Análises

Castlevania: Lords of Shadow

– Visuais espetaculares são o destaque do novo Castlevania –

Já são quase 25 anos que os caçadores de vampiros da família Belmont (e seus aliados) caçam Drácula e seus sugadores de sangue na famosa franquia da Konami, “Castlevania”. Foram vários títulos para quase todas as plataformas de videogames existentes. Porém, nestes últimos anos a série vem sofrendo de um mal que está difícil de ser derrotado: games de baixa qualidade que não agradaram os fãs como deveriam.

Certamente o último grande nome para a franquia foi o antológicoCastlevania: Symphony of the Night, lançado em 1997. Deste então a Konami vem tentando migrar a série para o universo 3D, até conseguindo bons resultados de vez em quando, mas ainda assim bem distantes da qualidade e do legado “Castlevania” de ser. Mesmo sua última versão 2d, Harmony of Despair parece não ter agradado muito.

“Castlevania: Lords of Shadow” foi anunciado como sendo um novo começo para a franquia, e segundo a própria Konami, não possuir conexão com a série. Realmente uma mudança radical para uma das séries mais famosas dos videogames, mas talvez necessária para que “Castlevania” entre nos eixos.

Mas a mudança não é apenas “papo”, para isso a empresa chamou a produtora espanhola novata MercurySteam para a produção do game, tentando assim deixar para trás as raízes orientais da série e tentar um foco mais ocidental. Chamou também o célebre Hideo Kojima, e sua equipe, para trabalhar no novo “Castlevania”. Kojima, como a maioria deve saber, é o criador da série Metal Gear Solid, e um grande fã da cultura pop norte-americana e conhecido principalmente por dar um tom cinematográfico em seus games.

Com uma produção como essa, o resultado não podia ser diferente: “Lords of Shadow” possui uma apresentação e produção fantásticos, com visuais e narrativa com a assinatura de Kojima, o que garante uma qualidade igual, ou superior, às superproduções de Hollywood. Mas nem tudo é perfeito, confira em nossa análise.

Tenha em mente que a história do jogo não segue a linha cronológica da série, então não espere ver referências de outros games, é realmente um recomeço. O jogo ocorre no “fim dos dias”, no ano de 1047, quando a aliança da Terra (os humanos) com os Céus (os deuses) é ameaçada por uma força malévola, conhecido como “senhor das trevas”, que você já deve imaginar quem é. Uma magia negra poderosa impediu as almas dos mortos de irem para o outro mundo, enquanto criaturas do mal habitam a terra e atacam aqueles que estão vivos.

O novo protagonista é Gabriel Belmont, membro da Irmandade da Luz, um grupo de elite de cavaleiros sagrados que protege os inocentes dos poderes e criaturas sobrenaturais. Sua amada esposa foi assassinada brutalmente por forças malévolas das sombras e sua alma aprisionada pela eternidade. Gabriel viaja pelo mundo com o objetivo de trazer a paz de volta ao mundo e trazer de volta sua falecida esposa. Para isso ele vai precisar obter duas máscaras sagradas, conhecidas como as Máscaras de Deus e do Diabo, mas só depois que derrotar os Senhores das Trevas.

A história e narrativa são elementos que você não vai precisar se preocupar, pois estão muito bem elaboradas e contadas de forma a aprender a atenção do jogador, do começa ao fim da aventura. Com a assinatura de Kojima, é impossível não perceber o estilo cinematográfico, que por vezes faz até você esquecer que está jogando mas assistindo a um filme. O jogo começa com Gabriel chegando a um vilarejo cheio de lobisomens. Ele está em busca do Guardião do Lago, com a missão de se comunicar com os mortos, que podem dar uma pista para a salvação do mundo. A partir deste ponto a narrativa se desenvolve mostrando a jornada épica de Gabriel, que vai encontrar outros personagens pelo caminho, como o guerreiro Zobek, que ajuda Gabriel em sua busca, a falecida esposa Marie e a garotinha muda com poderes telepáticos, Claudia.

O objetivo da Konami era apresentar uma nova mecânica, deixando elementos tradicionais para se aventurar em conceitos de jogos contemporâneos. É fácil perceber a influência de jogos atuais como Bayonetta, Uncherted, Prince of Persia, God of War 3 e “Shadow of the Colossus” (esse não tão moderno). Porém, com tantas influências, ficou difícil para “Lords of Shadow” possuir uma identidade própria, apresentando uma mecânica de jogo que não é tão profunda quanto os outros jogos citados, com comandos de combate simples, não exigindo grandes estratégias ou planejamento. É só apertar o botão, se movimentar um pouco e pronto, inimigos derrotados, só partir para a próxima leva.

O elemento exploração, bastante comum na franquia “Castlevania”, também não foi aproveitada de forma mais abundante (mas elas existem). O jogo possui um sistema de progressão mais linear, com trajetos pré-definidos para o jogador seguir. É como um roteiro de um filme, que determina as locações e cenários, não cabendo ao jogador nem o controle dos ângulos das câmeras. Não que isso seja um ponto negativo, pois aventura fica mais dinâmica e o enfoque do game é totalmente direcionado para a narrativa (como de costume nos jogos de Kojima), mas fãs mais tradicionais podem não gostar dessas mudanças.

Gabriel usa como principal arma o seu chicote retrátil chamado Combat Cross, que também serve para escalar paredes e inimigos de grande porte. No começo do jogo os ataques são bem básicos, mas novos combos e magias vão sendo destravados, e há a opção de se usar armas secundárias como adagas, água benta e outros itens que podem ser evoluídos. Os ataques com o chicote podem ser combinados com magias da Luz e das Trevas, que visam a defesa e o ataque, respectivamente. Além do mais, o chicote também pode ser evoluído e ser usado para bloquear ataques. O personagem também possui contra-ataques e sistema de esquiva, que será muito utilizado durante o jogo.

Um elemento tradicional da série que está presente são os quebra-cabeças, que variam desde coisas mais simples, como usar o chicote para alcançar novas áreas, à sequências que vão exigir do jogador pensar para resolver enigmas e movimentar objetos físicos, ou ativar alavancas, para abrir novos caminhos ou desativar armadilhas, ou ainda para procurar itens escondidos, seguindo o estilo de jogos como “God of War 3”.

A variedade de inimigos não é muito grande, tendo em vista a vasta galeria de monstros e criaturas que a série tem a oferecer. Nas primeiras horas de jogo, você vai enfrentar dúzias de lobisomens e goblins, que apesar de terem um design muito bacana na tela, não oferecem grandes desafios, mesmo quando em grupos.  Lá pela metade do jogo eles darão lugar aos vampiros e  ghouls. De vez em quando aparecem algumas outras criaturas, como aranhas gigantes, trolls e sub-chefes (alguns muito legais), mas também nada que vá fazer você perder muitas vidas. O sistema de QTE, ações em que você deve apertar um botão de um determinado tempo, ajudam a dar uma variada nos combates, com cenas de lutas mais violentas e com a possibilidade de cavalgar grandes inimigos, algo que será necessário para progredir no jogo, alcançando novas áreas. Infelizmente o jogo peca por, na maior parte do tempo, nos fazer enfrentar hordas de inimigos menores repetidas vezes, o que com o tempo acaba se tornando repetitivo.

Entretanto, o jogo possui alguns chefes gigantescos, aos estilo de “Shadow of the Colossus” (e outros títulos), em que você deve subir pelo corpo descomunal e acertar em um ponto fraco, até derrotá-lo (a batalha contra a Titã de pedra no santuário é fantástica). Esses combates são um espetáculo audiovisual e realmente são bem emocionantes, especialmente lá pelos 40 minutos finais do game, com sequências arrebatadoras e apoteóticas que irão deslumbrar os jogadores. A impressão que temos é e estar assistindo a uma mega produção do cinema, do naipe de Spielberg ou Cameron.

Um ponto que merece destaque em “Lords of Shadow”, além de sua narrativa, são os seus gráficos e visuais, um dos mais belos que você vai encontrar para o seu console de alta definição. Os cenários são belíssimos e sem dúvida impressionam pela grandiosidade e o grau de detalhes.

A equipe de design artístico não poupou esforços e criou cenários bem variados, com selvas, cavernas, templos, montanhas, catacumbas subterrâneas e muito mais, tudo muito bem detalhado, com excelente uso das cores e efeitos de luz e sombras. Tudo é muito bonito e aparenta estar bem vivo. Os personagens e inimigos também não foram esquecidos, e se apresentam com excelência na tela, com boa movimentação e animações, tudo muito fluído e natural.

A trilha sonora orquestrada, composta pelo espanhol Oscar Araujo (que disse recentemente que a Konami requisitou uma sequência para o jogo), é igualmente bela, com temas épicos apropriados que se encaixam perfeitamente com a ação, com tons dramáticos e tensos quando necessário e cheia de energia nos momentos de ação e batalhas contra os chefes.

Além disso a Konami investiu pesado na dublagem do game, convocando um elenco de atores de Hollywood encabeçados por Patrick Stewart (o Capitão Picard de “Star Trek: A Nova Geração” e o Professor Xavier de “X-Men”) em um brilhante trabalho de dublagem com o personagem Zobek (além de narrar a história do jogo) e Robert Carlyle (do bacaninha filme de zumbis “Extermínio 2” e do cult “Trainspotting”), no papel de Gabriel. Além deles há também trabalho dos atores Ian McKellen (o eterno Gandalf da trilogia “O Senhor dos Anéis” e também o Magneto em “X-Men”), Natasha McElhone (“A Outra”) e Jason Isaacs (Lucius Malfoy da franquia “Harry Potter”). Desnecessário dizer que a dublagem do game está show de bola e muito bem produzida, assim como os diálogos e textos nas conversações.

Com um final que deixa um gancho para uma sequência, agora é só esperar pela continuação da aventura, que provavelmente será ainda melhor que “Lords of Shadow.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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