Análises

Golden Axe: Beast Rider

Uma época muito especial na vida de qualquer gamer Old School por certo foi o período que engloba o fim da década dos anos 80 à meados dos anos 90. Esse foi o período em que os maiores clássicos da indústria do entretenimento eletrônico surgiram Não coincidentemente, foi o período da “batalha dos 16 bits”, em que Sega e Nintendo combatiam entre si pela supremacia.

Nesse período clássicos absolutos como Final Fight, Streets of Rage, Street Fighter 2, entre outros (me atenho por aqui pois a lista é enorme), surgiram gloriosos. Dentre tais virtuoses videogamelisticas, surge pelas mãos da Sega um dos games mais marcantes dessa época: Golden Axe.

Não vou aqui me focar nos games clássicos pois a Gamehall já possui a análise dos três games lançados para o Mega Drive. Falarei somente que, tirando o terceiro e último game da série clássica, os games foram sucesso absoluto, clássicos instantâneos, unindo um visual medieval, ação de qualidade, dificuldade na medida e um multiplayer divertidíssimo.

Pressupondo então que já leram as análises dos games aqui no site, ou então que já conhecem a série em questão, prossigo.

Dada tamanha carga histórica e nostálgica para com a série Golden Axe fica fácil saber o porquê de tanta comoção, preocupação e ansiedade dos jogadores quando a Sega anunciou estar trabalhando em um novo jogo que carregaria o nome Golden Axe, a ser lançado para Playstation 3 e Xbox360.

Se a preocupação era maior do que a ansiedade ou vice-versa não sei mensurar muito bem, pois a Sega anda errando a mão em proporção muito maior do que acertando. Posso estar equivocado, mas na atual geração só me recordo de um game verdadeiramente bom que carrega o nome da Sega tanto como produtora, quanto como distribuidora: Virtua Fighter 5 (lembrando que Bayonetta e Vanquish são somente distribuídos pela Sega). Esse fato, em contraponto com a alcunha de “matadora de clássicos próprios” que a Sega angaria, vide Sonic, Altered Beast, entre outros, faz ficar difícil confiar na produtora.

Eis que surge o game e  com o espírito de um gamer que vivenciou a época áurea, tanto da Sega quando de Golden Axe, vamos à análise de Golden Axe: Beast Rider, game esse que infelizmente, entra para o hall dos jogos de minha “coluna” “Trash Games”.

Antes de começar, digo desde já que o game possui tantas falhas, tantos pontos mal resolvidos, tantas arestas soltas, que não sei dizer se possível será tratar todas da maneira com que mereceriam, ou mesmo, não sei se será possível sequer citar todas, mas deixarei aqui o relato das principais mazelas do game. Isso por si só o motivará, por certo, a passar bem longe dessa bomba (mais uma) da Sega.

Sobre como desrespeitar um Clássico.

A ideia implícita no game é clara: repaginar e atualizar a franquia para tentar criar um clássico moderno, inspirado pelo clássico de outrora. Até ai não há nada de errado. O erro aqui foi na execução. Em absolutamente todos os quesitos em que a equipe de produção do game tentou inovar / modernizar ela falhou miseravelmente.

Comecemos a falar curto e grosso sobre a pior mazela do game: O game é somente single-player.

Golden Axe Beast Rider é um game somente para um jogador, tendo como personagem selecionável tão somente Tyris Flare. E sim isso é medonho. Absolutamente todas as minhas boas recordações com os games clássicos da série são jogando com meus amigos. E não me venha você dizer que as suas também não o são. Pense como seria interessante jogar um game da série, em especial um bom game para a atual geração de consoles, em um multiplayer online. Se você não havia pensado nisso, bom, eu pensei. Mas se não pensaste nisso não se preocupe, não estás sozinho, pois a Sega também não pensou.

Não ache você que Golden Axe Beast Rider sendo um game de ação single-player medieval tem alguma pretensão de se tornar um God of War da vida. Bom, de repente até tenha tindo, mas passou longe. A jogabilidade é lenta, desconjuntada e em nenhum momento consegue injetar no jogador a adrenalina que o game dos anos 80, um simplório game 2D, o conseguia.

Logo no inicio do game temos um tutorial para que conheçamos os comandos principais do game. Desde esse tutorial conhecemos as mazelas da jogabilidade do game. Dentre tais mazelas aqui reconhecíveis, temos controles que nem sempre respondem a contento, movimentação robótica dos personagens (bem robótico mesmo, padrão Tomb Raider PSX) e pouca possível variação de ataques. A equipe de produção até tentou inserir um pouco de tática às batalhas, para tal criou um sistema de defesa e contra ataques, entretanto, contraditoriamente à intenção inicial, o movimento de defesa é demorado e depois de estar em instância de defesa Tyris demora um bocado para voltar a poder se locomover livremente. Isso garante, em batalhas com vários inimigos, pancadas diversas devido a esse lapso de “tempo pós defesa”. Acredite, isso vai acontecer demais!

As magias, sinônimo de inovação e classe nos games clássicos, estão de volta em Golden Axe Beast Rider e funcionam de maneira similar a seus predecessores. A medida que avançamos no game ganhamos mais e mais magias, mesmo não sendo tão somente derivadas do fogo, o que é estranho dada a personagem principal. Tais magias devem ser utilizadas com parcimônia pois não é em “toda a esquina” que encontramos recarregadores de MP para aplicá-las. Seriam interessantes se tais magias fossem criativas, mas não fogem dos padrões que, provavelmente, o próprio Golden Axe clássico definiu para esse gênero. Dada a jogabilidade ruim do game como um todo, acabam perdendo o brilho que teriam. Uma pena.

Talvez o único momento de criatividade do game se dá na instância que cerne, e justifica, o subtítulo do game. Em Golden Axe: Beast Rider podemos nos utilizar de várias criaturas para, assim como no game clássico, “montar” neles e controlá-los, causando danos maiores nos inimigos. Entretanto, ao contrário do que ocorre nos games clássicos, em Beast Rider podemos nos utilizar de criaturas realmente monstruosas, muito maiores do que os personagens regulares.

Cada uma das criaturas possui seu próprio senso de humor, personalidade se preferir. Alguns são mais calmos, sendo assim mais fáceis de controlar. Outros são mais agressivos, dando trampo para aceitar suas ordens. Algo interessante e que daria, se o todo não fosse tão precário, um senso de imersão bem maior ao game.

Infelizmente temos problemas também no sistema de controle das criaturas. O controle dos bichos ou é travado demais ou é “solto” demais, fazendo com que controlá-los seja um desafio por si só, independentemente da personalidade da criatura. Outro problema é a sonorização do mesmos. Dependendo da besta que estiver controlando, a criatura aplica tão somente um golpe e executa o mesmo grunido toda a maldita vez que ataca. Se não acha que isso possa ser um pé no saco, experimente controlar o dragão cuspidor de fogo, o mesmo do original aliás, e passe 5 minutos jogando com ele. É insuportável. Por falar em comparação com o Golden Axe clássico, a única besta que o clássico e Beast Rider possuem em comum é justamente o dragão cuspidor de fogo.

Por fim vale dizer que, assim como no original, os inimigos também podem se utilizar das bestas para lhe atacar e ai a coisa fica violenta.

Um game de ação em que os controles não ajudam o jogador em nada, por consequência já não vale muita coisa, no entanto, continuemos a analisar os outros aspectos do game que são tão ruins quanto tudo o que já foi dito até aqui.

Visualmente o game não chega a ter nenhum grande demérito, o que se não é um elogio, pelo menos fica acima da média do resto do que o game oferece ao jogador. Com cenários que tentam a todo custo remeter o jogador ao nostalgismo dos games clássicos, por isso a utilização de poucas cores na construção dos mesmos, Golden Axe: Beast Rider peca principalmente por dois aspectos nesse setor.

O primeiro deles é a falta de criatividade dos cenários. Todos são extremamente sem vida, sem nada que chame a atenção para os mesmos, sem nenhum momento, ou mesmo nenhuma construção ao longo de todo o game que seja memorável. São cenários extremamente monótonos e insossos. Onde está a genialidade que foi capaz de dar aos jogadores cenários como a Turtle Island e a Eagle Island do primeiro game senhorita Sega?

O segundo dos aspectos em que Beast Rider peca no que cerne aos cenários é o desleixo técnico em sua construção. É inadmissível que um game a essa altura do campeonato possua a quantidade de paredes invisíveis que Beast Rider possui. Enfie uma árvore no caminho, uma parede, o Chuck Norris impedindo a passagem, qualquer coisa, mas não enfie zilhões de paredes invisíveis em um game pelo o amor de Zeus!

O design dos personagens é horroroso. Tomemos por exemplo o design da própria Tyris Flare. Como conseguiram pegar um design de uma guerreira bárbara sexy e deixá-la parecendo com a Lady Gaga?
Onde estavam com a cabeça quando desenvolveram o aspecto visual final de Tyris Flare para esse jogo?
Pior ainda, onde estavam com a cabeça quando aprovaram a criação desse design?

Os demais inimigos e personagens seguem a linha de Tirys, ou seja, sem nenhuma criatividade aparente. Já as criaturas são melhor concebidas, mas nada que não já tenhamos visto em outros monstros de games do gênero, tudo bem “clichezão” mesmo.

O que melhor se sai em questões visuais são mesmo as magias, mas que não chegam a impressionar tanto, afinal de contas os olhos do jogador já viram tanta mediocridade que as magias não vão salvar o game de ser achincalhado nesse aspecto.

As trilhas sonoras de Beast Rider até tentaram ser tão memoráveis quanto as trilhas sonoras de Golden Axe 1 e 2 o foram, mas até mesmo aqui Beast Rider falha miseravelmente. As composições do game são iguais aos cenários, insossas e sem graça. Nenhuma das faixas o deixará o jogador emocionado ou tenso suficiente dada a situação, tão pouco ficará na mente de alguém por anos a fio como as composições da série clássica o fizeram. Entenda, as músicas não são ruins, são tão somente “ok.” É como se você tirasse 60% exatos para passar de ano no colégio: para uns está ótimo, mas para os mais exigentes não.

Quanto aos efeitos sonoros, temos aqui o padrão para um game do gênero: Efeitos de magia, sons de espadas, gritos de dor e bravura. Nenhum demérito aqui, assim como nenhum elogio.

As dublagens não estão boas, com vozes sonolentas e com eventuais percas de sincronismo. Mas não devem ter se preocupado tanto com isso já que a história do game é bobinha e forçada.

Dentre tantas mazelas, acredito que a única coisa interessante em Golden Axe: Beast Rider sejam os desmembramentos e a sanguinolência do game. Durante as batalhas desmembramos os inimigos facilmente, o que é sempre muito bom em um game de ação com lâminas. Quem sabe no próximo game possamos desmembrar a equipe de produção inteira de Beast Rider, isso sim seria interessante.

No fim das contas, Golden Axe: Beast Rider é tão somente mais um game severamente ruim, cheio de falhas, ruim de se jogar, estranho de se olhar e insonso de se ouvir, que ostenta um desmerecido nome de peso do mundo dos games e que provavelmente por isso mesmo tem lá os seus defensores.

A Sega, conhecida por destruir seus próprios clássicos com reinvenções modernas dos mesmos, segue sua tendência, sua cartilha de lançar qualquer porcaria carregando o nome de uma de suas poderosas franquias do passado, desrespeitando assim não só o game clássico do qual o pedaço de mídia carcomida herdou o nome, mas desrespeitando os jogadores e a si mesma.

Eduardo Farnezi

De volta como contribuidor freelancer do site GameHall, um dos fundadores do não mais existente blog Canto Gamer, fundador do blog Gamerniaco e ainda atuante nos projetos do grupo Game Champz e Agência Joystick. Gamer por paixão, cinéfilo por vocação, leitor de mangás e HQs por criação e nerd pela somatória dos fatores. Acredita que os únicos possíveis cenários de apocalipse são Zumbis e Skynet e não sai para noitadas por medo do que Segata Sanshiro pode fazer se encontrá-lo.

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