Análises

Mortal Kombat

Imagine a cena: início dos anos 90, a molecada se reunia nas casas de fliperamas para jogar um certo jogo de luta, chamado “Street Fighter II“. Um novo gênero nascia ali e vários games surgiriam usando as bases instaladas pela Capcom. Eis então que a Midway, uma pequena desenvolvedora de arcades, novata na época, resolveu aproveitar a popularidade de SFII e lançar o seu próprio game de luta. Um pequeno grupo foi formado, e diferente dos outros jogos que saíam, que apenas copiavam o estilo de SFII, a Midway foi para o caminho totalmente oposto, e assim nascia, em 08 de outubro de 1992, o primeiro “Mortal Kombat“. Vocês já devem estar carecas de conhecer o jogo em si, por isso em nossa análise vamos nos focar mais no desenvolvimento do game, os bastidores e curiosidades, para comemorar esses 21 anos de lançamento desse sanguinolento game. Esperamos que curta, boa viagem no tempo!

O desenvolvimento

Ed Boom e John Tobias foram os principais responsáveis (de uma equipe composta de apenas quatro pessoas) da tarefa, de em 10 meses de criação antes de seu lançamento, desenvolver o que seria o principal rival de SFII. Originalmente, a ideia da dupla era criar um jogo de ação estrelando um personagem digitalizado do ator Jean-Claude Van Damme, que na época fazia bastante sucesso com filmes de lutas marciais (você já deve ter assistido ao clássico “O Grande Dragão Branco” na Sessão da Tarde). O ator na época estava em negociação com outra companhia de games (um jogo que nunca foi lançado), o que para azar de Van Damme, e sorte para milhões de jogadores, o acordo não foi realizado entre a Midway. Ironicamente, o ator belga  iria anos depois estrelar o filme e o game (uma imitação de MK) de SFII, considerados pela grande maioria, lixos atômicos da famosa franquia da Capcom.

assista abaixo um vídeo paródia de Van Damme em Mortal Kombat

Mas Van Damme não foi esquecido e foi até “homenageado” em MK, na forma do lutador Johnny Cage (que usa as mesmas iniciais, JC), um arrogante e narcisista ator de filmes de luta de Hollywood, que tem como golpe um soco no saco do adversário, no mesmo estilo da cena do filme “O Grande Dragão Branco“. Segundo os criadores, o título do game foi algo que gerou briga durante seis meses, pois ninguém tinha “uma ideia que alguém não odiasse“. Alguns dos nomes sugeridos foram Kumite, Dragon Attack, Death Blow e Fatality. Em um quadro de nomes, alguém havia escrito “Combat“, e uma outra pessoa colocou um “K” no lugar do “C”, apenas para parecer diferente. Um dia, Steve Ritchie, um designer de jogos de pinball e amigo da dupla (e que emprestaria a voz para Shao Khan nos jogos antigos), passou no escritório deles e viu a palavra “Kombat”, e então sugeriu o nome “Mortal Kombat“, que imediatamente caiu nas graças de todos e é usado até hoje. Engraçado, como uma pessoa de fora resolveu, em poucos segundos, algo que os criadores estavam se batendo durante seis meses.

Os personagens

MK tem uma lista pequenas de lutadores, com apenas sete personagens, mas todos eles se tornariam figuras importantes na franquia anos depois. Como vocês já sabem, a ideia era digitalizar os personagens baseados em atores de verdade, que com o sucesso do game, acabaram virando pequenas celebridades no mundo real. Se SFII tinha o Ryu como protagonista, MK tinha Liu Kang (inspirado em Bruce Lee), interpretado pelo coreano Ho Sung Pak, campeão de Wushu/Kung Fu e é mais conhecido por trabalhar como dublê e coreógrafo em filmes de ação. Ele também interpreta o vilão e chefe final Shang Tsung.

Elizabeth Malecki, dançarina e instrutora de aeróbica, fez o papel da agente das Forças Especiais Sonya Blade, personagem incluída nos últimos minutos da finalização do game por insistência dos jogadores tarados que sentiram falta de uma presença feminina no game. Malecki anos depois processaria a Midway pelo uso de sua imagem em MKII, sendo despedida do projeto e substituída no terceiro game por Kerri Hoskins. A personagem de Sonya está perseguindo o criminoso Kano, interpretado por Richard Divizio, colega de faculdade de John Tobias. O Deus do Trovão, Raiden, é interpretado por Carlos Pesina, que além de lutador experiente em artes marciais, é perito em computação gráfica a serviço de Tobias desde 1995. Seu irmão mais velho, Daniel Pesina faz o papel de Johnny Cage e do ninja Sub-Zero, assim como os outros dois ninjas mascarados Scorpion e Reptile (personagem secreto). Porém, Daniel foi despedido em 1994 por se vestir como Johnny Cage em uma participação sua em um fighting game antigo, chamado “Blood Storm”.

O modelo do monstrengo de quatro braços Goro, que serve de sub-chefe e era muito mais forte do que os outros personagens, foi criado por Curt Chiarelli, e o guarda mascarado no estágio The Courtyard foi interpretado por John Vogel, um dos desenvolvedores do game. Uma curiosidade, em uma das primeiras versões do jogo para arcade, acontecia um erro na máquina em que fazia com que as cores dos personagens Sub-Zero e Scorpion se juntassem, criando, então, um ninja vermelho com o nome de Ermac (abreviatura de “error macro”). Os jogadores achavam que tinham descoberto um novo personagem secreto, mas não passava de um erro do jogo. Os produtores, se aproveitando disso, acabaram colocando o Ermac como personagem jogável no “Ultimate Mortal Kombat 3”.

O Torneio “Operação Dragão”

A história original fala que numa ilha distante em algum lugar, um torneio de artes marciais secreto tem sido realizado nos últimos 500 anos. O cérebro por trás do torneio, Shang Tsung, está trabalhando para o imperador de uma dimensão alternativa conhecida como Outworld. Este torneio é a única coisa que está impedindo as forças de Outworld de cruzarem para a nossa dimensão e conquistá-la completamente. A boa notícia é que, para que isso aconteça, Outworld tem que vencer dez torneios. O problema é que eles ganharam nove, graças à ajuda de seu campeão de quatro braços, o monstruoso Goro. E assim, cabe a um dos sete guerreiros que estão na ilha, pelas forças do destino ou por mero acidente, entrar no torneio e derrotar os últimos campeões da Terra. Após derrotar os oponentes e enfrentar a ira do campeão Goro, é a hora de lutar contra o próprio Shang Tsung pelo destino do mundo. Para quem já assistiu o clássico “Operação Dragão” do Bruce Lee, vai perceber fortíssimas chupinhações na história.

Inovando os games de luta

MK marcou toda uma geração ao inovar o gênero dos games de luta, alcançando um sucesso estrondoso em 1992, tudo graças aos seus personagens digitalizados e a violência sem limites, com os famosos Fatalities, hoje marca registrada da série. Já existiam alguns games com pessoas reais digitalizadas, como o amado/odiado “Pit Fighter“, mas foi com a explosão de miolos e corpos mutilados de MK que o estilo finalmente engrenou e agradou ao grande público. Os Fatalities foram uma grande sacada, pois enquanto os outros games mostravam o perdedor apenas caído no chão, MK permitia ao vencedor uma regalia: destrua, de forma violenta, o seu oponente.

Não é preciso dizer que os Fatalities mexeram com a curiosidade e imaginação dos jogadores. Todos queriam saber os movimentos especiais e ver o que eles faziam, na esperança de ver litros de sangue e decapitações. A mecânica de jogo também era bem diferente dos SFs da vida, fazendo com que os jogadores aprendessem um novo estilo de luta, especialmente na hora de defender, pois havia um botão exclusivo para o bloqueio de golpes, diferente de SF que era apenas mover o direcional para trás.

MK foi um dos primeiros títulos do gênero de jogos de luta que incluiu os famosos Easter Eggs, como personagens secretos, jogos secretos, etc. A maioria desses segredos eram apenas acessíveis através de algo muito desafiador e exigente. Em MK, um ninja verde aparecia no começo de algumas lutas dando dicas como “Perfeição é a chave” ou “Olhe para a Lua“, que significavam que ao vencer uma luta no cenário The Pit, sem sofrer nenhum dano, não usar botão de bloqueio e aplicar um Fatality no final, podia-se lutar contra Reptile, uma fusão de Sub-Zero e Scorpion.

A trilha sonora era outro fator marcante, com um estilo que misturava músicas orientais típicas dos filmes de luta dos anos 70 com uma dose eletrônica, e claro, com temas sombrios e macabros que causavam impacto para quem jogava. Para completar o pacote, os efeitos sonoros também inovavam, com sons de ossos se quebrando, gritos agonizantes, além de frases de efeito icônicas como “Yeah!“, “Get Over Here!“, “Excellent!“, “Outstanding!” e a mais famosa de todas, “Finish Him/Her!“.

O jogo também apresentava fases bônus chamadas “Test Yor Might“, em que o jogador deve pressionar os botões para preencher uma barra de energia para tentar arrebentar blocos com as mãos, que variavam da madeira ao diamante. Era bacana, mas verdade seja dita, não tão divertido quanto detonar um carro na porrada.

Apesar das inovações, MK tinha alguns probleminhas, sendo a principal delas que os personagens tinham mecânicas de luta praticamente idênticas, sem a profundidade ou nível técnico que SFII apresentava, por exemplo. Socos, chutes, voadoras, era tudo muito parecido um com o outro, as diferenças ficavam nos golpes especiais e magias, e mesmo assim, não eram tão diferentes. Mas isso foi apenas no primeiro game, os títulos seguintes trataram de melhorar, e bastante, todos os aspectos apresentados, e dando mais personalidade e características a todos os personagens.

O sucesso nos arcades foi estrondoso, e logo versões caseiras saíram em 1993 para Mega Drive e Super Nintendo, lançado numa segunda-feira batizada de “Mortal Monday” e considerado um dos maiores lançamentos da história dos videogames. A versão do MD acabou sendo a mais popular e famosa por apresentar todos os Fatalities e violência do jogo original, enquanto que o SNES foi teve golpes e finalizações alteradas, por causa da censura da Nintendo.

Márcio Pacheco

Márcio Alexsandro Pacheco - Jornalista de games, cultura pop e nerdices em geral. Me add nas redes sociais (links abaixo):

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Por favor, desabilite o Adblock para continuar acessando o site!