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Hong Kong 97 – Criador do “pior jogo do SNES” fala pela primeira vez sobre sua criação

Um jornal local de Hong Kong chamado “South China Morning Post” postou recentemente (via Siliconera) uma entrevista com o japonês Yoshihisa Kurosawa, responsável pelo infame jogo não oficial “Hong Kong 97“, considerado um dos piores jogos já feitos para o Super Nintendo e lançado em 1995.

O enredo do jogo apresenta um universo alternativo onde o então governador britânico de Hong Kong Chris Patten, pede ao agente secreto Chin (que tem a cara de Jackie Chan e é parente de Bruce Lee), matar as pessoas do continente chinês, referidos no game como “fuckin ugly reds” (ou aqueles malditos comunistas vermelhos feios), que estavam imigrando para Hong Kong e aumentando a taxa de criminalidade.

Mas, enquanto isso, na China, uma investigação estava em andamento para trazer o morto “Tong Shau Ping” (representado por Deng Xiaoping, líder do Partido Comunista da China) de volta à vida como a “arma suprema”.

Segundo Kurosawa, que falou pela primeira vez sobre seu trabalho desde que foi lançado, seu objetivo era fazer o pior jogo do mundo possível. Quando ele era jovem, seu sonho era trabalhar na indústria de games, mas não gostava das políticas empresarias das grandes empresas, como Sega e Nintendo, e lançar jogos indie naquela época era praticamente impossível, por causa das regras rígidas e royalties.

Durante uma viagem a Hong Kong, ele procurou por dispositivos para fazer jogos bootlegs em disquetes (que poderia ser usado no SNES) e decidiu fazer seu próprio game, que “fosse barato, vulgar e que zombasse da indústria de games”. Segundo ele, com esses dispositivos de cópia “você poderia fazer jogos e distribuí-los sem precisar da permissão da Nintendo”.

Kurosawa e seu jogo que lhe deu fama não desejada

Segundo Kurosawa, “Eu tinha um interesse no que se desdobraria em 1997 e havia uma sensação de antecipação, mas também ansiedade. A China ainda parecia um mundo de selvagens. Pensei: o que aconteceria se os dois se misturassem?“.

Kurosawa não tinha habilidades de programação, então pediu a um amigo que era empregado da Enix (hoje Square Enix) para ajudar na empreitada – com apenas dois dias de trabalho no jogo. Sem tempo, dinheiro ou permissão, o jogo foi lançado daquele jeito mesmo. As imagens de Deng Xiaoping e Jackie Chan foram retirados de um cartaz de filme, enquanto uma faixa de um laserdisc da Shanghai Street se tornou a trilha sonora de fundo.

Eu dei todo o material ao meu amigo e expliquei o fluxo do jogo. Tivemos algumas bebidas enquanto programávamos, e no dia seguinte, Hong Kong 97 estava mais ou menos terminado. O jogo foi lançado assim porque era o pouco tempo tínhamos [para desenvolver]. O que você vê representa um décimo do que eu pretendia fazer“, diz ele.

Para distribuir e promover o game, Kurosawa recorreu a artigos escritos com pseudônimos em revistas de jogos obscuras e usou um serviço de pedidos por correspondência para vendê-lo.

Eu vendi algumas cópias e depois me esqueci completamente dele“.

Ironicamente, anos depois com o surgimento da internet e emuladores, o jogo ganhou um culto de seguidores no mundo todo por sua má qualidade, considerado “tão ruim que é bom“. Desde então várias teorias sobre o jogo surgiram na internet e duram até os dias de hoje – o Facebook de Kurosawa é bombardeado todos os dias com perguntas de fãs! 

Mais de uma década depois, descobri que Hong Kong 97 estava atraindo a atenção – da pior maneira“, diz ele. “Eu achei que era apenas uma moda passageira, mas o interesse parece estar crescendo a cada ano”.

“Todos os dias eu recebo perguntas no Facebook de todo o mundo, de pessoas que nunca ouvi falar, perguntando como ‘De quem é o cadáver no final do jogo’. As pessoas também começaram a inventar seus próprios novos mistérios em torno do jogo. Toda a configuração e o contexto foram apenas coisas que eu inventava enquanto eu viajava. As perguntas são infinitas, então eu simplesmente ignoro todas elas”.

O objetivo era simplesmente criar um jogo vulgar e pensei que seria mais divertido se a jogabilidade fosse um fiasco, mas, honestamente, eu simplesmente queria que as pessoas se esquecessem do jogo de uma vez por todas“, finalizou.

Abaixo você confere um vídeo dessa grande pérola raríssima:

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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