Análises

Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots

Um dos lançamentos mais aguardados do ano já se encontra nas prateleiras de lojas de todo o mundo, inclusive aqui no Brasil com o preço salgadaço de R$229,00. É claro que estamos falando de “Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots“, o maior lançamento da plataforma Playstation 3 desde a sua chegada ao mercado.

O mais novo game da Konami e do mestre do game design Hideo Kojima já pode ser considerado uma obra-prima dos videogames, estabelecendo um novo marco na história da indústria: pré e pós MGS4. Não foi à toa que o seu lançamento impulsionou as vendas do Playstation 3.

A saga, criada em 1987, chega ao seu capítulo final com o seu memorável herói Solid Snake, agora mais velho e com a missão de acabar com os planos do arqui-inimigo Liquid Ocelot de dominar o mundo.

Mas antes de começar a análise desse belíssimo game, vamos fazer um rápido flashback e dar uma checada nos games anteriores, desde a sua criação em 1987 até o capítulo final.

A Saga

Metal Gear

E 1987 seria lançado o título inaugural à saga Metal Gear, que viria a ser uma das séries mais lucrativas da Konami e que lançaria o nome de Hideo Kojima para o estrelato. Originalmente produzido para o MSX2, ele já apresentava muitas das coisas que viriam a ser marcas registradas da série, como o rádio portátil (codec) para comunicação com seus superiores, progredir no jogo sem ser detectado pelo inimigo e uma história bastante complexa (para a época) envolvendo o governo, planos mirabolantes, personagens inesquecíveis e tramas de espionagem no melhor estilo Jack Bauer de 24 Horas.

Teve também uma versão para o Nintendinho 8 Bits, mas com muitos cortes e perdeu em qualidade para o original, principalmente na parte do enredo. A história se passa em 1995 e mostra uma fortaleza, Outer Heaven, criada por um soldado lendário que tem planos de conquistar o mundo através de uma nova e poderosa arma chamada Metal Gear. O chefe do grupo de operações especiais militares (Fox Hound), Big Boss, envia então um soldado, Grey Fox, que desaparece. Um novo soldado com grande talento é enviado, Solid Snake, para se infiltrar na base e destruir Metal Gear. Snake consegue completar sua missão e durante sua fuga encontra Big Boss, que revela ser um traidor e a pessoa que estava no comando do Outer Heaven e do Metal Gear. Tendo perdido Metal Gear, Big Boss ativa a autodestruição de todo o complexo. Durante a contagem regressiva, Big Boss grita: “Você foi longe. Longe demais!”. Enquanto a fortaleza é destruída, os dois se degladiam numa luta mortal, mas somente um sai vivo: Solid Snake.

Metal Gear 2: Solid Snake

A sequência viria três anos depois, em 1990 em um jogo exclusivo para o MSX2 e lançado apenas no Japão, que teve adições importantes para a série, bem como uma história muito mais elaborada e cheia de revelações. Novamente Solid Snake é o único que pode resolver a situação e é convocado do seu retiro para a missão. Ele deve infiltrar-se em Zanzibar Land, um território pesadamente defendido, situado entre a União Soviética, Afeganistão, Paquistão e China. A missão de Snake é salvar o famoso cientista sequestrado, Dr Kio Marv, que criou as bactérias que secretam o petróleo artificial, e mais tarde, procurar e destruir a nova versão Metal Gear D.

Snake encontra Grey Fox, que se rebelou e agora luta ao lado dos terroristas (e é derrotado por Snake). Big Boss aparece novamente, revelando que conseguiu escapar da morte no jogo anterior e para variar é o responsável por tudo isso que está acontecendo. Snake destrói o Metal Gear D e derrota mais uma vez (será mesmo?) Big Boss. Snake decide se aposentar, abandonando a Fox Hound e desaparecendo entre os campos gélidos do Alaska para viver em paz.

Metal Gear Solid

Oito anos depois, em 1998, a série faria sua grande revolução com o Metal Gear Solid para o PlayStation e uma sequência direta de “Metal Gear 2: Solid Snake“. O game foi um sucesso esmagador de crítica e público, agora numa aventura reformulada em 3D, com vozes reais de atores e um roteiro cinematográfico, com várias cut-scenes para contar a história. O grupo de elite Fox Hound, agora terroristas assumidos, invadem uma base nuclear no Alaska e ameaçam lançar uma arma nuclear caso suas exigências não fossem cumpridas.

O jogo se passa no ano de 2005 e novamente Solid Snake é o único cara que pode salvar o dia. Como ex-membro do Fox Hound, você deve invadir a base sem ser detectado, salvar alguns reféns e verificar se os terroristas têm realmente o poder de lançar um ataque nuclear. Na verdade é outra máquina Metal Gear que está em construção e que deve ser destruída. A primeira vista pode parecer simples, mas acredite, o enredo é bem mais complexo, com reviravoltas incríveis, grandes revelações e o surgimento de vários novos personagens importantes para a série. O antagonista de MGS é Liquid Snake, “irmão gêmeo” (cheio de complexos de inferioridade) de Solid Snake e ambos são clones genéticos de Big Boss, criados a partir de um projeto super-secreto do governo.

Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty

O quarto jogo da série foi lançado em 2001 para PlayStation 2, e utiliza as capacidades do console de maneira excepcional. Solid Snake abandonou o governo e trabalha, agora, junto com Otacon, em uma ONG chamada “Phylantrophy”. Snake vai até um navio investigar a possível construção de um novo “Metal Gear” pela marinha americana. Revolver Ocelot rouba o robô, explodindo o navio, e Snake é dado como morto. Um tempo se passa, e somos apresentados a um novo personagem Raiden, um jovem agente infiltrado na construção agora conhecida como Big Shell, com o intuito de resgatar o presidente americano e outros reféns de um sequestro terrorista, que, como sempre na história de Metal Gear, se desdobra em um enredo envolvente e intricado.

O personagem Raiden decepcionou muitos fãs de Metal Gear, que esperavam que a aventura de Snake para o Playstation 2 fosse jogada com o próprio Snake, o que não aconteceu, pois você joga o jogo praticamente inteiro com Raiden, e Snake se torna um coadjuvante, dando dicas e ajudando Raiden, sob a identidade de um soldado chamado Pliskin. Devido às críticas à troca de personagem principal, pouco tempo depois, a Konami lançou o pacote Metal Gear Solid 2: Substance, com a opção Snake Tales, o qual temos o jogo inteiramente com Solid Snake, além de modos especiais e várias missões a serem concluídas.

Metal Gear Solid 3: Snake Eater

Lançado em 2004, também para Playstation 2, MGS3 não é uma sequência direta do último jogo, mas sim um prequel, com uma história que remete a antes de todos os jogos lançados até então. Toda a história se passa durante os anos de Guerra Fria em 1964, nas florestas da antiga União Soviética. Os jogadores têm o controle de um soldado da Fox Hound cujo codenome é “Snake” (Naked Snake, que viria a se tornar Big Boss) que tem, como missão primordial, o resgate do cientista russo Nikolai Stephanovich Sokolov e neutralizar/destruir quaisquer que sejam as armas militares desenvolvidas por ele.

Esses foram os principais jogos da série, mas a franquia teve ainda vários spin-offs (jogos derivados), edições suplementares e remakes, que não vou entrar em detalhes aqui para não confundir a cabeça do povo.

Metal Gear Solid IV: Guns of the Patriots

Depois dessa breve recapitulada nos jogos mais importantes da franquia, podemos começar nossa análise do tão esperado Metal Gear Solid 4 (MGS4). E com certeza toda a expectativa gerada em torno deste lançamento não foi em vão, um dos melhores games já produzidos, com cenários e ação de tirar o fôlego de qualquer pessoa.

A indústria de videogames recebe milhares de títulos todos os anos, mas apenas alguns poucos surgem para mudar a história, alterar conceitos e transformar a maneira de se encarar os games. E MGS4 é um desses games, que chegou para alterar toda uma história. Uma obra-prima do seu criador, Hideo Kojima, e um grande trunfo para a Sony e o Playstation 3. Um game que veio para deixar seu nome registrado eternamente na história dos videogames.

A História de Old Snake

Provavelmente nunca um jogo teve uma história contada de uma forma tão genial, tão envolvente e tão marcante quanto MGS4. E acredite, eu não estou exagerando nem um pouco, pois Kojima tem formação cinematográfica e usou dessas habilidades de forma brilhante para contar toda a história final de Solid Snake.

A história é bem complexa, cheia de altos e baixos, revelações, surpresas e momentos de cair o queixo. Irei apenas relatar o básico, para não estragar a surpresa para o pessoal que ainda não jogou. Estamos no ano de 2014, onde as guerras são travadas por companhias militares privadas (no game chamadas de PMCs). Um visual bastante futurista, com um cenário caótico de fim de mundo. Os Metal Gears, robôs que se apóiam em duas pernas e que possuem um grande poder de destruição, são usadas pelas PMCs, constituindo uma ameaça mortal para quem surge em seu caminho. Uma das PMCs mais perigosa é a Outer Heaven, onde Liquid Ocelot (uma longa história….) se assume como líder máximo, com um arsenal de guerra arrasador e que se preparam para uma revolta, ameaçando a estabilidade mundial.

É neste cenário nada animador que surge Solid Snake, de modo a salvar uma vez mais o planeta do perigo iminente. Snake é uma lenda viva, um mestre nas operações especiais camufladas e veterano de combate. Jack Bauer perto dele é fichinha. Mas as coisas estão diferentes desta vez. Snake está morrendo, sofrendo por um envelhecimento precoce, causado por seu DNA modificado. E esta condição não o afeta apenas fisicamente e nas suas habilidades, mas também psicologicamente. Nós vamos ver um Snake com falta de confiança, uma figura trágica, mas ao mesmo tempo com nobreza, com uma alma atormentada por um mundo cheio de guerras e destruição.

A narrativa do game é pesada, tratando de temas polêmicos como a mortalidade humana, o envelhecimento, a realidade das guerras, terrorismo e a supremacia militar dos EUA. O protagonista sofre um peso emocional muito grande, que fará os jogadores refletirem sobre a vida, sobre o mundo e sobre si mesmos. Da abertura aos créditos finais, MGS4 possui uma narrativa memorável, mostrando um mundo cruel e sanguinário e não muito longe da nossa própria realidade. Há momentos tão dramáticos (ou mesmo nostálgicos) que irão fazer muito marmanjo barbado por aí ficar com os olhos cheios de lágrimas.

Supremacia técnica

Eu poderia ficar aqui relatando por horas e horas de como os gráficos são os mais magníficos desta geração, de como a Konami não poupou esforços em usar 50Gb armazenados em um disco Blue-Ray de dupla densidade, da perfeição dos detalhes presentes, com centenas de objetos, armas, inimigos e cenários requintados, tudo muito bem modelado em alta resolução. De como toda a articulação e movimentação dos personagens é impressionante, remodelados de acordo com atores reais e animados por técnicas de captura de movimentos. Para tudo isso, basta apenas vocês darem uma olhada nas imagens, que terão uma idéia do que eu estou falando.

Por isso já vou direto ao ponto, a jogabilidade, que funciona muito bem em MGS4. Os comandos evoluíram, mas lembram bastante a configuração original de MGS1. Snake possui vários novos movimentos e habilidades, como o Solid Eye, um olho biônico capaz de baixar imagens de satélite, fazer varreduras de ondas, funcionar como visão noturna/térmica e funcionar como binóculo. O sistema de camuflagem está mais prático, graças ao seu uniforme OctoCamo, que é capaz de assumir colorações diferentes automaticamente (sim, isso mesmo, não precisa mais acessar menus), podendo camuflar-se em qualquer parte dos cenários e enganar os inimigos. Snake pode atirar nos inimigos, ou derrubá-los e rendê-los para roubar suas armas e equipamentos ou ainda usar o Metal Gear Mark II, um robozinho controlado por controle remoto muito útil para fazer reconhecimentos e ataques leves com choques elétricos.

E falando em armas e equipamentos, há uma infinidade deles a sua escolha. Mas se você preferir, pode passar o game inteiro com umas cinco ou seis armas. Você poderá fazer negócios com Drebin, um vendedor de armas que lhe dará a opção de comprar vários aparatos, inclusive algumas armas exóticas e bem convenientes. Você também pode customizar seus brinquedinhos, colocando miras laser, lanternas ou lançadores de granadas, e por aí vai. Esse sistema cria uma diversão maior, fazendo com que o jogador jogue várias vezes até testar todas as armas e suas variações.

MGS4 inova em vários quesitos em relação aos jogos anteriores, com uma interface mais evoluída. A jogabilidade dá várias opções ao jogador, como os já clássicos métodos de invasão a instalações militares, escolhendo um caminho, se escondendo e atirando quando necessário. Ou, se você preferir uma ação mais intensa e direta, do tipo atire em tudo que se mexe e entre pela porta da frente, o jogo também te dá essa opção. E se você escolher essa opção, prepare-se para um excelente jogo shooter. Temos uma salada de Gear of Wars, Call of Duty com uma pitada das características clássicas da série Metal Gear. Ponto para Kojima e sua equipe, que acertaram em cheio.

Há um turbilhão de opções possíveis no jogo, cabendo você escolher o que fazer. Seja escalando prédios, montanhas, subindo em carros ou usar suas habilidades e aparatos para monitorar e estabelecer um plano de ataque ou invasão. E como não podia faltar, temos os momentos “Kojima”, o famoso “toque de mestre” que faz a diferença, com surpresas, momentos de climas insanos e surreais, pitadas de humor e detalhes minuciosos para os jogadores hardcore se divertirem procurando.

Os chefes e vilões reservam para o jogador batalhas marcantes e que superam qualquer expectativa. Destaque para o esquadrão “Beauty and the Beast”, formado por grotescos cyborgs e que já figura entre os chefes excepcionais da série. O visual das batalhas é de cair o queixo, de deixar diretores como Oliver Stone (do clássico Platoon, só para citar um filme de guerra como comparação) se remoendo em sua poltrona. A linha que separa MGS4 de grandes obras cinematográficas é muito tênue, num mix de cinema e game nunca visto antes.

O game tem um visual “sujo”, com muita areia, muito pó e poluição passeando pelos cenários e criando uma atmosfera bastante realista. Podemos perceber também um cuidado todo especial no uso das cores, com efeitos que valorizam principalmente o dourado e o verde como os cenários dos desertos do Oriente Médio ou as florestas da América do Sul. Não espere ver cenários repetidos, a representação geográfica é impressionante, fazendo de cada fase uma experiência única.

Temos vários flashbacks que remetem aos jogos anteriores, conectando MGS4 ao restante da série numa visão geral de Kojima para sua obra. Jogadores novatos no mundo de Metal Gear podem sentir alguma complexidade em entender toda a narrativa, possivelmente o único ponto negativo do jogo. Algumas animações são bem longas e isso pode também chatear jogadores que gostem mais de ação do que enredo. MGS4 poderia ser descrito como um longa-metragem interativo, em que algumas horas você assiste e outras assume o controle da ação. E mesmos nas cenas narrativas, você ainda possui alguma interatividade, podendo mudar pontos de visão ou dar uma voltinha com o Metal Gear Mark II enquanto os personagens batem um papo. Mas se você nunca jogou um jogo da série, não se preocupe, MGS4 consegue prender os novatos com o seu enredo e também agradar aos fãs hardcore que acompanham toda a série.

“O perdedor deixa o campo de batalha e pode finalmente ficar em paz, ao vencedor resta apenas continuar lutando – Big Boss”.

Se o quesito visual está impecável, o mesmo pode ser dito da trilha sonora, sonoplastia e dublagens, dignas de uma super produção. A composição sonora é alta qualidade e de muito bom gosto, composta por Harry Gregson-Williams (compositor de filmes e também autor da trilha sonora dos dois jogos anteriores) e Nobuko Toda, que também trabalhou no MGS3. Temos dois temas cantados, a música de abertura “Love Theme”, lindamente cantada por Jackie Presti, com uma canção melódica e um espírito deprimente, que condiz com a atmosfera do game e o tema final “Here´s to you”, cantada por Lisbeth Scott. As dublagens estão perfeitas, com interpretações de se tirar o chapéu e dando vida aos personagens e ao argumento escrito por Kojima. Obviamente todo o destaque aqui fica para David Hayter, dublador de Solid Snake desde o MGS1 e que desta vez, interpreta de forma magistral um Old Snake emocionalmente acabado e sem futuro.

 


“SNAKE… SNAKE… SNAAAAAAAAAAAAAAAKE !!!”

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Por favor, desabilite o Adblock para continuar acessando o site!