Análises

Mirror’s Edge

Em uma interessante investida da EA, Mirror’s Edge apresenta uma jogabilidade bem diferente do que estamos acostumados a ver, com grande realismo na câmera em primeira pessoa que mostra os braços e pernas de Faith, protagonista do jogo dotada de muitas habilidades, como de luta corpo-a-corpo e habilidosa em Parkour. São várias ideias interessantes que infelizmente não foram bem exploradas.

Clichê e previsível

Em Mirror’s Edge, o jogador vive em uma cidade sitiada por um governo totalitarista, que na sua busca de acabar com o crime e outros males que afligiam a população acabou por se tornar um mal àqueles que queria proteger, restringindo a liberdade de expressão, acabando com a privacidade das pessoas e mantendo regras rigorosas.

Dentro desse cenário, muitas gangues e empresas utilizam-se de um método ilegal para conseguir trocar informações, que são os mensageiros. Os mensageiros são pagos para entregar os pacotes sem questionar seu conteúdo e, graças a seus métodos não convencionais de atingir seu destino, acabaram sendo apelidados como “Runners”. Nesse cenário temos Faith, uma carismática corredora que precisa salvar sua irmã, uma policial incriminada injustamente de um assassinato.

Como dito na introdução acima, Mirror’s Edge têm boas ideias desperdiçadas ao longo da curta aventura, que pode ser finalizada em menos de 6 horas, variando conforme sua habilidade. O enredo tinha potencial, com uma cidade dominada por um governo opressor, com policiais e câmeras de vigilância em todos os pontos, além do “esquema” dos runners.

Infelizmente nada disso é aproveitado de forma decente, falta muitos elementos para o enredo de Mirror’s Edge se tornar interessante, como competência para surpreender o jogador e fugir dos clichês. Não que seja errado usar clichês, até mesmo porque é muito difícil valer-se de somente “fatos novos”, mas aqui os clichês são usados exaustivamente. Não é preciso ser um gênio para presumir o que irá acontecer na história, tirando toda a emoção das “surpresas”.

O modo como à história é contada também é falho, com uma animação ao estilo americano. O problema dessa animação é a falta de capricho e acabamento, já que as animações têm poucos quadros e são muito rudimentares, com pouquíssima atenção aos detalhes, deixando os traços pobres.

Os personagens também não ajudam e o jogador só conseguirá simpatizar com Faith, mais por poder ver seus braços e pernas durante toda a aventura, o que da uma sensação de imersão muito maior e também por sua personalidade, que pode agradar a alguns. De resto, os demais personagens são bem estereotipados, parecendo àqueles personagens secundários feitos as pressas para se encaixar em qualquer tipo de obra.

 

Divertido, mas…

O game da DICE, apesar das falhas, é muito divertido, permeado por boas ideias que poderiam aflorar caso fossem tratadas com maior carinho e dedicação. A mecânica de parkour implementada em Mirror’s Edge é muito divertida e bacana de se ver, principalmente pelo posicionamento da câmera, que nos mostra exatamente da maneira que Faith está enxergando as coisas e o simples fato de vermos suas pernas e braços aumenta muito à imersão, muito pelo estilo de jogo, que preza pelos movimentos corporais.

Escalar prédios e desarmar policiais são atividades gratificantes e que não se tornam exaustiva depois de certo tempo, principalmente por poder improvisar alguns movimentos contra os “blues” (como são chamados as forças da lei pelos runners), como os chutes em que Faith sobe na parede e salta em direção do adversário.

Escalar os prédios também consiste em momentos de pura adrenalina e, em algumas situações, Faith estará sendo perseguida o que aumenta ainda mais a emoção, já que há pouco tempo para pensar e começamos a agir institivamente, protagonizando algumas fugas memoráveis.

Infelizmente, mais uma vez a falta de ousadia, tempo ou acabamento impedindo que Mirror’s Edge seja realmente um jogo excelente. Os combates contra os blues até são divertidos, mas poderiam ser mais bem trabalhados, principalmente no sistema de contra-atacar uma ação, onde o jogador deve apertar o botão no tempo certo para revidar; muito parecido com o sistema dos recentes jogos de Batman.

O problema é que diferente do que acontece no game da Rocksteady, em Mirror’s Edge você deve acertar exatamente o momento que o jogo determina para poder revidar uma ação ofensiva do adversário.  Em outras palavras, não importa se quando você apertou o botão ainda havia tempo hábil de sobra para revidar, se não foi no momento que o jogo determina você irá falhar e as falhas são comuns, acredite, pois não é nada intuitivo acertar o “time” dos contra-ataques. As lutas no mano-a-mano também carecem e muito de capricho, já que são travadas e longe de serem visualmente bacanas; na prática, muitas vezes você irá dar um ou dois golpes e correr, repetindo isso até o inimigo cair, algo muito sem graça e chato.

O parkour apesar de ser divertido limita demais o jogador, deixando pouco espaço para que você possa “improvisar seu próprio caminho”. Sim, há momentos que temos alternativas, mas são rotas superficiais, basicamente pelo fato de haver um prédio da mesma altura do lado ou por ter um obstáculo à frente que podemos simplesmente passar do lado ou subir por ele, mas longe de realmente ser uma rota alternativa.

Há várias situações onde o jogador só pode avançar se fizer exatamente o movimento que o jogo requer, seja ele andar na parede e saltar ou simplesmente escalar determinado obstáculo. Mesmo que o jogador visualize meios distintos de avançar o jogo somente aceitará seu caminho, demais rotas são proibidas e punidas com a morte de Faith.

As missões poderiam amenizar os excessos na linearidade, mas jogam contra entregando aos jogadores objetivos genéricos e sem graça. Basicamente, o jogador vai correr do ponto A ao B durante todo o jogo, com algumas raras situações onde foge desse script. Sim, eu sei que você é um runner (corredor), mas há muito espaço para proporcionar missões mais criativas e empolgantes.

Ao finalizar a campanha há algumas coisas a fazer, como coletar pacotes deixados por outros runners durante a campanha principal que desbloqueia artes conceituais, músicas entre outros extras, além do modo Time Trial’s e Race, que são basicamente corridas contra o tempo on-line e off-line.

 

Tecnicamente muito bom, mas com deslizes

A DICE acertou a mão aqui, pois o jogo é muito bonito e com um estilo visual bem único e bacana. Os cenários são basicamente predominados pela cor branca, tanto nos prédios como em alguns detalhes e isso evidencia de forma positiva as demais cores, como o vemelho e laranja, que vibram e ficam muito bonitos em meio aos cenários brancos, além de que esse visual mais clean com cenários menos “poluídos” casa bem com a ideia de uma cidade sitiada por um governo opressor.

As modelagens também são boas, principalmente em Faith, que esbanja carisma e personalidade. Ver os braços e pernas da protagonista aumenta muito a imersão e mais que isso, é muito bacana ver a quantidade de animações para exibir todos os habilidosos movimentos da corredora, que escala prédios de forma ágil e natural. Desarmar os policiais também apresenta animações bacanas, com alguns movimentos bem elaborados e realistas.

Infelizmente, há alguns deslizes, já que os “blues” e as armas do jogo não são lá tão bem modelados e contam com quase nenhum detalhes. Sim, o foco do jogo não está no combate e nem deveria estar, mas nada impede de tornar esses momentos memoráveis, com um visual mais caprichado.

A parte sonora é boa, desde os sons de tiro aos suspiros de cansaço e retomada de fôlego de Faith. Ela também grita de dor caso o jogador erre um movimento e algumas quedas são bem representadas, tanto na sonoridade quanto nos efeitos visuais. Há muitos outros efeitos sonoros bacanas, como do próprio vento quando jogador salta de um lugar muito alto e as dublagens são boas, com destaque para Faith, apesar de os diálogos não ajudarem em nada.

A trilha sonora é outro acerto, com músicas que variam em estilos musicais, desde o estilo “ambient”, há um pouco de tecno e eletrônica. Têm até mesmo uma música chamada “Still Alive”, que apesar de não ser a mesma música encontrada em Portal é bem bacana.

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