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Análise | Trials of Mana é dose de nostalgia que decepciona

Trials of Mana é a sequência de Secret of Mana, RPG do Super Nintendo que fez um relativo sucesso nos anos 90. Com uma pegada bem única na narrativa e no combate, esse título nunca deus as caras aqui no ocidente, já que os cartuchos desse lado do planeta tinham menos espaço de armazenamento e um port não funcionou.

Com a Square Enix trazendo de volta as suas franquias, inclusive o Secret of Mana recebeu um remake em 2018, o interesse por Trials of Mana aumentou e o estúdio finalmente topou o desafio. O resultado é um mix de sentimentos entre o nostálgico e a decepção graças ao baixo orçamento e escopo reduzido do projeto.

O fim da Mana

A série Mana gira em torno dessa energia que governa a magia no mundo. Em Trials of Mana, uma deusa utilizou todo o seu poder para aprisionar oito entidades do mal chamadas de Benevodons. Cada um deles é de um elemento e causava desastres e guerras por todos os cantos do planeta.

Para cumprir a tarefa, a deusa utilizou a famosa Espada de Mana. Ao concluir a façanha, a deidade esgotou suas energias e se transformou em uma árvore que fornece mana e olha por todos os seres vivos. A poderosa espada de mana agora está para sempre fincada em suas raízes.

Com o passar do tempo, os seres vivos começaram a cobiçar a espada e os seus poderes. Outros seres e entidades do mal utilizaram várias pessoas para causar guerras e enfraquecer a Mana do planeta. Com o mundo em um estado crítico, a libertação dos Benevodons se tornou uma questão de tempo e a Espada de Mana também está em perigo.

A árvore da deusa, sem Mana, está murchando e em um ato de desespero lança as suas fadas pelo mundo em busca do herói que vai empunhar a espada sagrada e salvar a todos. Esse é você, o encarregado da árdua tarefa de vencer o mal e trazer a paz para todos.

Seis linhas diferentes para percorrer

A originalidade de Trials of Mana começa aqui, na seleção de personagens. Em vez de um herói pronto ou para você criar, há seis opções diversas para você escolher. São seis personagens de locais diferentes do mundo, que usam armas diferentes e que contam com histórias próprias.

Você precisa escolher um personagem para ser o principal, aquele que vai receber a fada, e mais dois companheiros para a jornada, que farão parte do seu grupo assim que forem encontrados. Os outros três que ficaram de fora se tornam NPCs importantes do mundo.

Cada personagem tem sua própria linha de acontecimento e um ponto de vista diferente sobre os eventos. Dependendo da escolha, até mesmo o vilão da história muda. São três vilões no total. Para ver tudo que o jogo proporciona, você terá de terminar a jornada com todos eles.

Essa opção é muito legal e traz um fator replay enorme para o pacote, mas também tem os seus problemas. Com várias linhas diferentes, o tempo da campanha é bem reduzido em relação aos RPGs convencionais, pouco mais de 20 horas, o que não deixa aprofundar muito em alguns aspectos. Além disso, o jogo se vê obrigado a fechar alguns arcos de forma anti climática só para não deixar o roteiro esburacado e mesmo assim falha diversas vezes.

O próprio jogo original recebeu duras críticas em relação a essa parte, principalmente por conta dos clichês clássicos da ambientação medieval. Sem muita ousadia no escopo, a Square Enix não modificou praticamente nada na jornada e tanto quanto as partes boas, as ruins também estão presente de novo.

Orçamento pequeno, problemas grandes

Seiken Densetsu 3, como era chamado Trials of Mana no Japão, foi um dos títulos mais bonitos da era dos 16 bits. Com animações bem feita para os sprites e sistemas complexos, foi, de certo modo, um marco da época que influenciou alguns RPGs que vieram depois. O mesmo não pode ser dito no remake.

O jogo adotou uma direção de arte bem parecida com o Dragon Quest XI, também desenvolvido na Unreal Engine 4 e provavelmente utilizou até a mesma técnica de Shading. Se em Dragon Quest o resultado já era abaixo dos jogos de maior orçamento da Square, aqui foi ainda menos impressionante.

Com poucos modelos para diversificar os personagens do mundo e inimigos, animações faciais praticamente inexistentes e cutscenes que beiram o ridículo, o jogo deixa uma marca visual ruim para quem joga e isso atrapalha bastante na imersão da história. Os cenários também não se salvam e na maior parte do tempo o que se vê é um festival de texturas em baixa resolução e repetição de materiais.

No combate, as animações são um pouco melhores, especialmente dos personagens do grupo, enquanto que alguns inimigos foram animados de forma um tanto amadora. Essa parte é de longe a maior decepção do jogo e fica bem evidente mesmo quando em comparação com outros jogos de pequeno orçamento da Square.

Nostalgia sob medida

Se os gráficos desapontam, o gameplay vai fazer os veteranos ficarem com um sorriso enorme. O jogo conta com algumas mudanças, claro, já que a visão isométrica foi abandonada e o ambiente 3D, em conjunto com a modernidade, exigem uma abordagem um pouco diferente para o combate. No entanto, a essência foi mantida e mesmo com algumas coisas que poderiam ser ampliadas, o jogo ainda deixa um saldo positivo nesse aspecto.

Cada personagem tem apenas um tipo de arma, mas conta com diversos arquétipos diferentes para serem utilizados. Tudo isso graças à árvore de atributos e o sistema de mudança de classe, um clássico da franquia que retorna aqui.

A árvore de atributos é bem parecida com a clássica, onde você pode melhorar força, inteligência, espírito, estamina e sorte. A medida que você vai ganhando pontos nesses atributos, novas habilidades vão sendo liberadas.

Na primeira classe você pode melhorar menos pontos por atributos, mas após o nível 18, quando você pode escolher a sua primeira graduação, esse limite aumenta e as habilidades vêm em maior número também. No fim, o grupo fica bem moldado para o seu estilo de jogo e cada personagem fica original e gostoso de jogar.

No meio da batalha, o funcionamento também é bem nostálgico. Ela rola em tempo real e você pode alterar os personagens a qualquer momento. Há um menu para modificar a inteligência artificial dos seus companheiros e tudo flui muito bem durante a pancadaria. A grande novidade é a possibilidade de fazer combos com ataques fortes e fracos. Eles são bem simples e pouco criativos, mas dão um ar menos cansado à repetição constante dos inimigos.

A nostalgia está por todos os lados. Os vendedores dançam atrás dos balcões, tal qual no original, e há todas as lutas clássicas. O próprio formato de progressão da travessia foi mantida, o clássico a pé na terra, um modo de locomover na água e por fim um meio de voar e chegar em todos os locais do mundo.

A única ausência majoritária é a possibilidade de jogar de forma cooperativa, como rolava no original. Pelo que dizem, até tentaram, mas refinar essa área significaria abrir mão de ainda mais polimento do projeto, então preferiram cortar. Tendo em vista o resultado final, ainda bem que fizeram essa escolha.

Se você jogou o título original ou mesmo o Secret of Mana, vai se sentir em casa aqui e em meio a decepção pelo escopo, deve se deliciar com o cuidado em satisfazer os fãs.

Conclusão

Trials of Mana poderia ter sido bem melhor se o escopo e os recursos para o desenvolvimento do jogo fossem maiores. Com gráficos datados, animações ruins e a manutenção dos defeitos de narrativa do original, acaba sendo um título sem impacto na geração atual. Por outro lado, se você é um fã da série ou jogou apenas Secret of Mana, vai ter alguns motivos para sorrir, já que os desenvolvedores fizeram questão de manter todo o gameplay e elementos da história fiéis ao material original, com algumas alterações aqui e ali.

PRÓS

  • Fiel ao material original
  • Personagens são cativantes
  • Sistema de classes é recompensador

CONTRAS

  • Animações muito abaixo da média
  • Cenários por vezes feios e com texturas em baixa resolução
  • Narrativa cheia de buracos e clichês
  • Repetição de materiais e inimigos
  • Ausência do modo cooperativo

NOTA – 7,0

Uma cópia do jogo para PS4 foi fornecida pela Square Enix para elaboração desta análise

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