Hoje vamos conversar sobre ritmo, monstros e crises existenciais… Tudo ao mesmo tempo, no meio de uma pista de dança. E antes de você perguntar: não, isso não é um sonho febril do Jack Black misturado com um show do Daft Punk.
É Rift of the NecroDancer, um daqueles jogos que parece que foi inventado por um grupo de músicos que estavam trancados num porão ouvindo synthwave e jogando roguelike ao mesmo tempo. Um caos delicioso.
✨ O retorno de Cadence: dançando contra o abismo
Se você já conhecia Crypt of the NecroDancer, sabe que esse universo não é exatamente o que a gente chama de… convencional. A premissa básica era simples e absurda: lute contra monstros em masmorras, mas só se estiver no ritmo da música. Agora, em Rift of the NecroDancer, a ideia foi chutada pra fora da cripta e caiu direto num portal dimensional onde Guitar Hero, Friday Night Funkin’ e Scott Pilgrim dividem um loft hipster em Toronto.
Aqui, Cadence é teletransportada para um novo mundo moderno (não me pergunte como, nem o jogo sabe direito) onde os problemas são portais dimensionais se abrindo no meio da cidade, um sensei que aparece do nada tipo mestre dos magos, e ondas de inimigos dançantes que parecem figurantes rejeitados do Just Dance 2015.
E o melhor? Isso tudo faz sentido. Quer dizer… não faz, mas você entende. Tipo quando você sonha que está em uma prova do ENEM usando pantufas de dinossauro.
🎹 Jogabilidade: onde Guitar Hero encontrou Super Hexagon e ninguém sobreviveu
O gameplay de Rift of the NecroDancer é basicamente um festival de apertar botão no ritmo certo, mas com o charme e o desespero de alguém tentando dançar “Macarena” com uma abelha dentro da blusa. Cada fase joga em cima de você ondas de inimigos vindos da esquerda e da direita, tipo um Rhythm Heaven se ele fosse um roguelike psicótico.
Você precisa apertar as teclas correspondentes no exato momento da batida pra derrotar os inimigos — e quando digo exato, é no nível metronômico com TOC. O jogo não perdoa um dedinho escorregando no tempo. Errou? Perde HP. Errou de novo? Toma combo na cara. Errou três vezes? Pode ir ouvindo o som do seu ego sendo destruído em lá menor.
Mas o mais legal é que as mecânicas vão se expandindo conforme você avança. Bosses têm seus próprios ritmos malucos. Alguns te obrigam a mudar o padrão de botão no meio do caminho, outros vêm acompanhados de efeitos visuais tão psicodélicos que você começa a questionar se aquele chá verde que tomou não era, na verdade, chá mágico de cogumelo de Hyrule.
🎮 Modos de jogo: o buffet da insanidade
Além da campanha principal (que já é um espetáculo caótico), Rift também inclui minigames temáticos que parecem retirados diretamente de uma convenção de yoga transcendental misturada com o canal Food Network.
Você tem um minigame de ioga que exige respiração rítmica e coordenação motora pra não virar um pretzel humano. Outro de culinária, onde você precisa cortar e cozinhar ingredientes no compasso certo, como se o Cooking Mama tivesse feito intercâmbio no conservatório de Viena.
E aí vem o modo “Zombies”, que honestamente é Plants vs Zombies com batidas de EDM. Mas sem as plantas. E com o dobro de frustração. Perfeito pra quem quer se sentir inútil em novas linguagens de sofrimento.
🎧 Trilha sonora: um mixtape entre o céu e o inferno
Danny Baranowsky — que eu gosto de imaginar como um Mozart do século 21 com um moicano rosa — retorna com força total. A trilha é uma montanha-russa de sintetizadores, beats frenéticos e faixas que variam entre o agressivo e o meditativo, tudo no ritmo da crise emocional que o jogo provoca.
Você vai se pegar dançando enquanto seu cérebro frita tentando entender como derrotar três monstros em tempos diferentes. É quase como ouvir Aphex Twin enquanto resolve uma equação de segundo grau montado num unicórnio. Só que mais difícil.
💬 Uma metáfora vestida de neon
No fundo, lá bem no fundo — tipo no porão onde mora a sua autoestima — Rift of the NecroDancer é um jogo sobre encontrar harmonia no caos. É sobre continuar dançando mesmo quando tudo desmorona ao seu redor. Sobre aceitar que nem sempre vamos acertar o tempo da vida, e tudo bem. Sobre rir das próprias falhas e recomeçar, com uma nova batida, com uma nova música.
É sobre perceber que a única constante é o ritmo, e que a gente pode até tropeçar — mas enquanto o som estiver tocando, a gente ainda pode dançar.
Sim, eu acabei de filosofar sobre um jogo onde você derrota fantasmas no ritmo do dubstep. E sim, você vai chorar no meio de uma fase porque errou uma nota e perdeu 10 minutos de progresso. É uma metáfora bonita disfarçada de rave demoníaca.
Comparações obrigatórias e referências gratuitas
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Se Hades é o roguelike sexy com roteiro profundo, Rift é o primo excêntrico que foi pra um retiro de reiki na Califórnia e voltou tocando lo-fi beats to slay demons to.
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Se Dance Dance Revolution era o jogo de fliperama onde você perdia calorias e dignidade, Rift é a versão indie onde você perde neurônios tentando não errar o tempo.
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Tem algo de Undertale aqui também — aquele humor meio nonsense, as mecânicas que brincam com expectativa, e aquela sensação de que o jogo tá te zoando com um sorriso de canto de tela.
Prós:
- Trilha sonora absolutamente divina (Baranowsky, te amamos).
- Visual estiloso com charme retrô e toques modernos.
- Mecânicas desafiadoras, criativas e extremamente variadas.
- Minigames absurdos e hilários que adicionam muito charme.
- Filosofia do caos embalada em beats eletrônicos.
Contras:
- Pode ser frustrante para quem não tem bom senso de ritmo (ou autoestima).
- Picos de dificuldade absurdos em algumas fases.
- Pouca explicação narrativa — você precisa aceitar que o sentido é o som.
- Alguns modos ainda parecem em beta (tipo aquele chef que te dá bronca por cortar cebola fora do tempo).
Nota Final: 8/10
Rift of the NecroDancer é como entrar numa rave com ansiedade social: você começa suando frio, tropeçando nos próprios pés, mas quando finalmente pega o ritmo… ah, meu bem, aí vira arte. É um jogo feito com paixão, feito pra te ensinar que às vezes a única saída é continuar dançando, mesmo quando tudo parece fora de tempo. Ele é difícil, é estranho, é confuso — mas também é incrivelmente honesto. E eu, sinceramente, não consigo parar de jogar. Porque talvez no fundo, a gente só esteja procurando o nosso próprio BPM. E Rift me deu o meu.