Análises

Dungeons & Dragons: Chronicles of Mystara

“Dois anos se passaram desde a batalha na Torre Sable…
Depois de derrotar o demônio Deimos e trazer a paz de volta à República da Darokin,
os heróis agora viajam através das Terras Quebradiças para a terra de Glantri à procura de novas aventuras.
A história de Shadow Over Mystara começa…”

“Dungeons & Dragons: Chronicles of Mystara” é uma coletânea da Capcom contendo os games “Tower of Doom” e “Shadow over Mystara“, lançados para arcades lá no longínquo anos 90 (se você era rato de fliperamas naquela época, deve se lembrar deles), disponíveis nas redes online do PS3, Xbox 360, Wii U e PC, desde junho de 2013.

Seguindo o estilo de pancadaria 2D beat’m up, gênero esse em que a Capcom dominava tranquilamente, com uma pitadinha de RPG, os dois games já foram lançados num pacote especial para o Sega Saturn em 1999, mas apenas no Japão e com várias limitações, como multiplayer apenas para dois jogadores. Já “Chronicles of Mystara” traz uma edição remasterizada em alta definição, com multiplayer para até quatro  jogadores, em um universo mágico medieval dominado por magos, cavaleiros, demônios e dragões. Um gênero que começou com o clássico dos clássicos: “Golden Axe“.

No primeiro título, “Tower of Doom” (ToD), lançado em 1993, temos a disposição quatro classes de personagens para escolher: Fighter, Dwarf, Elf e Cleric. Cada um deles têm suas qualidades, defeitos e habilidades exclusivas, anões por exemplo, tem ataques físicos poderosos mas são lentos, já os elfos são rápidos e melhores com magias. Como foi lançado antes, ToD é bem mais simples, tem menos personagens, é mais lento e com visuais mais pobres. Ele não é um jogo ruim, pelo contrário, é muito bom, mas perde todo o brilho ao lado do irmão mais novo. Recomendo jogar ToD primeiro para sentir toda a evolução que o game passou.

Já a sua sequência, “Shadow over Mystara” (SoM) é muito mais superior, até atrevo a dizer que é o ponto de evolução máximo do gênero beat’m up, depois de tantos anos de aprendizado que a Capcom teve com “Final Fight“, “Captain Commando“, “Cadillacs and Dinosaurs“, “The Punisher” e o próprio ToD, que coitadinho, com SoM no pacote vai ser pouco lembrado. Apesar de seguir a estrutura consagrada do gênero de pancadaria, SoM possui elementos que o diferencia dos outros e o torna único. Os elementos de RPG permitem evoluir o seu guerreiro, deixando-o mais forte, e os personagens são bastante diferentes entre si, o que pode render experiências novas para o  jogador, seja usando a força bruta, mágicas ou agilidade.

Além das quatro classes já citadas, SoM adiciona mais duas, num total de seis (12 se contar que cada uma possui dois avatares): Thief e Magic-User, que oferecem novas mecânicas à estrutura do jogo. Esse grande variedade de personagens, e a possibilidade de se jogar com até quatro pessoas simultâneas (online ou offline – infelizmente não é possível misturar os dois), é onde reside toda a diversão – afinal, nada mais divertido que juntar os amigos para espancar goblins, trolls, quimeras, dragões e outros monstros e criaturas fantásticas. Ao selecionar diferentes personagens (dois jogadores podem usar o mesmo) o nível de estratégia aumenta, sendo que cada um deve seguir um método de acordo com o personagem escolhido, para tentar cobrir os pontos fracos da equipe.

Cléricos são usados como curandeiros ou para fortalecer os aliados, e conseguem destruir undeads instantaneamente, como esqueletos e zumbis. Os Anões têm grande força física e podem revelar itens extras nos baús. A Elfa é equilibrada no uso de magia e ataque físico, enquanto que o Cavaleiro tem ataques físicos poderosos e a arma com alcance mais longo do jogo, além de ter a melhor defesa com a sua armadura – é o ideal para você que é iniciante. O Mago possui magias devastadoras capazes de varrer todos os adversários da tela, mas é o fisicamente mais fraco do grupo. Ele possui uma magia de teleporte muito útil para escapar de ataques, ou até para ser usado em combos mais elaborados. É o personagem mais poderoso do jogo, mas difícil de se jogar, recomendado para jogadores experientes. E por fim, temos a Ladra, que é bastante ágil com técnicas acrobáticas, além de possuir habilidades como abrir fechaduras, detectar armadilhas e roubar itens dos inimigos, mas possui uma defesa bem baixa.

A jogabilidade é a mesma do arcade, com uma mecânica até meio complexa para o tipo de jogo, mas ela é precisa e eficaz. Há uma grande variedade de movimentos como deslizar, abaixar, bloquear e é até possível soltar shoryukens à la “Street Fighter”. Junto com as habilidades especiais, cada personagem tem mais ou menos uma quantidade de 20 golpes/combos que podem realizar, então definitivamente é bom ter uma lista dos golpes ao lado quando for jogar, se quiser aproveitá-lo ao máximo. Caso contrário vira um esmagador de botões. Além de tudo isso, existem itens especiais que podem dar habilidades e atributos temporários, assim como armas e armaduras (as melhores estão escondidas, tem que procurar bem, como a espada Dragon Slayer Sword).

Inspirado no famoso jogo de tabuleiro D&D, os games também oferecem ao jogador tomar decisões, como escolher uma travessia mais rápida, porém mais perigosa nas montanhas (é aqui que estão os melhores itens e grana), ou um trajeto mais longo e seguro, através de um rio. Há inclusive escolhas morais, como ajudar uma vila sendo atacada por goblins, ou ignorar a destruição e seguir em frente na sua missão. Alguns trajetos aparecem dependendo do personagem escolhido, o que colabora bastante no fator replay. A aventura não é muito longa, deve levar um pouco mais de duas horas para terminá-lo (o que é bastante considerando que é um jogo de arcade), mas esse número facilmente se eleva se você quiser explorar todos os cenários (são mais de 20, todos com passagens e itens secretos) e jogar com todos os personagens.

Os gráficos e trilha sonora estão entre os melhores do gênero, especialmente em SoM, praticamente idênticos aos originais, mas conta com alguns filtros para dar aquela “floreada” básica e deixar mais bonitinho para os padrões de hoje (mas nada como jogar com a tela do gabinete do arcade com scanlines e tudo para ter uma experiência nostálgica completa). Tanto os heróis como os inimigos possuem um grande tamanho na tela, com um design artístico impecável e uma boa gama de animações. Os cenários de fundo são igualmente belos, destilando toda a criatividade da equipe de produção da Capcom, que soube transmitir perfeitamente a essência do universo D&D. Os chefões são um espetáculo à parte, criaturas e guerreiros gigantescos que darão muito trabalho até serem derrotados. Aliás, a dificuldade em geral desse game é elevadíssima, desafio vocês a fecharem essa bagaça com apenas “UMA FICHA”! E sem usar truques, claro. Uma missão impossível, e se alguém disser o contrário, pode chamar de fanfarrão na cara dura! Apesar do alto grau de desafio, as “fichas” (continues) são infinitas, aí a coisa fica mais fácil né? E menos grandiosa.

A Capcom adicionou alguns bônus na forma de conquistas/troféus, ao se realizar dezenas de objetivos e missões, que vão lhe render moedas virtuais que podem ser trocadas por artes conceituais, trilha sonora, um modo de sobrevivência e até extras configuráveis, chamadas de “House Rules“, onde é possível alterar as regras de uma partida, como permitir vidas infinitas, desligar o uso de itens ou colocar o recurso “última ficha”. Morreu já era. Há diversas regrinhas que estimulam o interesse no jogo, deixando-o mais divertido e com jogatinas variadas e desafiadoras.

A Capcom só poderia ter facilitado mais os comandos, pois jogar num arcade era uma coisa, e jogar com um controle é outra. Os botões extras dos controles poderiam ter sido melhor aproveitados, especialmente na hora de escolher magias e abrir o inventário. O método usado é antiquado, confuso e de difícil acesso, especialmente quando a tela está cheia de inimigos ou em batalhas contra chefes, em que as ações precisam ser rápidas.

“To all bold adventurers, past, present, and future…
In a world of mystery and magic. In a world of…
Dungeons & Dragons” 

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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