Análises

L.A. Noire

– Um ousado passo adiante no estilo cinematográfico que impressiona em suas animações faciais –

Após o sucesso de games como “GTA”, “Max Payne” e mais recentemente “Red Dead Redemption”, a produtora Rockstar Games prometeu aos seus fãs mais um mega-sucesso que iria revolucionar a indústria com sua tecnologia: “L.A. Noire”.

Em conjunto com a novata Team Bondi, as duas empresas trazem até nós uma aventura que se desenrola na cidade de Los Angeles no ano de 1947, com uma atmosfera noir similar ao de filmes como “Los Angeles – Cidade Proibida” e “Chinatown”.

Uma das grandes promessas era uma animação facial dos personagens revolucionária, conseguida a partir da captura de movimentos dos rostos de atores reais. A empresa não apenas cumpriu a promessa, como também nos oferece um jogo cinemático épico, que os fãs de filmes noir vão adorar. E os não fãs também. Confira abaixo a nossa análise.

O protagonista é o ambicioso policial Cole Phelps, que tem a missão de investigar uma série de assassinatos brutais e complexos, mesmo com a interferência da imprensa, colegas corruptos e pessoas poderosas que não querem ver os crimes solucionados. Phelps, assim como vários personagens dos filmes dos anos 40 e 50, é um detetive galã, de boa índole e moral inabalável, porém assombrado por demônios pessoais da sua participação na II Guerra Mundial. No curso de 21 casos que compõe o jogo, o ágil e astuto detetive deve concluir um a um os misteriosos casos.

Em uma primeira vista, o jogo é similar ao drama interativo “Heavy Rain”, exclusivo do PlayStation 3 e lançado ano passado (ou ainda um game mais antigo, o clássico “Snatcher“). Uma mistura de filme e jogo, em que o ponto principal é o seu roteiro e o desenvolvimento dos personagens, que prendem a atenção do jogador como em um bom filme. E assim o é “L.A. Noire”, um “romance policial” com algumas sequências de ação com tireoteios e perseguições de carro, mas com a principal característica a investigação das cenas dos crimes e interrogação de testemunhas e suspeitos (então não espere aqui um jogo de ação ao estilo de “GTA”). E ambas vão exigir um alto grau de atenção do jogador, na procura de pistas vitais (nem sempre facéis de se achar) e atenção nos detalhes e nas distrações, isso tudo apresentado de forma envolvente e madura, com uma narrativa séria para adultos. Se você pensa em comprar esse jogo para o seu filho de 10 anos, é melhor pensar em outra coisa, pois provavelmente ele vai achar chato.

O jogo apresenta um grau de violência típica de filmes desse estilo, e um pouco acima da média para o padrão de videogames (mas nada muito chocante). Aparecem bandidos, estupradores, machões bebuns batendo na esposa, corrupção, violência e crime atrás do cenário glamouroso de LA, cenas de mortes violentas e uma outra nudez ocasional, com uma pitada de humor irônico, já característica dos jogos da Rockstar. Os 21 casos que compõe o jogo possuem narrativas diferentes, mas que vão gradualmente se juntando para criar uma história mais ampla até o seu final (porém alguns não acrescentam em nada na narrativa e ficam meio “perdidos” no contexto geral).

Em boa parte do jogo você estará ou investigando cenas do crime ou fazendo interrogatórios. É necessário procurar nos cenários, ou até mesmo nos corpos, pistas que podem estar a vista, ou escondidas dentro de objetos ou partes do cenário (há um recurso auxiliar que vibra o controle e tem um som de piano ao chegar perto de uma pista – esse recurso pode ser desativado para os que preferem uma experiência mais realística).

Com as pistas e anotações feitas na cena do crime, é hora de partir para interrogar as testemunhas e suspeitos – ou investigar novos cenários que se abrem. E é aqui que fica notável a impressionante tecnologia de captura facial de Noire, em que o jogador deverá prestar atenção na expressão facial das pessoas e usar sua intuição para ver se eles estão falando a verdade ou não. Mas não importa apenas saber se a pessoa está mentindo ou não, é necessário ter uma prova que comprove sua mentira.

O jogador pode escolher entre três opções durante o interrogatório: está dizendo a verdade, está mentindo ou está na dúvida. Só há uma chance de julgar corretamente cada resposta, mas cada caso terá uma conclusão, mesmo que você sempre escolha as opções erradas, mas o seu grau de competência como detetive ficará bem abaixo do esperado. E quanto melhor o desempenho de Cole, mais fácil fica o acesso a novos equipamentos e veículos exclusivos. Escolha a opção correta, e mais pistas – e perguntas – podem ser feitas no interrogatório. Escolha a errada, as opções diminuem. Não pense que vai ser fácil julgar as pessoas, será bem comum acusar pessoas inocentes, ou duvidar de testemunhos verdadeiros, ou ainda usar pistas falsas para tentar achar um criminoso (e se dar mal por causa disso).

Ao mandar prender um suspeito, prepare-se para um pouco de ação, pois ninguém da Los Angeles dos anos 40 pretende colaborar com a polícia, sejam culpados ou não. Alguns deles vão sair correndo pela vizinhança (e eles correm como verdadeiros atletas olímpicos), e você deve persegui-los, isso quando não for uma perseguição dentro de veículos.

Há também as cenas de luta corpo-a-corpo, mais divertido que as perseguições, em que é possível aplicar golpes de boxe (ou algo bem parecido). Claro, nada muito complexo, comandos simples para bloquear, esquivar, dar socos ou agarrar os oponentes. Mas claro que se não for um bandidinho pé de chinelo, os criminosos podem estar armados, o que permite a Cole sacar sua arma (o único momento do jogo em que isso é possível), com cenas de tiroteio que lembram bastante o estilo frenético de “GTA” ou ainda “Red Dead Redemption”, mas de maneira mais simplificada, podendo se proteger em partes do cenário e com mira automática no oponente mais próximo (modo que pode ser desativado). Algumas vezes, não será necessário matar o bandido armado, bastando dar um tiro de advertência quando esse estiver fugindo, uma boa alternativa para jogadores pacifistas.

Além dos tiroteios, há também chamadas extras da central, como assaltos à bancos, incidentes na rua, tentativas de suicídio, situações com reféns. Porém o jogador pode escolher responder a essas chamadas ou não, e estão mais lá para os jogadores que sentem falta de um pouco de ação em sua estrutura global. Já as perseguições de carro são outro elemento que compõe o elemento de ação do jogo. Vários calhembeques carros são tão lentos quanto parecem nas ruas, mas o seu veículo de polícia é bem veloz, faz curvas fechadas e toca sirene. Dirigir é uma das poucas coisas do jogo que permite agir como um psicopata completo, andando por cima de calçadas, atropelando pedestres, derrubando latas de lixo, postes, parquímetros e o que estiver pela frente. Porém a destruição causada será levada contra você no relatório final de cada caso, então pense bem antes de sair quebrando tudo.

Em termos visuais e gráficos, “L.A. Noire” possui uma direação artística competentíssima, ao retratar uma Los Angeles e todo o seu glamour – e violência – nos anos 40 (repare nas roupas das pessoas, nos penteados das mulheres, os móveis dentro das casas, decoração nas ruas – os cenários noturnos da cidade são belíssimos). Ainda assim, não chega a ter um visual tão bonito quanto “Red Dead Redemption”, mas chega perto. O jogo impressiona nas cutscenes e nos interrogatórios, em que a câmera dâ enfase nos rostos dos personagens, que realmente possuem animações fantásticas e belas de se ver (os olhos, a boca, sombrancelhas, rugas, tudo tem muito vida e dão pistas do comportamento da pessoa). Há vários jogos que possuem visual mais bonito do que “L.A. Noire”, mas poucos tem o realismo nas feições de rostos como Noire.

Quanto à parte sonora, não há muito o que dizer, a não ser que é fantástica. A qualidade e quantidade dos efeitos sonoros são inúmeras, e dão vida para a cidade, os ambientes e cenários. Tudo tem som, pessoas falam, objetos fazem barulhos. A trilha sonora é composta por um jazz que combina perfeitamente com o estilo do jogo e dá a atmosfera ideal para o jogador se envolver na história e com os personagens na tela. A dublagem é um show a parte dos atores, mais do que uma dublagem, já é uma atuação dos atores, que vivem e dão vida aos seus respectivos personagens.

Apesar de ser possível explorar o universo de “L.A. Noire” (não, você não pode sair detonando tudo como em GTA), não há muito o que se fazer, além das missões extras que são oferecidas pela rádio da polícia (ou para os mais atentos, procurar pontos famosos da cidade de LA recriados no jogo).

A duração de jogo vai depender do seu desempenho na investigação e nas missões extras optativas, mas os jogadores que quiserem completar tudo, vão enfrentar uma maratona de mais de 20 horas de jogatina. Ao terminar uma vez, o jogo libera um modo preto e branco, para dar uma impressão maior ainda de um filme antigo. No Xbox 360 são três discos, enquanto no PS3 é apenas um, mas os jogos são completamente idênticos.

 

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

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