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Crítica – Assassin’s Creed (Filme)

Os dois últimos grandes filmes baseados em games traziam consigo as esperanças de todo um séquito de gamers e cinéfilos de tirarem esse “gênero cinematográfico” da absoluta mediocridade.

Deixo claro que nessa conta não estou considerando o último Resident Evil, prestes a estrear nos cinemas mundiais. Essa franquia no cinema sempre foi, na melhor das avaliações, medíocre. Como são filmes baratos e que se pagam, estão entre nós por tanto tempo já.

Ano passado Warcraft mostrou potencial, mas graças a um roteiro corrido, sem o peso dramático e desenvolvimento de personagens necessários, é no máximo um filme “ok” para os não iniciados na franquia de games.

Assim sendo, as esperanças recaíram sobre os ombros da adaptação cinematográfica de Assassin’s Creed, atualmente a franquia de maior popularidade e sucesso da UbiSoft.

Independentemente da péssima recepção do filme nos cinemas norte-americanos, fomos conferir o filme de coração aberto, torcendo para que as críticas ruins que Assassin’s Creed recebeu tenham sido mais devido a implicância para com adaptações de games do que reflexo da qualidade da obra.

Uma rápida sinopse: O protagonista Cal Lynch, supostamente morto, acorda em uma empresa que possui um equipamento chamado Animus, que permite que sejam acessadas as lembranças genéticas de antecessores do usuário. Nesse equipamento, Lynch tem acesso às memórias de seu antecedente do período da inquisição espanhola Aguilar, um membro da organização secreta dos assassinos que devem a todo custo encontrar o artefato conhecido como A Maçã do Éden.

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De antemão, pode-se afirmar que a adaptação acertou completamente a mão no que se refere a trazer a identidade visual de Assassin’s Creed dos games para a telona do cinema. A iconografia dos jogos está muito bem representada no filme.

Como já é sabido de todos, o filme se passa basicamente em dois macros ambientes diferentes, o presente na Abstergo e no passado, período referente a inquisição espanhola. Em ambos os ambientes o filme se dá muito bem trazendo-os a vida.

Destaque óbvio aqui para a retratação dos ambientes na inquisição espanhola. Visualmente todas as cenas nesse período temporal transbordam Assassin’s Creed. Não somente no design de ambientes e figurinos, mas também pela utilização de assertivas tomadas panorâmicas e planos conjuntos.

A ação, quando considerado somente a coreografia das cenas e da ascensão vertical das mesmas, obtém sucesso na transição.

Nesses pontos o filme consegue agradar tanto a quem é fã de velha guarda da franquia nos games, quanto quem não a conhece. Tudo é visualmente muito apelativo, fiel e único.

Infelizmente os elogios ao filme terminam por aqui.

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Por mais que haja grande apelo visual, alguma qualidade cinematográfica no período da inquisição espanhola, que as cenas de ação sejam bem coreografadas e até certo ponto bem filmadas, a edição coloca tudo a perder.

Há um número excessivo de cortes ao longo das cenas de ação, o que mata a fluidez das mesmas.

O Animus no filme, ao contrário dos games, permite com que quem nele esteja interagindo possa realizar toda a movimentação que seu ancestral o faz. Dada essa característica, a equipe de produção achou que seria uma boa ideia inserir cenas do presente, em que o protagonista realiza os movimentos no Animus, no meio das cenas de ação rolando no passado.

Isso somado à edição fragmentada da ação não produz uma boa experiência das referidas cenas, mesmo que bem coreografadas e com todo o visual interessante criado para o período da inquisição.

Imagine se as cenas de ação surrealista de Sucker Punch tivessem, em momentos chave ou com potencial apelo visual, a intromissão da Baby Doll dançando no cabaré. É o exemplo mais próximo que posso pensar.

Apesar dos problemas acima, com certeza o melhor de Assassin’s Creed se encontra do período da inquisição espanhola. Infelizmente somente 30% do filme se passa no passado. O foco central do filme e do desenrolar da trama se passa na Abstergo.

Essa escolha não teria sido necessariamente ruim se o enredo a justificasse. Infelizmente aqui temos mais problemas.

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Os roteiristas não se focaram em contar alguma das histórias já apresentadas nos games, mas sim em contar algo novo e ao mesmo tempo serem respeitosos com o cânone da franquia. Conceitualmente acredito realmente ser a melhor das opções, pois dessa maneira se agrada ao fã gamer e ainda assim apresenta a esse fã algo novo.

Se conceitualmente o roteiro acerta o ponto, a execução é fraca e preguiçosa.

Os personagens não são desenvolvidos a contento, boa parte deles não possui nenhum carisma e alguns elementos do roteiro ficam sem a explicação e a força que o desenrolar da trama demanda.

Muito do roteiro possui explicações muito vagas, como por exemplo a própria Maçã do Éden.

O desenvolvimento de quase toda a trama se dá basicamente no formato de diálogos expositivos e essa é uma das piores e mais equivocadas maneiras de um roteirista contar sua história. Dessa forma o filme fica muito carregado de informações expositivas e não permite que os personagens tenham carisma, pois toda a vez que abrem a boca para falar algo têm de necessariamente explicar pontualmente algo para o protagonista / expectador.

A personagem de Marion Cotillard, a doutora Sophia, serve basicamente apenas para explicar ao Lynch tudo o que ele precisa saber a cada momento do filme. Isso é usado como desculpa para explicar ao expectador tudo o que ele deve saber, pois o roteiro não consegue fazer isso de forma orgânica. Mata-se assim um personagem que fica absolutamente sem vida no filme, bem como mata-se a interpretação de uma ótima atriz, que não tinha um bom material para trabalhar o personagem.

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Dentre os atores principais, apenas Fassbender tem algo “a mais” para trabalhar à nível de composição de personagem e dentro das limitações do roteiro ele se sai muito bem.

Jeremy Irons tem problema similar a Marion no filme e portanto não teve muito com o que trabalhar a contento.

Quaisquer outros atores que não sejam esses três são meros instrumentos mal utilizados no filme, o que é uma pena pois existem pessoas de grande talento no elenco completamente subaproveitadas.

Por fim, o filme não possui momentos de alívio ou sutileza. É tudo muito urgente, muito tenso e muito sério de maneira ininterrupta. Como tudo tem o mesmo tom pesado, não há espaço para que algo destoe e traga ao expectador alguma reação diferenciada. Isso faz com que o filme se torne tedioso.

Há até uma tentativa de plot twist em Assassin’s Creed, mas o roteiro é tão previsível que a pessoa mais atenta o verá chegando a quilômetros de distância. Mesmo que assim não o fosse, o todo é tão desinteressante que um plot twist não teria nenhum impacto no expectador.

Quanto a trilha sonora, não há muito o que mencionar além do que os próprios trailers já denunciavam.

Assassin’s Creed tem boas intenções, mas as executa de maneira equivocada em quase toda a projeção e em quase todos os aspectos. Tem em sua estética visual seu melhor atributo, característica já conhecida dos filmes de seu diretor, mas somente isso não segura duas horas de projeção.

Infelizmente não foi dessa vez que um game possuiu uma verdadeira boa transição para os cinemas. Na real, Warcraft foi um filme bem melhor e isso não é exatamente um elogio.

Nota: 3,0 (escala de 0,0 a 10,0)

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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