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Conheça Rodrigo Pascoal, o ilustrador e game designer brasileiro que surpreendeu a Capcom!

Trabalhar desenvolvendo games é o sonho de muita gente, mas como sabemos esse é um mercado extremamente concorrido e cheio de pedras pelo caminho, especialmente aqui no Brasil. Mas o Gamehall sempre que pode tenta ajudar esse pessoal esforçado e empreendedor, divulgando o seu trabalho para que nossos leitores o conheçam.

E na entrevista de hoje trazemos a vocês um bate-papo muito bacana com Rodrigo Pascoal, um ilustrador brasileiro que faz desenhos incríveis com temas do cenário geek/pop, e que recentemente, junto com outros dois amigos, formaram a desenvolvedora Orbit Studio e trabalham em um jogo muito promissor: Uprise.

Conversamos com ele sobre sua carreira de ilustrador e game designer, que você confere logo abaixo!

ENTREVISTA

GH – Olá Rodrigo, tudo bem? Faça sua apresentação para nossos leitores e conte como começou sua paixão como ilustrador.

Eu ilustro desde muito jovem, como toda criança, mas eu ficava muito curioso com a produção dos desenhos animados que eu assistia na TV, e gostava tanto. Ficava me perguntando como era feito e se era apenas uma pessoa que fazia tudo? Quando assisti Dragon Ball pela primeira vez, eu gostei tanto que tive certeza que queria trabalhar fazendo algo com desenho. Desde então, nunca mais parei de desenhar.

GH – Seus desenhos são incríveis, já pensou em trabalhar em grandes editoras de super-heróis como a Marvel ou a DC Comics?

Poxa, muito obrigado haha!! E a resposta é: com certeza! Acho que todo mundo que quer ser desenhista já sonhou em trabalhar para a Marvel ou a DC haha! No meu caso, como eu sou muito fã de Dragon Ball e de outros desenhos orientais, também tinha muita vontade de fazer meu próprio mangá, gosto da forma que funciona o mercado japonês de quadrinhos, onde eles incentivam muito o trabalho autoral em revistas como a Shonen Jump. Mas se eu pudesse escolher um personagem da Marvel para desenhar, certamente seria o Homem-Aranha! Adoro desenhar cenas com perspectiva exagerada e o Spider é o melhor personagem pra isso haha!

Homem-Aranha nos céus de Nova York

GH – O seu trabalho é bem variado, passando por animes, filmes a games. Quais/Quem foram suas principais inspirações no início de carreira e atualmente?

No início eu me foquei muito no Mangá, mas quando comecei a trabalhar profissionalmente em uma editora, passei a conviver com vários outros desenhistas e aos poucos eles foram me mostrando suas referências pessoais, isso me mostrou um universo imenso e de muita qualidade, conheci gênios como Moebius, Will Eisner, Alex Ross e muitos outros. Toda essa influência me fez muito bem e me fez mudar o rumo do meu próprio desenho. Hoje gosto demais do desenho Francês, em especial um quadrinho chamado LastMan, desenhado por Bastien Vives, recomendo demais!

DuckTales

GH – Conte para nós sua relação com videogames. Algum console e jogos favoritos?

Eu tive uma infância bem pobre e videogame era um luxo muito distante, mas isso só fazia aumentar minha paixão por games! meu sonho de criança era ter um Mega Drive, até claro, eu conhecer o Super Nintendo, quando vi Super Mario World na minha frente achei que ia chorar, até hoje acho esse jogo uma escola para quem quer fazer games!! Nunca tive um Super Nintendo mas quando eu tinha 16 anos minha mãe comprou um Nintendo 64 e, mesmo já tendo barba na época, eu quase me comportei como o Garoto N64! No Nintendo 64 pude conhecer jogos como Mario 64, GoldenEye 007 e Zelda Ocarina of Time, esses jogos mudaram de verdade minha percepção do que era videogame! Hoje que sou adulto posso curar meus traumas de infância e compro todos os consoles, todos mesmo e jogo de tudo um pouco!

GH – Você fez uma arte do Blanka de “Street Fighter II” que foi parar no Artbook oficial da Capcom, distribuído em todo o mundo. Como isso aconteceu e qual foi a sensação?

Foi muito emocionante, eu me lembro de colecionar as figurinhas do Street quando criança, e depois de tanto tempo ver meu trabalho em um artbook oficial da Capcom, foi realmente fantástico para mim e foi uma surpresa também, foi meio no susto, acho que alguns meses antes um amigo meu me mostrou um site para mandar uma ilustração sobre a Capcom, eu enviei sem dar muita atenção, eu realmente não sabia que se tratava de um concurso da Udon, a editora que publica os livros oficiais da Capcom, então, depois fiquei sabendo que meu desenho havia sido aprovado e estaria no livro!

ilustração de Blanka no artbook oficial da Capcom

GH – Quais são suas técnicas para desenhar? Quanto tempo leva para fazer a arte completa, como por exemplo do Goku criança de Dragon Ball e o próprio Blanka?

Eu costumo fazer a pintura digitalmente, uso uma mesa da Wacom bamboo, é uma opção muito boa num preço viável. É um pouco difícil falar sobre as técnicas por texto mas o que eu recomendo para quem quiser desenhar ou fazer pintura digital, é estudar muito os fundamentos do desenho como anatomia, perspectiva, comportamento da luz e composição de imagem, estes que citei são apenas alguns dos fundamentos mas no desenho o treino é muito importante mas treinar sem um bom fundamento vai fazer você patinar sem evoluir.

Goku criança

GH – É mais técnica ou sentimento? Tem algum tema favorito para desenhar?

Acho que pode variar muito de desenhista para desenhista, no meu caso eu acredito ser mais técnica, e acho isso um pouco prejudicial para mim, existem ilustrações de outros artistas que admiro que são soltas e cheias de sentimento, e isso toca profundamente, as minhas eu acho que são tecnicamente aceitáveis mas que acabam não despertando muita emoção haha! mas minha temática favorita de desenho certamente são Robôs e máquinas em geral!

GH – Para alguns artistas a inspiração aparece em momentos/lugares inusitados, com você também é assim?

Momentos inspiradores acontecem muito, quando vejo um filme que gosto ou quando visito algum lugar legal, é bom buscar esse tipo de estímulo! Quando assisti Mad Max: Estrada da Fúria, saí do cinema enlouquecido, não via a hora de por as mãos em uma folha em branco pra poder desenhar a Furiosa. Quando se trabalha com ilustração, temos que conseguir produzir mesmo sem a devida inspiração, isso acontece, mas quanto mais se estuda, mais você consegue ampliar sua biblioteca mental de soluções e inspirações para usar nos momentos certos, é como num jogo de RPG, você guarda com carinho aquela poção mágica para encher sua vida quando estiver enfrentando um dragão!!

GH – Você é um dos fundadores da desenvolvedora Orbit Studio, que inclusive já lançou alguns títulos como “Perfect Potion” para smartphones. Fale um pouco sobre a empresa/jogos.

Eu e meus dois amigos/sócios Elton Lopes e Valnei Sanderson fundamos a Orbit Studio a pouco mais de um ano, nós somos amigos de infância e sempre buscamos fazer jogos desde uns 15 anos. Desde o começo a gente sabia que seria preciso aprender mais para poder fazer jogos, cada um se especializou no que sabia fazer, eu com ilustração e eles com programação. Trabalhamos os 3 juntos em uma empresa de jogos educativos mas queríamos fazer jogos de videogame mesmo, então nos preparamos por mais de um ano juntando economias e largamos nosso trabalho para fundar a Orbit. Nosso objetivo com os primeiros jogos era nos testar como desenvolvedores autônomos, ajustar nosso método de trabalho e ver como seria trabalhar em equipe. depois do jogo Perfect Potion, que foi feito para smartphones, sentimos confiança para partir para um projeto maior.

arte de Pefect Potion, jogo para smartphones

GH – O atual trabalho de vocês é o game Uprise, que parece ser incrível. Fale mais sobre esse projeto e como é seu envolvimento nele?

Uprise é um jogo sobre robôs, bastante inspirado nas obras de Isaac Asimov. O jogo conta a jornada de um robô que vive em uma cidade auto-suficiente e aparentemente perfeita. Este robô começa a ter sonhos durante suas noites de recarga de bateria e isso começa a faze-lo refletir sobre o que seriam estes sonhos. As outras máquinas da cidade julgam este robô como defeituoso e o expulsam da cidade. Do lado de fora ele se depara com um mundo em ruínas e abandonado. Na sua busca por retornar a cidade de onde foi expulso, ele vai encontrar respostas para seus pensamentos e para o que aconteceu com o mundo e o que originou sua cidade.

Quando criamos este roteiro começamos a pensar em como viabilizar isto em um jogo, queríamos um jogo que contasse uma história profunda mas que tivesse um gameplay divertido e dinâmico. Todo o universo de Uprise foi trabalhado para isto, como no jogo você se encontra em uma cidade abandonada, a maior parte das máquinas não estão funcionando, então o jogador deve coletar baterias para fazer as máquinas funcionarem para resolver certos quebra-cabeças do jogo, mas em contra partida quando ele ativa algumas máquinas, ativa também alguns robôs de combate que tentarão acabar com nosso personagem. Embora tivéssemos alguma experiência dos jogos anteriores, em Uprise encontramos vários desafios, tanto no conceito quanto na produção em si, nosso jogo é um jogo 2D em vista isométrica, escolhemos este ângulo de visão por se aproximar o máximo possível de um jogo 3D na exploração e liberdade de cenário, mas um jogo isométrico 2D apresentou inúmeras dificuldades de produção como tamanhos de sprites e quantidade de animações para os personagens do jogo, tem sido difícil mas este sacrifício vale a pena no final!

imagem do jogo Uprise

GH – Como é a relação de ilustrador com o resto da equipe no desenvolvimento do game?

Programadores são organizados e ilustradores não haha isso é sempre um conflito! Mas brincadeiras à parte, nossa rotina de produção é bem focada e funciona bem, eu particularmente sou preguiçoso mas quando estamos trabalhando juntos no estúdio, sabemos que é por um motivo maior e como somos apenas 3 pessoas trabalhando no game atualmente, temos que nos empenhar demais se quisermos produzir algo relevante. Uma coisa que me motiva muito como ilustrador na produção do game é que meus amigos são muito competentes, nunca teve nada em que pensássemos pro jogo que eles não conseguissem arrumar uma solução na programação para fazer funcionar.

vídeo com a jogabilidade de Uprise

GH – Qual é a maior dificuldade em desenvolver um game indie?

No Brasil são muitas, mas creio que a principal seja a falta de investidores e de informação para o desenvolvedor. Existe também uma alta taxação de imposto quando se recebe investimento de uma empresa de fora, mesmo que seja dinheiro estrangeiro entrando no país para financiar a cultura.

Outra dificuldade é o próprio entendimento do que é o jogo Indie, muitas pessoas não fazem ideia da dificuldade que é fazer um jogo e há também um certo preconceito já que se trata de um entretenimento, muita gente acha que é algo menos relevante para a cultura brasileira ou que é uma brincadeira para fazer um jogo, jogar é divertido mas produzir um jogo é trabalho, e muito trabalho. Isso interfere muito em financiamentos coletivos como no KickStarter, um estúdio de games por exemplo, pode tentar financiar um jogo em uma destas plataformas, mas se pedir um valor próximo de 100 mil reais por exemplo, muita gente critica dizendo que é muito dinheiro pra fazer um jogo, poderia ser até, dependendo do jogo, mas um valor como este pra manter uma empresa de umas 10 pessoas trabalhando durante um ou dois anos, é na verdade um valor bem pequeno. Uma compreensão maior do processo de desenvolvimento de um jogo é algo que pode ajudar a conscientizar os consumidores brasileiros nesse mercado, nisso acho que também cabe a nós, desenvolvedores, ajudar a divulgar este processo.

imagem do jogo Uprise

GH – Você acha que há oportunidades para quem quer desenvolver jogos no Brasil?

Acredito que há sim oportunidades! Hoje existem muitas ferramentas acessíveis para desenvolver jogos, como a Unity por exemplo. O acesso a internet também pode ajudar muito com tutoriais e para encontrar outros desenvolvedores e saber falar inglês certamente vai ajudar demais, boa parte dos tutoriais nesta área estão em inglês. A internet também permite que haja divulgação independente do seu jogo, sem depender de colocar um comercial em uma revista ou canal de TV para que seu jogo seja conhecido!

GH – Você diria que conseguiu alcançar os seus sonhos e as habilidades que almejava quando criança, ou ainda há mais para aprender e conquistar? O que você ainda gostaria de fazer?

Eu diria que ainda não alcancei meus objetivos como ilustrador, tão pouco as habilidades que almejava haha, mas me sinto feliz por ter dado os primeiros passos, quando se é jovem e começa a jornada em busca da vida profissional tudo é muito incerto e amedrontador, mas como uma neblina densa numa manhã, se você caminhar em frente logo vai ver um caminho aberto onde vai poder dar os passos com mais confiança.

Eu ainda gostaria de concluir nosso jogo Uprise, e seria maravilhoso se fosse um jogo que as pessoas pudessem aproveitar e se divertir com ele, acho videogame uma das artes mais completas que existe pois é como um compilado de todas as artes, tem música, tem imagem tem roteiro e ainda depende de tudo isso com a interação do jogador, então, ser bem sucedido em um jogo é um sonho grande mas espero conseguir um dia!

imagem do jogo Uprise

GH – Por fim, deixe uma mensagem final e algumas dicas para quem sonha em ser ilustrador/desenhista ou ainda trabalhar com games.

Bom, eu queria agradecer muito quem leu a matéria até o final, não deve ser muito fácil me aguentar falando haha! E não só para quem quer ser ilustrador, mas creio que pra tudo na vida, o sonho é uma matéria-prima e a dedicação é o que vai lapidar seu sonho até se tornar realidade! Para quem quer trabalhar com jogos, acho que tentar começar pequenos projetos pessoais, talvez com alguns amigos para ajudar seria um bom começo, sei que é difícil dar um passo de cada vez, a vontade é dar um salto longo até o objetivo, mas com jogos o processo exige mesmo paciência e perseverança! Espero que todos alcancem seus objetivos e que também se divirtam no processo de buscá-los!! E lembrem-se, sua dedicação deve ser do tamanho do seu sonho!! Muito obrigado a todos!

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Gamehall gostaria de agradecer ao Rodrigo pela entrevista e desejar boa sorte para a sua desenvolvedora de games e futuros projetos. Para quem quiser apreciar seus outros trabalhos como ilustrador, acesse o seu portfólio online. Para acompanhar o desenvolvimento de Uprise, acesse o Facebook do jogo ou ainda da Orbit Studio.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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