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Crítica – Heróis da Galáxia: Ratchet & Clank – Animação fracassa em ser bom filme

Personagens carismáticos, mundos variados, histórias divertidas, situações cheias de heroísmo, visuais alegres, cativantes e belíssimos. Características de qualquer boa animação, CGI ou não, e com certeza também encontradas no core de uma série de games conhecida por amantes de games de plataforma e mascotes: Ratchet & Clank.

Traçando esse simples paralelo, não é difícil imaginar que o famoso lombax e seu amigo robô funcionariam muito bem como uma animação longa-metragem. Ora, a franquia já possui todos os elementos necessários para compor uma boa animação. É só inserir uma narrativa mais coerente cinematograficamente, com um bom ritmo de storytelling e engraçado na medida certa. Pronto, sucesso garantido.

A história do filme basicamente é a mesma do primeiro game da série, lançado para Playstation 2 e que ganhou um incrível remake para Playstation 4. Remake esse que já ganhou uma análise na GameHall e que pode ser conferida clicando AQUI.

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Em resumo, o lombax Ratchet encontra o robô Clank acidentalmente. Clank conhece os planos do vilão Drek, que quer reconstruir o seu planeta coletando pedaços de planetas ao longo de toda a galáxia. Vendo a grande chance que tinha de provar o seu valor enquanto um herói, Ratchet leva consigo Clank para uma grande aventura ao redor da galáxia, visando acabar com os planos do antagonista e conseguir assim concretizar seu grande sonho: entrar na Patrulha Estrelar.

Simples, funcional e o suficiente para sustentar uma narrativa leve e divertida. Dito isso, fico impressionado em ver o como conseguiram errar tão feio em algo que já estava conceitualmente tão pronto e tão bom. Mas comecemos com os pontos altos do filme.

O filme realmente é muito belo. É tão colorido e vivo quanto qualquer animação de grandes produções ao passo que possui uma arte muito bela e um design de personagens absurdamente interessantes. Ponto positivo para a parte técnica que realmente impressiona, mas no que cerne a arte visual não há como exaltar muito os produtores da animação, uma vez que tudo é baseado no jogo que já possuía toda essa riqueza.

Os protagonistas do filme, Ratchet e Clank, são divertidos e possuem uma ótima química juntos. É tão bom vê-los na tela grande quanto o é vê-los interagindo nos games ao longo dos anos. Infelizmente os dois são os únicos personagens verdadeiramente cativantes ao longo de toda a projeção. O vilão Drek é fraco, os personagens secundários apresentados ao longo da história não são cativantes e até mesmo o favorito dos gamers não consegue empolgar. Sim, estou falando do capitão Qwark.

A ironia dessa apatia de todos esses personagens é que suas contrapartes nos games são absolutamente incríveis. A culpa disso é atribuída a narrativa do filme, que é o grande tendão de aquiles aqui.

O humor inserido no filme, ao contrário do game, não é universal. O filme não se importa em abarcar o público adolescente e adulto, se focando apenas nas crianças. É um humor pateta que no máximo arranca alguns sorrisos de “canto de boca” em dadas situações.

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Incompreensivelmente, o storytelling é chato, arrastado e com momentos reais de empolgação e heroísmo somente em seu ato final. Isso pode afastar o interesse do público alvo do filme ao longo da projeção, ou seja, não cativa grande parte do público consumidor de cinema a se interessar pelo filme e graças a sua narrativa pode afugentar a quem o filme visa agradar.

Temos aqui uma verdadeira aula de o como não se deve transpor a narrativa emergente encontrada em um game para a narrativa própria do cinema e afins. Ratchet & Clank (o filme) não aproveita absolutamente nada das experiências que o game dá ao jogador ao longo da jogatina, o que também trai um dos públicos que o filme poderia ter: o gamer.

Coloque tudo isso na balança e perceba que dada a monumental incompetência da equipe produtora do filme de pegar uma fórmula cinematograficamente pronta e adaptar um game que a ela claramente se adequaria muito fácil, o filme efetivamente não possui um público definido. Ratchet & Clank nos cinemas não consegue, de maneira geral, agradar a ninguém.

Até mesmo as cenas de ação que o filme entrega são absolutamente sem inspiração, mesmo que se utilizando de algumas das divertidas e insanas armas que o game oferece. Nesse momento se percebe que o filme falha gravemente em outro ponto que foi basicamente entregue pronto a equipe de produção pelo game.

Realmente não conheço a equipe que ficou por conta do filme, em específico no que cerne a roteiro e construção de set pieces, mas esse pessoal é absurdamente incompetente. É como dar a um aluno de colegial todas as perguntas que vão cair na prova de física e ele ainda assim não conseguir tirar uma nota boa na droga da prova.

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Estranho também é perceber o quão mal editado o filme é. Em dados momentos a edição causa um enorme desconforto, até mesmo para com o público infantil. A continuidade fica tão comprometida que até mesmo uma criança consegue identificar o problema. E se isso fica evidente para uma criança que dirá a um adulto mais exigente para com seus filmes.

Ao final do filme a única coisa que agrada além do visual é o como os personagens principais são legais. O como eles, isolados de todo o resto, conseguem interagir entre si de maneira cartunesca e fluente. O como eles seriam ótimos em um jogo de vídeo game. Tão bons, que de lá não deveriam ter saído.

O filme possui uma considerável quantidade de easter eggs voltados aos gamers que conhecem a série de jogos, mas isso não faz com que o filme seja melhor a esse público. Talvez funcione até ao contrário, fará o gamer desejar sair da sala de cinema e ir se recordar o quão divertido o game o é.

Por fim, esse filme parece ter sido lançado no pior momento possível. Ele foi lançado pouco depois do fantástico remake do primeiro game, que possui a mesma história do filme mas com momentos de gameplay verdadeiramente empolgantes e que também conta com muitas cenas do próprio filme para contar a sua história.

Não há nada que faça o fã da série gastar seu dinheiro para assistir um filme medíocre se ele pode ter uma experiência muito superior jogando o game, que aliás é vendido a uma faixa de preço abaixo do usual.

Ratchet & Clank é um fail sem tamanho. É inacreditável perceber o como conseguiram estragar um filme com um potencial tão grande como esse e com uma hipotética execução tão simples como deveria ter sido. Caso se interesse pelo filme, recomendo aguardar o mesmo ser transmitido por algum canal de TV a cabo, estar sendo vendido bem baratinho em alguma loja na internet, aguardar algum serviço de streming o disponibilizar ou mesmo aguardar o filme passar na “seção da tarde”. Acredite, vai me agradecer por isso depois.

NOTA: 3/10

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Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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