Análises

Half-Life

Half-Life

Existem jogos que conseguem ganhar carinho especial dos gamers, outros são aclamados pela crítica especializada, alguns viram Cult, porém são poucos os que atingem um patamar maior e tornam-se épicos, verdadeiros clássicos que quebram paradigmas e estipulam a tendência de toda uma geração, caso de jogos como Super Mario Bros 3, GTA 3, Battlefield 1942 entre outros épicos, que também é a categoria que se encontra Half-Life, um jogo que saiu em 1998 por uma empresa até então desconhecida e que realizou todos feitos citados acima, quebrou paradigmas, elevou o patamar de qualidade de todo um gênero e obrigou os desenvolvedores a se reinventarem com o risco de serem ofuscados pelo sucesso da Valve.

 

Encarne Gordon Freeman

Você começa o jogo em um trem, com destino a Black Mesa, um complexo localizado no Novo México, EUA, onde várias pesquisas científicas de todos os gêneros são realizadas. Você irá encarnar Gordon Freeman, um cientista formado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), que trabalha na área de pesquisa de materiais anômalos e segue para um de seus trabalhos mais importantes de sua carreira, uma experiência com um cristal misterioso que fora levado a Black Mesa (não vou entrar em detalhes para não dar spoilers); para nota, anômalo significa algo fora do comum, que contraria a ordem natural das coisas, em resumo, algo anormal.

Com alguns pequenos empecilhos no caminho de Gordon, como alguns cientistas duvidando de sua capacidade, nosso herói finalmente chega ao local da experiência. Quando tudo parece estar indo bem, algo dá errado no experimento com o cristal e diversas explosões começam a ocorrer em Black Mesa, o que acaba abrindo vários portais por todo o complexo, possibilitando a invasão de seres alienígenas de outra dimensão, dando início a uma das aventuras mais eletrizantes do mundo dos games.

Com essa introdução, é preciso ressaltar que tudo isso se passa no controle e perspectiva do herói sem nunca tirar o controle do jogador. Em uma época em que os jogos de tiro em primeira pessoa apenas limitavam-se a copiar as fórmulas de Quake e Doom, Half-Life inovou e trouxe uma nova maneira de trabalhar no gênero. Chega de cenas de corte, histórias banais, ambientações demoníacas ou simples tiroteios sem muitas explicações, tudo isso é deixado para traz para entrar em cena uma nova maneira de encarar os fps, com uma ambientação realista, história empolgante e trazendo mais perguntas que respostas, puzzles, momentos de muita ação com tiroteios e fugas frenéticas, tudo isso mesclando com elementos de exploração, aventura e até mesmo terror, com os marcantes alienígenas proporcionando um ar sombrio em dados momentos da aventura de Freeman.

A história do game é simplesmente fantástica e iniciou um dos melhores enredos já vistos no mundo dos games, com uma trama que se arrasta até os dias atuais e jogadores cada vez mais sedentos por respostas em um possível Half-Life 3, que se seguir a cartilha da Valve, deve inovar e trazer, novamente, mais perguntas que respostas. Alias, esse sempre foi um dos maiores trunfos da série, realmente colocar o jogador na pele de Gordon, mostrar somente o que Gordon vê, sem cenas de corte para darem maiores explicações, o jogador somente terá as respostas que Gordon recebe durante a trama, o que acaba tornando a aventura muito mais profunda e cria um laço de afeição com o personagem mesmo que ele não diga uma única palavra durante toda a aventura, deixando a nós que estamos no controle de Gordon tomarmos nossas próprias conclusões do que vimos.

Muito do sucesso dessa nova abordagem elaborada pela Valve também se deve a excelente trama, que não se limita apenas aos diálogos com os cientistas e seguranças (que se tornam grandes monólogos muito bem dirigidos já que Gordon não diz uma única palavra), mas a pequenas dicas encontradas durante toda a aventura, como as misteriosas aparições “de uma certa pessoa de terno azul carregando uma maleta”, que sempre aparece em locais inusitados e desaparece da mesma maneira que veio, sem nenhuma explicação ou até mesmo os diálogos entre soldados que buscam pela cabeça de Freeman. Toda a aventura, de certa forma, apresenta a trama para o jogador com detalhes sutis que fazem o jogador pensar, questionar-se e deduzir o que está acontecendo, por que ele está sendo caçado por soldados americanos, da onde vieram os alienígenas, quem é o misterioso homem de terno azul. Os diálogos com os cientistas e demais personagens do game servem apenas para trazer algumas poucas respostas e aumentar ainda mais as perguntas, algo que vem se repetindo em toda a série, como no mais recente Half-Life 2: Episódio 2, que não vemos a hora de descobrir o que virá a seguir.

É preciso deixar claro que com essa abordagem, inovadora para época, Half-Life abriu as portas para que excelentes games como Borderlands 2, Bioshock, Far Cry 3 entre outros entrassem em cena, mostrando que o gênero de FPS poderia trazer tramas e jogos muito mais profundos e criativos, com aventuras mais dinâmicas e diversificadas do que era visto na velha e defasada fórmula criada por Doom e aprimorada com Quake, que mesmo sendo divertida já mostrava claros sinais de velhice.

Para finalizar o quesito história, esse é um game que precisa ser apreciado por completo, portanto aos jogadores que cresceram jogando Call of Duty, não tenham pressa de terminar a aventura, saboreia de forma plena, tentando captar todos os detalhes da aventura e história, buscando dicas sobre a trama em todos os cantos do cenário, tentando encaixar as pistas que lhes foram dadas, somente assim você conseguirá aproveitar ao máximo o que o universo que Half-Life lhe oferece.

 

Aproveite sua estádia em Black Mesa

Para uma grande trama é necessário um grande cenário, e a Valve não decepcionou, Black Mesa é um complexo tão bem trabalhado que deixaria até mesmo a famigerada Área 51 com inveja. Desde ao trem no início do jogo, mostrando as diversas áreas das instalações de Black Mesa, aos banheiros e vestiários, instalações diversas para funções diversas, como a área de tratamento de água, máquinas enormes e pesadas para lidar com materiais radioativos, silos gigantes, laboratórios de última geração, tudo contribui para que a experiência do jogador seja a melhor possível.

A variedade de cenários é enorme, rica em detalhes e nunca se repete, sempre haverá algo novo para ver, sejam com áreas mais industriais aos cenários ao ar livre, como a represa e as montanhas próximas aos futuristas e bem equipados laboratórios de Lambda. Aventurar-se em Half-Life é algo único, uma experiência extremamente agradável e que mostra como tempo, trabalho duro e dedicação fazem a diferença no final, trazendo o jogador para dentro de Black Mesa, e mais importante, deixando a clara sensação de que se Black Mesa realmente existisse, seria exatamente dessa maneira, já que a transição desses cenários tão ricos em detalhes e diferentes entre si nunca soa forçado ou “deslocado”, casando perfeitamente uns com os outros e dando ainda mais personalidade a aventura de Freeman.

Pé de cabra, aliens, soldados e muita diversão!

Para coroar os excelentes cenários e a história de primeira, a aventura em si de Freeman é excelente. Além de percorrer por cenários variados, conhecer mais sobre a trama, você deverá passar por inúmeros desafios, alternando em momentos de exploração, situações típicas de games de plataformas, tensão e terror, alguns puzzles e partes de pura adrenalina, com fugas e tiroteios frenéticos.

É até curioso ver como tantas situações, que a principio parecem ser incompatíveis, se completaram tão bem em Half-Life. Cada ponto da aventura de Gordon apresenta algo de novo, não somente no cenário, mas também na jogatina, com todas as situações acima se revezando para divertir e empolgar o jogador. E o mais impressionante, é que não é estranho para o jogador sair de um momento de exploração e situações típicas de games de aventura/plataforma – como escalar uma montanha próxima ao laboratório de Lambda ou enfrentar alguns dos puzzles do game – para logo em seguida cair em um tiroteio e perseguições frenéticas, como quando os soldados americanos invadem Black Mesa com arsenal pesado, desde tanques, helicópteros há canhões e tudo que se tem direito.

Parte dessa jogatina dinâmica, que consegue variar em momentos agitados a mais calmos se deve aos controles e aos próprios inimigos do game. Aos controles, por serem coesos e de fácil domínio, não demorando muito para que qualquer jogador se acostume com teclado e mouse, que deixa todos os botões necessários para jogar próximos e de fácil acesso, não sendo necessário, por exemplo, parar de olhar para tela para procurar/apertar uma tecla longe dos botões de movimento do personagem (W, A, S e D), como acontece em alguns jogos atuais. Esse mapeamento de teclas vingou tão bem em Half-Life e Counter Strike, que praticamente virou um padrão para os jogos que se utilizam da combinação Mouse + Teclado.

O segundo fator responsável pela dinâmica aventura são os inimigos, que variam muito e exigem abordagens diferentes, sem contar que suas presenças trazem um ar totalmente diferente ao ambiente. Lutar contra soldados exige movimentação constante do jogador, tendo em vista que a inteligência artificial faz até que um bom trabalho, com os inimigos tentando flanquear o jogador e atirando granadas e bombas em sua direção, ao passo que enfrentar Zumbis e Headcrabs, por exemplo, traz momentos mais sombrios e cadenciados, onde a precisão é necessária para evitar desperdiçar munição, sem contar os rastros de sangue e corpos que acompanham as criaturas. Para lidar com os diferentes inimigos, o jogador contará com um arsenal grande, variado e que permitem diversas abordagens, passando desde as clássicas pistolas e metralhadoras a algumas mais criativas, como armas que soltam raios e até mesmo pequenas criaturas que quando atiradas atacam tudo a sua volta, inclusive até mesmo o jogador, caso não tenha cuidado. Com tantos elementos refinados e na dosagem certa, é impossível não se divertir com a aventura de Freeman, mesmo não sendo um fã de jogos do gênero.

 

Gráficos de ponta

Os gráficos de Half-Life eram de alta qualidade, com cenários, inimigos, veículos e efeitos diversos bem trabalhados e com muitos detalhes. Os personagens e inimigos do game possuíam uma ótima animação para época, com boas texturas e muitos detalhes, principalmente nos aliens, que esbanjavam carisma e personalidade. Os cenários, além de diversificados, contavam com texturas muito bem feitas, vários detalhes como xicaras de café, lápis, canetas, extintores de incêndio, tudo para deixar os cenários ricos e mais realistas, sem contar que o jogador podia interagir com alguns, como apagar as luzes de alguns laboratórios no início do game e ver a reação dos personagens, algo nunca antes visto em um game até então. As armas seguiam o alto nível de qualidade, com excelentes modelagens e um cuidado especial, o que é compreensível, já que fica a mostra o tempo todo na tela, e sem deixar de lado os efeitos diversos, como explosões, raios, água, luz, sombra, entre muitos outros, dando vida e charme aos belos cenários de Black Mesa.

As dublagens dos personagens foram muito bem feitas e era preciso, já que o personagem não diz uma única palavra; algo que persistiu em todos os games da série e que não é, nem de longe, um fator negativo. A trilha sonora é incidental, aparecendo apenas em momentos chaves para trazer mais tensão ou aumentar a adrenalina e conseguem fazer isso muito bem, com belas composições alternando-se em músicas mais agitadas e outras mais calmas, e quando cessam por completo dão espaço ao excelente trabalho no som ambiente e efeitos sonoros, como os passos ecoando nos corredores, sons de gotas, água corrente, entre muitos outros. Os inimigos e armas possuem também sons característicos e acompanham o altíssimo nível de qualidade do trabalho.

 

Mods e continuações

Quando Half-Life saiu, foi ovacionado pela critica especializada e por milhares de gamers, conquistou vários prêmios – inclusive de jogo do ano – e rendeu muitas modificações criadas por fãs, mods que foram incentivados pela própria Valve, pioneira em apostar em modificações e material produzido pela comunidade. Só para citar alguns frutos que a Valve colheu em apostar nesse nicho, de modificações de fãs surgiram games como Counter Strike, Team Fortress, Day of Defeat e Fire Arms, sendo esse último um game que teve um sucesso não tão grande como merecia, talvez por ter sido ofuscado por CS, o que é uma pena já que era um mod muito competente e surpreendente para época. Não há como não citar também a mais recente modificação, Black Mesa, que recria a aventura do jogo original com os gráficos de Half-Life 2 turbinados pela Source Engine. Foram oito longos anos de espera, mas que foram compensados com um excelente trabalho, resultando em um game que nem mesmo parece ser feito por fãs, mas sim pela própria Valve; um excelente incentivo para quem nunca jogou Half-Life, apesar de o mod ainda não estar totalmente finalizado, faltando desenvolver a parte final do game.

Além dessas famosas modificações, com os fãs responsáveis pelo desenvolvimento das mesmas sendo contratados pela Valve, a companhia ainda lançou dois spin-off de Half-Life, intitulados Half-Life: Blue Shift, que contava os eventos de Black Mesa na perspectiva do segurança Barney Calhoun, e Half-Life: Opposing Force, onde o jogador encarnava Adrian Shephard, um dos soldados do exercito norte-americano que invadiu Black Mesa. Três anos depois, Half-Life também ganhou uma versão oficial para os consoles Playstantion 2 e Dreamcast, com gráficos melhores. Em junho de 2004, a Valve não só lançou o jogo original na sua recém-criada plataforma de distribuição digital, Steam, como também lançou uma versão melhorada, intitulada como Half-Life Source, que possuía algumas texturas com maior definição, acrescentava a física proveniente da engine Source e melhorava alguns efeitos, como a água. Não tem como não citar também as continuações direta do game, Half-Life 2, Half-Life 2: Episode 1 e o mais recente, Half-Life 2: Episode 2, que aumentou ainda mais a expectativa pelo tão aguardado Half-Life 3 que, infelizmente, não se tem nenhuma perspectiva de quando será liberado qualquer informação oficial sobre o mesmo.

 

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