Análises

Bruce Lee: Quest of the Dragon

O mito das artes Marciais não merecia tamanho desrespeito.

Não importa qual seja sua idade, sexo ou religião, você com certeza sabe quem é Bruce Lee, a lenda maior das artes marciais, o único homem, dentre todas as criaturas vivas da galáxia que já tocou, e derrotou, Chuck Noris em uma batalha. Piadinhas a parte, Bruce é o homem que redefiniu o alto conceito sobre artes marciais, e mais ninguém “pós-Bruce Lee” chegou perto de fazer pelas artes marciais o que ele o fez.

No mundo dos games, não faltam referências a seu estilo de luta, biótipo e voz. Os exemplos mais bem sucedidos são Fei Long de Street Fighter e Forest Law da série Tekken. Com relação a games que levam o próprio Bruce Lee como protagonista, a coisa nunca funcionou a contento, já que nenhum de seus games jamais foi verdadeiramente bom, o que inclui o provavelmente mais conhecido dentre eles, The Bruce Lee Story, para SNES.

No longínquo ano de 2002, um projeto levando o nome de Bruce Lee veio a tona, e parecia, conceitualmente, bem interessante. Imaginou-se que a produtora Ronin Entertainment (?!) faria algo a altura do mestre das artes marciais, uma vez que anunciou que o game seria exclusividade do Xbox, o mais poderoso Hardware da geração. Prometeu-se também uma boa história, que não seria baseada em nenhum filme de Bruce, mas que seria uma homenagem a ele e a seu tempo. Nunca pude jogá-lo antes, mas eis que a pouco tempo, mesmo que anos depois do lançamento, tive a chance de experimentar o game por completo. Após essa experiência, resolvi ignorar meu pré-concebido cronograma para trazer a vocês mais um review da minha “seção” (um dia chega lá) Trash Games, infelizmente. Vamos à análise de Bruce Lee: Quest of the Dragon.

Um chute nos bagos do gamer…

Qualquer ser humano que se dê ao trabalho de adquirir um game com Bruce Lee na capa, espera que, no mínimo, ele possa chutar muitos traseiros, se utilizando do artista marcial mais poderoso do mundo, usando o Jeet Kune Do e seus plásticos, belos e mortais movimentos. Dane-se a história, dane-se uma dublagem não muito boa, se a jogabilidade e o visual trazerem ao jogador a experiência de controlar Bruce Lee em toda sua fúria, a diversão estaria mais do que garantida, e o game mais do que recomendado.

A produtora do game entendeu certa parte do parágrafo acima. A história do game é virtualmente nula. Em Quest of the Dragon, Bruce Lee terá de enfrentar o grupo chamado Black Lotus a fim de resgatar uma relíquia sagrada que foi roubada, assim como seu pai, que foi sequestrado. Além disso, terá de dar cabo ao plano da Black Lotus de criar super-lutadores se utilizando da relíquia roubada. Apesar de parecer bem bestinha, a história não é muito diferente das histórias dos filmes estrelados por Bruce Lee, e já que a idéia era uma homenagem a Bruce e seus filmes, faz sentido esse teor clique e meio sem sentido da história. As cut scenes que apresentam os momentos de história são terríveis, além de um péssimo sincronismo entre fala e voz, possuem desnecessários e mau escritos diálogos, com certeza o roterista aqui foi uma das últimas preocupações dos produtores.

História a parte, a produtora entendeu também que não precisaria se esmerar na sonoplastia. São poucas as músicas que compõem a trilha sonora do game, que não são ruins, mas a repetição delas as faz parecer bem piores do que realmente o são. Os dubladores parecem tão somente estar cumprindo uma fatídica obrigação. Todas as vozes são monótonas, ou irritantes, sem contar com o fato de quase nunca se encaixarem bem com o personagem em questão, exemplo claro disso é o instrutor de Bruce, uma das piores dublagens que já vi na vida. A única exceção nesse setor é o dublador do próprio Bruce Lee, que se não é uma maravilha, incorporou bem o seu papel na dublagem dos famosos gritos de batalha de Bruce.

Uma história que não cativa, unido a uma dublagem que não empolga em momento algum, fazem dessa parte do contudo de Quest of the Dragon, uma experiência extremamente vazia.

Se a Ronin Entertainment compreendeu parte da pressuposta lógica que faria Bruce Lee Quest of the Dragon um bom game de ação, ignorando história e não dando a devida atenção à parte sonora, não compreendeu a outra parte, e é ai que o game chega a doer ruim.

Leiam novamente o primeiro parágrafo da análise em si. Jogabilidade e visual, era só Quest of the Dragon possuir uma boa jogabilidade e um bom visual, e ele provavelmente teria sido avaliado razoavelmente pela critica especializada, e vendido o suficiente para uma nova empreitada, em uma melhor estruturada sequencia. Mas não, eis que aqui Quest of the Dragon conseguiu piorar todas as falhas cometidas por The Bruce Lee History.

O visual do game é tétrico, não parece game de Xbox, um console que foi capaz de conceber games de beleza ímpar como Ninja Gaiden. Na verdade, me arrisco a dizer que, no geral, Quest of the Dragon é um dos games mais feios do Xbox.

A construção de personagens é horrorosa. O personagem Bruce Lee até que não é tão ruim assim, apesar de o mesmo ter ficado com uma “cara de pastel” que só vendo para acreditar, entretanto, todos, eu disso TODOS, os outros personagens que apareçam na tela são tão horrendos, que possuem até mesmo uma anatômica que nem sempre parece humana, lembrando muito os modelos ruins de Mortal Kombat Shaolim Monks. Além disso, os personagens apresentam uma quantidade de detalhes minúscula, o que não dá a eles uma personalidade, deixando todos muito genéricos. Somado a isso, todos possuem uma quantidade de polígonos muito baixa em sua construção, o que os deixa muito “quadradões”. Resumindo a ópera, os personagens parecem ter saido de um game de Nintendo 64.

Os cenários têm seus bons momentos, alguns são até belos a primeira vista, apesar de nada interativos. Na verdade a beleza se dá mais pela paisagem do que pelo cenário em que os personagens estão inseridos. No geral os cenários carecem de detalhes, sendo todos vazios. Além disso a quantidade de texturas em baixa resolução saltam as vistas e a coloração borrada dos mesmos faz com que a coisa pareça mais um show de horrores. Some a isso um terrível efeito de iluminação, sombras de se deformam ao incidirem aos eventuais alto relevos apresentados e os já mencionados personagens mal concebidos, e terá uma idéia do que tento aqui elucidar.

Quanto a jogabilidade do game, ela é muito bem conceitualizada, com uma boa variação de golpes e um sistema de combos interessante, mas a execução é péssima. São dois momentos distintos no game, o prosseguir pelas fases, em que enfrentamos vários inimigos ao mesmo tempo, no estilo Final Fight, e as batalhas contra os chefes, sempre mano a mano.

Em ambos os momentos, seja prosseguindo pelas fases, seja contra os chefes, nosso maior inimigo sempre será o controle. Movimentar o personagem é trabalhoso, pois ele se locomove de maneira dura e robótica. Uma vez partindo para a pancada, além dos problemas citados, temos de enfrentar um temido adversário, a lentíssima resposta de Bruce Lee aos comandos executados no joystick. Acho que poucas vezes em minha vida enfrentei um controle tão pouco assertivo e com respostas tão lentas quanto em Quest of the Dragon. Apesar de o sistemas de combos e mapeamento dos golpes no controle ser intuitivo, a execução disso no momento da ação é tão ruim, que mal permite notar os pontos positivos, tão somente ideologicamente, inseridos nesse aspecto no game.

Nos momentos “Final Fight” do game, temos ainda de nos acostumar, se é que vale a pena, com o ridículo sistema de “lock-on” do game. Quando somos rodeados por inimigos, não podemos realizar ataques intercalados em todos os inimigos dada a necessidade, ao contrário, o game trava a mira em um inimigo, e a partir disso todos os ataques que realizamos com Bruce são direcionados a esse inimigo impreterivelmente. Assim sendo, é impossível se sentir o mestre marcial, uma vez que temos de atacar somente um inimigo de cada vez, além disso, para que vários inimigos na tela se não podemos enfrentar nem dois de uma vez?

Nas batalhas contra os chefes o problema do “lock-on” inexiste, uma vez que a luta é travada tão somente com ele, no entanto, outro problema é sumariamente maximizado, a câmera. Em batalhas contra os chefes ela se foca em mostrar tanto Bruce quanto seu inimigo ao mesmo tempo na tela, sempre, aparentemente, priorizando o pior ângulo o possível, prejudicando a batalha e aumentando a raiva do pobre jogador que tenta aproveitar alguma coisa da experiência medonha que é jogar Quest of the Dragon.

Mas não se aflija, pois apesar de a jogabilidade conspirar contra você todo o tempo, outro defeito do game auxilia sempre o jogador a vencer as batalhas, a ridícula Inteligência Artificial presente. Chega a dar vergonha enquanto o game rola, mas os inimigos são muito burros. Quase não atacam, eventualmente agem como se existisse uma barreira entre Bruce e eles que tenham de contornar para atacar, tentam lhe atacar quando realmente existe uma parede entre Bruce e eles. É um “bumba meu boi” dos infernos.

Os chefes não sofrem dos problemas mencionados, mas sofrem de cegueira. Eu explico. É possível derrotar os chefes se utilizando apenas repetidamente o soco simples. O máximo que ocorrerá é o chefe se abaixar para desviar do soco, mas acredite, ele vai levantar, e Bruce vai continuar acertando-o com o “soquinhos” até que a vida do meliante se esvaia.

Para fechar o pacote, a animação de todos os personagens durante os ataques, incluindo Bruce Lee, chega ao cúmulo de artificialidade. A coisa é parece tão falsa, tão robótica, tão sem vida, que parece que foi feito intencionalmente. Destruíram a plástica e a beleza dos movimentos do maior dos mestres de artes marciais do mundo, simples assim. Além disso os movimentos, se não todos, mas por certo a grande maioria, são lentos, não passando a impressão de força necessária a uma luta.

Bom, acho que já fiz entender a grande bomba que Bruce Lee Quest of the Dragon é. Passei anos querendo experimentar esse game, independentemente do que a critica disse sobre o mesmo e acabei me rendendo ao que as análises ao redor do mundo já haviam constatado> Bruce Lee Quest of the Dragon é um dos piores games da história.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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