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Crítica – Punho de Ferro – 1ª Temporada

Altamente criticada pela imprensa especializada, que assistiu aos seis primeiros episódios antes de sua estreia em 17 de março, a nova série da parceria Marvel/Netflix “Punho de Ferro” já está totalmente disponível na rede de streaming com os seus 13 episódios.

Para quem nunca ouviu falar do super-herói criado nas HQs nos anos 70, a série adapta a história de Danny Rand, jovem filho de pais bilionários cujo avião cai no Himalaia, sendo o único sobrevivente. Ele é encontrado por monges da mística cidade de Kun Lun, que só se manifesta na Terra a cada 15 anos e se torna um mestre místico em artes marciais, que retorna para o ocidente após ser dado como morto há muitos anos.

Vindo na esteira de sucesso das outras três séries (Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage), o novo programa traz algumas novidades, como a atmosfera mais “clean” e “colorida” em relação às outras produções, que são mais sombrias e “sujas”. O lado marginalizado e mais urbano também foi deixado de lado, para dar enfoque ao Upper West Side, bairro nobre de Nova York (lar de inúmeras celebridades) e ao poder empresarial exercido pelas Empresas Rand, comandada pelos irmãos Ward (Tom Pelphrey) e Joy Meachum (Jessica Stroup).

Danny Rand ao lados dos irmãos Meachum

Infelizmente, mesmo com essa bem-vinda mudança de ares, os primeiros episódios de “Punho de Ferro” são extremamente arrastados, com pouca ação e muita falação – algo que até não seria um problema, já que Jessica Jones e Luke Cage também têm seus momentos arrastados, porém produzidos de forma mais elegante e com melhores diálogos.

Finn Jones até que tenta, mas não convence como um mestre do kung fu, em parte por causa das coreografias das lutas mal feitas, que são ou muito lentas ou cheia de cortes de câmeras para dar aquela “disfarçada” básica de antigos filmes de luta. E certamente esse é o maior problema de “Punho de Ferro”, o de não se preocupar em mostrar seu protagonista como um grande lutador com o poder de concentrar o seu chi (sua energia espiritual) para dar golpes devastadores. Seria como se Donnie Yen não mostrasse todas as suas habilidades e não fizesse nada na série de filmes “Ip Man”, o que deixa no ar uma sensação de “grande desperdício“.

Outra coisa que incomoda foi a falta da pegada no misticismo, como o herói é amplamente conhecido nos quadrinhos e que teve a bola levantada com o filme “Doutor Estranho” – leia nossa crítica – no ano passado. A Marvel/Netflix desperdiçaram uma grande oportunidade de abordar esse lado místico (até de mostrar mais da cidade de Kun Lun e o treinamento de Danny), que foi muito bem aceito pelos fãs na produção do Mago Supremo e que poderia ser um enorme diferencial em relação às outras produções das empresas.

Danny no dojo de Colleem Wing

Aliás, personagens desperdiçados não faltam em “Punho de Ferro“, a começar pelos irmãos Meachum, especialmente Ward, retratado como o típico “riquinho arrogante” que todo mundo adora odiar. A total falta de expressão do ator nos primeiros episódios é algo irritante, que me deixou na dúvida se ele era um “bom ou péssimo ator” por interpretar o personagem daquela maneira. Mas reviravoltas interessantes acontecem na metade da série, onde o ator finalmente parece “despertar” e começa a levar o personagem a um novo rumo – o que me levou a crer que ele é um ótimo ator realmente.

Mas todo esse potencial é desperdiçado pois o personagem é deixado de lado para focar na luta de Danny Rand contra a organização criminosa Tentáculo, que já deu a cara nas outras séries, especialmente em Demolidor.

Joy Meachum tem seus bons momentos, porém a personagem não é bem desenvolvida ao longo da série. O mesmo pode ser dito de Jessica Henwick como Colleen Wing, uma oriental que possui seu próprio dojo de artes marciais na cidade de Nova York, que parece meio perdida no roteiro – apesar de apresentar algumas boas e interessantes cenas de ação (outra personagem que poderia ter sido melhor aproveitada).

a personagem Colleem Wing poderia ter sido melhor aproveitada

E já que falamos em cenas de ação, para uma série focada em um mestre do kung fu, ela falha em mostrar lutas empolgantes ou “criativas”, como Demolidor conseguiu fazer – como esquecer aquela cena incrível do corredor/escadaria?

A falta de criatividade fica evidente justamente nas cenas em que tenta “imitar” Demolidor, com corredores fechados, inimigos urbanos e mestres ninjas , mas sem o mesmo impacto ou empolgação do Demônio de Hells Kitchen. Porém, ganha pontos ao apresentar uma luta Druken Fist, estilo popularmente chamado de Estilo do Punho Bêbado ou Boxe do Bêbado, um dos estilos de wushu tradicional (Kung-Fu) em que imita os movimentos de um bêbado – e brilhantemente retratado por Jackie Chan em alguns dos seus filmes.

Se Demolidor possui grandes inspirações do universo ninja, Punho de Ferro deveria ter se inspirado em clássicos do kung fu e ser a sua principal atração, como nos filmes do nosso saudoso Bruce Lee ou até mesmo dos vários filmes antigos protagonizados por Jackie Chan (bem antes dele ir para Hollywood e manchar sua carreira) e Donnie Yen atualmente. Há apenas duas ou três cenas em toda a série com inspirações no Kung Fu – a acima citada e a luta de espadas de Colleen contra uma chinesa, é outro exemplo (sendo que ambas poderiam ter sido apresentadas de forma mais épica e emocionante, filmes orientais como o O Tigre e o Dragão não faltam como boas fontes de inspiração).

cenas de luta, que deveriam ser o foco da série, não convencem

Nem mesmo a trilha sonora, que foi tão bem utilizada em Luke Cage, consegue convencer em “Punho de Ferro”, com temas de rap/hip hop que não combinam em nada com o tema. Na minha opinião, a trilha sonora deveria ter temas com uma pegada mais oriental – até mesmo os filmes antigos de Jean Claude Van Damme conseguiam utilizar uma trilha musical de forma mais coerente, e principalmente, empolgante.

Do elenco, quem se destaca mesmo é Rosario Dawnson, voltando mais uma vez como a enfermeira Claire Temple e que já está bem a vontade em sua personagem. Wai Ching Ho como Madame Gao, a velhota misteriosa e poderosa responsável pelo tráfico de heroína em Hell’s Kitchen (e que já apareceu na série do Demolidor), também brilha na tela, apesar de aparecer apenas algumas poucas vezes. Em Demolidor ela há havia mostrado ter poderes especiais, místicos, que poderiam ter sido mais abordados em Punho de Ferro.

a enigmática Madame Gao

Enfim, para finalizar logo e não mais me prolongar, “Punho de Ferro“, em minha opinião, ficou devendo muito com todo o potencial que tinha em mãos e que poderia oferecer aos fãs. Tem seus bons momentos, e não é tão ruim como alguns críticos chegaram a dizer, porém não tem o mesmo nível de qualidade das séries anteriores, sendo o maior problema a falta do enfoque em toda a essência pela qual o personagem é conhecido nos quadrinhos: o seu lado místico e cenas de kung fu épicas. Quem sabe em uma próxima temporada consigam acertar esses pontos. Mas enquanto isso, não vai demorar muito para vermos o herói novamente, que volta ainda este ano ao lado do Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage em “Os Defensores“, série que reunirá os quatro heróis.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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