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Análise | Scarlet Nexus é uma das melhores surpresas do ano

Todo ano temos alguns jogos que surgem do meio do nada, sem muito marketing e acabam surpreendendo todo mundo pela qualidade. Em 2021, Scarlet Nexus, com seu instigante mundo “Brain Punk”, é um desses títulos.

Desenvolvido pela Bandai Namco – com um time repleto de veteranos da série Tales of – conta a história de dois jovens e seus amigos em um universo futurista, distópico e cheio de perigos. Tudo isso com aquele visual de anime bem executado, que já é característico do estúdio.

Dois pontos de vista

O jogo utiliza duas campanhas para contar a sua história. No protagonismo estão Yuito Sumeragi e Kasane Randall, que o jogador pode escolher logo antes da aventura começar.

Yuito é um garoto que teve um infância difícil, mesmo vindo de uma família cheia de recursos. Sua mãe desapareceu logo cedo. O pai, chefe de estado de Nova Himuka, nunca foi presente. Para piorar tudo, ele passou a infância doente em um hospital e só na adolescência conseguiu ter uma vida normal, quando decidiu, após um incidente, que iria fazer parte dos guardiões escarlate para ajudar o mundo.

Kasane também faz parte de uma família abastada e, assim como Yuito, teve uma infância complicada. Adotada, ela nunca se sentiu parte de verdade da família e foi renegada pelos pais de criação. A sua força veio da irmã adotiva, Naomi Randall, que sempre a fez companhia e lhe deu amizade. A gratidão por esse carinho fez a Kasane sempre querer proteger a irmã, inclusive ao acompanhá-la para tentar ser uma guardiã escarlate.

Embora os dois protagonistas tenham algumas semelhanças, no desenvolvimento das suas campanhas eles são completamente diferentes. Cada jornada conta com alguns locais e inimigos únicos, bem como um grupo de aliados diferente durante boa parte dos eventos. O fator replay por conta disso é insano, já que cada campanha tem por volta de 30 horas, mesmo você levando níveis e itens de uma para outra após zerar o jogo com um dos personagens.

Para contar a história, o jogo utiliza uma narrativa que adota o formato de uma visual novel, com os modelos estáticos em um cena, um quadradinho com a face de cada personagem animado e os textos. Como tudo é feito de forma bem dinâmica, já que as cenas trocam constantemente, a leitura não cansa, especialmente pela qualidade dos diálogos e as reviravoltas a cada capítulo.

Um mundo “Brain Punk”

Toda a estética e história do Scarlet Nexus é construída em cima de uma ambientação bem única, que a Bandai batizou de “Brain Punk”. Neste universo, os seres humanos desenvolveram poderes poderosos com a mente. Por conta disso, boa parte da tecnologia mais moderna tem a ver com essa capacidade.

Há uma rede geral, como uma espécie de internet, mas que liga todo mundo pela mente. No caso dos guardiões escarlates, quase uma polícia paranormal desse mundo, é possível conversar uns com os outros em missão apenas usando ligações mentais, e até mesmo compartilhar os seus poderes. Aliás, cada guardião desenvolve apenas um poder. O Yuito e a Kasane, por exemplo, utilizam a telecinesia, que serve para mover objetos com a mente.

Com todo esse acesso aos pensamentos de todos os moradores, o governo também acaba tendo poderes demais. A cidade é praticamente toda monitorada e há um controle completo das informações. Como há outros fatores políticos em jogo, como a guerra fria entre Seiran e Nova Himuka ou a existência dos “Outros”, que são os monstros que habitam esse universo e ameaçam a vida humana, vários exageros com a experimentação dessas capacidades humanas são cometidos pelos governos, o que cria um sentimento de que a qualquer momento tudo pode acabar em desastre. O jogo consegue passar bem essa sensação, principalmente no desenrolar dos eventos narrativos e nas revelações mais bombásticas sobre cada personagem.

Na ambientação e cada cenário das fases isso também fica evidente. Há locais onde os humanos tentaram habitar e foram massacrados pelos Outros, restando apenas destroços. Há antigas cidades que contam mais sobre o passado desse mundo. Há as cidades habitadas, repletas de fios vermelhos interligando tudo. Um espetáculo visual e uma história para contar em cada cantinho.

Ligações importam

Se for para definir um tema para o Scarlet Nexus, seria ligações: com os outros, de amizade, por gratidão ou mesmo de ódio. Elas tornam cada um dos personagens mais fortes ou vulneráveis e isso reflete muito bem na jogabilidade.

Entre cada capítulo há um interlúdio, onde é possível conversar com os seus companheiros de time. Cada um deles tem uma personalidade própria e uma história bem desenvolvida. À medida que a Kasane ou o Yuito vão desenvolvendo a relação com eles, novos efeitos vão sendo adicionados aos poderes que eles podem compartilhar em batalha.

Tudo isso é feito em um bunker, que funciona como uma base da equipe. Ao dar presentes para os amigos, eles vão colocando os mimos nos cantinhos dela ou em algum local específico, como a academia ou cozinha. É bem legal ver a base se transformando quase em um camelô no fim da jornada, de tanta customização que foi sendo feita pelos personagens.

Se o que falei até aqui te lembrou algum jogo, como Persona, Fire Emblem ou Astral Chain, não é coincidência. Scarlet Nexus parece uma junção inspirada e com assinatura própria de boa parte do que fez esses outros jogos tão especiais.

Combate frenético e responsivo

Para finalizar o pacote que faz esse jogo tão legal há o combate. A parte da jogabilidade peca pela pouca exploração e por vezes pela repetição, já que todos os cenários são bem lineares e a dinâmica é sempre a mesma: fatiar inimigos até chegar no final do local e derrotar um chefe. O que segura o jogo e não deixa ele afundar por conta dessas limitações é justamente esse combate frenético e muito responsivo.

Você controla somente o personagem principal e ao seu lado podem estar outros três personagens do grupo. Eles são controlados pela inteligência artificial, mas no menu há como definir o comportamento deles em batalha. O legal, no entanto, é a forma como eles compartilham os poderes.

Ao pressionar um dos gatilhos e então escolher um poder, o seu personagem consegue pegá-lo emprestado. Pode ser fogo para os seus ataques, desaceleração do tempo, ficar invisível, super visão, escudo contra dano e mais. Ao todo são oito variações de habilidades.

Em um primeiro momento só é possível combinar uma habilidade com a sua, mas à medida que vai liberando mais habilidades para o seu personagem em um árvore bem criativa, surgem mais combinações, chegando em até quatro de uma só vez. No fim do jogo eu combinava duplicação, que fazia meu personagem virar outros três com o nível de ligação máximo com a Kyota, fogo para aumentar o dano da arma e teletransporte para chegar rápido ao adversário. A sensação de empoderamento é enorme e a liberdade que é dada para o jogador se expressar por meio da jogabilidade é impressionante.

Tudo isso só funciona muito bem porque o combate é rápido e responsivo. Os combos não são complexos, mas permitem muitas variações divertidas. A Kasane e o Yuito agem de forma diferente, por exemplo. O garoto bate de perto com uma espada e vai alterando a distância arremessando objetos do cenário. Já a garota utiliza algumas adagas controladas pela mente ao seu redor, atacando de longe e evitando contato. Com a combinação de poderes com os amigos e as habilidades que vão sendo desbloqueadas na árvore, tudo isso é elevado e as possibilidades são inúmeras.

A variedade dos inimigos e como cada um deles tem fraquezas específicas também ajuda muito. Há inimigos muito rápidos, que você só vai conseguir atacar se ficar super veloz ou teletransportar. Outros podem ser destruídos com um ataque em um ponto específico com a invisibilidade. As lutas no Scarlet Nexus são muito legais por causa disso.

Uma pena que o jogo não tenha recursos suficientes para dosar a parte de ação com um pouco de exploração, ou mesmo variar como cria os seus encontros. As missões secundárias são muito ruins, aquelas de vá no ponto X e mate um monstro de maneira Y. Completar essas missões faz o jogo ficar mais cansativo nos piores momentos. A linearidade das fases também incomoda e mesmo com uma ou outra coisinha escondida, não é o suficiente para elevar o nível do jogo.

Conclusão

Scarlet Nexus é uma senhora estreia de franquia. Mesmo com problemas pontuais que atrapalham em alguns momentos, como a linearidade das missões e as missões secundárias fracas, o jogo entrega um elenco de personagens excelente e uma narrativa que te prende. Outro destaque é o combate. Rápido, responsivo e com inimigos variados e interessantes, é gratificante em todos os momentos da aventura. Quanto mais você evolui os laços com o time e incrementa a sua árvore de habilidades, mais legal ele fica. Já estou ansioso para uma eventual continuação.

Prós

  • Um jogo belíssimo, com polimento gráfico acima da média
  • Combate responsivo, criativo e rápido
  • Personagens carismáticos e muito bem desenvolvidos
  • Customização cosmética é ampla e até exagerada
  • História marcante e interessante
  • Conteúdo extenso, com duas campanhas com pontos de vista diferentes

Contras

  • Missões secundárias fracas e pouco inspiradas
  • Elemento de exploração praticamente inexistente
  • Perde ritmo em alguns momentos
  • Níveis muito lineares e por vezes repetitivos

Nota: 8.0/10.0

Uma cópia do jogo para PS5 foi fornecida pela Bandai Namco para elaboração desta análise

 

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