Análises

Dante’s Inferno

“de boas intenções, o inferno está cheio”

Dante’s Inferno é uma das grandes apostas da Eletronic Arts para 2010, produzido pela Visceral Games (a mesma de Mass Effect e Dead Space) e lançado para Xbox 360, PlayStation 3 e PSP. O game é um hack’n slash ao estilo de Bayonetta, Darksiders e God of War e foi inspirado na épica obra A Divina Comédia, de Dante Alighieri,  que é dividida em três partes – Inferno, Purgatório e Paraíso – e é na primeira parte que o jogo se concentra. Fazer um jogo baseado numa obra do século XIV tem as suas vantagens, como não precisar pagar pelos direitos de uso ou ainda aguentar reclamações do autor de estar estragando sua obra.

Na obra o autor descreve o inferno como nove círculos de sofrimento localizado dentro da Terra. São eles – Limbo, Luxúria, Gula, Ganância, Ira, Heresia, Violência, Fraude e Traição. Governado por Lúcifer, o inferno torna-se mais profundo a cada círculo, pois os pecados são mais graves. Se você não gosta de ler, mas gosta de animes é só assistir A Saga de Hades dos Cavaleiros do Zodíaco, que você ficará por dentro do assunto. Ou melhor ainda, assista à animação baseada no game, Dante’s Inferno: An Animated Epic, produzida pela mesma equipe que fez a animação de Mass Effect: A Queda.

Se você tem uma visão ao estilo de Beavis e Butt-Head do inferno, ou seja, diabinhas gostosas em toda parte, esqueletos dançantes e muito metaaaal como trilha sonora, pode esquecer. O inferno de Dante é feio, sujo e mau. Porém rola muita putaria por lá. E tudo isso foi transportado para o game livre de qualquer tipo de censura e de qualquer pudor, com cenas violentas, sangue, religião e conteúdo sexual, como cenas de peitos de fora e “pênis demoníacos” (como relatou o órgão de censura ESRB – aliás, o jogo é classificado para maiores de 18 anos). Tá como o diabo gosta! Não só ele, mas muita gente por aí também, certamente vai gerar polêmica e será um prato cheio para os pastores de plantão que adoram colocar a culpa nos videogames.

Algo interessante que aconteceu durante a E3 de 2009, a Eletronic Arts para promover o game, contratou umas 20 pessoas e organizou um falso protesto contra ela mesma e o jogo. Claro que na hora ninguém sabia que era uma campanha de marketing e várias pessoas acreditaram e veículos de comunicação publicaram textos e matérias sobre o “protesto”. Algum tempo depois a Eletronic Arts revelaria a “pegadinha do malandro”. Mas o seu falso protesto não agradou muito aos cristão católicos (verdadeiros) que criticaram essa estratégia de marketing da EA.

Mas de qualquer forma, com ou sem protestos o jogo foi lançado, e nele você assume o papel de um veterano das Cruzadas que deverá ir até as profundezas do inferno, lar do Coisa Ruim, em busca de sua amada e encarar todos os pecados cometidos durante sua vida. Gostou? Então continue com a gente.


Bem-vindo aos nove círculos infernais

Você é Dante, um veterano da Terceira Cruzada, que após encarar o seu destino com a própria Morte, busca libertar a alma da sua amada Beatrice, que foi capturada pelo Satã, que quer se casar com uma alma pura e assim se libertar do Inferno, para então tentar assumir o Trono de Deus. Mas a tarefa não será das mais fáceis, assim que começa a perseguição, Dante terá que enfrentar os piores monstros e criaturas maléficas e adentrar os nove círculos do inferno para salvar Beatrice. Além disso nosso herói terá que enfrentar os seus próprios pecados, os da sua família e os seus crimes de guerra. Veja abaixo uma lista dos personagens do game:

Personagens

Dante Alighieri – O protagonista do jogo, um cavaleiro templário da Terceira Cruzada. Diferente do Dante da Divina Comédia, que era fraco e tímido, esse é forte e hábil no manejo de armas e magia, além de ter um passado horrível. Possui duas armas, a Foice da Morte e uma Cruz pertencente a Beatrice.

Beatrice Portinari – A noiva falecida de Dante, que será usada pelo capetão como um caminho para ele escapar do inferno. Ela junto com o pai de Dante foram mortos antes de Dante voltar para Florença. Ela parece ter alguma ligações com Lúcifer e Virgil.

Publius Vergilius Maro (Virgil) – O espiríto de um poeta falecido que age como um guia para Dante (semelhante ao seu papel na obra), explicando cada um dos círculos do inferno e seus propósitos. Todo o seu diálogo vem do poema original.

Habitantes do Inferno

Charon – O barqueiro dos mortos. Embora ele seja fisicamente incapaz de atacar diretamente, devido à sua ausência de membros e o seu corpo em forma de barco, ele pode jogar para fora aqueles que ele proíbe de viajar a bordo dele.

Minus – O juiz temperamental e cínico dos mortos e guardião do Limbo. Minos aparece como uma meia-serpente, meio humano/demônio, com uma grande coroa na cabeça. Apesar de cego, seu olfato permite-lhe determinar o círculo em que uma alma condenada será colocada.

Cleópatra VII Philopator – A rainha do Egito antigo, agora transformada em um demônio gigante após a sua morte. Ela é a guardiã do segundo círculo do Inferno, onde os luxuriosos são punidos. Ela também é extremamente narcisista, mas os outros demônios conseguem ver como ela é verdadeiramente repugnante.

Marco Antônio – O político romano e apoiador de César, que cometeu suicídio com a amante Cleópatra. Corrompido pelos poderes do inferno, ele está armado com uma grande espada e um escudo romano e com um corpo todo desfigurado.

Cerberus – O cão demoníaco de três cabeças que guarda o terceiro círculo, o da gula. Cerberus aparece com inúmeros outros vermes saindo de cada uma das suas cabeças. Apesar de ter as pernas da frente, o demônio está completamente imóvel pois está preso no chão.

Plutus – Não é o cachorro do Mickey, e sim o deus caído da riqueza. Plutus aparece como uma estátua viva dourada com diversas pedras azuis em seu corpo. Ele é adorado pelos fantasmas condenados ao quarto círculo, a ganância.

Alighiero – O pecaminoso pai de  Dante, Alighiero é culpado dos pecados da gula e ganância. Não era um pai exatamente afetuoso, batia na mulher e no filho, entre outras coisas. Foi assassinado por um assaltante desconhecido e tem seu pingente de ouro empalado no olho direito. Lúcifer o transformou em um monstro e prometeu-lhe 1000 anos livre do tormento e uma horda de ouro, com a condição dele matar seu próprio filho.

Phlegyas – Um semideus antigo que caiu em desgraça depois de ser morto por Apollo. Foi transformado em uma besta demoníaca e condenado ao quinto círculo do Inferno, a raiva, como punição por incendiar o Templo de Delphi.

Francesco Portinari – Um templário e irmão de Beatrice. Francesco era amigo de Dante durante as Cruzadas. Beatrice confiou a Dante proteger o seu irmão, mas ele acabou morrendo durante as Cruzadas e foi punido no inferno por sua matança de muçulmanos e teve todo o seu corpo desfigurado. Agora um demônio, ele aguarda ansiosamente a oportunidade de matar Dante, que ele culpa pela sua morte.

The Malebranche – Um grupo de demônios liderados por Malacoda, que guardam o oitavo círculo do Inferno, a fraude. Eles mantêm as suas funções do poema original, como torturadores daqueles que têm enganado os outros.

Lúcifer – Satã, o capetão, o cramunhão, demo, tinhoso, coisa-ruim entre outros apelidos. O antagonista central do jogo, Lúcifer capturou a alma de Beatrice momentos depois da sua morte, como parte de um plano para escapar do inferno. Possui várias formas, mas o seu corpo real é gigantesco, preso em Cocytus, um lago congelado feito de suas próprias lágrimas.

Outros personagens

Bella Alighieri – A piedosa mãe de Dante, que era espancada e abusada por seu marido, até que finalmente se suicidou. Ela está presa no sétimo círculo do Inferno.

O Assassino – um assaltante desconhecido que assassinou o pai de Dante e Beatrice. Possui uma ligação com Dante.

The Bishop – um bispo que engana Dante e os outros cruzados a pensar que serão perdoados por todos os seus pecados por terem participado das Cruzadas. Tanto Dante e Francesco percebem as falsas promessas e os encontros com o sobrenatural do bispo.

Morte – A Morte em pessoa. Aparece momentos depois que Dante morre nas Cruzadas, com a intenção de puni-lo por seus crimes.

O jogo possui uma mecânica muito parecida com a de God of War, com visão em terceira pessoa e ação intensa com vários combos.  Dante pode usar dois tipos de armas para dilacerar os montros e demônios: a Foice da Morte, com ataques velozes e fortes e a Cruz de Beatrice, que em contraste da Foice, são mais suaves e cheios de luz.

A jogabilidade é bastante variada e fluída, com 60 fps constantes sem slowdowns e com batalhas todas bem amarradas, fluentes e dramáticas. Além das armas, você também pode atacar com vários tipos de magias, que podem ser usadas através de uma barra de magia e que são excelentes para exterminar as criaturas quando estamos cercados.

Algo bem legal que a Visceral Games colocou durante os combates é a opção de você poder escolher o destino dos demônios que você enfrenta, escolhendo uma morte violenta, ou absolvê-lo com a força da luz. Conforme suas escolhas você ganhará Holy ou Unholy Experience, que servem para desbloquear novos e poderosos ataques para as suas armas. Os pontos de Holy servem para a Cruz de Beatrice enquanto que os ponto de Unholy servem para a Foice da Morte. De certa forma é uma luta entre o bem e o mal existentes dentro de Dante. Além de monstros e criaturas demoníacas, você também vai encontrar pessoas pelo caminho que aguardam pelo seu julgamento, algumas delas figuras históricas.




Mas não é só de combates que o jogo é feito, há bastante exploração pelos cenários,  alguns puzzles básicos, armadilhas mortais, escalar paredes e várias plataformas para serem puladas. Existem vários itens espalhados por todo o jogo que podem aumentar os seus atributos e deixá-lo mais forte, como as Relics. Os inimigos são bem variados e distintos, cada círculo do inferno possui suas características únicas assim como hordas de criaturas infernais associadas a cada fase. Você irá encontrar monstros de todos os tipos e tamanhos, alguns bem bizarros e grotescos, como os bebês com lâminas afiadas no lugar das mãos, que soltam um grito arrepiante quando mortos. Destaque para os chefes de fase, que são bem estruturados e oferecem um bom desafio, ao contrário do restante dos monstros, que são em sua maioria fácil de se matar.

Como finalizações sangrentas estão na moda, Dante’s Inferno também não poderia deixar de ter o seu, bastanto pressionar um certo botão num determinado momento para assistir a uma cena espetacular e sangrenta de seu personagem destruindo o inimigo.

Visualmente o jogo não usa toda a capacidade gráfica disponível, sendo outros jogos já lançados mais bonitos e refinados, mas com certeza possui um aspecto único de um ambiente de terror que irá chocar os desavisados.

Os cenários são escuros e sombrios, recheados de torturas, dor, sofrimento e agonia. Em todos os círculos é possível ver corpos empilhados agonizando, pessoas presas nas paredes, empaladas em estacas no chão, corpos em chamas gritando de dor, almas penadas gritando ou gemendo frases relacionadas aos pecados que cometeram. O jogo também possui um forte apelo sexual, como no círculo da luxúria, em se pode ver almas penadas de mulheres com seios a mostra, corpos entrelaçados e até em posições sugestivas. Cenários com órgãos humanos e chuvas sangrentas, rio de sangue fervente e outros detalhes tenebrosos aguardam pela passagem de Dante.Para ajudar a desenvolver a história temos cutscenes em alta definição realmente muito belas e detalhadas. Temos também sequências cinemáticas durante o jogo, mas que não são tão bem produzidas, além de algumas cenas animadas, com um visual bem pobrezinho.

A música ambiente conta com temas orquestrados que combinam com os cenários angustiantes e bons efeitos sonoros como gritos, gemidos, lamúrias e sons das criaturas, magias e armas. A dublagem é boa, mas não há grandes destaques, cumprindo o seu papel, apesar dos diálogos não serem muito criativos e cheios de clichês. Algo que incomoda bastante é a câmera ser fixa, não podendo ser controlada pelo analógico como outros games, e que por vezes pode atrapalhar durante os combates, ou para pular em plataformas e escalar paredes.

“No inferno os lugares mais quentes são reservados

àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise.”

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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