Análises

Flashback

Flashback: The Quest for Identity” foi lançado em 1992 e fez um grande sucesso, especialmente nos consoles Mega Drive e SNES, pela sua história scifi cyberpunk, típica de filmes como “O Sobrevivente” e o “Vingador do Futuro“. Agora, 20 anos depois, o seu criador, Paul Cuisset, e parte da equipe original, resgatam o clássico numa reimaginação em alta definição para os consoles atuais. Com tantos remakes bons, como “Ducktales: Remastered” e “Casltle of Illusion“, será que “Flashback” esta à altura do original? Confira em nossa análise abaixo.

Nem todo flashback é nostálgico

A introdução do jogo mostra o protagonista, Conrad B. Hart, fugindo de uns caras nada amigáveis em uma moto espacial, sendo perseguido por uma nave que o derruba numa selva localizada na lua de Júpiter, Titã. Seus perseguidores, achando que se livraram dele, vão embora. Ao acordar, Conrad percebe que perdeu a sua memória, mas graças a uma gravação de si mesmo num holocube, ele sabe que está correndo perigo e que deve ir para Nova Washington, também em Titã, encontrar o seu amigo Ian para restaurar sua memória. Esse é apenas o início de uma trama envolvente, recheada de ação, suspense e espionagem, que segue de maneira bastante fiel o seu cenário original. Porém, o roteiro poderia ter sido melhor aproveitado, e o que funcionou no passado, não funciona tão bem agora. Apesar do conteúdo extra, que pode surpreender alguns veteranos, falta profundidade na trama e nos personagens, há várias lacunas que podiam ser preenchidas facilmente com a tecnologia atual, e criar uma atmosfera de tensão e suspense maior. Isso o game antigo fazia muito bem, apesar da tecnologia limitada.

os gráficos 2.5D estão bem trabalhados

Se você jogou o primeiro game, vai receber uma grande carga de nostalgia nas primeiras horas, mas infelizmente a sensação vai diminuindo a medida em que avançamos no game e as inevitáveis comparações acontecem. O “novo” Conrad teve sua personalidade mais trabalhada, assim como o seu visual e guarda roupa que ganhou aquela modernizada básica. O problema é que ele não tem carisma nenhum, e pior, é um xerox mal feito do nosso adorado Nathan Drake da série “Uncharted“, tanto no visual, como no senso de humor forçado, inexistente na versão original e que não combina de forma alguma com o contexto geral do jogo.

Outro problema é que os vários diálogos (com legendas em português) não receberam uma dublagem decente, faltando aquela carga emocional que nos fazem acreditar no que está acontecendo. O que temos aqui são vozes preguiçosas e sem alma nenhuma, que junto com o teor humorístico, não fazem um trabalho de maneira eficaz e afeta bastante o clima da aventura. O tipo “durão e silencioso” do original combina melhor do que o “engraçadão e canastrão” atual. Jogadores veteranos vão estranhar, mas os mais novos da geração Drake talvez até gostem, já que nitidamente, essas mudanças ocorreram para agradar ao público novo.

Nathan Drake deu uma folga para os tesouros antigos para se aventurar no futuro

Se a atmosfera do game sofreu alterações que não vai agradar a todos, por outro lado temos que reconhecer que os gráficos e visuais receberam um belo upgrade, com os ambientes originais remodelados com uma boa profundidade em 2.5D e muitas animações cutscenes para mostrar o desenrolar da história. O nível de detalhes impressiona, temos boas animações dos cenários, objetos e personagens e o uso da iluminação de luzes, sombras e cores estão muito bem empregados, passando a impressão de um filme de ficção científica. Aliás, ao jogar tive a impressão de estar assistindo ao novo “O Vingador do Futuro” do que jogando “Flashback”.

Apesar dos gráficos caprichados, o game perdeu bastante sua identidade e personalidade, seguindo agora um padrão genérico dos games atuais. O original tinha todo um charme pelos visuais estilizados, numa mistura de desenho animado com quadrinhos. O remake poderia contar com o uso da tecnologia Cell Shading para recriar essa atmosfera fantástica, mas o que temos é apenas “mais do mesmo“. Mas novamente, apenas uma opinião de quem jogou o original, jogadores da nova geração certamente se sentirão atraídos pela estética, que realmente é bem feita.

a movimentação de Conrad está mais fluída e com novos truques

A movimentação de Conrad antigamente – célebre pelo uso da tecnologia de rotoscopia – era meio travada, mas agora está bem mais fluída e eficiente, com comandos mais modernos e ágeis. É possível atirar em 360º, inclusive correndo, e se pendurar nas beiradas de plataformas está mais fácil, além de ser possível ganhar pontos de experiência para evoluir os atributos de Conrad e de suas armas. A clássica roladinha no chão para escapar de disparos continua presente, mas ele não fica agachado após o movimento, o que as vezes pode dificultar as coisas. Conrad pode ainda atirar granadas, disparar com um maior poder de fogo com a sua arma para destruir objetos maiores, usar escudos protetores e teleportes, e até se movimentar ocultamente para pegar inimigos distraídos.

O “Flashback” original ficou conhecido pelo seu alto grau de desafio e suspense, em que o jogador era forçado a descobrir o que tinha que fazer por tentativas e erros, isso sem contar as partes de raciocínio para resolver os quebra-cabeças. Infelizmente toda a notória dificuldade foi reduzida drasticamente, e agora é melzinho na chupeta, principalmente por causa do Óculos Molecular, equipamento que destaca no cenário objetos que devem ser interagidos para dar sequência ao jogo. Esse tipo de função pode funcionar em jogos com ambiente 3D, mas num jogo de plataforma 2D tira toda a graça da exploração (tem até mapa, coisa que antes não tinha). Além disso, há vários save points no caminho, então ao morrer Conrad volta em um ponto próximo. Felizmente alguns desses elementos facilitadores modernos podem ser desligados, para quem quiser uma experiência mais nostálgica.

pilotar essa bike espacial não é tão divertido quanto parece, basta subir e descer

Os complicados puzzles foram modificados para oferecer um desafio menor, e muito da parte estratégica que existia antes para eliminar obstáculos, foi retirada completamente, como atirar pedras para distrair guardas ou o uso de ratos-bombas. O teleporte, que já existia, poderia ser melhor aproveitado aqui, oferecendo elementos mais estratégicos, mas o seu uso não possui grandes mistérios. A inteligência artificial dos inimigos deixa bastante a desejar e matá-los não requer grandes estratégias (mesmo nos estágios finais), e encontramos alguns bugs, como colisões bizarras nas paredes, passar por cima de inimigos abatidos e ficar preso em canto de cenários.

O jogo oferece poucos extras e o fator replay é baixo. Temos o jogo original disponível no menu principal desde o início, que pode ser jogado através de uma cabine de fliperama em toda a sua glória rotoscópica.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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