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Análise | Spider-Man: Miles Morales é curto, mas tem combate refinado e narrativa marcante

Se você não terminou o primeiro Spider-Man, desenvolvido pela Insomniac para o PlayStation 4, recomendo que faça isso antes de ler qualquer análise de Spider-Man: Miles Morales. O jogo é uma continuação direta, uma expansão independente (standalone) cuja história ocorre alguns meses após os eventos do jogo original.

Aqui Miles Morales já está de posse dos seus poderes após ter sido picado por uma aranha geneticamente modificada, ainda no final do primeiro jogo. Sim, tal qual aconteceu com o Peter Parker no início da sua inesperada carreira de super-herói. A diferença é que o Miles pode contar com aulas do próprio Peter para aprender a controlar suas novas habilidades, algo que seu mentor teve que aprender na marra.

Ao iniciar o jogo é possível assistir a um pequeno vídeo e relembrar todos os acontecimentos do jogo original. No momento seguinte você já começa a controlar o Miles, herói desse jogo e o único personagem controlável na campanha. Os primeiros minutos são uma leve caminhada pelo Harlem, mostrando a campanha da mãe do garoto para a prefeitura e uma Nova Iorque tomada pela neve, em clima natalino.

Atendendo ao chamado do grande herói da cidade, Miles parte para uma aula prática com o Peter. Os dois vão escoltando os bandidos – que o próprio Peter derrotou no jogo anterior – de volta para a Barca, a prisão em alto mar de Nova Iorque. Obviamente, o evento não vai rolar como os heróis planejaram e a introdução de tirar o fôlego começa.

Nesse pequeno trecho introdutório, que também funciona como um tutorial, é possível ver algumas das melhorias gráficas e de direção do jogo, mesmo no PS4, onde joguei toda a campanha. As partículas que pipocam na tela enquanto o Rhino quebra metade de Nova Yorque, Peter lutando com o vilão ao fundo enquanto você arrebenta uns capangas no primeiro plano, tudo isso demonstrando melhorias que certamente são fruto de um investimento maior na produção, após a aquisição da Insomniac pela Sony.

Com o controle da ação, é rápido para se adaptar novamente à jogabilidade. O combate continua responsivo, rápido e fluido. Miles lembra bastante o próprio Peter, mas com animações novas para tudo. Quando você começa a pensar que talvez seja igual até demais ao original, o jogo te introduz as habilidades Venom, uma espécie de descarga elétrica que o garoto consegue utilizar para paralisar e devastar os inimigos. Nesse momento fica claro que Miles tem a sua própria personalidade e movimentos, o que promete tornar a aventura memorável.

Por conta própria 

Após a conclusão da introdução, Peter anuncia para o Miles que vai tirar umas férias e ficar algumas semanas longe da cidade. O garoto do Harlem, que até então era apenas um aprendiz promissor que está descobrindo seus novos poderes, agora será o único Spider-Man do pedaço e a cidade ficará sob sua responsabilidade.

Diferentemente do jogo original, onde Peter já é um Spider-Man mais maduro e tem dramas do típico jovem recém-formado na faculdade com muitas contas para pagar, com Miles o tom da narrativa lembra bem mais os filmes mais recentes, que contam com o ator Tom Holland como protagonista. A semelhança é tamanha que Miles conta até com um amigo de escola como coadjuvante, que sabe do seu segredo e ajuda na criação de equipamentos improvisados para combater o crime. A interação entre ambos é divertida, funciona e rende algumas risadas. Um ajuda o outro nos principais momentos do jogo e tornam a jornada mais leve, mesmo que haja momentos tenso e emocionantes.

O conflito que vai precisar da atenção do herói nessas duas semanas gira em torno da treta entre a Roxxon, uma empresa de energia que fez e faz muita coisa errada em Nova Iorque, e um grupo que busca derrubar a corporação da pior maneira possível, sem se importar com os efeitos colaterais dos seus atentados. Toda essa aventura dura pouco, cerca de sete horas se for jogar apenas a campanha, mas conta com um bom desenvolvimento, um final de tirar o fôlego e traça o caminho para um futuro Spider-Man 2. Para quem jogou o primeiro, essa expansão é essencial.

O herói do Harlem

Tal qual o cabeça de teia original, Miles Morales também é o amigo da vizinhança. A ligação é forte com o Harlem e várias das missões secundárias colocam o garoto para lidar com as pessoas que moram ali e ajudar com os seus problemas. Por conta disso, esse bairro recebeu modificações em relação ao primeiro jogo e está bem mais detalhado.

Com todos os problemas no mundo real e os protestos globais contra o racismo que os negros enfrentam, a Insomniac fez diversas referências aos problemas sociais que ainda não superamos e deixaram mensagens de apoio ao Black Lives Matter espalhadas pela cidade e em algumas missões. No entanto, para um jogo que conta com um protagonista negro vestindo o uniforme de um dos principais heróis do planeta, talvez tenha faltado mais ousadia para tratar ainda mais do tema, tendo em vista os acontecimentos atuais.

Embora boa parte das missões seja focada nesse setor da cidade, toda Nova Iorque está disponível para balançar com a sua teia mais uma vez, só que agora com uma decoração mais natalina e neve para todos os lados. O sistema de travessia, inclusive, continua tão ou mais divertido que com o Peter, com a diferença de algumas animações mostrarem o despreparo de Miles, que sofre mais para fazer acrobacias e parece um pouco desengonçado. No controle, no entanto, nada disso muda, tudo é extremamente responsivo e fluido com sempre.

As atividades pelo mapa também são bem parecidas com as do jogo original, havendo uma porção de pontinhos que escondem colecionáveis, desafios deixados pelo Peter, caixas escondidas com recursos e outras coisinhas que fazem sentido com a história e é melhor você descobrir sozinho. Ao fazê-las, você vai conseguir recursos para melhorar seus equipamentos e criar novos trajes, um dos baratos do jogo base que se repete aqui. Esse conjunto de atividades é necessário para obter a platina e aumenta o conteúdo disponível no jogo, que também conta com um “New Game +” e um nível de dificuldade extra para os mais ousados.

Como se trata de uma expansão, mesmo que independente, não dá para negar que, principalmente para os brasileiros, está por um precinho para lá de salgado para as poucas horas de conteúdo disponíveis. Para quem não jogou o primeiro e já vai emendar os dois em sequência com a versão Ultimate, considerando os valores atuais dos jogos, vale mais a pena. Para quem vai encarar apenas a expansão, talvez seja o caso de esperar uma promoção.

Novos poderes, mais responsabilidades

Embora também tenha sido picado por uma aranha, Miles tem alguns poderes diferentes e isso reflete bastante, tanto no combate quanto no sistema de progressão. Quase todas as habilidades que Peter aprende durante o jogo original já são dominadas pelo Miles aqui desde o início. As poucas que faltam são aprendidas ao completar desafios do Peter pela cidade.

A grande novidade, que forma a árvore de habilidades do garoto, são o Venom, uma espécie de descarga elétrica, e a Invisibilidade. Com esses novos poderes, ele consegue gerar ataques massivos em área, paralisar inimigos e invadir locais sem ser detectado.

Todas essas novidades encaixam muito bem com o que já tinha sido desenvolvido em termos de combate no jogo original e não deixam a experiência complexa demais, já que continua bem fluida e intuitiva. Mesmo no tutorial, quando eu estava na dúvida se lembrava como lutar após meses sem jogar o Spider original, os combos e esquivas saíram naturalmente, o que mostra que a parte boa e divertida foi mantida, com mais opções tendo sido criadas, o que é sempre bem-vindo.

Para balancear o desafio, já que Miles lida muito bem com os inimigos graças aos novos poderes, a quantidade de oponentes que vem por vez é bem maior que no jogo base. Isso gerou um problema no PS4 na forma de quedas constantes na taxa de quadros por segundo (fps), que atrapalhou em diversas partes do jogo. A otimização no geral, aliás, já mostra que o jogo foi pensado no PS5 e sofre para rodar no PS4. Durante a campanha, tive quatro ou cinco crashes, que pediram para reiniciar o jogo após travamento em combate. O barulho que o console faz para rodar o game já é o padrão de sempre, lembrando uma turbina de avião, não chegando a ser uma novidade atualmente.

Próximo do fim do jogo, quando todas as habilidades já foram liberadas, Miles se torna uma máquina de combate que parece até superior ao Peter original. Lidar com hordas de inimigos é muito prazeroso e a quantidade de abordagens que você pode adotar antes e durante os combates tornam cada encontro uma experiência memorável, o que faz as lutas aqui talvez as melhores em um jogo de super-herói.

Os chefes, um problema do jogo base, continuam não muito brilhantes nessa expansão, mas dois em especial se destacam bastante. O chefe final possui diversas fases e exige o uso de todas as suas técnicas. O espetáculo visual em vários desses embates chama a atenção e quem for jogar no PS5 em uma TV de última geração deve sair eufórico das batalhas.

Algo que senti falta foram as habilidades especiais dos trajes. Aqui eles liberam apenas uma melhoria para o capuz ou para o traje corporal, mas nada de especiais pensados para eles com animações legais. No fim, os trajes acabam sendo só cosméticos, com um ou outro tendo uma animação legal para as finalizações.

Em resumo, o combate continua fino, com mais possibilidades de ações e divertido como nunca. Ainda há espaço para melhorar e boas ideias que parecem que vão fazer a continuação do título ser imperdível.

Conclusão

Spider-Man: Miles Morales é uma expansão independente (standalone) que não inventa muito, mas adiciona elementos muito bem-vindos ao combate em relação ao que é visto no jogo original, que já tinha se tornado um dos melhores do mercado nesse aspecto. A história do Miles é divertida, bem executada, mas curtinha, o que pode decepcionar quem vai pagar o preço salgado que este jogo custa aqui no Brasil. A performance no PS4 base passa longe da ideal e sofre com quedas de quadros e até crashes, algo que é fruto das adições gráficas e de densidade visando a nova geração. Com tudo que foi construído aqui, as expectativas para uma continuação são as melhores possíveis e o cabeça de teia está em boas mãos na Insomniac.

Prós

  • Combate refinado, ainda mais divertido que no jogo original
  • Narrativa divertida, leve e com um final emocionante
  • Balançar por Nova Iorque continua uma das melhores experiências da geração

Contras

  • Campanha curtinha, durando cerca de 6 a 7 horas
  • Problemas de performance no PS4 base

Nota: 8

Uma cópia do jogo para PS4 foi fornecida pela Sony para elaboração desta análise

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