Análises

Ayrton Senna’s Super Monaco GP II

Senna já havia se envolvido em outro projeto, o hoje clássico “Super Monaco GP II” para o Mega Drive, jogo de corrida considerado por muitos como um dos melhores da geração 16 Bits, ao lado de “Top Gear” do Super Nintendo. Sega e Senna, confira em nossa análise abaixo como essa inusitada, e bem-vinda, parceria aconteceu!

Ligando os motores!

Em 1989 a Sega lançou para fliperamas o primeiro SMGP, que foi um grande sucesso, ganhando rapidamente uma ótima versão para o Mega Driveum dos primeiros títulos do console. Naquela época, Senna estava no auge de sua carreira, sendo que em 1991 conquistaria o tricampeonato mundial de F1a sua última grande conquista. Foi quando a Tec Toy teve a ideia e a iniciativa de aproveitar a popularidade do campeão para se fazer um game, projeto esse que foi levado para a Sega no Japão, e claro, aceita de imediato – Senna era tão famoso lá no oriente como era aqui no Brasil.

Assim nasceu “Ayrton Senna’s Super Monaco GP II“, que além de contar com a presença do piloto virtualmente, esteve envolvido pessoalmente no desenvolvimento do game, ao lado do pessoal da Sega, sugerindo  mudanças e melhorando tudo aquilo que já havia sido mostrado no antecessor. Senna era um cara perfeccionista, e uma das mudanças que exigiu era que quando os corredores passassem em cima das zebras nas pistas, que o carro não se deteriorasse e perdesse velocidade. Segundo ele, os pilotos usavam as zebras para fazer as curvas, e só chegaria ao ponto de estragar o carro se ficassem por muito tempo ali. Pronto, mudança realizada. A velocidade máxima, que ultrapassava os 400 Km/h, foi reduzida para 340 Km/h, o excesso de placas de sinalização ao lado foram diminuídas e as pistas receberam uma modelagem o mais fiel possível das originais.

Inclusive, era para ter no início de cada corrida, comentários falados de Senna sobre cada pista. O pessoal da Sega pediu pra ele gravar as falas, mas quando chegou na pista de Barcelona ele se negou a fazer, pois era a primeira vez que ela entrava na F1 e ele nunca tinha corrido nela. “Não posso fazer isso. Como eu vou falar de algo que eu não conheço?“, respondeu Senna. Por sorte, ele estava num campeonato na época, e ia correr naquela pista na próxima semana, e então se propôs a gravar o comentário logo após a corrida, lá na pista mesmo. Dito e feito, depois de terminada a prova ele fez a gravação logo em seguida – só para ver o nível de profissionalismo do cara. Apesar de ter feito todas as gravações, elas não foram incluídas no cart por falta de espaço.

Iniciando a carreira de piloto

Em SMGPII o jogador volta no tempo para 1991 para disputar os 16 circuitos dessa temporada, na pele de um corredor novato. No jogo, Ayrton Senna é o piloto da “Madonna“, a melhor escuderia do campeonato, e claro, é o oponente a ser vencido. Assim, o jogador começa numa equipe mequetrefe e vai construindo a sua carreira, mudando de equipes e veículos até chegar num nível que possa desafiar o campeão brasileiro. Ou seja, não era apenas um joguinho de corrida, acelere e fique na frente dos adversários, tinha toda uma história e mecânicas que tornavam o jogo extremamente divertido e viciante de se jogar, afinal, todos queriam ganhar de Senna.

A Sega não tinha licença oficial para utilizar os nomes verdadeiros de outros pilotos, carros e equipes, mas ela acabou sendo criativa e é fácil perceber quem é quem nos apelidos dados, como Nigel Mansell que virou ‘N. Jones’, ou o famoso alemão Michael Schumacher, que recebeu o nome de ‘M. Blume’. Nas equipes temos a já citada ‘Madonna’ sendo a McLaren, ‘Firenze’ para Ferrari, ‘Losel’ para Lotus, ‘Millions’ para Williams e assim por diante. São todas as equipes e corredores baseados em suas contrapartes reais do Campeonato de F1 de 1991.

Além do modo principal de jogo, o World Championship, temos outros dois: Senna GP – temos aqui três pistas exclusivas, desenhadas pelo próprio Senna, sendo que uma delas é a reprodução fiel que o piloto tinha em sua chácara na cidade de Tatuí, em São Paulo, lugar onde provavelmente ele devia se reunir com os amigos para um churrasquinho e beber aquela gelada, e nas horas vagas, dar uma corridinha ali na pista. O outro modo é o tradicional Free Practice, usado para treinar suas habilidades sem valer pontos. É possível escolher o número de voltas, posição de largada e até o tempo, chuvoso ou não, além de conferir descrições e dicas de cada uma das pistas feitas pelo próprio Senna. E com uma manha, é possível correr numa moto do jogo “Super Hang-On” no meio dos carros, doidera pura!

O Campeonato Mundial possui dois níveis de dificuldade: o Beginner, em que o jogador começa com um carro razoavelmente melhor do que os rivais, o que deixa a tarefa de chegar em primeiro lugar bem mais fácil. Já modo Master o “buraco é mais embaixo“, o jogador começa lá de baixo e tem que mostrar garra, e braço, pra vencer as disputas. São cinco equipes, você começa na C (a segunda pior) na equipe “Serga” e pode chegar até a S, ocupada apenas por Senna. Você coloca o seu nome e escolhe a nacionalidade, e pode escolher um carro com câmbio automático, com quatro ou sete marchas, em corridas com seis voltas no total, cada uma.

No começo de cada corrida o jogador deve escolher um rival para competir. Ao vencê-los algumas vezes seguidamente – varia de duas a quatro vezes, dependendo se você bater nos carros rivais e da pontuação do piloto rival – é possível ganhar o seu carro e sua equipe, e assim ir melhorando de carreira. Mas fique esperto, o contrário também pode acontecer, você pode ser desafiado, e se perder, bye-bye super-máquina. Tomar o lugar de Senna é possível, mas é uma longa e difícil tarefa que apenas jogadores mais habilidosos conseguirão. SMGPII é um jogo bastante longo e difícil, tanto que ele possui bateria interna para salvar o progresso de sua árdua e promissora carreira automobilística.

Voando a mais de 300 Km/h

A Sega se empenhou e melhorou os gráficos e visuais em comparação com o antecessor, com um nível de detalhamento maior nas pistas e nos cenários ao fundo, sendo que em algumas era possível chover. Os carros estão bem feitos, com algumas animações de faíscas e fumaça quando há colisões. É possível ver as mãos de seu piloto no voltante, num visual muito bacana e que para a época era uma imersão incrível – nada de polígonos, texturas e afins, tudo ao maravilhoso old school way mesmo. Algo muito bacana é que há muitas imagens digitalizadas de Senna, que vão sendo mostradas entre uma corrida e outra até o final, dando um toque todo especial e personalizado para o cart.

A sensação de velocidade é sensacional, você pode “sentir” o carro acelerando e até dar aquele “friozinho” na barriga quando se chega nas curvas. Minha parte favorita era atravessar, a mais de 300 Km/h, o famoso túnel no circuito de Mônaco. Mas aqui não adianta só enfiar o pé no acelerador, é fundamental saber usar o freio e trocar de marcha nas horas certas, senão certamente vai se esborrachar na mureta. Desviar dos carros rivais também é importante, pois uma batidinha neles e você é jogado lá para atrás, e para conseguir sua posição de volta só depois de muito suor.

Felizmente os comandos respondem perfeitamente, e o jogador não terá problemas, ao menos na jogabilidade, de se tornar um grande corredor (aí vai depender da sua habilidade e reflexos). Na tela temos informações importantes, como a sua velocidade, marchas, posição (sua e do rival), tempo, número de voltas, um mapinha da pista e o seu melhor amigo, o espelho retrovisor.

Como já era de se esperar, o jogo não possui trilha sonora, tem algumas musiquinhas que tocam entre os intervalos, mas nada de mais. Durante as corridas escutamos apenas o som dos motores, troca de marchas, derrapagens (que no anterior era bem chatinho, mas aqui está mais audível), freios e sons abafados dentro de túneis. Os sons estão muito bons e ajudam na imersão do jogo. As vezes a concentração é tanta, que realmente parece que estamos dentro de uma corrida. Como já dito, a Sega pretendia colocar frases de Senna, mas como não foi possível, podemos ouvir algumas palavrinhas curtas do próprio como “Go!“, “Final Lap” e “Congratulations!“. O jogo teve versões para Master System e Game Gear, e reza a lenda que, após vencer 10 campeonatos, era possível ver o verdadeiro final do jogo – nunca conheci algum maníaco que tenha feito isso.

E para encerrar com chave de ouro, há poucos dias publicamos aqui no site quem é aquela loiraça da introdução do jogo original, “Super Monaco GP” – você certamente se lembra dela. Ayrton Senna pode ser uma lenda eterna na história do automobilismo, mas não tem como esquecer aquela loira gostosa! Abaixo, fique com uma frase do campeão sobre o game:

Eu tentei passar para o jogo a emoção de uma corrida: o desafio de competir, vencer, ser o número 1 e se divertir ao mesmo tempo” – Ayrton Senna.

confira o comercial japonês com participação de Senna

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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