Análises

Gran Turismo 2

Gran Turismo 2

No nicho de jogos de corrida, é possível dividi-los de uma forma bem genérica, com os jogos ao estilo Arcade de um lado e os famosos Simuladores de outro, cada qual com seus grandes representantes. Gran Turismo é uma das séries de simuladores mais conceituadas e bem sucedidas do mercado, que apesar de ter ganhado concorrência com o passar dos anos continua desempenhando com muita elegância e competência seu papel. Gran Turismo 2 (1999) é um dos excelentes jogos da Polyphony Digital que ajudou a consagrar a marca e, junto com seu antecessor, estabeleceu-se como um dos melhores jogos de corrida daquela geração.

O peso de um legado

Quando um game estoura e vira um sucesso tanto na crítica especializada quanto por parte dos fãs, imediatamente duas prováveis consequências são imaginadas, uma é a possível continuação do título e a outra é a pressão que seus desenvolvedores sofrerão durante seu desenvolvimento. Não é uma novidade ou exclusividade de determinados jogos e já vimos esse filme se desenrolar de várias maneiras distintas, com jogos tornando-se franquias famosas, casos dos clássicos Sonic e Mario, e alguns sucumbindo em desgraça por não conseguir satisfazer as expectativas ou por simplesmente serem muito ruins; Golden Axe Beast Rider é um belo exemplo disso.

Felizmente, a Polyphony Digital mostrou que Gran Turismo não foi apenas um tiro de sorte da desenvolvedora e sua continuação pode não ter superado o primeiro game em vendas, mas conseguiu melhoras (mesmo que sutis) na jogabilidade e gráficos, além de trazer uma generosa quantidade de conteúdo a mais, com pistas, carros e montadoras licenciadas.

 

O Gran Turismo que todos conhecemos

Para os que não conhecem (e existem gamers que não conheçam a série?), o início da jogatina de qualquer GT começa pela obtenção de licenças, que permitem o jogador a participar dos diversos eventos que o jogo tem a oferecer, com elas divididas em várias categorias, com um maior grau de dificuldade para conseguir adquiri-las dependendo da licença que tentar obter. Essas licenças são obrigatórias em Gran Turismo 2, pois além de ensinarem fundamentos da jogatina, como frenagem, controle nas curvas entre outros, como dito anteriormente, sem elas não é possível participar da maioria das corridas que o game disponibiliza, que além de terem uma variedade bem generosa trazem desafios na medida, graças as limitações impostas para poder participar dos eventos.

Por exemplo, além de exigir uma determinada licença, as corridas de Gran Turismo 2 impõe outras limitações, como carros com uma quantidade máxima permitida de HP (Horsepower), ou determinado tipo de tração onde somente carros 4×4 podem participar da corrida, além de muitas outras bem divertidas, como corridas somente para carros do estilo esportivo, sedans luxuosos, os famosos muscle cars e assim por diante. Essas diferentes exigências permitem que GT2 entregue um extenso modo carreira, com muitas provas a serem batidas, e, principalmente, jogatina divertida e variada para não cansar o jogador. A variedade não é limitada apenas pelas temáticas e exigências passando também pelos tipos de corridas que o jogador deverá superar, desde campeonatos por pontos corridos, a corridas de Rally e as famosas Endurance, com provas que chegam a durar 2 horas ininterruptas de jogatina; nessas horas é bom chamar um amigo para revezar no controle, como acontece com os pilotos de Le Mans.

A jogabilidade de GT2 permanece a mesma do game anterior, com algumas melhorias em relação à física e um controle maior dos bólidos. Os cálculos e refinamento feitos pela Polyphony Digital garantem um comportamento ainda mais realista dos veículos, respeitando suas características, como peso, tração e aerodinâmica, o que garante que cada veículo seja diferente na maneira de se pilotar; por mais parecidos que alguns carros possam ser sempre há uma peculiaridade. Essas diferenças estimulará a experimentação, como também os desejos pessoais de cada jogador, já que os mesmos se refletirão nas garagens, com cada jogador adquirindo os carros que melhor se ajustam a seu gosto e modo de jogar.

A física do jogo em si continua com um excelente trabalho, levando em consideração as limitações técnicas do Playstation. Os veículos respeitam todas as leis da física e cada um deles se comporta de forma diferente, dada suas características como peso, tração e potência, assim como as colisões com outros veículos e obstáculos, que diminuem a velocidade dos bólidos e, na maioria das vezes, o jogador acaba perdendo o controle do veículo. Alias, manter o controle de veículos mais potentes é outra tarefa que exige um bom treinamento, principalmente com os muscles cars, que possuem uma aceleração violenta e costumam “sair de traseira” nas curvas, dificultando bastante em relação aos carros japoneses e europeus. Outro ponto bacana da jogabilidade de GT2 é que ele não é tão proibitivo como em GT Legends, por exemplo, já que é possível adquirir alguns itens para ajudar bastante na hora das corridas, como pneus que derrapam bem menos do que deveria acontecer na realidade, não deixando a jogatina fácil demais, mas sem exagerar na simulação. Aos entusiastas e jogadores hardcores, não se preocupem, na hora de equipar seus carros com equipamentos melhores existem, em cada categoria, peças intituladas como “for professionals” (para profissionais), que elevam o grau de realismo na hora das corridas, exigindo também um fino ajuste dos carros antes de cada corrida.

No geral, o que podemos dizer é que Gran Turismo 2 era um dos melhores simuladores de corrida de sua época, com uma jogabilidade bem próxima do que vemos nos autódromos pela televisão e respeitando, é claro, as limitações técnicas do console da Sony, sem afastar os jogadores mais acostumados com o “relaxado” estilo Arcade, com peças que ajudavam a manter o controle e estabilidade dos carros.

Muito conteúdo

Além da mecânica de jogo divertida e bem próxima da realidade, Gran Turismo 2 tinha muito conteúdo e uma boa gama de opções na pré-corrida; opções que antecedem as corridas. O número de corridas era extenso e contava com todos os circuitos licenciados, além de oferecer vários eventos com limitações e temáticas distintas, como dito acima. Sim, as pistas se repetiam depois de certo tempo de jogatina, mas isso se deve mais a extensa duração do jogo (que pode durar semanas, dependendo da regularidade com que joga) do que a um número pequeno de trajetos, que além de serem todos licenciados traziam pistas oficiais de diversas regiões do globo, desde os EUA ao Japão.

A quantidade de carros era outro fator generoso, passando desde os carros usados, aos vendidos em concessionárias e os que são dados ao jogador como bonificação, ao vencer os eventos ou conseguir ouro em todas as licenças, por exemplo. A quantidade de veículos gira em torno de 650, um número muito expressivo para época principalmente por todos eles estarem licenciados, inclusive com alguns carros conceituais da época; os concept cars são, normalmente, carros que trazem designs e novas tecnologias ainda não usadas em carros. As suas montadoras também estão licenciadas e será possível avistar algumas bem conhecidas do público brasileiro, como a Fiat, Ford e Chevrolet, além de algumas clássicas dos Estados Unidos, citando, por exemplo, a famosa Plymouth, uma das divisões da Chrysler, entre muitas outras. Os quase 650 carros deram a Gran Turismo 2 o título de maior lista de carros antigos e novos em um único jogo de corrida na época, já que a variedade de veículos era impressionante, apesar da reclamações de alguns jogadores de que alguns carros apenas variavam no ano do modelo ou em suas versões, como o Ford Mustang e o Ford Mustang GT; cada carro, peça e montadora vinha com um pequeno texto explicando suas origens e especificações.

A generosa quantidade de carros também conta com uma boa lista de peças para modificações de “performance” dos carros, com peças destinadas a melhoria de desempenho em cada característica do carro, com câmbios com mais marchas, embreagens esportivas para trocas de marchas mais ágeis, pneus com melhor aderência, peças para motor e afins para melhorar potência dos bólidos e muitas outras. Dentro destas listas, há peças específicas para aqueles jogadores que querem uma experiência mais próxima da realidade, exigindo do jogador um conhecimento melhor em mecânica nas regulagens dos carros e maior pericia durante as corridas.

Está ai outro ponto que vale a pena destacar, que são as regulagens dos veículos, principalmente nas opções de pré-corrida. Dependendo das peças que comprar – normalmente as mais caras – é possível fazer regulagens para adaptar o carro aos vários tipos de circuitos, com diversas opções, passando desde há regulagem da suspensão, a calibragem dos pneus, relação das marchas e assim por diante, possibilitando aos jogadores mais dedicados um ganho de desempenho considerável. É possível testar as novas regulagens durante a pré-corrida, com a opção de fazer treinos livres na pista para reconhecimento do trajeto e testes do carro.

As modificações, no que diz respeito ao visual dos bólidos, são bem limitadas, passando da escolha de cor na hora de comprar os carros além de poder alterar o tipo de roda, há uma modificação que deixa os carros como estamos acostumados a ver nos carros de corrida pela televisão, com pinturas personalizadas cheias de patrocinadores; infelizmente, essa modificação somente está disponível para um limitado número de carros.

Simulação x Arcade

Gran Turismo 2 vem com dois CDs, um intitulado “Simulador” e o outro “Arcade”. O CD de simulação abrange o modo carreira, com todos os elementos que expliquei acima. Já o CD Arcade traz uma jogatina mais direta e rápida, sem a necessidade de ter de comprar carros usados e adquirir licenças, sendo mais voltado para jogar com um amigo no modo multiplayer em tela divida. Muitos carros e pistas já vêm liberados, a jogabilidade é mais flexível não exigindo muitos preparativos e garantindo a diversão de todo mundo, além de um modesto sistema de danos mecânicos, que se limita a desgaste dos pneus e danos nos eixos do veículo, fazendo os carros puxarem mais para um lado e ficarem desalinhados; o desgaste dos pneus aparece nas provas do tipo Endurance no modo carreira. Fora isso, o que vale destacar do CD Arcade é a possibilidade de usar os carros da garagem e uma quantidade maior de músicas, já que o conteúdo do disco é menor dando mais espaço para a trilha sonora.

Gráficos a lá Gran Turismo

Como todo jogo da série GT, os gráficos de Gran Turismo 2 se destacam mesmo no modesto hardware do Playstation. Todos os carros possuem modelagens condizentes as suas contra partes reais, com as curvas e detalhes específicos de cada carro, cobertas por excelentes texturas, que presam por uma alta resolução com um efeito bacana para reproduzir os diferentes períodos do dia, com texturas mais cheias de reflexos a noite que de dia. Os cenários também são bem produzidos, com boas texturas e fidelidade aos diversos circuitos ao redor do globo, ressalvado somente o entorno das pistas com paisagens bem simplórias e torcedores praticamente irreconhecíveis, o que é compreensível, já que cada pista conta com seis carros incluindo o jogador, no mesmo nível de detalhes. Há mais alguns efeitos, como de luz e sombra que, mesmo sendo estáticos, são reproduzidos com boa fidelidade. O mesmo não da para dizer da fumaça ao derrapar ou fritar pneus, que peca pelo pequeno volume, mas, mais uma vez uma situação compreensiva, já que o jogo da Polyphony Digital faz o Playstation suar bastante na hora de rodar o jogo e tudo isso é apresentado ao jogador sem quedas de quadros na hora da jogatina.

A parte sonora mantém o alto nível, principalmente na trilha sonora que conta com boas músicas, como The Cardigans – My Favorite Game, Garbage – Paranoid, Soul Coughing – Super Bon Bom entre outras. O ronco dos veículos, para não ficar para trás, conta com uma boa caracterização que consegue lembrar bem suas contrapartes reais, apesar de mais uma vez cobrar seu preço no hardware da Sony que impede um grau de fidelidade maior. Os sons diversos, como derrapagens, batidas entre outros mantém o belo trabalho do estúdio japonês. A título de curiosidade, Gran Turismo 2 teve pequenas variações na trilha sonora conforme a região em que foi lançado, com diferentes seleções de músicas, como por exemplo a música de entrada que é diferente na versão americana (My Favourite Game) para a versão japonesa (Moon Over The Castle), sendo que a versão europeia recebeu um remix da música My Favourite Game.

 

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