franquia e a marcou para sempre, como o vírus chegou em Raccoon City enquanto ela se preparava para partir e vai aprofundar sua relação com vários personagens, como o ótimo coadjuvante Carlos.

Se você não jogou o original, saiba que essa história se passa durante o desastre de Raccoon City, quando o vírus da Umbrella chegou na cidade e transformou a maioria dos moradores em zumbis. O vilão tão famoso, Nemesis, é um Tyrant – uma arma biológica humanoide – que foi solto para uma tarefa bem específica de queima de arquivos. Seu principal objetivo na pele de Jill será o de escapar com vida. Essa é a mesma linha temporal do Resident Evil 2, começando um pouco antes e acabando depois. É um capítulo essencial para entender a franquia e as motivações dos seus principais protagonistas, sendo imperdível para quem é fã.

Se você já jogou, se prepare para várias diferenças em relação ao original. No fim, a cerne da narrativa e o seu resultado são idênticos, mas o caminho é diferente e há varias coisas novas que devem gerar discussões por meses nos fóruns dedicados à série.

RE Engine continua a impressionar

Enquanto vários jogos no fim da geração estão comprometendo performance em função dos consoles base, que já deram mais do que podiam, Resident Evil 3 Remake brilha em todas as plataformas. Mais uma vez impressionante, o motor gráfico RE Engine consegue trazer alguns dos personagens mais realistas da geração e ao mesmo tempo um desempenho de alto nível.

No PS4 base, onde joguei a versão cedida pela Capcom, o jogo roda sem nenhum problema, com uma taxa de quadros constante, mesmo quando vários inimigos estão na tela. Jill, Carlos, os inimigos e o vilão Nemesis, todos contam com expressões faciais realistas, modelos 3D belíssimos e vão te deixar de queixo caído entre uma cutscene e outra.

Jogabilidade familiar

Se você embarcou em Resident Evil 2 Remake, vai encontrar muito dele aqui, desde a utilização de alguns materiais da cidade, como a parte da delegacia, até a jogabilidade, que se comporta quase que da mesma forma. Há, no entanto, algumas diferenças, que foram introduzidas pela pegada diferente do jogo.

Em Resident Evil 3, você vai encontrar muitos zumbis pela cidade. Com a quantidade escassa de munição, não é recomendável ficar trocando tiros com todos eles. Uma saída para conseguir passar rápido pelas áreas, desde que você desenvolva uma certa habilidade, é o uso da nova mecânica de desviar.

Ao pressionar R1/RB, Jill ou Carlos se esquivam dos ataques adversários. No entanto, é preciso acertar o tempo para não ser pego pelos zumbis. Se você fizer isso exatamente quando o ataque do inimigo for conectar, vai rolar uma desaceleração no tempo, que serve tanto para te ajudar a escapar, quanto para virar-se e enchê-los de chumbo, se essa for a sua decisão. Essa mecânica a princípio tinha me deixado meio desconfiado, talvez uma mudança desnecessária, mas ela casou muito bem com a proposta do jogo, especialmente quando rolam as perseguições do Nemesis.

Outra novidade é a possibilidade de ficar pressionando X/A quando agarrado por um zumbi para reduzir o dano da mordida. Essa eu já não gostei muito, já que a animação não condiz com a QTE e não há como evitar o dano. A escolha foi provavelmente pela mudança da faca, que aqui é um item único e funciona como uma arma qualquer, sem quebrar como no 2, onde ela era utilizada para evitar ser mordido pelos inimigos após eles te agarrarem.

Já o uso das armas de fogo é exatamente igual ao visto no jogo anterior. Câmera e movimentação parecida com os últimos Resident Evil, em terceira pessoa, e algumas armas diferentes para abusar das fraquezas de cada inimigo. O destaque, claro, fica para o lança-granadas, um clássico do jogo original e que aqui funcionou de forma bem parecida, com suas diversas munições e apenas uma diferença: em vez das granadas de gelo, podemos lançar minas-terrestres, que servem para algumas batalhas para lá de eletrizantes.

Nemesis poderia entregar mais

Nemesis é o vilão mais famoso da franquia. Wesker, Mr. X e outros mais ficam para trás, por muito. Tudo isso porque o Tyrant de Resident Evil 3 é repleto de simbolismos, desde o icônico grito “STAAAAARS”, até a forma como ele luta, com armas de grosso calibre e sem parecer sofrer danos graves, não importando o que for atirado em sua estrutura corpórea avantajada.

Toda essa pegada está presente também no remake. Nemesis, quando aparece, é brutal e te obriga a correr para não virar presunto. Ele salta para o alto para tomar à sua frente, tira zumbis do caminho, os transforma em criaturas mais fortes e até te puxa usando tentáculos nojentos. Com armas melhores a cada novo encontro, as batalhas com ele são momentos marcantes e que vão te deixar com as mãos suando.

Só que, quando comparado com o Mr. X e não com o original, especialmente levando em conta as expectativas criadas em relação à sua inteligência artificial, o resultado fica um pouco aquém do esperado. Eu esperava ficar com a sensação de que estava realmente sendo caçado, com aparições repentinas do monstrão que me atrapalhariam durante a jornada. Pelo que li nos últimos dias nas redes sociais, imaginava um Nemesis que quebraria paredes, invadiria áreas seguras e te deixaria sem respirar, mas nada disso está no jogo.

Nemesis é sempre um evento de script, que aparece após uma cutscene e te obriga a correr em alguma direção. Pelo caminho, você terá armadilhas colocadas em pontos perfeitos para pará-lo, bem quando ele pular na sua direção ou exigir que você volte. Em várias ocasiões, as partes são focadas no visual e não na experiência. Você consegue ver ele pondo fogo com um lança-chamas no caminho que está tomando, mas o perigo te espera chegar até o próximo local para então avançar. É sempre muito artificial e só fica realmente interessante quando ele finalmente chega no local fechado onde vocês irão se enfrentar, o desfecho de quase todos estes encontros.

Se por um lado as batalhas são para la de empolgantes, desafiadoras e bem feitas no ponto de vista do design, por outro fica esse gostinho amargo de que poderia ter sido feito bem mais. Hoje, após ter finalizado o jogo por duas vezes, tenho na cabeça que o Mr. X foi um inimigo bem mais formidável e marcante do que o Nemesis de Resident Evil 3 Remake.

Conteúdo curto para um jogador

A campanha não é nada longa, pelo contrário. A minha primeira run, fazendo tudo que é possível no jogo, durou apenas 8 horas. No entanto, há diversos desafios que motivam várias jogatinas. Há, por exemplo, uma loja com vários itens legais para comprar, como roupas para os personagens e equipamentos especiais com munição infinita. A medida que você vai completando os desafios, como conseguir zerar o jogo em menos de duas horas, vai acumulando pontos para serem trocados ali.

Mesmo assim fica a sensação de que faltou mais. Em RE2 Remake você tem o lado B para descobrir um novo ponto de vista, que mesmo que não altere muito o jogo, dá mais motivos para uma nova incursão por Raccoon City. Aqui, quem não gosta de jogar novamente a campanha, vai terminar a sua diversão bem cedo.

O destaque no conteúdo fica para o multiplayer, já que o modo Resistance vem incluso no pacote. Vamos fazer um review separado dele, já que trata-se praticamente de um jogo à parte. O spoiler é que ele é bem divertido e deve ocupar por bastante tempo de quem lhe der uma chance.

Conclusão

Resident Evil 3 é mais um acerto da Capcom, que parece estar em um dos melhores momentos da sua história. Com a RE Engine mostrando serviço, o retorno de Jill e Carlos é triunfal e o vilão, Nemesis, embora não tão ambicioso quanto foi vendido, cumpre bem o seu papel quando comparado com a obra original. O conteúdo não é lá tão extenso, com uma campanha curta e fator replay existindo apenas para os que vão correr atrás dos troféus. No entanto, Resistance deve preencher a lacuna com o seu multiplayer divertido e bem executado.

PRÓS

  • Gráficos excelentes e leves
  • Jill e Carlos estão sensacionais
  • Batalhas contra chefes são memoráveis
  • Nostalgia aplicada sem comprometer

CONTRAS

  • Conteúdo para um jogador é curto
  • Nemesis poderia ter sido melhor utilizado

NOTA – 8.0

Uma cópia do jogo para PS4 foi fornecida pela Capcom para elaboração desta análise

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