Análises

Disgaea D2: A Brighter Darkness

Se você sente saudades dos RPGs táticos ao estilo dos clássicos “Shining Force” e “Final Fantasy Tactics“, então “Disgaea D2: A Brighter Darkness” é o jogo que você pediu aos céus. A série “Disgaea” nasceu no PS2 em 2003 e desde então já angariou uma enorme quantidade de fãs pelo mundo. “D2” é o terceiro título a aparecer no PlayStation 3, lançado em outubro de 2013, exclusivamente para o console, no mercado ocidental.

Para marcar os 10 anos da série, D2 traz os três personagens principais do jogo original, assim como o sistema de jogo clássico de estratégia de tabuleiro – mas com alguns toques de modernidades, visual típico dos animes japoneses e um enredo e personagens recheados de bom humor que farão você dar muita risada. Características essas já marcantes na série, que inclusive ganhou versões em animes e mangás devido ao grande sucesso do game. D2 não chega a ser um título inovador ou revolucionário, pega muita coisa “emprestada” dos jogos anteriores, mas ainda assim pode gerar horas de diversão. Nos acompanhe abaixo e veja o que achamos dele.

Humor afiado nas profundezas do inferno

O trio que marcou presença no jogo original de 2003, Laharl, Etna e Flonne, está de volta ainda mais engraçado e carismático do que nunca. Laharl é o demônio líder do submundo, que ocupa o posto de “Overlord“, antigamente ocupado por seu pai, Krichevskoy. O problema é que Laharl não passa de um garoto com complexo de Justin Bieber, ele é impulsivo, arrogante e possui aspirações de grandeza, e os outros demônios não respeitam a sua autoridade. Inclusive há um grupo que está tentando dar um “golpe de estado” para tirá-lo do poder e substitui-lo por outro governante mais merecedor. Esse mesmo grupo culpa Laharl pelo aparecimento de Flores Celestiais no Submundo, mudando a atmosfera infernal do local.

Junto a ele temos Etna, uma garota-demônio que o serve, mas que vive implicando com o chefe. Ela é manipuladora e está sempre em busca de aumentar seus poderes. E para fechar o trio maravilha temos Flonne, um anjo caído na forma de uma doce e inocente menininha que acredita no poder do amor, mesmo entre os demônios, fato esse que incomoda ambos Laharl e Etna. Ela é fã de tokusatsus – séries live-action de super-heróis japoneses no estilo Jaspion ou Power Rangers.

Esse trio será responsável pela maioria das partes cômicas, com uma narrativa com humor escrachado e sem noção, com situações bizarrézimas como Laharl acordando e descobrindo que mudou de sexo, o que vai gerar situações bem engraçadas, principalmente ao lado de suas duas companheiras. Se o humor era um fator que você apreciava nos games antigos, fique tranquilo que ele foi mantido aqui com louvor.

O mais completo jogo de tabuleiro animado

Se você não conhece os RPGs táticos, eles são uma espécie de jogos de tabuleiro, como xadrez, com visão isométrica, em que os personagens se movimentam em blocos e as ações envolvem muita estratégia. Apesar do visual infantil, D2 tem uma mecânica de comandos bem complexa e variada, mas que com o tempo podem ser facilmente absorvidos. Os combates seguem o esquema clássico de turnos, em que o jogador realiza suas ações – movimentação, ataque ou defesa – e então passa a vez para o oponente.

Os cenários influem diretamente na ação das partidas, com terrenos que variam a movimentação dos personagens, assim como declives e montanhas. Inimigos em partes mais altas podem causar danos maiores, por exemplo. Ataques pelas laterais ou pelas costas também resultam em bons resultados, por isso saber se posicionar no campo de batalha é crucial para investidas bem sucedidas. Cada personagem tem suas características e habilidades, podendo evoluir seus atributos, ganhar novas magias e utilizar armas e equipamentos melhores.

Além da lista de golpes exclusivos, é possível combinar ataques com até quatro guerreiros, o que cria uma variedade de destruição ainda maior – e mais divertida, sendo que os personagens desenvolvem status de relacionamento, protegendo ou contra-atacando automaticamente pelo companheiro durante as jogadas. Além disso temos um sistema de “torre” (já existente em games anteriores), em que os personagens podem se amontoar em cima do outro e assim alcançar novas áreas ou formar novos e devastadores golpes especiais.

E se você não gostar da sua tropa, pode criar os seus próprios soldados infernais, com um nível de customização bem profundo (o maior da série até agora), como aparência, roupas, habilidades e até personalidade. Algo bem legal de se fazer aqui é o inédito sistema de montaria dos diversos tipos de monstros, ao melhor estilo Bizarrians do “Golden Axe“. Mostre aos monstros quem manda e use-os para aumentar sua movimentação e poder de ataque – monstrengos derrotados podem ser recrutados para as suas tropas posteriormente.

Visual de desenho animado

Visualmente, D2 é o que podemos esperar de um game da franquia: gráficos 2D ao estilo old school way, muito bem feitos e charmosos, com traços de animes estilizados. As cores são vibrantes e os designs artísticos dos personagens e monstros infernais é fantástico, assim como a sua variedade. As dezenas de  animações e efeitos de iluminação, especialmente de magias, se destacam na tela e dão o ar de modernidade, com um trabalho de primeira qualidade que impressiona. Porém, podemos perceber aqui que há muita reutilização dos games antigos e fica aquela sensação de “eu já vi isso antes“. Apesar do visual bonito e “fofuxo“, ele não impressiona ou revoluciona, sendo muito parecido com os títulos anteriores, mesmo os de PS2. Senti falta de animações em anime entre um capítulo e outro, que aqui são apresentadas por Etna na forma de “no próximo episódio“, mas com imagens bem simples e estáticas.

A trilha sonora tem os seus bons momentos, mas como a atmosfera do game puxa pelo lado cômico, os temas musicais acompanham esse ritmo, com músicas mais alegrinhas, felizes e descontraídas em sua maior parte. Mas depois de um tempo enche o saco escutar aquela música fofinha repetitivamente, e ela pode se tornar irritante rapidamente. O mesmo acontece com os efeitos sonoros, como as magias e o som do pulo do personagem nas cenas de interação com NPCs.

Todavia, a dublagem aqui, como de costume na série, é muito bem executada, tanto no original em japonês como no inglês. As vozes combinam com os seus respectivos personagens e são bem ativas, alegres e cheias de emoção, transmitindo a personalidade de cada um no momento e situação adequadas, sejam eles calmos ou turbulentos. Destaque para a voz fofinha de Flonne.

O maior defeito de D2 é não ter opção para partidas online, pois com a sua generosa lista de comandos, equipamentos e customização, seria perfeito para batalhas estratégicas apoteóticas com pessoas espalhadas pelo mundo – ou com o seu colega que tem um PS3. Pisada de bola bonita da Nippon Ichi, produtora do game, mas vamos torcer que lancem uma atualização futuramente para partidas online.

O jogo é imenso, possui dezenas de mapas diferentes que mudam aleatoriamente durante as partidas, e no mínimo você vai gastar umas 50 horas com ele. Uma nova partida fica disponível depois de terminado uma vez, como novos e raros chefões e itens, além de ser possível de evoluir seus personagens a níveis extremos, passando da casa das centenas. É impressionante como jogadores hardcore podem se tornar poderosos e versáteis, se tiverem tempo para se dedicar ao jogo.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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